Sermão: IX Domingo depois de Pentecostes
Quem está de pé não caia. Quem caiu, se levante!
Em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo. Amém.
Quem está de pé, cuide para não cair, diz São Paulo. Quem está de pé é quem está em estado
de graça, em amizade com Deus, com a consciência livre de pecados graves. A
pessoa está de pé, pois pode andar em direção da salvação, nesse longo caminho
que é a vida. Mas como em todo caminho, há obstáculos
a se evitar, direções a se seguir.
Sendo católicos, temos a vantagem de
termos um bom GPS (mapa) em mãos para
nos direcionar, isto é, a Bíblia, a
Tradição e o Magistério. Com essas fontes garantidas por Deus de serem
infalíveis intérpretes de Sua vontade, sabemos como achar a rota a ser traçada
em nossas vidas. Deus colocou cada um em uma posição diferente, mas a todos
Deus deu o mesmo fim, o Céu, e entre o ponto em que se está e o ponto em que se
deve chegar, está o caminho que cada um deve traçar. Enganam-se aqueles que
querem decidir até nos mínimos detalhes a vida de outrem, pois o caminho certo
que cada um deve seguir é único. Podemos dar direções gerais para os outros,
mas decidir exatamente para que lado deve ser o seu próximo passo exigiria se
colocar exatamente na mesma posição em que a pessoa está, o que é impossível.
Mesmo sabendo, grosso modo, a
direção que temos que tomar, sendo alguém católico ou não, todos temos que
lidar com obstáculos. Há bons e maus
obstáculos. Os bons obstáculos são aqueles que dificultam a prática do mal. Por
exemplo, é difícil roubar um banco, mas tal obstáculo é um bem, pois se não existisse
tal obstáculo mais pessoas pensariam em roubar os bancos. Por outro lado, há
obstáculos para a prática do bem, como as tentações da carne, do mundo e do
demônio. Queremos fazer um bem, mas perdemos o tempo com futilidades. Não
rezamos nas tentações escorregando de pecado venial em pecado venial até cair
em pecados mais graves. Esses obstáculos devem ser combatidos.
Há, todavia, dois modos de
combatê-los, um é agindo contra eles,
lutando de frente, como é o caso da preguiça, em que se não nos disciplinamos
com horários ou pensamentos de ocupação, facilmente buscaremos o “fazer nada”
que, num primeiro momento pode ser lícito para repousar a alma para melhor agir
depois, contudo facilmente extrapolamos esse mínimo necessário podendo chegar
até a negligenciar deveres graves de estado. Nesse modo de combate, seria como
encontrar uma ventania no sentido contrário ao que devemos ir. Devemos resistir
nos segurando em pontos de apoio, que são a oração e os sacramentos,
bem como o auxílio das boas companhias, até quando a ventania parar, quando
poderemos continuar com maior velocidade o nosso trajeto. Lembremos que nunca
somos tentados além de nossas forças, e sempre há a força de Deus para nos
auxiliar naquilo que falta à nossa.
Outro modo de combate é o de desviar
dos obstáculos. Há certos obstáculos que não podem ser enfrentados diretamente,
de frente. Imaginemos uma cerca elétrica. Querer quebra-la ou escalá-la são
duas táticas claramente infelizes, pois seremos eletrocutados e possivelmente
mortos. Temos que nos desviar deles, fugindo
das ocasiões de queda, ou simplesmente ignorando as tentações, sem combater
diretamente contra elas dando argumentos contrários ao que sugerem. Divergir a atenção, ou evitar tal pessoa, mortificar a curiosidade, sobretudo a dos olhos e do ouvido, são
táticas elementares para se vencer tais obstáculos.
Agora vejamos o outro lado da moeda,
isto é, se São Paulo diz que quem está de pé cuide para não cair, então quem caiu, cuide para ficar de pé. O
primeiro passo para tal é reconhecer que caiu, pois quem acha que não caiu, não
tomará as providências para ficar de pé.
Infelizmente, desde o pecado
original, somos incapazes de nos colocarmos de pé sozinhos. Somos capazes de
cair num poço de vários metros de profundidade, mas somos incapazes de sair
dele se ninguém lança uma corda. Ninguém lançara a corda se não pedimos. É
preciso pedir a corda, isto é, é preciso rezar para Deus se compadecer de nós e
nos livrar de nossa miséria. É preciso depois segurar na corda e querer
subi-la, isto é, é preciso buscar a confissão e se confessar bem, reconhecendo
o erro do próprio pecado, buscar evita-lo, e pedir perdão a Deus na figura do
sacerdote devidamente capacitado.
Esse poço é escorregadio, e perto
dele há outros poços mais profundos. Quanto mais tempo demoramos para sair
dele, mais difícil será de alcançar a corda. Cuidemos então para buscarmos o
socorro o quanto antes, assim que percebemos que caímos, pois se somos
negligentes em fazê-lo, sobretudo para os que pensam em se converter apenas na
hora da morte, podemos entrar num caminho sem volta, para o fundo do poço, para
as regiões inferiores, que em latim chamamos de infernus.
Rezemos a Nossa Senhora, auxílio dos
cristãos, para não cairmos ou não deixarmos alguém cair, e a Nossa Senhora refúgio
dos pecadores, para nos levantarmos ou para ajudarmos alguém a se levantar, para
que no fim, o máximo de pessoas possível chegue na alegria celeste.
Em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
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