26 de outubro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 2/4

D. Sebastião Wyart, que conhecera tão bem os trabalhos do asceta como as fadigas da vida militar, o labor do estudo e os cuidados inerentes ao cargo de superior, comprazia-se em dizer amiúde que havia três espécies de trabalhos:
1º - O trabalho quase exclusivamente físico daqueles que exercem uma profissão manual, do lavrador, do artista, do soldado. Este trabalho, afirmava ele, pense-se o que se quiser, é o menos rude dos três;
2° - O trabalho intelectual do sábio, do pensador, procurando, por vezes, tão arduamente a verdade, o do escritor, do professor, que envidam todos os esforços para a fazer penetrar em outras inteligências, o do diplomata, do negociante, do engenheiro, etc..., os esforços de cabeça do general, durante o combate, para prever, dirigir e decidir. Em si, diz ele, este trabalho é muito mais penoso que o primeiro, e o adágio - a função gasta o órgão - exprime esta prioridade.
3° - Enfim o trabalho da vida interior. Dos três ( e ele não hesitava em programá-lo ), é o mais penoso quando se toma a sério. Mas é também o que nos oferece maior número de consolações neste mundo. É também o mais importante. Constitui não já a profissão do homem, mas o próprio homem. Quantos se ufanam de ser corajosos nos dois primeiros gêneros de trabalhos e alcançam fortuna e êxito, não passam de inertes, de preguiçosos, de cobardes, quando se trata do trabalho para a virtude!
O ideal do homem decidido a adquirir a vida interior é esforçar-se por se dominar incessantemente a si mesmo e a tudo aquilo que o rodeia, a fim de que todas as suas ações redundem em glória de Deus. Para o realizar, esforça-se por se conservar unido a Jesus Cristo em todas as circunstâncias, com os olhos fitos no escopo a atingir, e pesa tudo a luz do Evangelho. Quo vadam et ad quid (Para onde e a que irei)? repete com Santo Inácio.Tudo, portanto, nele, tanto a inteligência e a vontade como a memória, a sensibilidade, a imaginação e os sentidos, tudo depende de um princípio. Mas quão enorme soma de trabalho lhe custa o chegar a este resultado! Quer se mortifique ou se entregue a um ou outro recreio lícito, quer reflita ou execute, quer trabalhe ou descanse, quer ame o bem ou sinta aversão pelo mal, quer deseje ou tema, quer aceite a alegria ou a tristeza, cheio de esperança ou de temor, indignado ou tranquilo, sempre e em tudo se esforça com energia por manter a cana do leme na direção da plena vontade divina. Na oração, sobretudo junto da Eucaristia, anda mais completamente se isola dos objetos visíveis, a fim de chegar a falar com Deus invisível como se o visse com os próprios olhos. No decurso dos trabalhos apostólicos, procura realizar esse ideal que São Paulo admira em Moisés.
adversidades da vida, tormentas suscitadas pelas paixões, nada logra fazê-lo desviar um só ápice da linha de conduta que se impôs. Se, porventura, fraqueja um momento, depressa recobra ânimo e continua com mais vigor a marcha para a frente.
Que trabalho! Como facilmente se compreende que Deus recompense já neste mundo com alegrias especiais aquele que não recua perante o esfôrço exigido por esse trabalho!
Ociosos, concluía D. Sebastião, ociosos os verdadeiros religiosos, os padres interiores e cheios de zelo! Deixem-se de histórias! Eles, os mundanos mais azafamados, que venham analisar se o seu trabalho se pode comparar com o nosso.




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