XXIII
Vinte  anos  se  passaram,  podia-se  crer  que  as  reações  suscitadas  pelas  reformas  conciliares  se  apaziguariam,  que  os  católicos  perderiam  a  esperança  na  religião  na  qual  haviam sido criados, que os mais jovens, não a tendo conhecido, entrariam nas fileiras da nova.  Tal  era  ao  menos  a  aposta  feita  pelos  modernistas.  Eles  não  se  admiravam  demasiadamente das contracorrentes, seguros de si mesmos nos primeiros tempos. Eles o  ficaram  menos  em  seguida:  as  múltiplas  e  essenciais  concessões  feitas  ao  espírito  do  mundo  não  davam  os  resultados  antecipadamente  gozados,  ninguém  queria  mais  ser  sacerdote do novo culto, os fiéis se afastavam da prática religiosa, a Igreja que se queria a  Igreja  dos  pobres  tornava-se  uma  Igreja  pobre,  obrigada  a  recorrer  à  publicidade  para  fazer recolher o dinheiro do culto, e a vender seus imóveis. Durante este tempo, a fidelidade à tradição se fortificava em todos os países cristãos e particularmente na França, na Suíça, nos Estados Unidos, na América Latina. O artífice da nova missa, Mons. Aníbal Bugnini, foi ele mesmo obrigado a verificar esta resistência mundial  no  seu  livro  póstumo18.  Resistência  que  não  cessa  de  se  desenvolver,  de  se  organizar,  de  atrair  o  mundo.  Não,  o  movimento  “tradicionalista”  não  está  “em  perda  de  velocidade”,  como  escrevem  de  tempos  em  tempos  os  jornalistas  progressistas  para  se  tranqüilizarem.  Onde  há  tanta  gente  na  missa  como  em  São  Nicolau  de  Chardonnet,  e  também tantas missas, tantas visitas ao Santíssimo Sacramento, tantos belos ofícios? A Fraternidade de São Pio X conta no mundo setenta casas com ao menos um sacerdote, igrejas  como  a  de  Bruxelas,  a  que  compramos  ultimamente  em  Londres,  a  que  foi  colocada à nossa disposição em Marselha, escolas, quatro seminários. Carmelos se abrem e já enxameiam. As comunidades de religiosos e de religiosas, criadas  desde  uma  quinzena  de  anos  ou  mais  e  que  aplicam  estritamente  a  regra  das  ordens  de  que  dependem,  regurgitam  de  vocações,  é  preciso  sem  cessar  ampliar  os  alojamentos,  construir  novos  edifícios.  A  generosidade  dos  católicos  fiéis  não  deixa  de  maravilhar-me, particularmente na França. Os  mosteiros  são  centros  de  irradiação,  para  aí  se  dirigem  em  grande  número  e  freqüentemente  de  muito  longe;  jovens  extraviados  pelas  ilusórias  seduções  do  prazer  e  da evasão sob todas as suas formas aí encontram seu caminho de Damasco. Ser-me-ia preciso  citar  todos  os  lugares  onde  se  conserva  a  verdadeira  fé  católica  e  que  por  esta  razão   atraem:   Le   Barroux,   Flavigny   sur   Ozeraim,   La   Haye-aux-Bonshommes,   as   beneditinas  de  Alès,  de  Samairé,  as  irmãs  de  Fanjeaux,  de  Brignoles,  de  Pontcallec,  as  comunidades do padre Lecareux. Viajando muito, eu vejo claramente por toda a parte a mão de Cristo que abençoa a sua   Igreja.   No   México,   o   povo   humilde   expulsou   das   igrejas   o   clero   reformador   conquistado  pela  pretensa  teologia  da  libertação,  o  qual  queria  retirar  as  estátuas  de  santos.  “Não  são  as  estátuas  que  partirão,  sois  vós”.  As  condições  políticas  nos  impediram  de  fundar  uma  casa  no  México;  é  dum  centro  instalado  em  El  Paso,  na  fronteira  dos  Estados  Unidos,  que  irradiam  os  sacerdotes  fiéis.  Os  descendentes  dos  Cristeros  lhes  fazem  festa  e  lhes  oferecem  suas  igrejas.  Eu  administrei  ali  2.500  confirmações, chamado pela população. Nos Estados Unidos, os jovens casais com numerosos filhos vão ter com os padres da  Fraternidade.  Em  1982  ordenei  neste  país  os  três  primeiros  sacerdotes  formados  inteiramente nos nossos seminários. Os grupos tradicionais se multiplicam, enquanto que as paróquias se degradam. A Irlanda que havia permanecido refratária às novidades, fez sua reforma desde 1980, altares foram lançados nos rios ou reutilizados como material de construção. Simultaneamente se formavam grupos em Dublin e em Belfast. No Brasil, na diocese  de  Campos,  da  qual  já  falei,  a  população  ficou  agrupada  em  torno  dos  padres  excluídos  de  suas  paróquias  pelo  novo  bispo;  desfiles  de  5.000,  10.000  pessoas  percorreram as ruas. É portanto o bom caminho que nós seguimos; a prova está aí, a árvore se reconhece pelos seus frutos. O que fizeram clérigos e leigos apesar da perseguição do clero liberal —  pois,  dizia  Luis  Veuillot  “nada  há  mais  sectário  do  que  um  liberal”  —  é  quase  miraculoso. Não  vos  deixeis  iludir,  caros  leitores,  pelo  termo  ”tradicionalista”  que  se  tenta  fazer  tomar em mau sentido. É de certo modo um pleonasmo, pois não vejo o que pode ser um católico que não fosse tradicionalista. Creio tê-lo demonstrado neste livro, a Igreja é uma tradição.  Nós  somos  uma  tradição.  Fala-se  também  de  “integrismo”;  se  se  entende  com  isto o respeito da integridade do dogma, do catecismo, da moral cristã, do Santo Sacrifício da  Missa,  então  sim  nós  somos  integristas.  Mas  eu  não  vejo  como  possa  ser  católico  quem não fosse integrista neste sentido. Escreve-se  também  que  minha  obra  desaparecerá  depois  de  mim,  porque  não  haverá bispos para substituir-me. Estou certo do contrário, não tenho inquietação alguma. Posso morrer amanhã, o Bom Deus tem todas as soluções. Encontrar-se-ão pelo mundo, eu o sei, bispos suficientes para ordenar nossos seminaristas. Mesmo se ele se cala hoje em dia, um ou outro destes bispos receberia do Espírito Santo a coragem de se erguer a seu  turno.  Se  minha  obra  éde  Deus,  Ele  saberá  mantê-la  e  fazê-la  servir  ao  bem  da  Igreja. Nosso Senhor no-lo prometeu: as portas do inferno não prevalecerão contra ela. É  por  isso  que  eu  me  obstino,  e  se  quereis  conhecer  a  razão  profunda  desta  obstinação,  ei-la.  Eu  não  quero,  na  hora  de  minha  morte,  quando  Nosso  Senhor  me  perguntar: “Que fizeste de teu episcopado, da tua graça episcopal e sacerdotal?” ouvir de sua boca estas palavras terríveis: “Tu contribuíste para destruir a Igreja com os outros.”
ÍNDICE
I – Porque os católicos estão  perplexos?................................................ 5
II – “Estão mudando nossa religião”......................................................... 8
III – Missas ou quermesses?.................................................................. 13
IV – A Missa de sempre e a missa “ao sabor do vento”......................... 16
V – “Vocês são retrógrados”................................................................... 21
VI – O novo batismo, o novo casamento, a nova penitência, a nova extrema-unção........................................................................................ 25
VII – Os novos padres............................................................................. 31
VIII – Do catecismo Holandês a “Pierres Vivantes”................................ 35
IX – A nova teologia................................................................................ 40
X – O ecumenismo.................................................................................. 43
XI – A liberdade religiosa........................................................................ 46
XII – Os camaradas e os irmãos............................................................. 50
XIII – Liberdade religiosa, Igualdade colegial, Fraternidade ecumênica.55
XIV – “Vaticano II, é o 1789 na Igreja”.................................................... 60
XV – Conúbio da Igreja com a Revolução.............................................. 65
XVI – O neo-modernismo ou “Pierre Vivantes” em ruínas...................... 68
XVII – Que é a Tradição?........................................................................ 73
XVIII – A verdadeira obediência............................................................. 76
XIX – As sanções romanas contra Ecône.............................................. 80
XX – A Missa dita “de S. Pio V”, Missa de sempre................................. 84
XXI – Nem herege nem cismático.......................................................... 87
XXII – As  famílias devem reagir.............................................................. 91
XXIII – Construir, não destruir................................................................. 94
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