14 de maio de 2011

CONHECER MARIA (VII)

Maria e o mistério da ressurreição

1) Bendigo-Vos e Vos dou graças, Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus que Vos encarnaste para nossa salvação no seio da Virgem Maria - por vossa gloriosa e verdadeira ressurreição, que hoje teve lugar; e sobre tudo por vossa aparição sumamente jubilosa e secreta, que Vos dignastes conceder a vossa Santíssima Mãe Maria, enquanto se achava em oração em seu solitário quarto. Estava Vos esperando com imenso desejo, e com a confiança de que Vos apareceríeis a ela - antes que a todos vossos piedosos amigos assim como às santas mulheres que eram dignas de vosso afeto e familiares -, a fim de consolá-la com incomparável doçura e confortá-la mediante vossa presença corporal na roupagem da alegria e na glória de vossa imortalidade.

2) É piedoso e justo pensar nisto por causa de vossa piedade filial, e crê-lo pela honra de vossa Santíssima Mãe, dado que em todas vossas obras sois bom e misericordioso. É o que devem crer devotamente também todos os fiéis, porque Vós ordenastes honrar aos pais e consolá-los quando estão tristes. Por isso, antes que a nenhum outro, visitastes a vossa Santíssima Mãe, afligida por vossa paixão; e com vossa presença a recriastes aliviando-a de toda dor e tristeza, e a fizestes gozar indizivelmente.

3) Ela não foi com as outras mulheres a visitar vosso sepulcro, não por debilidade, por medo ou pela intensidade da dor, senão porque abrigava a total certeza de que iríeis ressuscitar ao terceiro dia. Pelo qual, esperançosa de que acudirias ao seu encontro, ficou em casa, para rezar e aguardar vossa chegada com enorme desejo. Precisamente por isto mereceu ser a primeira em ver-Vos: porque Vos amava e Vos desejava, havia crido em Vós e não havia duvidado jamais de vossas palavras.

4) Por conseguinte, se Maria é chamada Bem-aventurada e recebe louvores, por haver crido nas palavras do anjo Gabriel, que lhe anunciou o sagrado mistério da encarnação, tanto mais deve ser digna desse título e merecer louvores, por haver crido em Vós, o Filho nascido dela, e em todas vossas obras. E enquanto os outros ainda duvidavam, se manteve firme na fé e não vacilou minimamente.

5) De que inefável gozo se sentiu inundada nesse momento Maria, vossa Mãe, quando Vos viu, seu Filho, adornado de claro resplendor, com o corpo glorioso, mais esplêndido que a luminosidade do sol e mais formoso que todas as estrelas?! Que indizível e jubilosamente exultou seu espírito em Vós, Jesus, Deus, seu Salvador: mais que nunca em todos os dias de sua vida terrena?!

6) Com quanta atenção fixou seus olhos em teu corpo glorioso, que antes havia visto duramente chagado por cruéis açoites, cravado no madeiro da cruz, de maneira atroz perfurado no lado direito pela lança de Longino e, em seguida, morto e depositado no sepulcro

7) Por isto, é justo que no dia de hoje, enquanto está diante de Vós, que Vos aparecestes a ela no fulgor de vossa glória, Maria se haja volto mais feliz do que de costume e se sinta culminada de novos consolos, depois de haver sofrido mais cruelmente e chorado com mais amargura que os outros, durante o transcurso da paixão. Agora, Senhor, há cumprido vossa promessa, que fizestes na última ceia aos apóstolos para consolá-los; e a cumpristes da forma mais verdadeira para a vossa aflita Mãe: “Não os deixarei órfãos, voltarei a vocês” (Jo 14, 18); “Eu os voltarei a ver, e terão uma alegria que ninguém lhes poderá tirar” (Jo 16, 22).

8) Obrastes perfeitamente, Ótimo Jesus, quando visitastes com sentimento filial a vossa amadíssima Mãe, a saudastes com respeito, lhe falastes com doçura, a consolastes cordialmente e, ao mostra-lhe a felicidade de vosso rosto, fizestes desvanecer toda sua tristeza e as dolorosas lágrimas de seus olhos. Tão logo chegou a ver-Vos, desapareceram as dores e os gemidos; quando falastes a seu coração, desceu sobre ela o Espírito Santo mais que nos apóstolos, embriagando de alegria a sua alma.

9) Vós que nas bodas de Caná, por exortação dela, transformastes a água em excelente vinho, quando regressastes do lugar dos mortos e depois de haver vencido aos inimigos com maio poder e mais eficaz milagre transformastes a morte em vida, a cruz na glória, o pranto materno em alegria e o medo dos discípulos em sempiterno gozo.

10) Não enviastes um anjo, não um arcanjo, não a Miguel, nem a Gabriel, nem a Rafael, vossos mensageiros oficiais, nem a nenhum dos dignitários terrenos, distintos, adornados de ouro, prata e pedras preciosas, a visitar vossa Mãe, Rainha do céu, nossa amada Senhora, senão que acudistes Vós mesmo, Rei da glória, Jesus Cristo. Acudistes pessoalmente de madrugada, sem que ninguém soubesse e sem nenhum aviso prévio

11) Louvo-Vos e Vos honro, com todos os teus santos e com todos os fiéis devotos do mundo, pelo doce colóquio e pelo íntimo encontro que tivestes com vossa amadíssima Mãe Maria em seu aposento, isolado de todo alvoroço exterior, durante o qual conversastes com ela dos sobrenaturais mistérios do Reino de Deus, dos prazeres do paraíso, dos coros dos anjos, das almas santas sacadas do lugar da espera e conduzidas às alegrias do céu, junto com Enoc e Elias.

12) Ó, se eu também houvesse podido estar presente, se houvesse podido ouvir vossas doces palavras, se junto à janela houvesse podido escutar dissimuladamente e captar com diligência as palavras que meu Senhor Jesus Cristo dirigia a vossa Mãe acerca das alegrias dos cidadãos do céu, sem que nenhum outro escutasse comigo! Como se haveria estremecido de gozo meu coração, no Senhor, se eu houvesse podido conservar algumas daquelas palavras, que incentivo me haveriam acrescentado no perigoso desterro deste mundo. Provavelmente se tratavam de palavras que a nenhuma pessoa está permitido repetir, pois devem ser conservadas no íntimo do coração e meditadas com jubilosa intimidade.

13) Feliz o que conhece este júbilo e, mediante a contemplação, se eleva dos temas terrenos e transcorre todo o dia com Jesus e com Maria, desinteressando-se das coisas deste mundo. Creio que nenhum mortal foi digno de estar presente nesse colóquio: somente os santos anjos e as almas dos justos, que seguiam a seu Senhor por todos os lados com grande reverência e enorme alegria.

14) Talvez esta visita e esta intimidade tenham sido tão elevadas e celestiais na casa de Maria, que nem sequer aos apóstolos se permitiu entrar e escutar as excelsas palavras que Jesus, purificado pelo Pai, pronunciou para Maria, vossa bendita Mãe, cheia de graça. Pelo qual, Senhor Jesus, creio que é melhor de minha parte deixá-las confiadas a vossos anjos e, em vista de todos meus pecados e negligências, pedir-Vos humildemente perdão a Vós que revelais vossos segredos aos humildes e alimentais os famintos com o manjar celestial.

15) Ó benigníssimo Jesus Cristo - que depois de vossa amarga paixão e da gloriosa ressurreição Vos aparecestes a vossa Santíssima Mãe Maria, com grande esplendor, e a culminastes de inefável e nova alegria -, tende piedade de mim, pobre e enfermo, com freqüência gravemente atribulado no exílio deste mundo. Prostro-me profundamente diante de Vós, e com intenso afeto golpeio com insistência à porta de vossa piedosa Mãe, para que Vos digne visitar-me interiormente também a mim no tempo de minha aflição, para consolar-me, alentar-me e libertar-me de toda maligna tristeza e vã alegria.

16) Acenda, pois, meu coração com novo fervor, com maior e perseverante devoção ao louvar-Vos para que aprenda a rechaçar os bens terrenos e buscar os celestiais, a gostar e contemplar com Maria as realidades divinas, regozijando-me somente em Vós. Quem poderá ajudar-me, pobre criatura, a meditar profunda e intensamente nestas coisas e viver aqui junto a Jesus, meu Senhor, de tal maneira que o mundo inteiro, com todos seus amantes, perca todo significado e quanto antes desapareça de minha memória?

17) Rogo-Vos, amabilíssimo Jesus, em união com vossa dulcíssima Mãe Maria e com seus anjos e santos, faça que meu coração seja conquistado por Vós, inflamado profundamente, visitado mais freqüentemente e conservado na devoção e que, depois dos sofrimentos desta vida, seja conduzido aos prazeres celestiais.

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de Maria nunquam satis"
"sobre Maria nunca se falará o bastante"
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(KEMPIS, Tomás de. Imitación de María: Libro Segundo, Capítulo VII. pág. 55 - 62)

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