21 de abril de 2015

DOMINGO DA OITAVA DA PÁSCOA (IN ALBIS) Capela N. Sr.ª das Dores Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Guardar a fé

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…
Quasi modo geniti infantes, Como crianças recém-nascidas, mas já com o uso da razão, desejai sinceramente o leite espiritual.”
Durante oito dias a Santa Igreja prolonga a alegria pela ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A alegria é tal que a Igreja não pode contê-la em um só dia. Durante toda a oitava de Pácoa, nas Missas, a Igreja repetiu as seguintes palavras, falando do dia da ressurreição: “este é o dia que fez o Senhor, alegremo-nos e exultemos nele”. Sim, o dia da ressurreição é o dia que fez o Senhor. É o dia da nova criação. Não é que Deus tenha criado novos céus e novas terras no dia da ressurreição. Não, nesse dia, Deus criou um homem novo. Um homem capaz de vencer o pecado, a morte e o demônio. Com a morte de Cristo podemos efetivamente morrer para o homem velho, para o pecado, e podemos nascer um homem novo e jovem. Jovem não pela idade, mas pela graça, pela virtude. A alma que vive na graça é uma alma sempre jovem, em virtude do entusiasmo que tem pelas coisas de Deus, pela prontidão da vontade em servir a Deus. Devemos ter uma alma jovem, não no sentido de que um idoso ou de que pessoa madura deva se comportar como inconsequente ou de maneira inadequada para sua idade e condição, mas no sentido de que devemos ter grande generosidade e prontidão para servir a Deus em todas as coisas.
São Pedro, de quem são tiradas as palavras do Intróito, vai além, e diz que devemos ser como crianças recém nascidas. Portanto, morrendo para o pecado com Cristo na Cruz, devemos renascer para a vida da graça, para a vida da virtude com Ele na ressurreição. Devemos ser, então, como crianças recém-nascidas, mas já com o uso da razão, nos diz São Pedro. Ou seja, devemos ser como os recém-nascidos não para fazer o que quisermos, irracionalmente, mas, para buscar, com sinceridade e simplicidade, a doutrina de Cristo, que é o leite espiritual.
E é acreditando na doutrina de Cristo, é acreditando naquilo que Nosso Senhor nos ensinou que seremos salvos, que teremos uma vida nova aqui na terra e a vida eterna no céu, como nos diz São João no final do Evangelho de hoje. É acreditando em Jesus Cristo que poderemos vencer o mundo. É pela fé, que poderemos vencer o mundo. E o centro de nossa fé deve ser as palavras de São Tomé no Evangelho de hoje, dirigidas a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus”. A base da nossa fé é a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo é homem e Deus. E, sendo assim, devemos acreditar em seus ensinamentos e devemos colocá-los em prática. E somente com uma fé viva, quer dizer, com uma fé acompanhada das boas obras é que poderemos vencer o mundo. Uma fé morta, sem as obras, não basta. É preciso ter uma fé viva e firme. Não é um sistema político, não é um político, não é uma personalidade, não é uma filosofia qualquer, que vencerá o mundo. É a Igreja Católica com a fé que ensina aos homens e que deve permear todas as ações humanas. O que transformou a antiguidade pagã na civilização cristão foi a Igreja, foi a fé católica dos mártires, dos confessores, das virgens, das pessoas simples e importantes, das famílias… a fé do anônimo bem como do homem público. Foi a fé dos grandes santos, que cultuamos hoje sobre os nossos altares, mas também a fé de tantos outros que ficaram esquecidos nos séculos passados. A fé que os levava a querer restaurar tudo em Cristo, a fé que os leva a desejar e agir pelo reinado de Cristo na sociedade.
Mas como é grande a tentação do desânimo diante do mundo em que vivemos. Alguns poderiam dizer: é tão difícil ser católico, educar bem os filhos, evitar as ocasiões de pecado, evitar as diversões pecaminosas, que são inúmeras, bastando ligar a televisão para encontrá-las, por exemplo. Tantas cruzes que existem porque somos católicos. Quantas cruzes porque temos que nos indispor – às vezes mesmo no seio da família – em virtude de nossa fé. O mundo parece nos apresentar tantas facilidades, tantas alegrias. Uma vida tranquila, nos diz o mundo. E, então, desanimamos. Um sintoma claro do desânimo é começar a deixar as orações de lado. Outro sintoma, a preguiça espiritual, quer dizer, a preguiça para se dedicar às coisas de nossa santa religião. Ainda outro sintoma claro: a entrega  cada vez maior a diversões. No início, uma entrega sem moderação a diversões lícitas, logo a diversões ilícitas, que se opõem à fé e à moral católicas. Pouco depois, a pessoa passará a pensar como vive, isto é, de modo cada vez mais afastado de Deus. E se perguntará: por que continuar sendo católico, porque continuar tendo a fé católica e sofrer por causa disso? E já não saberá a resposta. Já não saberá dizer: “ora, porque na fé católica está a verdade, na fé católica está o bem”. E na verdade e no bem estão a nossa felicidade. Nossa felicidade não está nas facilidades e alegrias aparentes do mundo… As facilidades mundanas são facilidades para o pecado, para ofender a Deus e prejudicar-nos a nós mesmos. As alegrias mundanas são alegrias passageiras. Nossa felicidade está em Cristo Jesus, nosso Senhor e nosso Deus. Só Ele tem palavras de vida eterna. As cruzes, os sofrimentos dessa vida são nada comparados às alegrias do céu, alegrias que alcançaremos se tivermos uma fé viva, isto é, uma fé que se traduz em obras e que evita o pecado. Não se pode nem se deve desanimar, caros católicos, mas é preciso continuar com ânimo e com a alma jovem, jovem porque fundada em Deus, jovem porque encontra em Deus a força para vencer o mundo. As dificuldades existem e não são poucas, mas se Nosso Senhor sofreu antes de seu triunfo, antes de sua ressurreição, por que nós, pobres pecadores, não deveríamos sofrer? E devemos sofrer com alegria… É Nosso Senhor quem o diz: “Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim”. E continua: “Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa no céu.” Portanto, não devemos desanimar, não devemos perder a coragem nem a alegria de sermos católicos.
Como nos diz a epístola de hoje, devemos continuar a festa da Páscoa em nossa vida e em nossos costumes. Devemos continuar a festa da Páscoa, mantendo a fé, pois a páscoa, a ressurreição é a festa da fé por excelência. Devemos continuar a festa da páscoa mantendo a alegria própria da páscoa, que é a alegria de morrer para o pecado, e de viver em Jesus Cristo. Precisamos imprimir em nossas almas as palavras de São Paulo: “combati o bom combate… guardei a fé”. Fidem servavi. Guardei a fé. Que grande será a nossa alegria, quando, na hora de nossa morte pudermos dizer essas palavras: guardei a fé. Guardei o maior tesouro que existe: a fé e uma fé viva, que se traduz em obras, isto é, que se traduz na observância dos mandamentos.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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