23 de maio de 2009

São Francisco de Assis - 1ª Parte

Fonte:
São Francisco de Assis
Escritos e biografias de São Francisco de Assis
Editora Vozes

CARTAS AOS FIÉIS

(Primeira recensão)
O texto desta carta foi editado pela primeira vez por P. Sebastier, com base no códice de Volterra (cod Vo), que lhe deu erroneamente o título de Verba vitae et salutis (Palavras de Vida e Salvação), que se lia embaixo do texto anterior das Admoestações. Esta é uma forma mais breve de uma carta mais longa; forma mais breve, porém mais difundida. A recensão mais longa tem bastante influência deste documento, e seu valor está nas idéias centrais com que Francisco iria concretizar a vida dos irmãos e irmãs da penitência. É um programa, com intuitos pastorais, para a vida de penitência segundo o Evangelho. Data desconhecida.
(Exortação aos irmãos e irmãs da penitência)
Em nome do Senhor!

[Cap. 1] Dos que fazem penitência

Quão felizes e benditos são aqueles e aquelas que amam o Senhor “de todo coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças” e ao próximo como a si mesmos, odiando seus corpos com seus vícios e pecados, recebendo o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e produzindo frutos dignos de penitência.
Felizes e benditos os que assim fazem e assim perseveram, porque “sobre eles repousará o Espírito do Senhor” que neles fará morada.
Estes são filhos do Pai celeste, fazem as obras do Pai, são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Somos esposos, quando por virtude do Espírito Santo, a alma fiel se une a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Somos irmãos de Cristo, quando fazemos a “vontade do Pai que está nos céus” e somos mães, quando o levamos em nosso coração e em nosso corpo por virtude do amor divino e de uma pura e sincera consciência; nós o geramos por uma vida santa, que deve brilhar como exemplo para os outros.
Como é glorioso, santo e sublime ter um pai nos céus!
Como é santo, consolador, belo e admirável ter tal esposo!
Como é santo, dileto, agradável, humilde, pacífico, suave, amável e, sobretudo, desejável ter tal irmão e tal filho: nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele entregou sua vida pelas suas ovelhas e orou ao Pai dizendo: “Pai santo, conserva em teu nome aqueles que me deste no mundo; eram teus e os destes a mim”.
E as “palavras que me deste, dei-as a eles; eles as aceitaram e creram na verdade, porque de ti saí e conheceram que tu me enviaste”.
Rogo por eles “não pelo mundo”.
Abençoa-os e “santifica-os”.
Também eu “por causa deles me santifico a mim mesmo”.
Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão de crer em mim pela palavra deles para que sejam santificados na união assim como nós.
E quero, Pai, que onde eu estiver, estejam eles comigo, para que vejam a minha glória no teu reino.
Amém.


[Cap. II] Dos que não fazem penitência
Todos aqueles e aquelas, porém, que não fazem penitência, não recebem o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivem no vício e no pecado, no caminho da má concupiscência e dos maus desejos de sua carne, não observam o que prometeram ao Senhor, servem ao mundo com seu corpo cedendo aos desejos carnais, às solicitudes e aos cuidados deste mundo: escravos do demônio, de quem são filhos e cujas obras praticam, são cegos, porque não vêem a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não possuem a sabedoria espiritual porque não possuem o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do pai.
E é deles que se diz: “Sua sabedoria foi tragada, malditos os que se apartam de teus mandamentos”.
Vêem e conhecem, sabem e fazem o mal perdendo eles mesmos suas almas.
Reparai ó cegos, enganados pelos vossos inimigos, a carne, o mundo e o demônio: é agradável ao corpo praticar o pecado e amargo servir a Deus. Pois, como diz o Senhor no Evangelho, todos os vícios e pecados “precedem do coração do homem”.
Nada pensais fruir por muito tempo das vaidades deste mundo, mas vos enganais, porque virá o dia e a hora na qual não pensais, e que ignorais completamente.
Adoce o corpo, a morte chega e deste modo morre na amargura da morte.
Onde, quando e como quer que um homem venha a morrer em pecado mortal, sem penitência e satisfação, se pode satisfazer e não satisfaz, o demônio lhe arranca a alma do corpo sob tal angústia e tribulação, que ninguém pode saber a não ser quem o experimenta em si mesmo.
Todos os talentos, todo poder, toda “ciência e sabedoria” que julgavam possuir “ser-lhes-ão tirados”.
Deixam seus bens aos parentes e amigos.
Estes se apossam deles e os distribuem entre si e depois dizem: Maldita seja sua alma, porque ela poderia ter dado e ganho para nós muito mais e não o fez.
Os vermes devoram o corpo.
Desta forma perdem tais homens o corpo e a alma neste breve século, indo para o inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
A todos que receberam esta carta, rogamos na caridade, que é Deus, que acolham benignamente, com divino amor, estas odoríferas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“E os que não sabem ler façam-nas ler com freqüência por outros, tenham-nas consigo e as ponham em prática numa vida”.
E aqueles que as não observarem terão de “dar contas delas no dia do último juízo diante do tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

22 de maio de 2009

Símbolos da Fé - 6ª Parte

LIBÉRIO: 17 MAI. 353 – 24 SET. 366


Atas do Papa Libério na questão dos semi-arianos, ano 357

No exílio, o Papa Libério subscreveu o Símbolo composto pelo sínodo semi-ariano e excomungou Atanásio, o defensor da fé nicena. Disto dão testemunho cartas do mesmo Libério conservadas entre os fragmentos da obra histórica Adversus Valentem et Ursacium de Hilário de Poitiers, cuja autenticidade no passado foi impugnada sem razão. Coloca-se assim a questão da ortodoxia do Papa Libério. As fórmulas de fé por ele a aceitas evitam o conceito niceno de homoousios. Trata-se sobretudo da primeira fórmula sirmiense, definida no II Sínodo de Sírmio (Panônia Inferior), em 351, contra Paulo de Somosata e Fortino, fórmulas que Libério, no exílio em Beréia, em 357, teve de subscrever. Esta fórmula foi benignamente interpretada no sentido da ortodoxia por Hilário de Poitiers, servo crítico de Libério: De synodis, 39-62. Muito provavelmente, Libério, levado em 358 para Sírmio, subscreveu também a 3ª fórmula sirmiense, estabelecida no IV Sínodo (depois da Páscoa de 358). Esta é composta da supracitada 1ª fórmula sirmiense, estabelecida no IV Sínodo (depois da Páscoa de 358). Esta é composta da supracitada 1ª fórmula sirmiense, da 2ª fórmula do Sínodo – também semi-ariano – de Antioquia (no período da festa da Encênia de 341) e dos 12 anatematismos extraídos dos 19 artigos do Sínodo semi-ariano de Ancira (antes da Páscoa de 358) pelo IV Sínodo de Sírmio (omitidos os cânones 1-5, 18 e 19, particularmente suspeitos de heresia). Destas fórmulas apresentamos só a 1ª sirmiense.


Condenação de Atanásio e Símbolos de fé

a) Carta “Studens paci”, aos bispos orientais, primavera de 357

Empenhado na paz e concórdia das Igrejas, depois de ter recebido da Vossa Caridade a carta sobre a pessoa de Atanásio e dos outros, endereçada à pessoa do bispo Júlio, de feliz memória, eu, seguindo a tradição dos predecessores, enviei os meus assessores Lúcio, Paulo e Heliano, presbíteros da cidade de Roma, a Alexandria, ao sobredito Atanásio, para que viesse à cidade de Roma, a fim de que, na sua presença, fosse estabelecido a seu respeito o que consta da disciplina da Igreja. Mediante os supracitados presbíteros mandei-lhe também uma carta, comunicando que, se não viesse, soubesse que estava excluído da comunhão com a Igreja de Roma. Ora, ao retornarem, os presbíteros informaram que não queria vir. Segui então ao pé da letra a carta de vossa caridade, que nos enviaste a respeito do sobredito Atanásio, e saibais, mediante a presente carta, mandada no intuito da unanimidade convosco, que estamos em paz com todos vós e com todos os bispos da Igreja católica, enquanto o sobredito Atanásio é excluído da comunhão comigo, ou seja, com a Igreja de Roma, bem como da comunicação escrita e da incumbência eclesiástica.


b) 1ª Profissão de fé de Sírmio (351), subscrita pro Libério no ano 357

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, o criador e artífice de todas as coisas, do qual deriva o nome de toda paternidade no céu e na terra [cf. Ef 3.15],
e no seu filho unigênito, nosso Senhor Jesus, o Cristo, gerado pelo Pai antes de todos os tempos: Deus de Deus, luz de luz, por meio de quem vieram a ser todas as coisas, tanto no céu como na terra, as visíveis e a invisíveis; sendo ele é (o) Verbo, (a) Sabedoria, (a) luz verdadeira e (a) Vida; o qual, nos últimos dias, por nós se en-humanou, nasceu da Santa Virgem, foi crucificado, morto e sepultado; e ressuscitou dentre os mortos, ao terceiro dia, e foi elevado aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá, no final do tempo, para julgar os vivos e os mortos e retribuir a cada um de acordo com suas obras; cujo reino, sendo infindável, permanecerá pelos tempos sem fim; pois ele estará sentado à direita do Pai só neste tempo, mas também vindouro;
e no Espírito Santo, isto é, o Paráclito, que, conforme prometera aos Apóstolos, depois de sua subida aos céus, enviou para ensinar e recordar a eles todas as coisas; e por meio dele são também santificadas as almas daqueles que sinceramente tem crido nele.


1. Mas os que dizem que o Filho vem daquilo que não é, ou de uma outra hipóstase e não de Deus, e que houve um tempo ou um éon em que ele não era, a Igreja santa e católica os considera estranhos.
2. De novo, pois, dizemos: se alguém disser que o Pai e o Filho são dois deuses, seja anátema.
3. E se alguém chamar de Deus a Cristo, Filho de Deus antes dos séculos, mas não professar que ele adjuvou ao Pai na produção de todas as coisas, seja anátema.
4. Se alguém ousar dizer que o não-gerado ou parte dele nasceu de Maria, seja anátema.
5. Se alguém disser que o Filho existe antes de Maria segundo a presciência, e não que ele foi gerado pelo Pai antes dos séculos e que tudo veio a ser por meio dele, seja anátema.
6. Se alguém disser que a substância de Deus se dilata ou se contrai, seja anátema.
7. Se alguém disser que a substância dilatada de Deus constitui o Filho ou então chama o Filho a dilatação da sua substância, seja anátema.
8. Se alguém disser que o Filho de Deus é a palavra interior ou proferida, seja anátema.
9. Se alguém disser que o Filho de Maria é somente homem, seja anátema.
10. Se alguém, chamando o de Maria Deus e homem, com isso entende o Deus não gerado, seja anátema.
11. Se alguém entender a frase: “Eu Deus, o primeiro, e eu depois destas coisas, e fora de mim não há Deus” [Is 44,6], dita para destruição dos ídolos e dos que não são deuses, no sentido de excluir, à maneira dos judeus, o Unigênito de Deus antes dos séculos, seja anátema.
12. Se alguém, escutando a frase “O Verbo veio a ser carne” [Jô 1.14], entender que o Verbo tenha se transformado em carne ou diz que, ao assumir a carne, tenha sofrido mudança, seja anátema.
13. Se alguém, ouvindo que o Filho de Deus foi crucificado, disser que sua divindade sofreu corrupção, ou paixão, ou mudança, ou diminuição ou eliminação, seja anátema.
14. Se alguém disser que a frase: “Façamos o homem” [Gn 1,26], não a diz o Pai ao Filho, mas o próprio Deus a tenha dito a si mesmo, seja anátema.
15. Se alguém disser que não o Filho apareceu a Abraão [Gn 18,1-22], mas o Deus não-gerado, ou uma parte dele, seja anátema.
16. Se alguém disser que não o Filho como homem lutou com Jacó [Gn 32,25-31], mas o Deus não-gerado, ou parte dele, seja anátema.
17. Se alguém tomar a frase: “O Senhor fez chover fogo pela força do Senhor” [Gn 19,24], não como referida ao Pai e ao Filho , mas diz que ele mesmo tenha feito chover por si mesmo seja anátema; pois o Senhor o Filho fez chover da parte do Senhor o Pai;
18. Se alguém, ouvindo que o Pai é Senhor e que o Filho é Senhor, e que o Pai e o Filho são Senhor, porque o Senhor da parte do Senhor, diz haver dois deuses, seja anátema. Pois não o Filho coordenado ao Pai, mas subordinado ao Pai. De fato, não desceu a Sodoma sem a vontade do Pai, nem fez chover por si mesmo, mas da parte do Senhor, tendo portanto incumbência do Pai; nem está sentado à direita por si, mas ouve o Pai que diz: “Assenta-te à minha direita” [Sl 110,1].
19. Se alguém disser que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são uma só pessoa, seja anátema.
20. Se alguém, chamando Paráclito ao Espírito Santo disser que ele é o Deus não-gerado, seja anátema.
21. Se alguém, como nos ensinou o Senhor, não disser que o Espírito Santo é outro, diferente do Filho, já que disse: “O Pai vos mandará um outro Paráclito, que eu pedirei” [Jô 14,16], seja anátema.
22. Se alguém disser que o Espírito Santo é parte do Pai ou do Filho, seja anátema.
23. Se alguém disser que o Pai e o Filho e o Espírito Santo são três deuses, seja anátema.
24. Se alguém disser que o Filho de Deus veio a ser, por vontade de Deus, como uma das coisas feitas, seja anátema.
25. Se alguém disser que o Filho foi gerado sem que o Pai o queria, seja anátema. De fato, o Pai não gerou o Filho sendo constrangido, movido por necessidade física, como se não o quisesse, mas, ao mesmo tempo o quis e o apresentou, tendo-o gerado por si mesmo fora do tempo e sem sofrimento.
26. Se alguém disser que o Filho é não-gerado e sem início, como para afirmar dois sem-início e dois não-gerados, e fazendo dois deuses, seja anátema. O Filho, de fato, é a cabeça que é o princípio de todas as coisas. Deus, por sua vez é a cabeça que é o princípio de Cristo. Assim reconduzimos, conforme a piedade, mediante o Filho, todas as coisas a um só princípio-sem-início de tudo.
27. E resumindo cuidadosamente o exame da compreensão do cristianismo, dizemos: Se alguém não disser que Cristo Deus, o Filho de Deus, existe antes dos tempos e adjuvou o Pai na criação de todas as coisas, mas que, desde que nasceu de Maria, então chamado e Cristo e Filho e recebeu o início do seu ser Deus, seja anátema.


c) Carta “Pro deifico”, aos bispos orientais, primavera 357

[Texto introdutório de Hilário de Poitiers:] Depois de tudo isso que tinha feito e prometido, Libério, mandado para o exílio, anulou tudo, escrevendo aos hereges arianos prevaricadores, que tinham emitido uma sentença injusta contra o santo bispo ortodoxo Atanásio (Post haec omnia, quae vel gesserat vel promiserat Liberius missus in exilium, universa in irritum deduxit scribens praevaricationibus Arianis haereticis, qui in sanctum Athanasium orthodoxum episcopum injuste tulere sententiam).

[Carta de Libério:] Pelo deífico temor, vossa santa fé é conhecida por Deus e pelos homens de boa vontade [Lc 2.14]. Como diz a Lei: Julgai retamente, ó filhos dos homens [Sl 58,2], eu não defendi Atanásio, mas desde que o meu predecessor, o bispo Júlio, de santa memória, o acolhera, eu temia em algum aspecto ser julgado prevaricador. Logo, porém, que reconheci, no momento em que a Deus aprouve, que vós o tínheis condenado justamente, sem demora procurei conformar minha opinião ao vosso julgamento. Bem mais, mandei ao nosso irmão Fortunaciano uma carta a respeito da sua pessoa, mas exatamente, acerca de sua condenação, para ser entregue ao imperador Constâncio. Removido, pois, Atanásio da comunhão com todos nós – e dele nem vou querer receber as cartas -, digo ter paz e unanimidade com todos vós e com todos os bispos orientais, ou seja, em todas as províncias.
Desejo, pois, que saibais ainda mais exatamente que, por meio desta minha carta, eu exprimo a verdadeira fé. Já que o meu senhor e irmão comum Demófilo, na sua benevolência, se dignou expor-me a vossa fé católica, que em Sírmio por muitos nossos irmãos e bispos foi tratada, exposta e aceita (- este é o erro ariano, isto o anotei eu, não o apóstata, Libério; o seguinte: -) por todos aqueles que estavam presentes, eu com ânimo disposto a acolhi (- Santo Hilário pronuncia sobre ele o anátema: O anátema expresso por mim esteja sobre ti, Libério, e sobre os teus companheiros -), não (a) contradisse em nenhum ponto e dei o meu consenso; esta (fé) eu sigo, esta vem sendo mantida por mim. (- Outra vez anátema a ti, e também uma terceira vez, prevaricador Libério -). Assim pensei em pedir à Vossa Santidade, já que agora claramente vedes que estou de acordo convosco em tudo, que vos digneis providenciar, com comum procedimento e empenho, que eu volte do exílio e reassuma a sé que me foi confiada por Deus.


d) Carta “Quia scio”, a Ursácio, Valente e Germínio, ano 357

Já que eu sei que vós sois filhos da paz e que igualmente amais a concórdia e a unanimidade da Igreja católica, por este motivo, não impelido por nenhum constrangimento – Deus é testemunha -, mas para o bem da paz e da concórdia, que tem precedência sobre o martírio, me dirijo a vós, caríssimos irmãos do Senhor, com esta carta. A Vossa Prudência saiba que Atanásio, que foi bispo da Igreja de Alexandria, [foi por mim condenado] antes [que eu escrevesse], de acordo com a carta dos bispos do Oriente à corte do santo imperador, [que ele] é separado também da comunhão com a Igreja de Roma, como disso é testemunha o corpo de presbíteros da Igreja romana. Este foi o único motivo pelo qual eu pareci mandar, tarde demais, aos nossos irmãos e coepíscopos orientais, uma carta relativa à pessoa dele, para conseguir que os legados que tinha enviado da cidade de Roma à corte, e igualmente os bispos que tinham sido exilados, e nós mesmos juntamente com eles, fôssemos revogados do exílio.
Mas desejo também que saibais que pedi ao irmão Fortunaciano, que [fizesse chegar] ao clementíssimo Imperador a minha carta, [que escrevi aos bispos orientais, para que eles também soubessem que eu, junto com eles, me separei da comunhão com Atanásio. Creio que sua piedade a receberá com alegria, por amor da paz. ...Reconheça a Vossa Caridade que fiz isto com ânimo benévolo e inocente. Por isso me dirijo a vós com a presente carta e vos conjuro por Deus onipotente e por Jesus Cristo, seu Filho, nosso Deus e Senhor, que vos digneis solicitar e requerer junto ao clementíssimo imperador] Constâncio Augusto que ele, belo bem da paz e da concórdia, em que sua piedade sempre se alegra, me faça retornar à Igreja a mim confiada por Deus, para que a Igreja de Roma não tenha de sofrer tribulação alguma durante o seu governo. ...


e) Carta “Non doceo”, a Vicêncio, ano 357

Acreditei dever comunicar à Tua Santidade que me retirei da discussão acerca da pessoa de Atanásio e que mandei uma carta relativa à sua pessoa aos nossos irmãos e coepíscopos orientais. Por isso, já que pela vontade de Deus nos foi dada por toda parte a paz, te dignarás visitar todos os bispos da Campânia e lhes dar a saber estas coisas. Juntamente com uma carta vossa, fazei chegar ao clementíssimo Imperador algum escrito por parte de alguns deles acerca da unanimidade e da paz conosco, para obter que também eu possa ser livrado da tristeza. ... Pois temos paz com todos os bispos orientais e convosco. ...

21 de maio de 2009

Matrimônio Cristão - Católico - 1ª Parte

Fonte:
Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral
Denzinger – Hünermann


MATRIMÔNIO CRISTÃO – CATÓLICO


Sínodo de Elvira (Espanha) 300-303?

Não se sabe com certeza em que ano foi o Sínodo de Elvira (hoje um subúrbio de Granada). Segundo Duchesne, atualmente se pensa sobretudo nos anos 300-303 (segundo outros, 306-312 ou talvez até o tempo do Silvestre I). Com base nas atas se tem certeza do dia da abertura: 15 de maio.

Indissolubilidade do matrimônio

Cân. 9. Igualmente, se uma mulher crente tiver deixado, por ser adúltero, o marido crente e esposar um outro, deve ser proibida de esposá-lo; se o esposar, não receba a comunhão antes que aquele que ela deixou tiver passado deste mundo, a não ser que, eventualmente, a necessidade por causa de doença constranja a isso.


Concílio de Calcedônia (4º ecumênico): 8 out. – início de nov. 451

304-305: 7ª sessão (15ª): Cânones

Matrimônio misto e batismo recebido na heresia

Cân. 14. Como em algumas províncias é permitido aos leitores e aos cantores casar-se, este santo Sínodo decidiu que não seja lícito a algum deles tomar como esposa uma mulher heterodoxa. Aqueles que tiverem já tido filhos de tais núpcias, se já fizeram batizar seus filhos pelos hereges, devem fazê-los admitir à comunhão da Igreja católica; se não foram ainda batizados, não podem batizá-los junto aos hereges. Nem devem dá-los em matrimônio a um herege, um judeu ou um grego (pagão), a não ser que a pessoa que se une à parte ortodoxa declare converter-se à verdadeira fé. Se alguém transgredir esta prescrição do santo Sínodo, seja punido com as sanções eclesiásticas.


Carta “Regressus ad nos”, ao bispo Nicetas de Aquiléia, 21 mar. 458

Segundas núpcias de presumidas viúvas

(Cap. 10) Dizeis que, por causa das calamidades da guerra e das violentíssimas incursões de inimigos, alguns matrimônios têm sido divididos, porque os homens foram levados para a prisão, enquanto as suas mulheres ficaram sozinhas e, julgando mortos seus maridos ou crendo que não poderiam mais ser libertos da dominação, contraíram, constrangidas pela solidão, matrimônio com outro; agora, porém, tendo com a ajuda de Deus melhorado a situação, alguns daqueles que foram dados por mortos retornaram; diante disso, com razão, a tua caridade parece hesitar a respeito do que deva ser disposto por nós sobre as mulheres que se uniram a outros homens.
Como, porém, sabemos que está escrito que a mulher é unida ao homem por Deus [cf. Pr 19,14] e também aprendemos a ordem que o homem não separe o que Deus uniu [Mt 19,6], devemos crer que os legítimos pactos nupciais precisam ser reintegrados e que, uma vez afastados os males que a guerra causou, seja restituído a cada um o que legitimamente possuía e se providencie com toda solicitude que cada um receba o que lhe pertence.
(Cap. 2) Não se julgue todavia culpado nem seja julgado usurpador do direito de outrem quem assumiu o lugar do cônjuge que se pensava não mais existir. De fato, muitas coisas que pertenciam àqueles que foram levados à prisão podem assim ter passado para o direito de outros, mas é também plena justiça que, se retornem, sejam-lhes restituídas as suas coisas. Se isso é observado, com toda a justiça, nos direitos de propriedade, no que concerne campos, casas e posses, quanto mais se deve procurar, quando da reintegração dos matrimônios, que seja restabelecido com o remédio da paz o que foi perturbado pela calamidade da guerra?
(Cap. 3) E por isso, se os maridos, retornando depois de longa prisão, tiverem perseverado no amor para com suas mulheres a ponto de desejar que elas voltem a ser suas esposas, deve-se deixar para trás e desculpar o que a necessidade causou, e restituir quanto a fidelidade requer.
(Cap. 4) Se, ao contrário, algumas mulheres se encontrarem tão presas pelo amor aos maridos posteriores que preferem ficar unidas a estes a voltar à união legítima, devem com justiça ser censuradas, a ponto de serem privadas também da comunhão eclesial: estas escolheram fazer de uma ação desculpável uma mácula delituosa, mostrando comprazer-se, por causa de sua incontinência, naquilo que uma justa remissão poderia ter expiado. ...


Respostas “Ad consulta vestra” aos búlgaros, 13 nov. 866

Trata-se de resposta à delegação do príncipe Bogoris da Bulgária, que com o seu povo tinha acolhido a fé cristã.

A forma essencial do matrimônio

Cap. 3. ... Segundo as leis seja suficiente o consentimento daqueles de cuja união se trata; se faltar às núpcias só esse consentimento, todo o resto, mesmo realizado o coito, será inútil, como atesta o grande doutor João Crisóstomo, que diz: “O que faz o matrimônio não é o coito, mas a vontade (o consentimento).

20 de maio de 2009

Símbolos da Fé - 5ª Parte

I CONCÍLIO DE NICÉIA (1º ECUMÊNICO): 19 JUN. – 25 AGO. 325


Este concílio dos “318 Padres”, convocado pelo imperador Constantino, o Grande, condenou sobretudo os arianos. Começou em 19 jun. (não em 20 mai.; Cf. E. Schwartz, in: Nachr. der Gesellsch. Göttingen [1904] 398; Turner 1/I/II [1904] 105: “XIII Kal. Iul”). Encontram-se conservados somente o Símbolo da fé, 20 cânones e uma carta sinodal.


SÍMBOLO NICENO, 19 JUN. 325

É contado entre as definições de fé mais significativas. O texto melhor é oferecido por Eusébio de Cesaréia, Carta aos seus diocesanos (PG 20, 1540BC); Atanásio de Alexandria, Carta ao Imperador Joviano, c. 3 (PG 26, 817B); De decretis Nicaenae synodi 37, § 2 (cf. a ed. infra citada de Opitz, 36); Basílio Magno, Carta 125, c. 2(PG 32, 548C). Os testemunhos textuais posteriores não valem como originários, por exemplo, o do Concílio de Calcedônia (ACOe 2/I/II, 79 16-23). O exemplo deste Concílio deu origem ao costume de redigir “Símbolos sinodais”. Entre as traduções latinas do Símbolo sobressaem por antiguidade as versões de Hilário de Poitiers, das quais vem aqui apresentada, ao lado do texto grego, a que consta da obra De Synodis 84 (PL 10, 36ª) (incluído o anatematismo).


[Versão grega]

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, artífice de todas as coisas visíveis e invisíveis.

E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por meio do qual vieram a ser todas as coisas, tanto no céu como na terra;

o qual, por causa de nós homens e da nossa salvação, desceu e se encarnou, se en-humanou, padeceu, e ressuscitou ao terceiro dia, [e] subiu aos céus, havendo de vir julgar os vivos e os mortos;

e no Espírito Santo.


Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo em que não era”, e: “Antes de ser gerado não era”, e que veio a ser do que não é, ou que dizem ser o Filho de Deus de uma outra hipóstase ou substância ou criado [-!], ou mutável ou alterável, anatematiza a Igreja católica.


[Versão latina]

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, artífice de todas as coisas visíveis e invisíveis.

E em um só nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido unigênito do Pai, isso é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, nascido, não feito, de uma só substância com o Pai (o que em grego se diz homoúsion); por meio do qual foram feitas todas as coisas que no céu e as na terra;

o qual, por causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, e padeceu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu aos céus, havendo de vir julgar os vivos e os mortos;

E no Espírito Santo.


Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo em que não era” e: “Antes que nascesse não era”, e que foi feito do que não era, ou que dizem ser de outra substância ou essência, ou que Deus é mutável ou alterável, a eles anatematiza a Igreja católica.

19 de maio de 2009

Carta a El Rei D. Manuel

[...]

E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.

Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!

Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.

Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.

E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.

Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor.

Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.

Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. [...]

Trecho extraído do texto disponível em http://www.culturabrasil.pro.br/zip/carta.pdf. Acessado em 19 de Maio de 2009 às 22:40.

18 de maio de 2009

Símbolos da Fé - 4ª Parte

SÍMBOLOS CONTIDOS EM COLEÇÕES ORIENTAIS DE CÂNONES


Síria e Palestina
Constitutiones Apostolorum, por volta de 380

Esta coleção grega de cânones pseudo-apostólico foi compilada ou na região siro-palestina ou em Constantinopla. O livro VIII remonta, na verdade, à Traditio apostólica de Hipólito de Roma (cf. *10), mas não assim o Símbolo contido no livro VII, c. 41, que parece ter estado em uso na Igreja do compilador.

E eu creio e sou batizado num só não gerado, o único verdadeiro Deus onipotente, o Pai do Cristo, criador e demiurgo de tudo, do qual tudo.
E no Senhor Jesus o Cristo, o seu Filho unigênito, o primogênito de toda a criação, o qual, antes dos séculos, pelo beneplácito do Pai, foi gerado, não feito; por meio do qual tudo veio a ser, tanto no céu como na terra, o visível e o invisível; o qual, nos últimos dias, desceu dos céus e assumiu carne, gerado da santa virgem Maria, e viveu retamente como cidadão segundo as leis de seu Deus e Pai, e foi crucificado sob Pôncio Pilatos e morreu por nós, e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, depois de ter sofrido, e subiu aos céus e está sentado à direita do Pai, e vem de novo, no término do século, com glória, para julgar vivos e mortos; e cujo reino não terá fim.
Eu sou batizado também no Espírito, isto é, o Paráclito, que operou em todos os santos desde sempre, posteriormente mandado também aos Apóstolos da parte do Pai, segundo a promessa do nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, e depois dos apóstolos a todos os que, na santa Igreja católica e apostólica, crêem na ressurreição da carne e na remissão dos pecados, e no reino dos céus e na vida do século a chegar.


Testamentum Domini Nostri Iesu Christi

Trata-se de uma compilação de cânones e de textos litúrgicos tomados de Hipólito de Roma, oriunda da Síria por volta do séc. V. O livro II, c.8 contém um Símbolo da fé em forma interrogatória.

Crês em Deus Pai onipotente?
Crês também em Jesus Cristo, Filho de Deus, que vem do Pai, que está desde o princípio com o Pai, que nasceu de Maria virgem, pelo Espírito Santo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morreu, ressuscitou ao terceiro dia, revivendo dos mortos, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai e virá julgar os vivos e os mortos?
Crês também no Espírito Santo, na santa Igreja?


Egito
Constituições da Igreja egípcia

Cf. *3°, onde constam informações prévias e os títulos completos das edições.


a) Versão copta: profissão de fé depois do batismo

Tu crês no Senhor nosso, Jesus Cristo, Filho único de Deus Pai; que ele, admiravelmente, se fez homem por nós, numa unidade incomparável, pelo seu Espírito Santo, de Maria, a santa virgem, sem sêmen viril, e que em prol de nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e ao mesmo tempo morreu segundo a sua vontade pela nossa salvação, ressuscitou ao terceiro dia, livrou os prisioneiros, subiu aos céus, está sentado à direita de seu bom Pai nas alturas e vem de novo para julgar os vivos e os mortos, segundo sua revelação e seu reino.
E crês no Espírito Santo, bom e vivificante, que tudo purifica, na santa Igreja.


b) Versão etíope: profissão de fé depois do batismo

Crês no nome de Jesus Cristo, nosso Senhor, Filho único de Deus Pai, que ele, por milagre incompreensível, se fez homem, do Espírito Santo e da virgem Maria, sem sêmen viril, e que foi crucificado nos dias de Pôncio Pilatos, e ao mesmo tempo morreu segundo a sua vontade pela nossa salvação; e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, e livrou os prisioneiros e subiu aos céus, e sentou-se à direita do Pai e virá para julgar os vivos e os mortos segundo sua revelação e seu reino?
Crês no Espírito Santo, bom e que purifica, e na santa Igreja? E crês na ressurreição da carne, que aguarda todos os homens, e no reino dos céus, e no juízo eterno?


Cânones Hippolyti

Esta coleção de cânones, que remonta talvez já à metade do séc. IV, é uma reelaboração egípcia da Traditio apostólica de Hipólito de Roma (cf. *10). Dela são conservadas somente as traduções árabe e etíope. O Símbolo aqui apresentado se encontra na tradução árabe, cân. 19.

Crês em Deus Pai onipotente?
Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, que Maria virgem, do Espírito Santo, deu à luz, [que veio para salvar o gênero humano] que [em prol de nós] foi crucificado sob Pôncio Pilatos, que morreu e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá para julgar os vivos e os mortos?
Crês no Espírito Santo [, o Paráclito, que procede do Pai e do Filho]?


II. ESQUEMA BIPARTIDO TRINITÁRIO-CRISTOLÓGICO


Fórmula chamada “Fides Damasi”

Esta fórmula foi atribuída no passado a Damaso I ou a Jerônimo. Na realidade, surgiu no fim do séc. V, provavelmente na França meridional (como também os Símbolos *73s e 75s). Parece que inicialmente faltavam algumas palavras, particularmente “et Filio”(“e do Filho), referentes à processão do Espírito Santo: cf. A.E.Burn, I. c. infra 245, no aparato crítico à linha 9 (com base em manuscrito dos séculos VIII-X).

Cremos em um só Deus Pai onipotente e em um só Senhor nosso, Jesus Cristo, Filho de Deus, e em [um só] Espírito Santo, Deus. Não cultuamos e professamos três deuses, mas Pai e Filho e Espírito Santo um só Deus; não um só Deus no sentido de que seja solitário, nem que o mesmo que é em si Pai, ele mesmo seja também Filho, mas que o Pai é aquele que gerou, e o Filho, aquele que foi gerado, e o Espírito Santo, não gerado nem não-gerado, não criado nem feito, mas procedente do Pai e do Filho [-!], coeterno e co-igual e cooperador com o Pai e com o Filho, porque está escrito: “Pela palavra do Senhor os céus foram firmados”, isto é, pelo Filho de Deus, “ e pelo Espírito de sua boca, toda a sua força” [Sl 33,6], e alhures; “Envia teu Espírito, e serão criados, e renovarás a face da terra” [cf. Sl 104,30]. Por isto, no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, professamos um só Deus, pois [deus] é o nome do poder deus [-!], não da propriedade. O nome próprio para o Pai é Pai, o nome próprio para o Filho é Filho, o nome próprio para o Espírito Santo é Espírito Santo. E, nesta Trindade, cremos um só Deus, pois o que é de uma só natureza e de uma só substância e de um só poder com o Pai do único Pai. O Pai gerou o Filho, não pela vontade ou pro necessidade, mas por natureza.
O Filho, no último tempo, desceu do Pai para nos salvar e para cumprir as Escrituras, ele que jamais cessou de estar com o Pai, e foi concebido do Espírito Santo e nasceu de Maria [-!] virgem, assumiu uma carne, uma alma, uma inteligência, isto é, um homem perfeito; não renunciou ao que era, mas começou a ser o que não era; porém de modo que fosse perfeito no seu e verdadeiro no . De fato, ele que era Deus nasceu como homem, e aquele que nasceu como homem atua como Deus; e aquele que atua como Deus morre como homem, e aquele que morre como homem ressurge [surge] como Deus. Ele que, vencido o domínio da morte com aquela carne na qual tinha nascido, sofrido e morrido, ressuscitou ao terceiro dia [-!], subiu ao Pai e está sentado à sua direita, na glória que sempre teve e tem. Cremos que nós, purificados na sua morte e sangue, haveremos de ser ressuscitados por ele, no último dia, nesta carne na qual agora vivemos, e temos a esperança de que dele haveremos de alcançar ou a vida eterna como recompensa do bom mérito, ou a pena do suplício eterno pelos pecados. Lê estas coisas, guarda-as, submete tua alma a esta fé. Do Cristo Senhor obterás e a vida, e a recompensa [as recompensas].


Símbolo “Clemens Trinitas”

Esta fórmula foi chamada também “Fides catholica Sancti Augustini episcopi” (Codex Augiensis [de Reichenau] XVIII, séc. IX, ed. KüBS). Teve origem no séc. V/VI na França meridional e foi depois introduzida na Espanha.

A Trindade clemente é uma só divindade. Por isso, Pai e Filho e Espírito Santo é uma só fonte, uma só substância, uma só força, um só poder. Dizemos que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, não três deuses, mas professamos com toda piedade um só . Pois, nomeando três pessoas, professamos com voz católica e apostólica que somente uma é a substância. Portanto, Pai e Filho e Espírito Santo, e “os três são um só” [cf. IJo 5.7]. Três, não confusos nem separado, mas distintamente unidos e unidamente distintos; unidos quanto à substância, mas distintos quanto aos nomes, unidos quanto à natureza, distinto quanto às pessoas, iguais quanto à divindade, semelhantes na majestade, concordes na Trindade, partícipes no esplendor. Eles são um, num modo tal que não devemos duvidar que são também três; são três, num modo tal que devemos dizer que não se podem separar entre si. Pelo que não há dúvida de que a injúria a um é insulto a todos, já que o louvor de um concerne à glória de todos.

“Isto é, pois o ponto principal de nossa fé segundo a doutrina evangélica e apostólica: que Jesus Cristo, Senhor nosso e Filho de Deus, não se separa do Pai, nem pelo reconhecimento da honra, nem pelo poder da força, nem pela divindade da substância, nem pela diferença de tempo”. E por isso, se alguém diz que o Filho de Deus, que é tão verdadeiramente Deus como é verdadeiro homem, porém sem pecado, tenha tido alguma coisa a menos quanto à humanidade ou quanto a divindade, deve ser considerado ímpio e estranho à Igreja católica e apostólica.


Símbolo pseudo-atanasiano “Quicumque”

Entre os estudiosos predomina a convicção de que o autor deste Símbolo não é Atanásio de Alexandria, mas deve ser procurado entre os teólogos do Ocidente. A maioria dos manuscritos mais antigos alega como autor Atanásio, outros, o Papa Anastásio I. Mas como não remontam a um período anterior ao séc. VIII, com razão se questiona sua confiabilidade. Os textos gregos ainda existentes são traduções do latim, não vice-versa; por este motivo não são aduzidos aqui. Entre os possíveis compositores deste Símbolo são mencionados particularmente: Hilário de Poitiers, + ca. 367 (assim M. Speroni); Ambrósio de Milão, + 397 (H. Brewer, B. Schepens, A. E. Burn 1926); Nicetas de Remesiana, + ca. 414 (M. Cappuyns, cf. *19); Honorato de Arles, + 429 (Burn 1896); Vicente de Lérins, + antes de 450 (G.D.W. Ommaney); Fulgêncio de Ruspe, + 532 (I. Stiglmayr); Cesário de Arles, + 543 (G. Morin antes de 1932); Venâncio Fortunato, + ca. 601 (L.A. Muratori). A hipótese de uma origem hispânica antiprisciliana (K. Künstle) atualmente não é mais sustentada, prevalecendo a opinião de que este Símbolo tenha surgido, entre 430 e 500, no sul da Gália, possivelmente na região de Arles, por obra de um autor desconhecido. No decorrer do tempo, este Símbolo adquiriu tal autoridade, no Ocidente como no Oriente, que na Idade Média chegou a ser equiparado aos Símbolos apostólico e niceno e a ser usado na liturgia.

(1) Todo o que quiser ser salvo, antes de tudo é necessário que mantenha a fé católica; (2) se alguém não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá para sempre.
(3) A fé católica é que veneramos um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, (4) não confundindo as pessoas, nem separando a substância; (5) pois uma é a pessoa do Pai, outra a [pessoa] do Filho, outra a [pessoa] do Espírito Santo; (6) mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
(7) Qual o Pai, tal o Filho, [e] tal o Espírito Santo: (8) incriado o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo; (9) incomensurável o Pai, incomensurável o Filho, incomensurável o Espírito Santo; (10) eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; (11) e, no entanto, não três eternos, mas um só eterno; (12) como também não três incriados nem três incomensuráveis, mas um só incriado [incomensurável] e um só incomensurável [incriado]. (13) Semelhante, onipotente o Pai, onipotente o Filho, onipotente o Espírito Santo; (14) e, no entanto, não três onipotentes, mas um só onipotente. (15) Assim Deus o Pai, Deus o Filho, Deus o Espírito Santo; (16) e, no entanto, não três deuses, mas um só Deus. (17) Assim, Senhor o Pai, Senhor o Filho, Senhor o Espírito Santo, (18) e, no entanto não três Senhores, mas um só é [-!] o Senhor: (19) pois, como somos obrigados pela verdade cristã a professar cada pessoa em sua singularidade como Deus e Senhor, (20) assim a religião católica nos proíbe falar de três Deuses e Senhores.
(21) O Pai não foi feito por ninguém, nem criado nem gerado; (22) o Filho é só pelo Pai, nem feito nem criado, mas gerado; (23) o Espírito Santo <é> do Pai e do Filho, nem feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. (24) Portanto, um só Pai, não três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos. (25) E [-!] nesta Trindade nada é antes ou depois, nada maior ou menor, (26) mas todas as três pessoas são entre si coeternas e coiguais. (27) De modo que, em tudo, como já foi dito acima, deve ser venerada e a unidade na Trindade e a Trindade na unidade [a Trindade na unidade e a unidade na Trindade]. (28) Quem, pois, quiser ser salvo pense assim a respeito da Trindade.
(29) Mas é necessário para a salvação eterna que também creia fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. (30) É, portanto, reta fé que creiamos e professemos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem [tanto Deus como igualmente homem]: (31) é Deus gerado antes dos séculos da substância do Pai, e é homem nascido no século da substância da mãe; 932) perfeito Deus, perfeito homem, subsistente de alma racional [dotada de razão] e carne humana; (33) igual ao Pai segundo a divindade, inferior ao Pai segundo a humanidade; (34) ele, apesar de ser Deus e homem, contudo não é dois mas um só Cristo; (35) um só, porém não pela transformação da divindade em carne [na carne], mas pela assunção da humanidade em Deus; (36) absolutamente um só não por confusão da substância mas pela unidade da pessoa. (37) Pois, como o homem uno é alma racional [dotada de razão] e carne, assim o Cristo uno é Deus e homem. (38) Ele padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia [-!] ressurgiu dos mortos, (39) subiu aos céus, está sentado [sentou-se] à direita do Pai, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. (40) À sua vinda, todos os homens devem ressuscitar com [em] seus corpos e hão de prestar contas de suas ações; (41) e os que fizeram o bem irão para a vida eterna, aqueles, porém [-!], que o mal, para o fogo eterno.
(42) Esta é a fé católica; se alguém não crer nela fiel e firmemente, não poderá ser salvo.

17 de maio de 2009

O Soberano Bem

São Pedro Julião Eymard

Os discípulos que se dirigem a Emaús acham-se interiormente abrasados, iluminados, tocados pelas palavras do divino estrangeiro que com eles se reunira durante a viagem.

Quando quer deixá-los: Oh! ficai conosco - dizem-lhe -, ficai, porque se faz tarde.

Não podiam saciar-se de ouvir o Senhor: parecia-lhes que, perdendo-o, perdiam tudo.

Em nossos dias, bem podemos dizer a nosso Senhor: Oh! ficai conosco, Senhor; sem vós, é a noite, a noite horrível!

Efetivamente, a Eucaristia é o soberano bem do mundo. Estar privado da Eucaristia seria a maior das desgraças.

Sim, Jesus é o Soberano Bem! Com ele, diz a Sabedoria, me vieram todos os bens. E São Paulo exclama: Pois que Deus nos deu o seu Filho, como não nos daria com ele todas as coisas?

Com efeito, tudo quanto ele possui, tudo quanto ele é, ele nos dá; não pode fazer mais.

Com Jesus-Eucaristia, a luz brilha no mundo. Com a Eucaristia, temos o pão dos fortes, o viático dos viajantes, o pão de Elias que nos ajuda a chegar até a montanha de Deus, o maná que nos faz suportar o horror do deserto.

Com Jesus, temos a consolação, o repouso nas fadigas, nas perturbações de nossa alma, nos despedaçamentos de nosso coração.

Na Eucaristia, encontramos o remédio para os nossos males, o preço das novas dívidas que todos os dias contraímos para com a justiça divina, por nossos pecados: Nosso Senhor se oferece cada manhã como vítima de propiciação pelos pecados do mundo.

Mas esse Dom superior a todo dom, estamos seguros de sempre o possuir?

Jesus Cristo prometeu permanecer com a sua Igreja até a consumação dos séculos: não fez promessa a nenhuma povo, a nenhum indivíduo em particular.

Ele ficará conosco se soubermos rodear a sua sagrada Pessoa de honra e de amor. A condição é expressa.

À honra, Jesus Cristo tem direito. Ele o exige. É o nosso Rei, o nosso Salvador. A ele, honra acima de qualquer outra honra; a ele, o culto supremo da latria; a ele, honra pública: somos o seu povo.

A Corte celeste se prostra em presença do Cordeiro imolado. Neste mundo, Jesus recebeu as adorações dos anjos em sua chegada, das multidões durante sua vida, dos Apóstolos, após sua ressurreição.

Os povos e os reis vieram para adorá-lo.

No Sacramento, não tem Jesus direito a mais honra ainda, pois que multiplica os sacrifícios e ainda mais se humilha?

A ele a honra solene, a magnificência, a riqueza, a beleza do culto. Deus fixara os menores detalhes do culto mosaico, que era apenas uma figura. Os séculos de fé jamais julgaram fazer bastante para o esplendor do culto Eucarístico: testemunham-no as basílicas, os vasos sagrados, os ornamentos, obras-primas de arte e magnificência.

A fé operava essas maravilhas; o culto, a honra tributados a Jesus Cristo são a medida da fé de um povo, a expressão de sua virtude.

Honra pois a Jesus-Eucaristia: é digno dela, a ela tem direito!

Mas ele não poderia contentar-se com honras exteriores. Ele requer o culto do nosso amor: o nosso serviço interior, a submissão de nosso espírito, não encerrados dentro de nós, mas manifestando-se pelas atenções tão ternas, tão amáveis, de um bom fiho para com seus pais, de um filho que vive ao redor do pai, da mãe, que sente necessidade de vê-los, de lhes dar os testemunhos de sua ternura; que, longe deles, sofre e definha, que se acha presente à primeira necessidade, que voa ao primeiro sinal, que previne os seus desejos na medida do possível, que se acha pronto a tudo para dar prazer ao bom pai, à boa mãe: eis o culto do amor natural.

É o mesmo culto de amor reclamado por Jesus-Eucaristia. Procura a Eucaristia, aquele que ama; acha prazer em falar nela, sente necessidade de Jesus, tende incessantemente para ele, oferece-lhe todas as ações, todos os prazeres de seu coração, as alegrias, as consolações: de tudo faz um ramalhete para Jesus-Eucaristia.

É opr este preço que conservaremos o Santíssimo Sacramento, pois perdê-lo seria o soberano mal.

Quando o sol se deita, acumulam-se as trevas: quando não brilha, faz frio.

Quando o amor da Eucaristia se extingue num coraçõa, perde-se a fé, reina a indiferença, e, nessa noite da alma, saem os vícios como animais ferozes em busca da presa.

Oh! desgraça incomparável! Quem poderá reanimar um coração gelado, quando a Eucaristia é impotente para aquecê-lo?

E o que Jesus Cristo faz com os indivíduos, ele o faz com os povos.

Não é mais amado, respeitado, conhecido; abandonam-no, desprezam-no. Que faria um rei, abandonado por seus súditos?

Jesus se vai! Vai em busca de um povo melhor. Que tristes espetáculos esses abandonos de Nosso Senhor! Houve um Tabernáculo no Cenáculo: e hoje, o Cenáculo é uma mesquita! Não havia mais verdadeiros adoradores. Que queríeis que Jesus fizesse?

O Egito, a África, outrora terras clássicas dos santos, habitadas por legiões de santos monges, Jesus Cristo as abandonou; ali, desde que a Eucaristia deixou de estar presente, reina a desolação: mas ficai seguros de que Jesus Cristo foi o último a deixar o lugar, quando não encontrou mais um só adorador.

Saibamos bem que, indo Jesus, voltarão os cadafalsos, a perseguição, a barbaria.

Quem deteria esses flagelos?

Ó Senhor, ficai conosco! Nós seremos os vossos fiéis adoradores! Mais valeria o exílio, a mendicidade, a morte, que a privação de vós.

Oh! não nos inflijais esse castigo de abandonar o santuário de vosso amor.

Pela Cátedra de São Pedro

Esta é uma das muitas orações que Santa Catarina de Sena fez, estando em êxtase após a Comunhão, e que foram transcrita pelos seus discípulos.

Ó Médico celestial e Amor sem preço da minha alma! Suspiro grandemente por Ti. A Ti clamo, Trindade eterna e infinita, em favor da hierarquia da santa Igreja. Por tua graça, apaga toda mancha da minha alma e, sem demora, pelos méritos de são Pedro, o piloto da tua pequena barca, socorre tua Esposa. Ela aguarda o teu auxílio na chama do teu amor e no abismo profundo da tua sabedoria. Não desprezes os anseios dos teus servidores.

Ó Pacificador, orienta para Ti os teus pastores. Tendo-os libertado das trevas, que surja para eles a aurora da luz, como almas plantadas na tua Igreja no puro desejo da salvação das almas. Pai benigníssimo, bendito seja o lado a nós concedido, para deter tua justiça. Falo da oração humilde e fiel dos teus servidores e do desejo santo, pelos quais prometes usar de misericórdia para com o mundo.

Agradeço-Te, Deidade eterna, pela promessa de conceder um refrigério à tua Esposa. Penetrarei novamente no jardim da Igreja e não mais sairei, enquanto não realizares tuas promessas, que sempre foram verdadeiras. Ó Deus veraz, destrói hoje nossos pecados e lava nossas almas no sangue do teu Filho, por nós derramado. Mortos para nós mesmos e vivos em Cristo, faze que assumamos a Paixão com rosto limpo e almas puras. Escuta igualmente a nossa prece pelo Responsável desta Cátedra, cuja festa celebramos. Torna o teu Representante semelhante ao velho Pedro. Prometeste realizar os meus desejos. Com maior confiança suplico que não demores, ó meu Deus, em realizar tais promessas.

E vós, queridos filhos, chegou o momento de vos fatigardes pela Igreja de Cristo, verdadeira mãe de nossa fé. Já que estais plantados na santa Igreja, exorto-vos a comportar-vos como colunas suas. Bem unidos, trabalhemos neste jardim da fé salvadora. Com fervor. Sem preguiça. Cumpramos inteiramente a vontade do eterno Deus, que nos chama para a salvação nossa e dos outros, bem como para a unidade da Igreja, na qual está a salvação de nossas almas. Amém.

18 de janeiro de 1379