2 de agosto de 2009

Nono domingo depois de Pentecostes

Papa São Gregório Magno - Homilia 39 in Evangelia

Que o choroso Senhor tenha descrito aquela ruína de Jerusalém que foi levada a efeito pelos príncipes romanos Vespasiano e Tito, não ignora ninguém leia a história da destruição da mesma. São apontados esses príncipes romanos quando se diz: Porque te virão dias em que os teus inimigos te cercarão de paliçadas. Também aquilo que se acrescenta: Não deixarão em ti pedra sobre pedra, também se comprova pela transmigração da mesma cidade, pois hoje em dia ele está construída num lugar para fora das portas, por perto de onde o Senhor foi crucificado, enquanto da antiga Jerusalém, segundo o que se diz, foram arrancadas até as fundações.

Vê-se a seguir qual a culpa que trouxe a sua destruição: Porque não conheceste o tempo da tua visitação. Obviamente, o Criador dos homens, pelo mistério da sua encarnação, dignou-Se visitá-la, mas essa não atentou para o temor e o amor para com Ele. Porquanto, pelo profeta, Ele chama as aves do céu em testemunho da reprovação do coração humano, dizendo: O milhafre, no céu, conhece o seu tempo, a rola, a andorinha e a cegonha guardaram o tempo da sua vinda; o meu povo, porém, não conheceu o juízo do Senhor (Jeremias VIII 7).

Chorou antecipadamente o Redentor a ruína da pérfida cidade, que essa mesma cidade não sabia estar-lhe vindo. Por isso com razão diz o Senhor em pranto: Porque se conhecesses tu também, entendesses, chorarias; mas, ignorando o que é iminente, exultas. Por isso também se diz em seguida: Ó se ao menos nesse dia que te é dado conhecesses o que te pode trazer à paz! Enquanto ela ainda se dava aos prazeres carnais, sem cuidar das penas vindouras, tinha ainda, por um dia, em seu poder o que podia ter-lhe trazido à paz.


A destruição da cidade e do Templo de Jerusalém. - Fr. Leonard Goffine

Cumpriu-se a profecia de nosso divino Salvador a respeito da cidade de Jerusalém?

Sim, e da mais terrível maneira. Os judeus, opressos pelos seus cruéis governantes romanos, revoltaram-se, mataram muitos dos seus inimigos, e os expulsaram de Jerusalém. Sabendo que não deixariam que isso passasse sem vingança, os judeus se armaram para uma desesperada resistência. O Imperador Nero enviou um poderoso exército sob o comando de Vespasiano contra a cidade de Jerusalém, que primeiro tomou a menor fortaleza da Judéia, e então abriu caminho para a cidade. A carestia e miséria dos habitantes já havia alcançado o mais alto ponto, porque, dentro da cidade, homens ambiciosos provocaram conflitos, facções se formaram, lutando quotidianamente entre si, e tingindo as ruas de sangue, enquanto os ferozes romanos atacavam de fora. Então, um curto período de trégua foi concedido aos desafortunados judeus. O Imperador Nero foi assassinado em Roma no ano do Senhor de 68; seu sucessor, Galba, morreu logo, e os soldados colocaram seu amado comandante, Vespasiano, sobre o trono imperial. Ele, então, com o seu exército, deixou Jerusalém, mas no mesmo ano enviou seu filho Tito, com um outro exército, à Judéia, com ordens de tomar a cidade a qualquer custo, e punir seus habitantes.

Era tempo de Páscoa, e uma multidão de judeus congregou-se, vinda de todas as províncias da terra, quando Tito apareceu com seu exército diante das portas de Jerusalém, e cercou a cidade. A provisão de alimento esgotou-se em pouco tempo, e fome e peste vieram à cidade, e a assolaram terrivelmente. O líder dos selvagens revolucionistas, João de Giscala, mandou que as casas fossem perscrutadas, e que a comida remanescente fosse arrancada dos famintos, ou tirada à força de terríveis torturas. Para se salvarem do ultrajante tirano, os judeus tomaram o líder de uma malta de ladrões, chamado Simão, com toda a sua turma, para a cidade. João e Simão, com seus seguidores, procuravam, agora, aniquilar um ao outro. João tomou posse do templo. Simão o seguiu; sangue jorrava do templo e nas ruas. Somente quando o toque de batalha dos romanos foi ouvido de fora, as facções se uniram, para enfrentar o inimigo e resistir ao seu ataque. Piorando a fome, muitos judeus deixavam secretamente a cidade em busca de ervas. Mas Tito os capturava com sua cavalaria, e crucificava aqueles que estavam armados. Quase quinhentos homens, e às vezes mais, eram crucificados todos os dias à vista da cidade, de modo que não se podiam encontrar cruzes e lugar suficientes para a execução; mas mesmo essa vista terrível não moveu os judeus a submeter-se. Incitados à fúria por seus líderes, eles resistiam obstinadamente, e Tito, vendo que eram impossível tomas a cidade de assalto, terminou por cercá-la de muralhas, de modo a matar os habitantes de fome. Em três dias, os seus soldados construíram um muro de mais de quinze quilômetros de circunferência, e assim se cumpriu o que o Senhor predisse: Os teus inimigos de cercarão de trincheiras, e te apertarão de todos os lados.

A fome nesta miserável cidade agora alcançou seu peso mais aterrorizante; os malvados hierosolimitas procuravam comida pelas mesmas calhas das ruas, e comiam as coisas mais repugnantes. Uma mulher, enfurecida de fome, estrangulou sua própria criança, assou-a, e comeu metade dela; os líderes, sentindo o cheiro do horrível alimento, forçaram uma entrada na casa, e, por meio de horríveis ameaças, compeliram a mulher a mostrar-lhes o que tinha comido; ela apontou-lhes o restante da criança assada, dizento: "Comei-a, é minha criança; acho que não sois mais delicados do que uma mulher, ou mais carinhosos do que uma mãe". Extremamente horrorizados, eles deixaram a casa depressa. A morte, então, levava embora milhares diariamente, as ruas e as casas estavam cheias de cadáveres. De quatorze de abril, quando o cerco começou, até primeiro de julho, contaram-se cento e cinqüenta e oito mil corpos mortos; seiscentos mil outros foram jogados para fora dos muros, para as trincheiras, para salvar a cidade da peste. Todos os que podiam fugir fugiam; alguns alcançavam o acampamento dos romanos em segurança. Tito dispensava os inermes, mas todos os que caíam nas suas mãos armados eram crucificados. A fuga já não oferecia segurança maior. Os soldados romanos perceberam que muitos judeus engoliam ouro, para preservá-lo da avareza dos ladrões, e daí em diante os ventres de muitos eram abertos. Dois mil corpos como esses foram encontrados numa manhã, no acampamento dos romanos. As tentativas de Tito de evitar essa crueldade foram inválidas. Finalmente, quando a miséria atingiu o seu máximo, Tito conseguiu destruir o forte Antônia, e com o seu exército forçou uma passagem até o templo, que vinha sendo mantido por João de Giscala e seu famoso bando. Desejoso de poupar o templo, Tito ofereceu aos revolucionistas passagem livre para fora dele, mas essa proposta foi rejeitada, e a mais violenta luta começou, os romanos tentando entrar no templo, e sendo continuamente afastados. Finalmente, um dos soldados acendeu uma tocha e atirou-a para dentro de uma das salas anexas ao templo. As chamas, num instante, tomaram todo o interior do templo, e o consumiram totalmente, de modo que também essa profecia do Senhor foi cumprida. Os romanos mataram brutalmente todos os habitantes que encontraram, e Tito, tendo demolido as ruínas do templo e da cidade, percorreu-as com um arado, para indicar que essa cidade nunca mais deveria ser reconstruída. Durante o cerco um milhão e cem mil judeus perderam suas vidas; noventa e sete mil foram vendidos como escravos e o resto do povo se dispersou por toda a terra.

Assim Deus pudeu a cidade e nação impenitente, por cuja malvadeza o Salvador chorou tão amargamente, e assim se cumpriu a profecia ditada por Ele muito antes.

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