Sermão para o Domingo da Sexagésima
03 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Saiu o semeador a semear a sua semente (…) e uma parte caiu em terra boa e, depois de nascer, deu fruto, a cem por um.”
No Domingo da Sexagésima temos a bem
conhecida parábola do semeador e dos diferentes terrenos em que cai a
semente. O semeador é, antes de tudo, Deus, e a semente é a sua Divina
Palavra. Mas o semeador é também os sacerdotes, encarregados por Deu de
ensinar todas as nações. Os diferentes terrenos são as almas
diversamente dispostas a receber a pregação da Palavra Divina. No
Domingo da Sexagésima, a Igreja continua a querer nos dispor para uma
boa quaresma, para uma quaresma que dê frutos a cem por um. Para nos
dispor todos a uma boa Quaresma, que possa realizar em nós uma profunda
conversão, a Igreja lembra ao semeador o seu dever de pregar e lembra às
almas o dever de serem uma terra boa.
[Os deveres do sacerdote]
O bom semeador deve, em primeiro lugar,
pregar a Palavra de Deus e não a sua própria. É necessária fidelidade
extrema ao que ensina a Igreja, ele deve transmitir aquilo que recebeu,
sem corrupção, sem emenda. Um sacerdote que prega outra coisa que a
doutrina de Cristo, prega ventania e colherá tempestade. É o que vemos
hoje. Prega-se muita ventania e colhe-se tempestade e não uma primavera,
como querem muitos. Diz o Livro dos Provérbios (XXX, 6) “não acrescentes nada às palavras de Deus para não serdes por isso repreendido e achado mentiroso”.
O sacerdote deve ter verdadeira pureza de intenção: seu fim tem que ser
dar testemunho da verdade, para que todos tenham vida. Não deve buscar
fins menos honestos como o renome, os elogios, a glória desse mundo. O
sacerdote, além disso, deve ter uma vida de oração profunda e deve
pregar também com o exemplo. O exemplo é indispensável. Uma pregação que
é contrariada por um mau exemplo será quase sempre vã. O sacerdote deve
praticar penitências, a fim de que seus ouvintes se disponham bem. O
sacerdote, evidentemente, deve ter uma ciência adequada e uma caridade
ardente, pois só pode acender aquele que arde, como dizia São Francisco
de Sales. A eloquência do sacerdote é a sua caridade.
Ademais, o Sacerdote deve ter em mente
que sua missão é ensinar e não agradar aos ouvintes. O pregador deve,
então, perguntar-se com São Paulo: “é o favor dos homens que eu
procuro ou o de Deus? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar?
Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo.” O Apóstolo diz também: “prega
a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica,
admoesta com toda paciência e doutrina, porque virá tempo em que muitos
não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme
os seus desejos”. O semeador não deve temer as perseguições por
ensinar a verdade divina, nem deve temer os sofrimentos e privações. São
Paulo lhe dá o exemplo na Epístola de hoje: cárceres, açoites sem
medida; muitas vezes viu a morte de perto; cinco vezes recebeu dos
judeus os quarenta açoites menos um; três vezes foi flagelado com varas;
uma vez apedrejado; três vezes naufragou, uma noite e um dia passou no
abismo; viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de
salteadores, perigos da parte de seus concidadãos, perigos da parte dos
pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos
entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e
sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Não é pouca coisa o que sofreu
São Paulo para pregar o Evangelho.
Somente tendo isso em mente o pregador cumprirá devidamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide e ensinai todos os povos. Pregai o Evangelho a toda a criatura.
Se o pregador insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica,
admoesta com toda paciência e doutrina, muitas vezes de forma
inconveniente, ele cumpre simplesmente seu dever. O pregador insiste e
desagrada muitas vezes porque tem de salvar a sua alma, o que se faz
unicamente pela pregação da verdade revelada.
O pregador deve lembrar-se de que não tem
que prestar contas aos homens, mas a Deus. Os fiéis poderão, talvez,
dizer que não ouviram a Palavra de Deus, mas o sacerdote não terá
desculpa por não tê-la pregado. A Quaresma se aproxima e, nesse tempo, o
sacerdote deve cumprir ainda melhor a missão que lhe foi dada pela
Igreja: levar as almas ao amor a Deus e à detestação do pecado.
[Os deveres dos fiéis]
Se ao sacerdote cabe o grave dever de
anunciar a Palavra de Deus e de anunciá-la continuamente, sem mescla de
erro, mas com fortaleza, prudência e ciência, aos fiéis cabe ouvir essa
Palavra. E não só ouvi-la, mas colocá-la em prática. Nosso Senhor o diz:
“Bem-aventurados aqueles que ouvem a minha Palavra e a põem em prática” (Luc XI, 28). E o Salmista diz: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Sal XCIV, 8). E, finalmente, São João: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus”
(Jo XIV, 24). Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso dispôr a
alma pelo desejo de ouvi-la, pelo desejo de deixar o pecado, pela
oração. Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso remover os
obstáculos: é preciso sair do caminho aberto, é preciso remover as
pedras e os espinhos. O caminho aberto é a alma que não se protege, não
cerca o terreno. O caminho aberto é a alma em que qualquer coisa pode
transitar. É a alma preguiçosa, que não reza e que não foge das ocasiões
de pecado. Pode ser também a alma endurecida pelo pecado. O demônio a
faz esquecer rapidamente a Palavra de Deus. O pedregulho são as almas
inconstantes. Recebem a doutrina com gosto e alegria, apreciam sua
beleza e sua santidade, mas não tomaram a firme decisão de converter-se
completamente e permanecem superficiais. Quando chegam as dificuldades,
as tentações e as provações, voltam atrás. Os espinhos são as
preocupações imoderadas da vida, os prazeres mundanos, o apego aos bens
desse mundo. A alma cercada de espinhos recebe a Palavra de Deus, mas
logo a esquece e a abandona, preocupada desordenadamente com as coisas
desse mundo.
É preciso, caros católicos, ouvir a
Palavra de Deus com docilidade e colocá-la em prática. Da fidelidade e
da prontidão em recebê-la e em tomá-la por regra depende a nossa
salvação. Como diz Nosso Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo
que quem ouve a minha Palavra… tem a vida eterna e não incorre no juízo,
mas passou da morte para a vida” (Jo V, 24).
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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Nota do Editor: os subtítulos foram acrescentados por nós e não pertencem ao texto original do padre.
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