12 de junho de 2009

CATECISMO ROMANO - EUCARISTIA (PARTE 8)

I. EUCARISTIA COMO SACRAMENTO
Catecismo Romano

No entanto, com relação ao que se pode dizer da admirável virtude e dos frutos deste Sacramento, não há nenhuma classe de fiéis, para os quais esse conhecimento não seja possível, e até sumamente necessário. Força é reconhecer que, se alargamos bastante a explicação deste Sacramento, temos por fim principal que os fiéis compreendam a utilidade da Eucaristia.

Como, porém, não há termos humanos que possam exprimir, adequadamente, suas imensas vantagens e aplicações, os pastores procurarão, pelo menos, tratar um ou outro ponto, para mostrarem quanta não é a abundância e afluência de todos os bens, que se encerram nestes Sagrados Mistérios.

VIII. 1. Fonte de todas as graças

Conseguirão demonstrá-lo, até certo ponto, se, depois de exposta a virtude e a natureza de todos os Sacramentos, compararem a Eucaristia a uma fonte viva, e os demais a rogos de água. Na verdade, a Eucaristia deve ser forçosamente considerara como a fonte de todas as graças; porquanto encerra em si, de modo admirável, a própria fonte de todos os dons e carismas celestiais, Cristo Senhor Nosso, o Autor de todos os Sacramentos, do qual promanam, como de uma fonte, todos os valores e perfeições que possa haver nos demais Sacramentos. Sendo assim, podemos sem mais concluir que desta fonte da divina graça procedem os imensos benefícios que nos são dispensados neste Sacramento.

VIII. 2. Efeitos como alimento espiritual

Muito prático será também considerar, como ponto de partida, a própria natureza do pão e do vinho, enquanto são os sinais simbólicos deste Sacramento.

Os mesmos efeitos que o pão e o vinho produzem no corpo, a Eucaristia também os produz todos, de modo mais elevado e mais perfeito, para a salvação e bem-aventurança da alma.

a) Viver por Cristo (graça santificante)

Verdade é que este Sacramento não se assimila à nossa natureza, como o faz o pão e o vinho; mas somos nós que de certo modo nos convertemos em sua natureza. Cabem aqui aquelas palavras de Santo Agostinho: “Alimento sou das grandes almas. Fazes por crescer, e ter-Me-ás por alimento. Não Me converterás em ti, como o fazes com o alimento do teu corpo, mas em Mim te converterás a ti mesmo”.

Ora, se “por Jesus Cristo vieram a graça e a verdade” (Jo I, 17), é mister que uma e outra se derramem na alma de quem, com retidão e piedade, recebe Aquele que disse de Si mesmo: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue, permanece em Mim e Eu nele” (Jo VI, 57).

Sem dúvida alguma, quem toma este Sacramento, com fervor e piedade, de tal maneira acolhe dentro de si o Filho de Deus, que se integra em Seu Corpo como um membro vivo, de acordo com o que está escrito: “Aquele que Me toma por alimento, viverá por Minha causa” (Jo VI, 57). Da mesma forma: “O pão que Eu darei, é a Minha Carne para a vida do mundo” (Jo VI, 56).

Num comentário desta passagem, ponderava São Cirilo: “O Verbo de Deus, em Se unindo à própria carne, deu-lhe a virtude de vivificar. Portanto, nada é mais consentâneo de que Ele se una aos nossos corpos, de um modo misterioso, mediante a Sua sagrada Carne e o Seu precioso Sangue, que recebemos, no pão e no vinho, pela bênção vivificante [da Consagração]”.

Como se diz que a Eucaristia confere a graça,devem os pastores observar que isto não é para se entender, como se não fosse preciso adquirir antes o estado de graça, quando alguém quer receber este Sacramento, de maneira real e frutuosa.

Assim como a um cadáver nada aproveita o alimento natural, assim também é coisa vista que os Sagrados Mistérios não aproveitam, de modo algum à alma que esteja privada da vida sobrenatural. A presença das espécies de pão e de vinho indica também que eles foram instituídos, não para restituir, mas para conservar a vida da alma.

Há razões para assim falarmos. A graça primeira, com a qual devem estar previamente ornados todos aqueles que se atrevem a tocar com a boca a Sagrada Eucaristia, para não comerem e beberem a sua própria condenação, ela não é dada a ninguém que não tenha, pelo menos, o desejo e a intenção de receber este Sacramento. Pois a Eucaristia é o fim de todos os Sacramentos, é o emblema da mais estreita unidade da Igreja. E, fora da Igreja, ninguém pode conseguir a graça.

b) Fortalecimento da alma, e gosto pelas coisas divinas

Outra razão. O alimento espiritual não só conserva o corpo, mas também o faz crescer. Ao paladar, proporciona-lhe todos os dias novos prazeres e regalos. É o que também faz o alimento da Eucaristia. Não só sustenta a alma, mas dá-lhe também novas forças; faz com que o espírito se deixe enlevar cada vez mais pelo gosto das coisas divinas. Por conseguinte, razões há para se dizer, com toda a justeza e verdade, que este Sacramento confere a graça por excelência. Com fundamento, pode comparar-se ao “maná”, no qual se experimentava “a suavidade de todos os sabores” (Sb XVI, 20).

c) Extinção das faltas veniais

Não devemos tampouco duvidar que a Eucaristia tem por efeito remitir e apagar os pecados mais leves, pecados veniais, como se diz de ordinário. O que a alma perde, pelo ardor das paixões, quando comete pequenas faltas em matéria leve, a Eucaristia lho restitui integralmente, pela eliminação das próprias faltas menores.

Para não nos afastarmos da comparação feita, isso tem analogia com o processo, pelo qual sentimos o alimento natural aumentar e refazer, aos poucos, as calorias que se gastam e perdem em combustão diária.

Assiste-lhe, pois, toda a razão, quando Santo Ambrósio diz deste celestial Sacramento: “Toma-se este pão de cada dia, para remediar as fraquezas de cada dia”. Isto, porém, só tem aplicação aos pecados, em que a alma se não deixa levar a um consentimento plenamente voluntário.

d) Preservação de pecados mortais

Os Mistérios Eucarísticos possuem ainda a virtude de conservar-nos puros e limpos de pecados mortais, indenes nos assaltos das tentações, premunindo a alma com uma espécie de remédio celestial, para que o veneno de alguma paixão mortífera não a possa facilmente contagiar e corromper.

Por isso mesmo, como no-lo atesta São Cipriano, quando os tiranos da época arrastavam, arbitrariamente, os fiéis aos suplícios e à pena de morte, por terem confessado a sua fé cristã, era antigo costume da Igreja Católica administrarem-lhes os Bispos o Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor, para que [os mártires] não desfalecessem nessa luta pela salvação, assoberbados talvez pela veemência das dores.

e) Moderação da concupiscência

Ademais, a Eucaristia refreia e modera as paixões da carne; pois, na medida que vai abrasando os corações com o fogo da caridade, abafa necessariamente os ardores da má concupiscência.

f) Penhor da vida eterna

Afinal, para exprimir, numa só fórmula, todos os frutos e graças deste Sacramento, cumpre-nos dizer que a Sagrada Eucaristia é sumamente eficaz para nos conseguir a vida eterna, pois está escrito: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue, tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo VI, 55).

Pela graça deste Sacramento, os fiéis gozam, já em vida, da maior paz e tranqüilidade de consciência. Chegado que for o momento de deixarem o mundo, subirão para a eterna glória e bem-aventurança, fortalecidos pela sua virtude, à semelhança de Elias que, com o vigor de um pão cozido debaixo da cinza, caminhou até Horeb, a montanha de Deus (I Rs XIX, 8).

Podem os pastores desenvolver, amplamente, todas estas doutrinas, ou tomando a explicação do sexto capítulo de São João, em que se mostram vários efeitos deste Sacramento; ou percorrendo os feitos admiráveis de Cristo Nosso Senhor, para evidenciar quanta razão temos de julgar muito felizes todos aqueles que O receberam em casa, durante a Sua vida mortal, ou recuperaram a saúde, ao tocarem as Suas vestes ou a fímbria de Sua túnica, mas que muito mais felizes e venturosos somos nós, pois Ele não despreza de entrar em nossas almas, revestido de glória imortal, para lhes curar todas as feridas, paras as unir a Si mesmo, depois de tê-las ornado com os mais ricos dons de Sua graça.

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