13 de março de 2013

Sermão 4º Domingo da Quaresma (Laetare) - Padre Daniel Pinheiro - IBP


[Sermão] O milagre da multiplicação e a Eucaristia


Sermão para o Quarto Domingo da Quaresma (Laetare)
10 de março de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Estamos hoje no Domingo Laetare, Domingo da Alegria. Os paramentos rosas, as flores, o órgão e os textos da Missa indicam alegria. Trata-se de amenizar as austeridades da Quaresma para poder continuá-las com melhor disposição ainda para o resto desse tempo penitencial. Se alguém ainda não começou as práticas de penitência na Quaresma, é preciso fazê-lo desde já. Não podemos deixar passar esse tempo de graça e de misericórdia, para elevar o nosso coração ao alto, pela oração, pela mortificação, pelas obras de caridade.
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Gostaria de lembrar alguns pontos relativos à liturgia: o primeiro é que os fiéis devem fazer o sinal da cruz quando são aspergidos com água benta, no início da Missa. Os fiéis devem estar em pé quando o padre se volta para eles para dizer o Dominus Vobiscum na coleta e no ofertório. Finalmente, para receber a comunhão, é preciso levantar um pouco a cabeça e colocar a língua para fora, a fim de que o sacerdote coloque confortavelmente o Corpo de Cristo na boca do fiel.
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Regozijai-vos com ela de alegria, vós que tendes vivido na tristeza, porque sereis fartos de consolações.
Nós vemos, caros católicos, a bondade divina no Evangelho de hoje. A multidão seguia Nosso Senhor Jesus Cristo por causa dos milagres que fazia, nos diz o Evangelho, e, seguramente, o seguia também por suas palavras de vida eterna. Era uma multidão de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Nosso Senhor, movido de compaixão, tem pena dessa gente. Essa multidão esqueceu até mesmo o alimento corporal, para poder seguir o Salvador. Buscou primeiro o Reino de Deus, e Cristo, na sua bondade, lhe deu o resto. Nosso Senhor multiplica os cinco pães e os dois peixes, e a multidão é saciada com tal abundância que sobraram ainda doze cestos de pães. Quão admirável é a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, no entanto, essa multiplicação de pães é somente uma pálida manifestação da bondade e misericórdia de Nosso Senhor.
Digo que ela é somente uma pálida manifestação da bondade e misericórdia divinas porque os cinco pães e os dois peixes são figura dos sete sacramentos, que alimentam a nossa alma. Os dois peixes são os dois sacramentos de mortos, quer dizer, para quem está em estado de pecado: batismo e confissão. Os cinco pães são os cinco sacramentos de vivos, para quem está em estado de graça: eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, extrema-unção. Todavia, a multiplicação de pães é mais propriamente uma figura da Sagrada Eucaristia. Essa prefiguração se torna explícita em vários detalhes do Santo Evangelho de hoje. O primeiro deles é o fato de São João mencionar que a Páscoa estava próxima. Ele associa a multiplicação de pães à Páscoa. Ora, é justamente no dia da Páscoa judaica, no dia do sacrifício do cordeiro pascal, que Cristo instituiu a Eucaristia em união indissociável com o novo e eterno sacrifício, que é o sacrifício do Corpo e Sangue de Cristo. O segundo deles é o próprio fato da multiplicação, que prefigura a Santa Eucaristia. O mesmo e único Corpo de Cristo é multiplicado sobre os altares pelas palavras do sacerdote – “Este é o meu Corpo”, “Este é o Cálice do meu Sangue” – e conservado nos tabernáculos. A abundância de pães nos indica a abundância da graça que Cristo quer nos transmitir por meio do sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Na Eucaristia, é o próprio Cristo, homem e Deus, que está presente. Jamais poderemos receber integralmente a graça que Ele quer nos transmitir nesse sacramento. Também o cuidado com os fragmentos que sobraram nos dirigem para a Eucaristia, mostrando o cuidado que devemos ter para evitar qualquer profanação – por menor que seja ela – do Corpo de Cristo.
eucaristia_12É na Sagrada Eucaristia que se manifesta toda a caridade de Deus para conosco. Na Eucaristia, Nosso Senhor não alimenta o corpo de seus discípulos com simples pão. Na Eucaristia, Nosso Senhor alimenta a nossa alma com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. É Deus que se entrega a nós. É Nosso Senhor que se entrega a nós, sob as aparências do pão e do vinho. Mistério incompreensível da bondade divina. Nosso Senhor disse (Jo VI): “Eu sou o pão da vida. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” Quando Cristo falou isso, muitos se escandalizaram e abandonaram o Salvador, exatamente como o fazem hoje os protestantes. Em Seguida Cristo dirá na Última Ceia: “Este é o meu Corpo” e “Este é o Cálice do meu Sangue”, transmitindo aos apóstolos o poder de realizar a mesma transformação, dizendo-lhes: “Fazei isso em memória de mim”. É, portanto, Deus que se faz presente no altar. É Deus que recebemos quando comungamos. Nunca devemos nos esquecer dessa verdade: É Deus que se entrega a nós na Sagrada Eucaristia.
Para receber dignamente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo – pois na Hóstia está Cristo inteiro, tal como ele se encontra no céu – devemos nos preparar adequadamente. A multidão que recebeu o favor da multiplicação dos pães nos auxilia a conhecer as disposições necessárias para receber o Corpo de Cristo. Primeiro, é preciso ter a fé, aderindo às verdades reveladas por Nosso Senhor e ensinadas pela Igreja. A multidão segue Cristo aonde ele vai e negligencia os bens desse mundo buscando primeiramente os bens do alto. Para receber a comunhão, é preciso ser católico, ter a fé e seguir Nosso Senhor. É preciso buscar antes as coisas do alto e não as coisas desse mundo. Vemos também que antes da multiplicação dos pães que Cristo curou os doentes. Isso significa que é preciso buscar a confissão antes de comungar, se por infelicidade cometemos um pecado mortal. Se alguém ousa comungar estando em pecado mortal, comete outro pecado gravíssimo, o pecado de sacrilégio, abusando daquilo que há de mais santo. Como pode esperar da misericórdia divina aquele que abusa dessa mesma misericórdia? Aquele que comunga nesse estado, não receberá evidentemente, nenhuma graça, mas receberá a sua própria condenação, como diz São Paulo: “aquele que se alimenta do Corpo do Senhor indignamente, será réu do Corpo do Senhor”. A Eucaristia significa a união e a incorporação a Cristo, que se faz somente pela graça santificante. Assim, se alguém comunga sem estar unido a Cristo pela graça e pela caridade, comete uma falsidade e um sacrilégio. Além disso, a eucaristia é alimento espiritual, e como todo alimento, ela serve para nutrir e fortificar alguém que já está vivo e não alguém que está morto.
Algumas pessoas comungam em pecado mortal por respeito humano, temendo que as outras pessoas pensarão justamente que ela está em estado de pecado mortal. Assim, elas terminam cometendo um sacrilégio. Ora, ninguém tem o direito de julgar uma pessoa porque ela deixou de comungar. Há inúmeras razões além do pecado mortal que podem nos conduzir a não comungar em determinado dia. Por exemplo, o fato de ter se distraído demasiado durante a Missa. Ou o fato de não ter feito o jejum eucarístico como diremos mais adiante. Ou o fato de não comungar porque a pessoa começa a comungar por pura rotina e começa a perder a devida reverência com o sacramento, etc. Assim, se alguém deixa de comungar, ninguém pode julgar que ela está em pecado mortal. A pessoa não deve se preocupar com o que os outros irão pensar. Ela deve ser preocupar com a misericórdia divina, ofendida pela comunhão indigna.  Portanto, para nos aproximarmos da Eucaristia, devemos estar em estado de graça, em amizade com Deus, com a consciência limpa de todo pecado mortal. É bom que estejamos arrependidos dos pecados veniais, fazendo um ato de contrição durante a Missa, por exemplo, mas isso não é indispensável. Não precisamos ser perfeitos para receber a Sagrada Eucaristia. Aliás, é pela Comunhão que conseguiremos vencer os pecados veniais. Além da fé e do estado de graça, a Igreja exige também que se pratique o jejum de alimentos e bebidas, exceto água e remédio, uma hora antes da comunhão. Esse jejum não precisa ser observado para os moribundos, claro. Finalmente, diz o Catecismo de São Pio X que é preciso a modéstia, tanto na própria pessoa como no vestir.
Como já sabemos, nós recebemos na Eucaristia o próprio Deus, o autor da santidade. Uma só comunhão bastaria para nos tornar santos, para nos levar a praticar as virtudes em grau heroico.  Por que ocorre, então, caros católicos, que comunguemos sem tirar grandes frutos de nossas comunhões, sem fazer grande progresso na nossa vida espiritual? A explicação está no fato de que não nos preparamos como deveríamos para receber a Sagrada Comunhão. Além da fé, do estado de graça, da modéstia, do jejum é preciso ter uma reta intenção ao comungar. Devemos comungar com a intenção de agradar a Deus e de nos unir a Ele e não por simples rotina ou vaidade. Para comungar com fruto abundante, devemos ter uma fé vivíssima na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as aparências de pão e vinho. Devemos ter uma humildade profunda, lembrando que se podemos receber o Corpo de Cristo, é unicamente devido a sua bondade infinita e não aos nossos méritos. Em seguida, devemos ter uma grande confiança, pois um Deus que se entrega a nós como alimento, quer o nosso bem, ele quer que nos salvemos. Ele espera tão somente a nossa cooperação. Em seguida, devemos ter um desejo ardente de receber Nosso Senhor na Sagrada Hóstia. Essa fome e sede de receber Nosso Senhor procede da caridade, procede do desejo de amizade com Cristo, do desejo de união com ele, querendo as mesmas coisas que Ele, querendo fazer de nós um outro Cristo. Deus nos dá uma graça imensa na Eucaristia. Essa preparação pela fé viva, pela humildade, pelo desejo ardente de receber Cristo para nos assemelhar a Ele fará que recebamos com grande fruto a Sagrada Eucaristia. E, para aumentar esses frutos, devemos fazer uma boa ação de graças após a recepção do sacramento. A preparação é mais importante do que a ação de graças ao receber a Sagrada Comunhão, mas a ação de graças também é essencial. Na ação de graças, devemos nos oferecer a Deus em união com Cristo, adorando-o, pedindo perdão por nossas faltas, pedindo-lhe as graças necessárias para nossa salvação e agradecendo-lhe todos os benefícios que Ele nos fez. Nós podemos nos dispor para receber somente um pouco ou muito dessa graça. Disponhamo-nos bem, caros católicos, para que sejamos santos. É nisso que consiste a nossa felicidade.
Regozijemo-nos de alegria, nós que temos vivido na tristeza, pois fomos saciados de consolações abundantes. Pode haver maior consolação e consolação mais abundante que o próprio Deus que se entrega a nós em alimento?  O Corpo de Cristo nos dá a força para combater com alegria o bom combate pela salvação de nossa alma e pela salvação da alma de nossos irmãos. Pela Sagrada Eucaristia possuímos Deus de um modo que nem mesmo o mais piedoso dos santos poderia imaginar e que somente a bondade infinita de Deus pôde inventar. Devemos fazer algo semelhante àquela multidão. Depois do grande milagre, quiseram proclamar Nosso Senhor rei, mas um rei puramente terreno. Nós pela comunhão devemos fazer de Cristo Rei da nossa alma e Rei das nações, para que elas sigam sua santa lei. Pela Sagrada Eucaristia nós possuímos um bem infinito. Eis a nossa felicidade. A Sagrada Eucaristia recebida com devoção é o céu aqui na terra. Ofereçamos a nossa boa comunhão de hoje pela eleição de um Papa Santo.

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