6 de fevereiro de 2013

Padre Daniel Pinheiro - IBP

Sermão para o Domingo da Sexagésima
03 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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“Saiu o semeador a semear a sua semente (…) e uma parte caiu em terra boa e, depois de nascer, deu fruto, a cem por um.”
No Domingo da Sexagésima temos a bem conhecida parábola do semeador e dos diferentes terrenos em que cai a semente. O semeador é, antes de tudo, Deus, e a semente é a sua Divina Palavra. Mas o semeador é também os sacerdotes, encarregados por Deu de ensinar todas as nações. Os diferentes terrenos são as almas diversamente dispostas a receber a pregação da Palavra Divina. No Domingo da Sexagésima, a Igreja continua a querer nos dispor para uma boa quaresma, para uma quaresma que dê frutos a cem por um. Para nos dispor todos a uma boa Quaresma, que possa realizar em nós uma profunda conversão, a Igreja lembra ao semeador o seu dever de pregar e lembra às almas o dever de serem uma terra boa.
[Os deveres do sacerdote]
O bom semeador deve, em primeiro lugar, pregar a Palavra de Deus e não a sua própria. É necessária fidelidade extrema ao que ensina a Igreja, ele deve transmitir aquilo que recebeu, sem corrupção, sem emenda. Um sacerdote que prega outra coisa que a doutrina de Cristo, prega ventania e colherá tempestade. É o que vemos hoje. Prega-se muita ventania e colhe-se tempestade e não uma primavera, como querem muitos. Diz o Livro dos Provérbios (XXX, 6) “não acrescentes nada às palavras de Deus para não serdes por isso repreendido e achado mentiroso”. O sacerdote deve ter verdadeira pureza de intenção: seu fim tem que ser dar testemunho da verdade, para que todos tenham vida. Não deve buscar fins menos honestos como o renome, os elogios, a glória desse mundo. O sacerdote, além disso, deve ter uma vida de oração profunda e deve pregar também com o exemplo. O exemplo é indispensável. Uma pregação que é contrariada por um mau exemplo será quase sempre vã. O sacerdote deve praticar penitências, a fim de que seus ouvintes se disponham bem.  O sacerdote, evidentemente, deve ter uma ciência adequada e uma caridade ardente, pois só pode acender aquele que arde, como dizia São Francisco de Sales. A eloquência do sacerdote é a sua caridade.
Ademais, o Sacerdote deve ter em mente que sua missão é ensinar e não agradar aos ouvintes. O pregador deve, então, perguntar-se com São Paulo: “é o favor dos homens que eu procuro ou o de Deus? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo.” O Apóstolo diz também: “prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, porque virá tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos”. O semeador não deve temer as perseguições por ensinar a verdade divina, nem deve temer os sofrimentos e privações. São Paulo lhe dá o exemplo na Epístola de hoje: cárceres, açoites sem medida; muitas vezes viu a morte de perto; cinco vezes recebeu dos judeus os quarenta açoites menos um; três vezes foi flagelado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufragou, uma noite e um dia passou no abismo; viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de seus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Não é pouca coisa o que sofreu São Paulo para pregar o Evangelho.
Somente tendo isso em mente o pregador cumprirá devidamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide e ensinai todos os povos. Pregai o Evangelho a toda a criatura. Se o pregador insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, muitas vezes de forma inconveniente, ele cumpre simplesmente seu dever. O pregador insiste e desagrada muitas vezes porque tem de salvar a sua alma, o que se faz unicamente pela pregação da verdade revelada.
O pregador deve lembrar-se de que não tem que prestar contas aos homens, mas a Deus. Os fiéis poderão, talvez, dizer que não ouviram a Palavra de Deus, mas o sacerdote não terá desculpa por não tê-la pregado. A Quaresma se aproxima e, nesse tempo, o sacerdote deve cumprir ainda melhor a missão que lhe foi dada pela Igreja: levar as almas ao amor a Deus e à detestação do pecado.
[Os deveres dos fiéis]
Se ao sacerdote cabe o grave dever de anunciar a Palavra de Deus e de anunciá-la continuamente, sem mescla de erro, mas com fortaleza, prudência e ciência, aos fiéis cabe ouvir essa Palavra. E não só ouvi-la, mas colocá-la em prática. Nosso Senhor o diz: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a minha Palavra e a põem em prática” (Luc XI, 28). E o Salmista diz: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Sal XCIV, 8). E, finalmente, São João: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus” (Jo XIV, 24). Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso dispôr a alma pelo desejo de ouvi-la, pelo desejo de deixar o pecado, pela oração. Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso remover os obstáculos: é preciso sair do caminho aberto, é preciso remover as pedras e os espinhos. O caminho aberto é a alma que não se protege, não cerca o terreno. O caminho aberto é a alma em que qualquer coisa pode transitar. É a alma preguiçosa, que não reza e que não foge das ocasiões de pecado. Pode ser também a alma endurecida pelo pecado. O demônio a faz esquecer rapidamente a Palavra de Deus.  O pedregulho são as almas inconstantes. Recebem a doutrina com gosto e alegria, apreciam sua beleza e sua santidade, mas não tomaram a firme decisão de converter-se completamente e permanecem superficiais. Quando chegam as dificuldades, as tentações e as provações, voltam atrás. Os espinhos são as preocupações imoderadas da vida, os prazeres mundanos, o apego aos bens desse mundo. A alma cercada de espinhos recebe a Palavra de Deus, mas logo a esquece e a abandona, preocupada desordenadamente com as coisas desse mundo.
É preciso, caros católicos, ouvir a Palavra de Deus com docilidade e colocá-la em prática. Da fidelidade e da prontidão em recebê-la e em tomá-la por regra depende a nossa salvação. Como diz Nosso Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha Palavra… tem a vida eterna e não incorre no juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo V, 24).
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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Nota do Editor: os subtítulos foram acrescentados por nós e não pertencem ao texto original do padre.

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