15 de junho de 2009

CATECISMO ROMANO - EUCARISTIA (PARTE 9)

I. EUCARISTIA COMO SACRAMENTO
Catecismo Romano

Agora, porém, é preciso ensinar que pessoas estão em condições de receber os incalculáveis frutos da Sagrada Eucaristia, ainda há pouco mencionados; cumpre dizer também que são várias as maneiras de comungar, para que o povo cristão aprenda a desejar “melhores dons espirituais” (I Cor XII, 31).

IX. 1. Três modos de comungar

A) Comunhão indigna

Conforme lemos no Concílio Tridentino, nossos antigos mestres distinguiam, com muito acerto, três modos de se receber este Sacramento.

Alguns cristãos só recebem o Sacramento. São os pecadores, que não hesitam em tomar os Santos Mistérios, com a boca e o coração manchados de impureza. São eles que, no dizer do Apóstolo, “comem e bebem indignamente o Corpo de Nosso Senhor” (I Cor XI, 29). Deles escreve Santo Agostinho: “Quem não permanece em Cristo, e no qual Cristo por sua vez não permanece, esse não come espiritualmente a Sua Carne, embora tenha entre os dentes, de maneira carnal e sensível, o Sacramento de Seu Corpo e Sangue”. Por conseguinte, quem nesse estado de alma recebe os Santos Mistérios, além de não auferir fruto algum, “come e bebe a sua própria condenação”, como no-lo atesta o mesmo Apóstolo.

B) Comunhão espiritual

Muitos recebem a Eucaristia só espiritualmente, como se costuma dizer. São aqueles que se nutrem deste Pão Celestial, pelo desejo e a intenção de recebê-lo, animados de uma fé viva, “que se torna operosa pela caridade” (Gl V, 6). Por essa prática, alcançam, se não todos os frutos, pelos menos grande abundância deles.

C) Comunhão digna e sacramental

Outros há, enfim, que tomam a Eucaristia, sacramental e espiritualmente. São os que se examinam antes a si mesmos, como o requer o Apóstolo, e se adornam com a veste nupcial, para então chegarem à Mesa Divina. Assim auferem da Eucaristia aqueles ubérrimos frutos, de que já fizemos menção.

Em vista de tais razões, compreendemos, claramente, como se privam, dos maiores bens sobrenaturais, as pessoas que podem preparar-se para a recepção sacramental do Corpo de Nosso Senhor, mas só se contentam de fazer a Comunhão espiritual.

IX.2. Preparação para a Comunhão Sacramental

A seguir, devemos expor quais disposições deve haver na alma dos fiéis, antes que eles recebam sacramentalmente a Eucaristia.

A) Necessidade

Em primeiro lugar, para que se reconheça que tal preparação é sumamente necessária, cumpre aduzir o exemplo de Nosso Salvador. Antes de dar aos Apóstolos o Sacramento do Seu precioso Corpo e Sangue, Cristo “lavou-lhes os pés, apesar de que [os Apóstolos] já estavam puros” (Jo XIII, 5ss). Queria, assim, indicar como devemos ter todo o cuidado de que nada falte à máxima pureza e retidão de nossa alma, quando vamos receber os Mistérios Eucarísticos.

Depois, devem os fiéis compreender o seguinte. Quem toma a Eucaristia, com boas e santas disposições, é provido com os mais abundantes dons da graça divina. Em razão inversa, quem comunga sem estar preparado, não só nenhum proveito tira, mas até incorre em muitos danos e prejuízos.

Como é notório, existe, nas coisas mais úteis e salutares, a propriedade de sortirem os melhores efeitos, quando aplicadas a propósito: e de causarem ruína e destruição, quando aplicadas fora do momento oportuno. Não é, pois, de estranhar, que estes imensos e preciosos dons de Deus nos ajudem, poderosamente, a conseguir a glória celestial, quando os recebemos com boas disposições; e que ao invés produzam em nós a morte eterna, se deles nos fazemos indignos [por falta de boa preparação].

Disso temos uma prova cabal no exemplo da Arca do Senhor, que os Israelitas prezavam acima de todas as coisas. Por ela, o Senhor lhes havia dispensado um sem-número dos maiores benefícios. Aos filisteus, porém, que a tinham roubado, a Arca da Aliança acarretou-lhes uma peste maligna, e um flagelo que os cobria de eterna vergonha.

Assim também acontece com os alimentos. Quando ingeridos por um estômago bem disposto, sustentam e fortalecem o organismo. Se entram, porém, num estômago viciado, provocam até graves enfermidades.

B) Preparação da alma

Fé inabalável

A primeira coisa que os fiéis devem fazer, como preparação, é distinguir entre mesa e mesa, entre esta Mesa Sagrada e as outras profanas, entre este Pão do Céu e o pão comum. De fato faremos tal distinção, se crermos que ali está presente o verdadeiro Corpo e Sangue de Nosso Senhor, que os Anjos adoram no Céu (Sl XCVI, 8); a cujo aceno estremecem e vacilam as colunas do firmamento (Jó XXVI, 11); e de cuja glória estão cheios o céu e a terra (Is VI, 3).

Realmente, nisso consiste o “distinguir o Corpo do Senhor”, como recomendava o Apóstolo. Sem embargo, devemos antes reverenciar, silenciosamente, a grandeza desse Mistério, em vez de querermos devassar a sua realidade com investigações impertinentes.

Sincera caridade fraterna

O segundo ponto de preparação, absolutamente indispensável, consiste em examinar-se cada qual a si mesmo, se vive em paz com os outros, se ama realmente ao próximo de todo o coração. “Portanto, se apresentas tua oferta diante do altar, e aí te lembras que teu irmão tem motivo de queixa contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar, vai primeiro reconciliar-se com teu irmão, e vem depois fazer a tua oferta” (Mt V, 23ss).

Prévia confissão dos pecados mortais

Em seguida, devemos examinar, cuidadosamente, a nossa consciência, se não está talvez manchada de alguma culpa mortal, de que precisamos penitenciar-nos. Ela deve ser extinta, antes de comungarmos, pelo remédio da contrição e da Confissão. Pois o Santo Concílio de Trento decretou que ninguém pode receber a Sagrada Eucaristia, se a consciência o acusa de algum pecado mortal; embora se julgue contrita, deve a pessoa purificar-se, antes, pela Confissão sacramental, contanto que haja a presença de um sacerdote.

Sentimentos de humildade

Afinal, devemos considerar, no silêncio de nossas almas, quanto somos indignos desta divina mercê que o Senhor nos dispensa. De todo o coração, repetiremos aquelas palavras do Centurião, a cujo respeito o próprio Salvador disse que não havia encontrado tanta fé em Israel: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa” (Mt VIII, 8-10).

Vejamos, outrossim, se podemos fazer nossa aquela declaração de São Pedro: “Senhor, Vós sabeis que eu Vos amo” (Jo XXI, 17). Pois não devemos esquecer: Aquele que, “sem a veste nupcial tomara lugar no banquete do Senhor, foi lançado num cárcere tenebroso” (Mt XXII, 11), e condenado a penas eternas.

C) Preparação do corpo

De mais a mais, não só a alma, mas também o corpo precisa de certas disposições. Para nos aproximarmos da Sagrada Mesa, devemos estar em jejum, de sorte que não tenhamos comido nem bebido nada em absoluto, desde a meia-noite antecedente até o momento de recebermos a Sagrada Eucaristia (*atualmente, basta uma hora de jejum antes da Comunhão).

Requer ainda a dignidade de tão sublime Sacramento que as pessoas casadas se abstenham por alguns dias, a exemplo de Davi que, antes de receber do sacerdote os pães de proposição, afiançou que ele e seus soldados, desde três dias, estavam longe das esposas.

São estas, pouco mais ou menos, as condições principais que os fiéis devem levar em conta, a fim de se prepararem para uma frutuosa recepção dos Sagrados Mistérios. Outras disposições ainda, que se refiram à preparação, podem facilmente reduzir-se aos pontos já especificados.

IX.3. Freqüência da Comunhão

A) A desobriga da Páscoa

Para evitar que alguns talvez se descuidem de receber este Sacramento, por acharem dura e incômoda tão grande preparação, devem os pastores advertir muitas vezes os fiéis da existência de um preceito que obriga todos a receberem a Sagrada Eucaristia. Além disto, determinou a Igreja que de seu grêmio seja excluído quem não comungar ao menos uma vez cada ano, por ocasião da Páscoa (* esta pena de excomunhão foi abolida).

B) comunhão freqüente, até diária

Não se contentem os fiéis de receber o Corpo de Nosso Senhor uma única vez cada ano, para se submeterem à determinação do decreto. Persuadam-se, pelo contrário, de que é preciso fazer mais vezes a Comunhão Sacramental. Todavia, não se pode dar a todos uma norma determinada, se lhes é mais aconselhável comungar todos os meses, todas as semanas, ou todos os dias. Ainda assim, temos por muito acertada aquela regra de Santo Agostinho: “Faze por viver de tal modo, que possas comungar todos os dias”.

Será, pois, um dever do pároco exortar, assiduamente, os fiéis a que se não descuidem de alimentar e fortalecer, todos os dias, as suas almas pela recepção deste Sacramento, do mesmo modo que também julgam necessário proporcionar ao corpo uma alimentação diária. Compreende-se, perfeitamente, que a alma não tem menos necessidade do alimento espiritual, que o corpo do sustento material.

Neste passo, será de muito proveito lembrar-lhes, de novo, os imensos benefícios divinos, que nos obtém a Comunhão Sacramental da Eucaristia, conforme já ficou provado anteriormente.

Acrescente-se também aquela figura do “maná, que devia refazer todos os dias as forças do corpo” (Ex XVI, 4ss). Da mesma forma, vejam-se as declarações dos Santos Padres, que muito encareciam a recepção freqüente deste Sacramento. Entre os Padres da Igreja, Santo Agostinho não era o único a perfilhar a seguinte doutrina: “Tu pecas mesmo todos os dias. Comunga, pois, todos os dias”. Quem investigar atentamente, há de logo reconhecer uma perfeita conformidade de doutrina entre todos os Santos Padres, que se ocuparam do assunto em suas obras.

C) Histórico da recepção da Comunhão

Antigamente, conforme se deduz dos Atos dos Apóstolos, houve tempos em que os fiéis recebiam todos os dias a Eucaristia. Todos os que professavam a fé cristã, ardiam em tão real e sincera caridade que, entregues continuamente a orações e outros exercícios da religião, tinham todos os dias as devidas disposições, para receberem o Santo Sacramento do Corpo de Nosso Senhor.

Esse costume, que estava em visível decadência, foi mais tarde parcialmente restaurado por Santo Anacleto, Papa e mártir, quando ordenou que, à Missa, comungassem os ministros assistentes, afirmando ser tal exigência de instituição apostólica.

Na Igreja, houve também por muito tempo o costume que, ao terminar o Sacrifício, o sacerdote, depois de sua própria Comunhão, se volvesse ao povo ali presente, e convidasse os fiéis para a Sagrada Mesa, dirigindo-lhes estas palavras: “Vinde, irmãos, à Comunhão!”. Então, os que estavam preparados, recebiam os Santos Mistérios com a maior piedade.

Mais tarde, arrefecendo o amor e a devoção, a ponto de serem muito raros os fiéis que freqüentavam a Sagrada Eucaristia, decretou o Papa Fabiano recebessem todos a Comunhão três vezes por ano, no Natal do Senhor, na Ressurreição, e em Pentecostes.

Depois, foi esta determinação confirmada por muitos Concílios, mormente pelo Primeiro Concílio de Agda. Por último, como os fiéis chegassem ao extremo de não só abandonar a observância daquele salutar preceito, mas até de diferir por muitos anos a Comunhão da Sagrada Eucaristia, prescreveu o Concílio de Latrão que todos os fiéis recebessem o Sagrado Corpo de Nosso Senhor, ao menos uma vez cada ano, por ocasião da Páscoa; e que fossem excluídos do grêmio da Igreja todos aqueles que o deixassem de fazer.

A Comunhão das crianças

Promulgada pela autoridade de Deus e da Igreja, essa obrigação abrange todos os fiéis. Muito embora, devem os pastores ensinar que dela estão excetuados todos aqueles que, por insuficiência de idade, ainda não chegaram ao uso da razão. Estes não sabem distinguir a Sagrada Eucaristia do pão comum e profano, nem podem conciliar, para a sua recepção, a devida piedade e reverência.

Isto parece também muito contrário ao que Cristo Nosso Senhor declarou com as palavras da instituição: “Tomai e comei”, diz Ele. Ora, sabemos perfeitamente que as criancinhas em tenra idade não são ainda capazes de “tomar e comer”.

Houve, sim, em alguns lugares um costume antigo de dar-se a Sagrada Eucaristia também às criancinhas. Mas a autoridade da Igreja fez, desde muito, cessar esse costume, já pelas razões que acabamos de alegar, já por outros motivos que muito condizem com os sentimentos da piedade cristã.

Quanto à idade, em que se devem ministrar às crianças os Sagrados Mistérios, ninguém poderá melhor determiná-la, senão o próprio pai, ou o sacerdote a quem elas confessam os seus pecados. A eles, pois, compete averiguar, por perguntas feitas às crianças, se já possuem alguma noção deste admirável Sacramento, e o gosto de recebê-lo.

A Comunhão de dementes

Não se deve, muito menos, dar o Sacramento aos alienados, que na ocasião forem incapazes de sentimentos de piedade. Ainda assim, por decreto do Concílio de Cartago, se antes da demência demonstraram sinceras disposições de fé e piedade, será lícito dar-lhes a Eucaristia na hora da morte, contanto que não haja nenhum perigo de vômito, ou de qualquer outra profanação ou inconveniência.

A Comunhão debaixo de ambas as espécies

Acerca do rito da Comunhão, digam os párocos que a lei da Santa Igreja proíbe a todo cristão tomar a Sagrada Eucaristia, em ambas as espécies, a não ser que tenha autorização da mesma Igreja. Excetuam-se os sacerdotes, quando consagram o Corpo do Senhor, no Santo Sacrifício.

Como declarou o Concílio de Trento, ainda que Cristo Nosso Senhor, na Última Ceia, instituiu este augusto Sacramento sob as espécies de pão e de vinho, e assim o administrou aos Apóstolos, daí não se segue que Nosso Senhor e Salvador estabelecesse a obrigação de se dar, a todos os fiéis, os Sagrados Mistérios em ambas as espécies.

Pois, ao falar deste Sacramento, Nosso Senhor aludia muitas vezes a uma só espécie, quando, por exemplo, declarou: “Se alguém comer deste Pão, viverá eternamente”; “O Pão que Eu darei, é a Minha Carne para a vida do mundo”; “Quem come deste Pão, viverá eternamente” (Jo VI, 52-59).

Compreende-se, desde logo, serem muitas e gravíssimas as razões que induziram a Igreja, não só a confirmar o costume de se preferir a Comunhão debaixo de uma só espécie, mas a torná-lo até obrigatório, pela promulgação de uma lei propriamente dita.

Em primeiro lugar, impunha-se a máxima precaução, para que se não derramasse por terra o Sangue de Nosso Senhor. Isto, porém, parecia difícil de evitar, quando fosse necessário ministrar o [Santíssimo Sangue] a uma grande multidão de povo.

Depois, como a Sagrada Eucaristia devia estar sempre de reserva para os enfermos, grande perigo havia de azedarem-se as espécies de vinho, se fora preciso guardá-las por mais tempo.

Além disso, muitas pessoas não podem de modo algum tolerar o sabor, nem sequer o cheiro do vinho. Ora, para não tornar nocivo ao corpo, o que se deve ministrar para a saúde da alma, com muito acerto determinou a Igreja que os fiéis somente comungassem sob as espécies de pão.

A estas e outras razões acresce que, em muitas paragens, há grande escassez de vinho, o qual só pode ser importado de outros lugares, com avultadas despesas, em longas e difíceis vias de transporte.

Afinal, a mais imperiosa de todas as razões era extirpar a heresia daqueles que negavam a presença total de Cristo em cada uma das espécies, afirmando que na espécie de pão só se contém o Corpo sem o Sangue, e o Sangue só na espécie de vinho. E assim, para que melhor transparecesse, aos olhos de todos, a verdade do dogma católico, introduziu-se com muito critério a Comunhão debaixo de uma só espécie, por sinal que na espécie de pão.

Existem ainda outras razões, colhidas pelos autores que tratam deste assunto mais em particular. Os párocos poderão aduzi-las, se o julgarem conveniente.

Embora seja matéria que ninguém desconhece, vamos agora discorrer acerca do ministro [da Eucaristia], para não deixar fora nenhum ponto que pertença à doutrina deste Sacramento.

X. MINISTRO DA EUCARISTIA – O SACERDOTE

Devemos, pois, ensinar que só aos sacerdotes foi dado poder de consagrar a Sagrada Eucaristia, e de distribuí-la aos fiéis cristãos. Sempre foi praxe da Igreja que o povo fiel recebesse o Sacramento pelas mãos dos sacerdotes, e os sacerdotes comungassem por si próprios, ao celebrarem os Sagrados Mistérios. Assim o definiu o Santo Concílio de Trento; e determinou que esse costume devia ser religiosamente conservado, por causa de sua origem apostólica, e porque também Cristo Nosso Senhor nos deu o exemplo, quando consagrou Seu Corpo Santíssimo, e por Suas próprias mãos O distribuiu aos Apóstolos.

De mais a mais, com o intuito de salvaguardar, sob todos os aspectos, a dignidade de tão augusto Sacramento, não se deu unicamente aos sacerdotes o poder de administrá-lo: como também se proibiu, por uma lei da Igreja, que, salvo grave necessidade ninguém sem Ordens Sacras ousasse tomar nas mãos ou tocar vasos sagrados, panos de linho, e outros objetos necessários à confecção da Eucaristia.

Destas determinações podem todos, os próprios sacerdotes e os demais fiéis, inferir quão virtuosos e tementes a Deus devem ser aqueles que se dispõem a consagrar, a ministrar, ou a receber a Sagrada Eucaristia.

Isto não obstante, se dos outros Sacramentos já dizíamos que podem ser [validamente] administrados por sacerdotes indignos, quando estes observam os requisitos necessários para a sua confecção, outro tanto se deve dizer também com relação ao Sacramento da Eucaristia.

Pois devemos crer firmemente que todos esses efeitos sacramentais não se baseiam no mérito pessoal dos ministros, mas se operam na virtude e poder de Cristo Senhor Nosso. São estes os pontos que se devem explicar acerca da Eucaristia, considerada como Sacramento.

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