Sermão para o Terceiro Domingo da Quaresma
03 de março de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
Sede imitadores de Deus, como filhos amados e andai no amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós a Deus, como oferenda e hóstia de suave odor.
Como todos sabem, a Sé de Pedro está
vacante. A cátedra do Apóstolo São Pedro, sobre o qual Cristo edificou a
sua Igreja, a sua única Igreja, está vazia. O momento da eleição de um
futuro Papa é sempre muito importante para a Igreja, mas no contexto da
crise atual em que vivemos, o momento se torna crucial. Bento XVI,
alguns dias antes de deixar o Pontificado, assinalou alguns dos
elementos dessa crise quando se dirigiu ao clero de Roma: seminários
fechados, conventos fechados, liturgia banalizada…
Eu
digo que esse momento se torna crucial porque o Papa é a autoridade
suprema dessa sociedade divina e humana que é a Igreja fundada por Nosso
Senhor Jesus Cristo. A autoridade suprema de uma sociedade é a causa
formal de uma sociedade. Isso significa que a sociedade é tal sociedade
ou tal outra sociedade, com tais ou tais características, em virtude da
autoridade suprema. Vemos isso claramente em um governo civil.
Evidentemente, haverá uma sociedade distinta se há um governante
católico ou se há um governante comunista, por exemplo. Claro, a Igreja,
ao contrário da sociedade civil, não pode deixar de ser a Igreja. A
Igreja não pode mudar a constituição divina que lhe foi dada por Cristo.
A Igreja não pode errar em matéria de fé ou moral. A Igreja não pode
deixar de existir até o final dos tempos. Tudo isso porque Cristo falou
que as portas do inferno não prevaleceriam – e não prevalecerão – contra
ela. Tudo isso porque a autoridade suprema invisível da Igreja é Nosso
Senhor. Porém, é evidente a importância que tem o Santo Padre,
autoridade visível suprema na Igreja. Nosso Senhor disse a São Pedro e a
seus sucessores: “tudo o que ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será ligado no céu”. Ao ofício de Pedro está, consequentemente, intimamente atrelada a salvação das almas.
Foi publicada, nesses dias e em várias línguas, a carta de Santo Afonso Maria de Ligório endereçada ao conclave do ano de 1775. (Nota do Editor: por exemplo, neste link do site do Pe. Paulo Ricardo; em inglês, neste link; em italiano neste link.) Recomendo a todos que leiam essa carta excelente desse grande santo.
O Santo descreve, então, as virtudes que
deve ter o sucessor de Pedro. Tratemos somente da primeira delas, que
inclui todas as outras. Ele diz que o Papa deve ser dotado, antes de
tudo, de espírito e de zelo pela honra de Deus. Ter, antes de tudo, zelo
pela honra de Deus, significa que o Papa deve ter uma caridade
perfeita, pois o zelo é decorrência do amor, da caridade. Isso significa
que o Papa deve ser santo. A única preocupação do Papa deve ser agradar
a Deus pela salvação das almas. Isso é ter zelo pela honra de Deus. É
para isso que eu conclamo todos a rezarem: para que Deus, Nosso Senhor,
nos dê um Papa santo. A oração é, nesse caso, a única arma que
possuímos. É preciso rezar e rezar muito, diz Santo Afonso.
Creio que está suficientemente claro,
para qualquer católico minimamente sério, que nós não precisamos de um
Papa de tal ou tal continente. Que nós não precisamos de um Papa de tal
ou tal cor de pele, etc. Nós precisamos de um Papa santo. A santidade
consiste na perfeição da caridade. Quem possui uma caridade perfeita
possui também as outras virtudes em grau perfeito, necessariamente. As
virtudes estão intimamente ligadas, elas crescem proporcionalmente, como
os dedos da mão. Portanto, um Papa Santo possuirá todas as outras
virtudes necessárias para conduzir as almas ao céu. Um Papa Santo terá
uma fé firmíssima, confessando-a até o martírio, se necessário for. Ele
terá uma fé firmíssima para combater todo risco de indiferentismo
religioso. Ele terá uma esperança inabalável em Deus, fundada na bondade
e na onipotência divinas, sabendo que pode contar com o auxílio divino,
apesar das adversidades postas pelo mundo. Ele terá a prudência
celestial – virtude do chefe – necessária para governar, para tomar as
melhores decisões em vista do fim a ser atingido: fim que é a maior
glória de Deus e o bem das almas. Ele não terá a prudência da carne. Ele
terá a justiça para dar a cada um o que lhe é devido, premiando os
bons, promovendo os dignos e punindo os maus. Ele terá a temperança
necessária para exercer seu ofício buscando não a glória desse mundo,
mas a glória eterna. Ele terá a fortaleza, a fim de poder colocar em
prática tudo isso, vencendo todos os obstáculos, todo respeito humano,
vencendo o mundo, e tendo em vista somente o zelo pela honra de Deus.
Ele terá a virtude de religião, para favorecer uma liturgia que tenha
Deus no centro e que corresponda perfeitamente à doutrina católica.
Enfim, ele terá todas as virtudes em grau perfeito, se ele for
verdadeiramente santo, para governar a Barca de Pedro, conduzindo as
almas que estão na Barca única e exclusivamente a Cristo.
Devemos rezar nesses dias para que tenhamos um Papa Santo. Para Deus, nada é impossível. “Pedi e vos será dado. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.”
Há certas coisas que Deus quer nos dar, mas que Ele condiciona às
nossas orações. É preciso rezar. É preciso rezar muito, como diz Santo
Afonso.
Conta-se a história de uma religiosa
italiana que há alguns séculos teve uma visão de três cardeais que
participavam do conclave naquela época. Havia um ruim. Havia um bom.
Havia um excelente. Na visão, foi-lhe dito que seria eleito o primeiro, o
ruim. A irmã não se conformou e passou a rezar e fazer penitência pela
eleição do cardeal excelente. Em visão posterior, foi-lhe dito que, em
virtude de suas orações e mortificações, foi eleito o cardeal bom, que
aparentemente foi beatificado posteriormente. Não posso garantir a
veracidade da história, mas ela é perfeitamente verossímil. Nossas
orações e nossos sacrifícios, unidos à oração de Cristo e aos
sacrifícios dele, têm verdadeiro valor diante de Deus. Fazer uma boa
confissão também ajudará nas nossas súplicas. Peçamos a eleição de um
Papa Santo. E, depois de eleito, continuemos a pedir pela santificação
do Santo Padre. É preciso que façamos a nossa parte, pois, como
diz Santo Afonso, se, por acaso e para nossa desgraça, for eleito um
Papa que não tem somente a glória de Deus diante dos olhos, o Senhor
pouco vai ajudá-lo, e as coisas como estão nas circunstâncias atuais
irão de mal a pior. Quem diz isso é um Santo e Doutor da Igreja. Podemos
aplicar suas palavras perfeitamente aos nossos tempos. É preciso rezar.
É preciso rezar muito. Devemos ter grande confiança e esperança, caros
católicos. “Pedi e vos será dado. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.”
E aconteça o que acontecer, ter sempre presente em nosso espírito que a
Igreja é divina. Que a Igreja é indefectível. Que a Igreja é infalível.
Que as portas do inferno não prevalecerão. Devemos ter a certeza
absoluta de que a vitória é da Igreja e de seus filhos fieis. Rezemos
pela eleição do futuro Papa.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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