Para os abortistas, é indispensável afastar o problema moral
O aspecto fundamental da estratégia é, de um lado, impedir que a polêmica se situe no terreno religioso e moral, pois certamente eles seriam derrotados, como sempre sucedeu; e, de outro lado, apresentar como vítimas as mulheres que não podem abortar.
Mónica Roa acrescentou que é preciso mostrar o aborto como mero “problema de saúde pública”, de “direitos humanos” e de “eqüidade de gênero”; e as mulheres como vítimas, apresentando “um caso de alto impacto” sentimental para mover a opinião pública.
Nessa situação, se algum católico notório esgrimisse razões religiosas ou morais para recusar a medida, por esta significar a morte de bebês, as promotoras deviam dizer que o modo de resolver esse aspecto da questão seria uma polêmica entre católicos anti-abortistas e católicos abortistas (!), como as assim chamadas “Católicas pelo Direito de Decidir”.
Entretanto, esse grupo é minúsculo e insignificante.
Sua notoriedade provém tão-só da incoerência e extravagância do nome. Já mostramos acima as inescrupulosas táticas que ele aplica, e que é uma farsa ele auto-intitular-se católico, pois nada tem de católico. Não só por ser abortista, mas também porque muitas de suas dirigentes se afastaram da Religião ou nunca a tiveram. É conduzido por uma ex-freira, hoje abortista confessa e agitadora internacional a favor do aborto sem restrições.
A opinião pública, contudo, não sabe disso. Julga que esse grupo representa um setor dentro da Igreja, e que cumpre dialogar com ele, pois é um efeito do desacordo interno entre católicos. Para se entender ainda melhor o que é esse grupo, veja-se a seguinte notícia a respeito de sua ligação com o movimento homossexual: “Um dos destaques [na parada homossexual] será a participação de um grupo de católicas. Formada basicamente por lésbicas, a ONG ‘Católicas Pelo Direito de Decidir’ estará em três trios elétricos. ‘Nossa intenção é desconstruir o discurso fundamentalista de alguns religiosos’, afirmou a presidente do grupo, Valéria Melk” (O Estado de S. Paulo, 6-6-2007).
A polêmica entre católicos não chega, pois, a ter importância alguma para a aceitação ou recusa do aborto, e às vezes nem sequer se realiza. Contudo, essa manobra permite criar obstáculos à intervenção da Igreja no debate, e assim favorecer os abortistas.
Por falta de esclarecimento, a tática surtiu efeito. Muitos anti-abortistas, inclusive o próprio presidente Lula, terminaram repetindo mecânica e ingenuamente o disparate de qualificar o aborto como mero “problema de saúde pública”. E prescindindo das considerações morais que, no entanto, são compartilhadas pela imensa maioria da população brasileira.
No caso da Colômbia, o episcopado teve uma reação de aparente desconcerto: alguns prelados reagiram energicamente, mas foram desautorados por colegas que não queriam polêmica; outros falaram de excomunhão para os abortistas, mas nenhum deles chegou a formulá-la; outros ainda convocaram manifestações improvisadas, que resultaram em fracasso; e a maioria ficou calada e paralisada, como se, de antemão, desse a batalha por perdida.
Assim, se em algo coincidiram entre si os pastores, foi em consentir que a polêmica se estabelecesse só no aspecto jurídico, e não no religioso e moral. Com isso perderam quase toda a força dos argumentos e muito da influência mobilizadora sobre a população católica.
Para isso colaboraram evidentemente elementos da imprensa conluiados com os mesmos ativistas. Cada vez que tratavam do tema, apresentavam dois lados: um organizado e frontal, a favor do aborto; outro desorientado e omisso, que simplesmente pedia que o aborto fosse recusado, mas omitindo os argumentos mais fortes e decisivos, que são os de conteúdo moral.
Rotação lamentável na moralidade pública
É verdade que a lei de aborto aprovada na Colômbia refere-se a uns poucos casos concretos: gravidez decorrente de violação, malformação do feto e risco de vida para a mãe. Mas os que apresentaram o pedido, já anunciaram que em breve solicitarão à mesma Corte Constitucional a aplicação de idênticos critérios para outras situações, sendo grande o risco de ser atendida.
O fato é que, em questão de semanas, as sondagens mostraram uma mudança de opinião: de profundamente contrária em relação ao aborto, passou à de resignação com a infame sentença a favor de sua implantação. Foi uma dura lição para os católicos colombianos e dos demais países do continente: nunca esquecer nem omitir as razões fundadas na fé, para a defesa da moral. Silenciar essas razões equivale a renunciar voluntariamente a uma vitória segura e sujeitar-se a uma série de derrotas nos pontos mais vitais que estão em debate.
Não obstante, se os abortistas conseguirem impingir à grande maioria dos países esse debate vesgo, que não considera as razões morais, lançarão uma nova “moral” totalmente relativista, baseada na “ideologia do gênero”, na aceitação das piores aberrações sexuais e na recusa de toda e qualquer discriminação. Exceto, é claro, em relação àqueles que ousarem opor-se a eles.
Nesse sentido, numerosos ativistas do aborto consideram sua vitória incompleta enquanto não tiverem obtido a sua implantação nas leis, e também que a opinião pública tenha aceitado como verdadeiros todos os sofismas usados para essa aprovação, renunciando totalmente a uma emenda de rumos.
Fraudes notórias na obtenção de sentenças abortistas Sabe-se que, em muitos casos, as demandas judiciais de mulheres que desejam abortar, e que para isso obtêm a reinterpretação da lei, são baseadas em notórias fraudes.
Alegam, por exemplo, ter sofrido violações, que depois se revelam falsas. Porém isso acontece muito tarde, quando a aprovação do aborto já fora realizada.
Foi este o caso de Norma McCorvey, mais conhecida como Jane Roe, no decurso da já mencionada causa judicial Roe x Wade, que serviu em 1973 para legalizar o aborto nos Estados Unidos. Ela posteriormente confessou a fraude, arrependeu-se e afirmou que, se as mulheres soubessem a verdade sobre o aborto, jamais se submeteriam a ele.
No início dos anos 70 ela declarou ter sido violentada, ficando grávida. As advogadas Sarah Weddington e Linda Coffee
necessitavam de uma “cliente” para atacar a lei que havia cem anos proibia o aborto voluntário. Elas convenceram-na a requerer o aborto, em vez de tramitar a adoção de seu bebê. O processo chegou à Suprema Corte, que em 1973 legalizou o aborto nos 50 estados da federação norte-americana.
Durante o processo, o bebê de McCorvey nasceu e foi concedido em adoção. Em 1987 ela admitiu não ter sido violentada, e que o pai da criança era um homem que ela conhecia. O relato de sua violação constituía, pois, uma mentira. Há alguns anos McCorvey se converteu ao catolicismo, e agora dedica-se a promover a defesa dos não-nascidos.
Em relação às mentiras que as abortistas usaram no caso dela, McCorvey explica: “As duas advogadas disseram-me que seria bom que as mulheres pudessem escolher entre ter o bebê ou não; eu então pensava o mesmo”.
Também deve ser considerado o fato de ela ter trabalhado numa clínica abortista desde 1991, vendo as altas somas de dinheiro que iam para os bolsos dos médicos e o desprezo que os advogados abortistas demonstravam pela medicina. Tudo isso a decepcionou profundamente.
* * *
São desse naipe as artimanhas utilizadas pelos abortistas para converter o crime em lei: sem o menor escrúpulo em espezinhar os mais importantes princípios morais e jurídicos; desprezando as convicções cristãs da população; zombando dos direitos mais elementares; e tramando um processo de degradação suprema para toda a sociedade, que desfechará numa perseguição implacável a todos os que se oponham ao aborto.
Até onde chegará esse processo? Depende dos próprios católicos, que devem resistir e se fazer ouvir pelas multidões, ao mesmo tempo ávidas e desconcertadas.
Ávidas de lutar contra tão vasta conspiração para espezinhar princípios sagrados, e desconcertadas com as tão freqüentes omissões daqueles que deveriam defendêlos, inclusive dentro do clero. A Divina Providência protegerá, inspirará e alentará os católicos fiéis a resistir e a lutar de forma legal, mas com valentia e intransigência, na defesa da fé e da moral verdadeiras.
Se cumprirmos desse modo o nosso dever de católicos, com a ajuda incomparável da Santíssima Virgem, a Santa Igreja terá uma vitória como poucas houve ao longo de sua gloriosa história já duas vezes milenar.
FIM
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