[Sermão] O milagre da multiplicação e a Eucaristia
Sermão para o Quarto Domingo da Quaresma (Laetare)
10 de março de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Estamos hoje no Domingo Laetare, Domingo da Alegria. Os paramentos rosas, as flores, o órgão e os textos da Missa indicam alegria. Trata-se
de amenizar as austeridades da Quaresma para poder continuá-las com
melhor disposição ainda para o resto desse tempo penitencial. Se alguém
ainda não começou as práticas de penitência na Quaresma, é preciso
fazê-lo desde já. Não podemos deixar passar esse tempo de graça e de
misericórdia, para elevar o nosso coração ao alto, pela oração, pela
mortificação, pelas obras de caridade.
***
Gostaria
de lembrar alguns pontos relativos à liturgia: o primeiro é que os
fiéis devem fazer o sinal da cruz quando são aspergidos com água benta,
no início da Missa. Os fiéis devem estar em pé quando o padre se volta
para eles para dizer o Dominus Vobiscum na coleta e no
ofertório. Finalmente, para receber a comunhão, é preciso levantar um
pouco a cabeça e colocar a língua para fora, a fim de que o sacerdote
coloque confortavelmente o Corpo de Cristo na boca do fiel.
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Regozijai-vos com ela de alegria, vós que tendes vivido na tristeza, porque sereis fartos de consolações.
Nós
vemos, caros católicos, a bondade divina no Evangelho de hoje. A
multidão seguia Nosso Senhor Jesus Cristo por causa dos milagres que
fazia, nos diz o Evangelho, e, seguramente, o seguia também por suas
palavras de vida eterna. Era uma multidão de cinco mil homens, sem
contar mulheres e crianças. Nosso Senhor, movido de compaixão, tem pena
dessa gente. Essa multidão esqueceu até mesmo o alimento corporal, para
poder seguir o Salvador. Buscou primeiro o Reino de Deus, e Cristo, na
sua bondade, lhe deu o resto. Nosso Senhor multiplica os cinco pães e os
dois peixes, e a multidão é saciada com tal abundância que sobraram
ainda doze cestos de pães. Quão admirável é a bondade de Nosso Senhor
Jesus Cristo. E, no entanto, essa multiplicação de pães é somente uma
pálida manifestação da bondade e misericórdia de Nosso Senhor.
Digo que ela é somente uma pálida
manifestação da bondade e misericórdia divinas porque os cinco pães e os
dois peixes são figura dos sete sacramentos, que alimentam a nossa
alma. Os dois peixes são os dois sacramentos de mortos, quer dizer, para
quem está em estado de pecado: batismo e confissão. Os cinco pães são
os cinco sacramentos de vivos, para quem está em estado de graça:
eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, extrema-unção. Todavia, a
multiplicação de pães é mais propriamente uma figura da Sagrada
Eucaristia. Essa prefiguração se torna explícita em vários detalhes do
Santo Evangelho de hoje. O primeiro deles é o fato de São João mencionar
que a Páscoa estava próxima. Ele associa a multiplicação de pães à
Páscoa. Ora, é justamente no dia da Páscoa judaica, no dia do sacrifício
do cordeiro pascal, que Cristo instituiu a Eucaristia em união
indissociável com o novo e eterno sacrifício, que é o sacrifício do
Corpo e Sangue de Cristo. O segundo deles é o próprio fato da
multiplicação, que prefigura a Santa Eucaristia. O mesmo e único Corpo
de Cristo é multiplicado sobre os altares pelas palavras do sacerdote – “Este é o meu Corpo”, “Este é o Cálice do meu Sangue”
– e conservado nos tabernáculos. A abundância de pães nos indica a
abundância da graça que Cristo quer nos transmitir por meio do
sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Na Eucaristia, é o próprio
Cristo, homem e Deus, que está presente. Jamais poderemos receber
integralmente a graça que Ele quer nos transmitir nesse sacramento.
Também o cuidado com os fragmentos que sobraram nos dirigem para a
Eucaristia, mostrando o cuidado que devemos ter para evitar qualquer
profanação – por menor que seja ela – do Corpo de Cristo.

Para receber dignamente o Corpo, Sangue,
Alma e Divindade de Cristo – pois na Hóstia está Cristo inteiro, tal
como ele se encontra no céu – devemos nos preparar adequadamente. A
multidão que recebeu o favor da multiplicação dos pães nos auxilia a
conhecer as disposições necessárias para receber o Corpo de Cristo.
Primeiro, é preciso ter a fé, aderindo às verdades reveladas por Nosso
Senhor e ensinadas pela Igreja. A multidão segue Cristo aonde ele vai e
negligencia os bens desse mundo buscando primeiramente os bens do alto.
Para receber a comunhão, é preciso ser católico, ter a fé e seguir Nosso
Senhor. É preciso buscar antes as coisas do alto e não as coisas desse
mundo. Vemos também que antes da multiplicação dos pães que Cristo curou
os doentes. Isso significa que é preciso buscar a confissão antes de
comungar, se por infelicidade cometemos um pecado mortal. Se alguém ousa
comungar estando em pecado mortal, comete outro pecado gravíssimo, o
pecado de sacrilégio, abusando daquilo que há de mais santo. Como pode
esperar da misericórdia divina aquele que abusa dessa mesma
misericórdia? Aquele que comunga nesse estado, não receberá
evidentemente, nenhuma graça, mas receberá a sua própria condenação,
como diz São Paulo: “aquele que se alimenta do Corpo do Senhor indignamente, será réu do Corpo do Senhor”.
A Eucaristia significa a união e a incorporação a Cristo, que se faz
somente pela graça santificante. Assim, se alguém comunga sem estar
unido a Cristo pela graça e pela caridade, comete uma falsidade e um
sacrilégio. Além disso, a eucaristia é alimento espiritual, e como todo
alimento, ela serve para nutrir e fortificar alguém que já está vivo e
não alguém que está morto.
Algumas pessoas comungam em pecado mortal
por respeito humano, temendo que as outras pessoas pensarão justamente
que ela está em estado de pecado mortal. Assim, elas terminam cometendo
um sacrilégio. Ora, ninguém tem o direito de julgar uma pessoa porque
ela deixou de comungar. Há inúmeras razões além do pecado mortal que
podem nos conduzir a não comungar em determinado dia. Por exemplo, o
fato de ter se distraído demasiado durante a Missa. Ou o fato de não ter
feito o jejum eucarístico como diremos mais adiante. Ou o fato de não
comungar porque a pessoa começa a comungar por pura rotina e começa a
perder a devida reverência com o sacramento, etc. Assim, se alguém deixa
de comungar, ninguém pode julgar que ela está em pecado mortal. A
pessoa não deve se preocupar com o que os outros irão pensar. Ela deve
ser preocupar com a misericórdia divina, ofendida pela comunhão
indigna. Portanto, para nos aproximarmos da Eucaristia, devemos estar
em estado de graça, em amizade com Deus, com a consciência limpa de todo
pecado mortal. É bom que estejamos arrependidos dos pecados veniais,
fazendo um ato de contrição durante a Missa, por exemplo, mas isso não é
indispensável. Não precisamos ser perfeitos para receber a Sagrada
Eucaristia. Aliás, é pela Comunhão que conseguiremos vencer os pecados
veniais. Além da fé e do estado de graça, a Igreja exige também que se
pratique o jejum de alimentos e bebidas, exceto água e remédio, uma hora
antes da comunhão. Esse jejum não precisa ser observado para os
moribundos, claro. Finalmente, diz o Catecismo de São Pio X que é
preciso a modéstia, tanto na própria pessoa como no vestir.
Como já sabemos, nós recebemos na
Eucaristia o próprio Deus, o autor da santidade. Uma só comunhão
bastaria para nos tornar santos, para nos levar a praticar as virtudes
em grau heroico. Por que ocorre, então, caros católicos, que
comunguemos sem tirar grandes frutos de nossas comunhões, sem fazer
grande progresso na nossa vida espiritual? A explicação está no fato de
que não nos preparamos como deveríamos para receber a Sagrada Comunhão.
Além da fé, do estado de graça, da modéstia, do jejum é preciso ter uma
reta intenção ao comungar. Devemos comungar com a intenção de agradar a
Deus e de nos unir a Ele e não por simples rotina ou vaidade. Para
comungar com fruto abundante, devemos ter uma fé vivíssima na presença
real de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as aparências de pão e vinho.
Devemos ter uma humildade profunda, lembrando que se podemos receber o
Corpo de Cristo, é unicamente devido a sua bondade infinita e não aos
nossos méritos. Em seguida, devemos ter uma grande confiança, pois um
Deus que se entrega a nós como alimento, quer o nosso bem, ele quer que
nos salvemos. Ele espera tão somente a nossa cooperação. Em seguida,
devemos ter um desejo ardente de receber Nosso Senhor na Sagrada Hóstia.
Essa fome e sede de receber Nosso Senhor procede da caridade, procede
do desejo de amizade com Cristo, do desejo de união com ele, querendo as
mesmas coisas que Ele, querendo fazer de nós um outro Cristo. Deus nos
dá uma graça imensa na Eucaristia. Essa preparação pela fé viva, pela
humildade, pelo desejo ardente de receber Cristo para nos assemelhar a
Ele fará que recebamos com grande fruto a Sagrada Eucaristia. E, para
aumentar esses frutos, devemos fazer uma boa ação de graças após a
recepção do sacramento. A preparação é mais importante do que a ação de
graças ao receber a Sagrada Comunhão, mas a ação de graças também é
essencial. Na ação de graças, devemos nos oferecer a Deus em união com
Cristo, adorando-o, pedindo perdão por nossas faltas, pedindo-lhe as
graças necessárias para nossa salvação e agradecendo-lhe todos os
benefícios que Ele nos fez. Nós podemos nos dispor para receber somente
um pouco ou muito dessa graça. Disponhamo-nos bem, caros católicos, para
que sejamos santos. É nisso que consiste a nossa felicidade.
Regozijemo-nos de alegria, nós que temos
vivido na tristeza, pois fomos saciados de consolações abundantes. Pode
haver maior consolação e consolação mais abundante que o próprio Deus
que se entrega a nós em alimento? O Corpo de Cristo nos dá a força para
combater com alegria o bom combate pela salvação de nossa alma e pela
salvação da alma de nossos irmãos. Pela Sagrada
Eucaristia possuímos Deus de um modo que nem mesmo o mais piedoso dos
santos poderia imaginar e que somente a bondade infinita de Deus pôde
inventar. Devemos fazer algo semelhante àquela multidão. Depois do
grande milagre, quiseram proclamar Nosso Senhor rei, mas um rei
puramente terreno. Nós pela comunhão devemos fazer de Cristo Rei da
nossa alma e Rei das nações, para que elas sigam sua santa lei. Pela
Sagrada Eucaristia nós possuímos um bem infinito. Eis a nossa
felicidade. A Sagrada Eucaristia recebida com devoção é o céu aqui na
terra. Ofereçamos a nossa boa comunhão de hoje pela eleição de um Papa
Santo.
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