13 de outubro de 2015

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência II

Parte 5/5

As nossas afirmações, sobre o matrimônio, exaradas nesta instrução, revestem-no do brilho da vontade divina, ainda que tenhamos apenas estudado a metade da questão. Até agora não o vimos senão como a lei escrita na natureza humana, como o matrimônio natural, como era antes de Nosso Senhor Jesus Cristo. É já um grande e sublime ideal, é o sustentáculo e o fundamento da sociedade humana.
Em nossos dias, graças a Deus, a legislação civil já compreende a importância da família para o Estado, e é com júbilo que observamos suas primeiras manifestações em defesa da família atacada e em perigo. Seria, porém, desejável que a legislação civil fizesse todo o esforço para assegurar a pureza e a força da família.
De fato, quantas ocasiões se oferecem, ao Código Civil, para favorecer a família, tanto pelas medidas de previdência social, como pela proteção mais enérgica à moral pública! Sem dúvida, só a educação da consciência cria a moralidade, pois esta não vêm das leis, mas o Estado deve também auxiliá-la, protegendo esta consciência. É realmente alarmante a impunidade com que nos teatros, nos cinemas, nos livros e revistas, cheias de ilustrações imorais, zomba-se das ideias de família, e abala-se a moralidade. De que servem os sermões? Para que a ordem de salvar a família? Para que tantas investigações e congressos sobre a salvação da família, se a onda das edições pornográficas escritas, "só para adultos de mais de 16 anos", inundam as nossas ruas?
Não esqueçamos, o casamento, como ensina a Igreja Católica de acordo com o mandamento de Deus, não é uma invenção arbitrária, mas sim uma instituição baseada na natureza humana. Há necessidade absoluta de observarmos as leis de Deus, pois ao contrário a vida humana tornar-se-á um caos profundo e incompreensível, uma multidão em ruínas; assim como a existência da natureza toda tornar-se-á desordem e caos, se alguém suspender as leis da química e da física, pretextando que elas são "arcaicas" e que é preciso caminhar com a época. O mesmo Deus, portanto, que gravou na natureza inanimada as leis físicas e químicas, é o mesmo que impôs os mandamentos, e portanto, o matrimônio, ao homem.
Os céus façam com que a humanidade compreenda isto, antes que seja tarde demais!
Possa ela compreendê-lo, voltando ao ideal de pureza do matrimônio instituído por Deus. Amém.

12 de outubro de 2015

Sermão para o 18º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] A cura do paralítico: o perdão dos pecados, a divindade de Cristo e a cura do enfermo


Em nome do Pai…
Ave Maria…
Filho, tem confiança, são-te perdoados os teus pecados (Evangelho do 18º Domingo depois de Pentecostes).
Consideremos o Evangelho de hoje – a cura do paralítico – com suas lições. São Lucas, em seu Evangelho, nos dá alguns outros detalhes desse episódio, não relatados por São Mateus. Nosso Senhor estava em Cafarnaum, chamada de sua cidade porque era o centro de onde irradiava a sua pregação. E Nosso Senhor estava ensinando na casa onde se encontrava, e havia tantas pessoas presentes que já não cabiam nem mesmo diante da porta da casa. E estavam presentes também fariseus e doutores da lei. O paralítico, carregado por quatro amigos, queria aproximar-se do Senhor, mas não podia, em virtude da multidão que o cercava. Eles subiram, então, ao teto com o paralítico, fizeram uma abertura nas telhas, e o desceram diante de Nosso Senhor.
São Lucas, nos Atos dos Apóstolos (10, 38), diz que Nosso Senhor passou (a sua vida) fazendo o bem. Podemos ver isso no Evangelho de hoje claramente, nas suas palavras de bondade e nos seus atos. Em primeiro lugar, vendo o esforço que tinham feito o paralítico e seus amigos para chegar perto do dEle, e reconhecendo a fé que os movia a tais esforços, Jesus diz ao paralítico: tem confiança. São duas palavras que enchem de esperança e de consolo a alma daquele pobre coitado, paralítico. Filho, tem confiança. Sim, somos filhos de Deus e podemos e devemos ter confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na sua bondade e misericórdia, se fazemos a nossa parte. Podemos e devemos ter confiança se estamos dispostos a negar a nós mesmos, para tomar a nossa cruz e segui-lo, se nos esforçamos para sermos bons cristãos. Assim, em meio às maiores provações e dificuldades, lembremo-nos dessas palavras do Salvador: Filho, tem confiança. Deus está pronto para nos ajudar e pode nos ajudar. Ele não nos dará, porém, uma ajuda qualquer. A ajuda que Deus nos dá é sempre, de um modo ou de outro, para que possamos alcançar a salvação eterna. Se seguirmos o exemplo do paralítico, que não mediu esforços para colocar-se diante de Cristo, teremos nossos pecados perdoados, iremos ao céu.
Em segundo lugar, vemos a bondade de Nosso Senhor quando Ele perdoa os pecados do paralítico. Tendo o paralítico procurado Jesus muito provavelmente para alcançar somente a cura de sua paralisia, acabou recebendo muito mais. Vendo Jesus a disposição da alma do paralítico, a sua fé, o arrependimento que tinha o enfermo de seus pecados e provavelmente a paciência com que padecia esse sofrimento, Jesus lhe dá, primeiramente, o que é mais importante: Ele perdoa os pecados, dando-lhe a graça santificante, isto é, a amizade com Deus.
Em terceiro lugar, vemos a bondade de Cristo ao nos ensinar a verdade. Aqui Ele nos ensina que é homem e Deus. Por esse gesto de perdoar os pecados, Jesus se declara, evidentemente, Deus. Apenas Deus pode perdoar os pecados. Mesmo na confissão, é Deus quem perdoa os pecados utilizando o padre como instrumento. Então, Jesus ao perdoar pura e simplesmente os pecados, se diz Deus. E os doutores da lei e fariseus compreenderam muito bem isso, tanto que pensaram: esse homem blasfema, blasfema porque disse ser Deus ao perdoar os pecados desse modo.
Jesus, porém, sendo Deus, conhecia o pensamento deles. Perguntou-lhes, então: “por que pensais mal nos vossos corações? O que é mais fácil dizer: são-te perdoados os teus pecados ou dizer: levanta-te e caminha?” Aqui, os presentes, em particular os fariseus e escribas, recebem a segunda prova da divindade de Cristo: Ele conhece os pensamentos mais íntimos dos homens. Nosso Senhor mostra que sabia exatamente o que eles estavam pensando. A bondade de Cristo dá uma segunda prova de sua divindade, para que acreditem.
Finalmente, para tirar qualquer dúvida acerca de sua divindade, Nosso Senhor faz o milagre da cura do paralítico, um bem para o paralítico e um bem para os presentes para que possam acreditar em sua divindade. O milagre só pode ter como origem Deus. O milagre é algo que está acima das forças de toda e qualquer natureza criada. Quando o milagre está ligado intimamente a um ensinamento, ele serve para confirmar que esse ensinamento é verdadeiro. E por isso Nosso Senhor faz tantos milagres ao longo do Evangelho: para comprovar que seus ensinamentos são verdadeiros, que eles vêm de Deus, realmente. Por isso também, os profetas faziam milagres associados aos seus ensinamentos no Antigo Testamento, pois os milagres eram a confirmação de que aquelas palavras vinham de Deus. E, também por isso, os falsos profetas tentam legitimar suas falsas doutrinas com falsos milagres, que são charlatanice ou obras do demônio, mas nunca de Deus. Jesus, para confirmar o seu poder de perdoar os pecados e, consequentemente, a sua divindade, opera, então, o milagre da cura do paralítico. Ele o diz expressamente: “para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar pecados”, isto é, para que saibais que o Filho do homem é Deus, pois somente Deus pode perdoar os pecados: “Levanta-te, disse Ele ao paralítico, toma o teu leito, e vai para tua casa.”
Caros católicos, nessa brevíssima passagem do Evangelho, Jesus Cristo demonstra três vezes a sua divindade. Ele é homem e Deus. Alguns pretendem falsamente dizer que Cristo foi um grande profeta, o maior homem que já existiu, como os mulçumanos ou espíritas respectivamente, mas negam a sua divindade, negando as palavras de Cristo e suas obras que provaram a sua divindade. Fazem dele, então, um grande mentiroso, que teria afirmado ser Deus sem o ser efetivamente. Mas Ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. E, se é assim, devemos acreditar naquilo que nos falou, devemos seguir os seus ensinamentos e o seu exemplo. Devemos acreditar que existe um só Deus em três pessoas. Devemos acreditar que a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho, se fez homem para nos salvar e fez isso pela morte de cruz. Devemos acreditar que o seu sacrifício se renova pela Santa Missa e que Ele está realmente presente nas espécies consagradas, como nos disse na Santa Ceia. Ele nos ensinou o amor a Deus e o amor ao próximo, mesmo aos inimigos. Ensinou-nos a castidade, a indissolubilidade do matrimônio, a verdadeira justiça… Ensinou-nos que devemos buscar primeiro o reino de Deus e que tudo o mais nos será dado por acréscimo.
Verdadeiramente, Nosso Senhor passou sua vida fazendo o bem, ensinando a verdade, levando os homens ao amor a Deus, curando os doentes, salvando-nos.
Em nome do Pai…


11 de outubro de 2015

Catecismo Ilustrado - Parte 69

As Obras de Misericórdia

Obras Corporais de Misericórdia

Explicação da gravura

1. A misericórdia é uma virtude que nos leva a ter compaixão das misérias do próximo e a aliviá-las.
2. Há duas classes de obras de misericórdia, as corporais e as espirituais.
3. As corporais são as que se referem ao corpo do próximo.
4.  São sete: 1º dar de comer a quem tem fome; 2º dar de beber a quem tem sede; 3º vestir os nus; 4º visitar os enfermos e encarcerados; 5º dar hospedagem aos peregrinos; 6º remir os cativos; 7º enterrar os mortos.
5. A gravura representa as principais.

Dar esmola aos pobres

6. A primeira obra corporal de misericórdia é acudir aos pobres nas suas necessidades.
7. A gravura, na parte superior, representa o Profeta Elias multiplicando a farinha e o azeite da viúva da Sarepta. “Falou-lhe então o Senhor assim: “Levanta-te, vai para Sarefta dos Sidonios, porque eu ordenei a uma mulher viúva que te sustente”. Levantou-se e foi para Sarefta. Tendo ele chegado à porta da cidade, apareceu-lhe uma mulher viúva, que apanhava lenha. Ele chamou-a e disse-lhe: “Dá-me num vaso um pouco de água para beber”. Quando ela lha ia buscar, Elias chamou-a outra vez e disse: “Traz-me também, peço-te, um bocado de pão na tua mão”. Ela respondeu-lhe: “Viva o senhor teu Deus, que eu não tenho pão, senão somente um pouco de farinha na panela, e um pouco de azeite na almotolia. Ando a apanhar um pouco de lenha, a fim de a ir cozer para mim e para meu filho, para comermos e depois (de gastos estes restos) morreremos (de fome)”. Elias disse-lhe: “Não temas, mas vai e faz como disseste; porém faz primeiro para mim desse pouco de farinha um pãozinho cozido, debaixo do rescaldo, e traz-mo; para ti e para teu filho, farás depois”. Com efeito, o Senhor Deus de Israel disse assim: “A farinha que está na panela não faltará, nem de diminuirá, na almotolia, o azeite, até o dia em que o Senhor faça cair chuva sobre a terra”. Foi a mulher e fez como Elias lhe tinha dito. E desde aquele dia não faltou a farinha na panela, nem se diminuiu o azeite da almotolia. Aconteceu depois adoecer o filho desta mãe de família, e a doença era tão grave que já não respirava. Então Elias clamou ao Senhor, assim: “Senhor meu Deus, até a uma viúva, que me sustenta como pode, afligiste, matando-lhe seu filho?” O Senhor ouviu a voz de Elias; a alma do menino voltou a ele, e ele recuperou a vida”. (I Rei XVII, 9) Vê-se neste exemplo que Deus gosta de premiar os que praticam a caridade para com os pobres.
9. No ângulo superior da esquerda, vê-se uma mulher que dá esmola a um necessitado. 

Visitar os enfermos e encarcerados

10. Esta obra acha-se representada pelo bom Samaritano do Evangelho, à esquerda da gravura.
11. “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, o espancaram e retiraram-se, deixando-o meio morto. Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho um sacerdote que, quando o viu, passou de largo. Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar e vendo-o, passou adiante. Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, quando o viu, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: “Cuida dele; quando gastares a mais, eu te pagarei quando voltar”.” (Lucas X, 25)
12. No ângulo inferior da esquerda, vê-se uma Irmã da Caridade cuidando de um doente.

Dar pousada aos peregrinos

13. Esta obra de misericórdia está representada, na gravura, por Abraão oferecendo a hospedagem aos Anjos que iam destruir as cidade de Sodoma e Gomorra.
14. No ângulo inferior da direita, vê-se um frade dando hospedagem a um peregrino.

Enterrar os mortos

15. Esta obra está representada pelo santo homem Tobias, sepultando um dos companheiros do seu cativeiro.
16. No ângulo superior da direita, vê-se um sacerdote aspergindo com água benta a campa de um defunto que acabam de enterrar.

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência II

QUEM DEVE E QUEM NÃO DEVE CASAR-SE.

Parte 4/5

Se, meus irmãos, a família, já antes de Cristo, aparece-nos envolta em uma luz sublime, se sabemos que o casamento é o fruto da própria vontade do Criador, daí, pois, a seguinte pergunta: Esta instituição divina é obrigatória para todos os homens, sem exceção? A vontade divina exige que todos os homens se casem? Podemos resumir a resposta em uma só palavra: Não. A própria continência total é mais preciosa aos olhos de Deus: Para a maior parte, porém, da humanidade a solução exata é somente o matrimônio.

A) O casamento não é obrigatório para todos os homens, e mesmo se alguém, por um fim mais elevado, para servir a Deus mais perfeitamente, escolhe o celibato, sua vida é mais preciosa diante de Deus que o casamento, eis o que conhecemos, somente depois de Nosso Senhor Jesus Cristo.
a - Foi Ele que o proclamou claramente. Um dia, com efeito, o Salvador declarou que havia homens, que não se casavam "por causa do reino dos céus" (Mt 19, 12), isto é a fim de viver inteiramente para Deus.
São Paulo declara em seguida, mais minuciosamente: "Quem não se casou cuida das coisas do Senhor e procura agradar o Senhor; quem se casou cuida das coisas do mundo e procura agradar sua mulher e esta dividido" (1 Cor 7, 32 - 33).
O casamento esta, pois, no plano divino, mas a castidade é um estado ainda mais perfeito. É assim que devemos compreender aquele pensamento de São Paulo quando escreve: "É bom para o homem não tocar a mulher" (1Cor 7, 1), isto é, que a virgindade perfeita, escolhida para servir a Deus, e por amor ao próximo é uma evolução espiritual maior.
Aquele que permanece celibatário para servir a Deus com um coração sem partilha oferece-lhe, pois, um grande sacrifício,
b - Deus, porém, a isto não obriga ninguém. É apenas um "conselho evangélico", e não um preceito. "Aquele que pode compreender, compreenda" (Mt 19, 12), diz o próprio Nosso Senhor.
São Paulo também proclama que a maior parte da humanidade não é chamada a isto, quando ele escreve na mesma passagem que para evitar o pecado da impureza "cada um tenha a sua mulher e cada mulher tenha o seu marido" (1 Cor 7, 2). A palavra "tenha" possui aqui um sentido restrito, e quer dizer "é permitido que tenha". Para a maior parte da humanidade é, pois, regra geral, porque o dom da continência, durante toda a vida, não é atribuída senão a um pequeno número.
E agora podemos responder a pergunta: Quem deve casar-se, e quem não deve?

B) Quem não deve casar-se?
a - Todo aquele, primeiramente, cujo organismo luta contra sombria hereditariedade ou sofre de uma moléstia congênita, fará bem em não se casar, porque pais que sofrem de uma grave moléstia hereditária não podem quase dar a vida, senão a filhos do mesmo modo, gravemente doentes.
É porém interessante notar que alguns desejariam ver as leis civis mais rigorosas, neste ponto, que as leis eclesiásticas, e quereriam proibir oficialmente o casamento destes doentes. A moral cristã ao contrário, embora não aprove estes casamentos, não os proíbe como falta grave, - assim o proclamou, claramente, Pio XI na encíclica Casti connubii.
Por que não os proíbe? Porque se pode fazer com que, para estes infelizes, o casamento signifique consolo, alivio e reconforto, ajudando-os, assim, a realizarem o fim eterno de suas almas. O fim da Igreja é facilitar, ao homem, a salvação de sua alma.
b - Quem mais não deve casar-se?
Aquele que quer pôr a sua vida ao serviço de um grande ideal, como por exemplo, às pesquisas cientificas ou ao serviço do próximo, mas, em primeiro lugar, ao serviço de Deus. Não devem estes casar-se, mas guardar, até a morte, continência perfeita, castidade absoluta.
c - E quem mais não deve casar-se? Aquele que é doente, aquele que deseja ser sacerdote ou religiosa. E depois?  Ninguém mais.
Fora destes casos à maior parte da humanidade aplicam-se realmente como um preceito estas palavras do Criador: "crescite et multiplicamini", crescei e multiplicai-vos (Gn 1, 28). Quem não é doente ou não quer colocar-se ao serviço de um grande ideal deve casar-se.
Deve casar-se, porque é a vontade de Deus, que dele o exige, e porque o exige, também, seu próprio interesse bem compreendido.
"É bom que o homem não esteja só" (Gn 2, 28), lemos nas páginas da Sagrada Escritura. E como são certas estas palavras! Foram ditas por Deus que criou o homem, e consequentemente conhece melhor a natureza humana.
A literatura tem muitas vezes descrito a vida solitária do celibatário, do velho solteiro, que certamente não é digna de inveja. Mesmo altamente colocado, sua alma, porém, esta vazia. Tem uma bela vivenda, mas não possui um lar. A noite de Natal chega, e em lugar de risos argentinos dos filhos ouve apenas o tic-tac monótono do relógio, no quarto vazio e deserto: sim, envelheceis, envelheceis, e os anos fogem.
E é aqui que eu quero mostrar a grande diferença que existe entre o celibatário e a jovem que não se casou. De fato, se um homem fica velho solteiro, as mais das vezes é por sua própria culpa: ele não quis casar-se. A jovem, porém, se permanece solteira, não é, as mais das vezes, por sua culpa: ela não pode casar-se. A voz da consciência não fala pois, do mesmo modo, em ambos os casos. A jovem que, sem culpa, não se casou pode, nos momentos de abandono, encontrar consolo na resignação à vontade de Deus, que assim dispôs, mas, ao contrário, ela faz falta ao homem que não pode atribuir senão a si próprio, e ao seu egoísmo, o sentimento angustioso da solidão que um dia pesará sobre ele.
E agora direi aos meus ouvintes, - sem medo de magoá-los, pois chamei-os "reis" - dir-lhes-ei             claramente o que penso nesta grande questão: Senhores, ou padres ou casados, não há solução diferente.

10 de outubro de 2015

Sermão para o 17º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A caridade: o que amar, em que ordem amar

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu espírito. Este é o máximo e primeiro mandamento. Mas o segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Evangelho do 17º Domingo depois de Pentecostes).
Nosso Senhor Jesus Cristo, perguntado por um fariseu no Evangelho de hoje, nos dá o preceito da caridade, do amor a Deus e ao próximo. Ele nos diz, então, que o primeiro mandamento é amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o espírito. Nossa vontade é feita para amar o bem. Nada melhor e mais justo, então, do que amar o Sumo Bem, o Bem infinitamente perfeito, que é Deus. E, sendo Ele o Sumo Bem, devemos amá-lo de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso espírito. Devemos amá-lo inteiramente, sem reservas, sem condições. Devemos amá-lo com generosidade e grande intensidade. Não devemos amar a Deus com tibieza ou mediocridade, dividindo o nosso coração entre Deus e o que não nos leva a Ele. Não pode haver acordo entre Cristo e o mundo, entre Cristo e Belial, entre Cristo e a mediocridade. Deus não nos pede que o amemos o mínimo para nos salvar, mas Ele pede que o amemos de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso espírito, caros católicos. Não devemos, então, nas nossas ações permanecer simplesmente no limite do que é bom, na tibieza, na mornidão, no mínimo. É arriscado viver sempre no mínimo, no limite. E aquele que ama o perigo perecerá pelo perigo. É preciso realmente amar a Deus inteiramente. Fazer a vontade dEle com grande generosidade e alegria profunda da alma, mesmo quando a vontade dEle manifestar-se por meio de cruzes. O Sumo Bem, a Bondade Infinita, a Beleza incriada, a Vida, o Criador – que nos fez e criou todas as coisas para que possamos servi-lo – e nosso Salvador deve ser amado inteiramente.
Todavia, caros católicos, a caridade não se refere unicamente a Deus. Ela se refere também a outras coisas, pois o amor a Deus nos faz amar tudo o que pertence a Deus e nos faz amar tudo aquilo onde se reflete a sua bondade. Assim, por amor a Deus, devemos amar a nós mesmos, o nosso próximo, os anjos e santos no céu, o nosso corpo, e mesmo as criaturas irracionais. Justamente, devemos amar essas coisas com amor de caridade, isto é, com um amor que se dirige a Deus. Devemos amar a Deus que é o Sumo Bem e devemos amar em Deus tudo aquilo que pode participar da bondade perfeita de Deus no céu ou que pode nos ajudar a alcançar o céu.
Em primeiro lugar, devo amar a mim mesmo com amor de caridade. Inclusive, Nosso Senhor diz que devo amar ao próximo como a mim mesmo, o que supõe que amo a mim mesmo com amor de caridade. Pertenço a Deus, fui criado por Ele, devo tudo a Ele. Fui criado para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo e para participar de sua felicidade eterna e perfeita no céu. Devo, então, amar-me com caridade, isto é, de modo que possa alcançar a felicidade eterna. Em todas as minhas ações, devo fazer aquilo que me dirija a Deus, e assim terei um amor ordenado por mim mesmo. Amar a mim mesmo não é fazer o que mais me agrada, nem me fazer pequenas concessões que vão contra Deus. Amar-me a mim mesmo é buscar e agir para o meu verdadeiro bem, que é Deus, o céu. O pecador, longe de amar a si mesmo ao seguir a sua vontade contra a vontade de Deus, é o pior inimigo de si mesmo. Na verdade, o pecador, sem se dar conta disso, evidentemente, odeia a si mesmo, pois age para a sua própria ruína. O pecador deseja e faz o mal para si mesmo, afastando-se de Deus. Devemos, caros católicos, buscando a virtude e fazendo a vontade de Deus em todas as coisas, amar-nos a nós mesmos e não tornarmo-nos inimigos de nós mesmos pelo pecado.
Em seguida, devemos amar o nosso próximo com amor de caridade. Devemos amá-lo porque também o nosso próximo pertence a Deus, foi criado por Ele para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. Devemos amar o nosso próximo porque Ele é capaz de participar da vida divina no céu, de salvar-se. Devemos amar o nosso próximo enquanto ele pode dirigir-se a Deus. E o nosso amor consiste precisamente em desejar e em ajudar o nosso próximo a alcançar o céu, pela fé e pelas boas obras. Amar o próximo por qualquer outro motivo distinto de Deus não será amor de caridade, mas amor simplesmente natural. E a caridade para com o próximo tem também uma ordem. Devemos, claro, amar todos os nossos semelhantes ainda capazes da salvação, mas devemos amar mais aqueles que nos são mais próximos, nossos pais, filhos, pessoas com quem convivemos mais frequentemente. É importante ressaltar que o primeiro próximo do marido é sua esposa e que o primeiro próximo da esposa é seu marido.
Entre os nossos próximos devemos amar com amor de caridade mesmo os pecadores. Não podemos nem devemos amá-los enquanto pecadores, pois enquanto pecadores são inimigos de Deus e colocam voluntariamente obstáculo à própria salvação. Os pecadores enquanto pecadores são dignos da ira de Deus e não são, portanto, dignos de nosso amor. Todavia, devemos amá-los porque ainda são capazes de se arrepender de seus pecados, de reparar por eles e de se unirem a Deus. Portanto, o amor para com os pecadores deve ser justamente em vista do verdadeiro bem deles, que é a conversão a Deus e o abandono dos pecados. Amar os pecadores não é deixá-los acomodados em seus pecados ou compreender os pecados deles, mas ajudá-los da melhor maneira possível a se tornarem amigo de Deus. Por outro lado, não podemos amar com amor de caridade os demônios e condenados, justamente porque estão definitivamente separados de Deus e são inimigos dEle, incapazes de arrependimento. São obras de Deus e refletem a justiça divina na morte eterna pelos castigos que recebem, mas estão obstinados no mal. Amá-los seria equivalente a odiar a Deus e rechaçar a sua justiça perfeita.
Entre os nossos próximos, que devemos amar com amor de caridade, estão incluídos mesmo os nossos inimigos, quer dizer, aqueles que nos desejam, nos fizeram ou nos fazem algum mal. Não devemos amá-los enquanto nossos inimigos, pois seria amar a própria maldade deles. Mas devemos amá-los como capazes de participarem da vida divina. E devemos estar dispostos a ajudar nisso, se a nossa ajuda se revela estritamente necessária. Portanto, quando rezamos pela salvação de todos, pela conversão dos pecadores, etc., não podemos nunca excluir os nossos inimigos, mesmo se não estamos obrigados a citá-los particularmente. Seria pecado mortal excluir nossos inimigos das orações comuns ou não corresponder a uma saudação de bom dia, por exemplo. Somos obrigados a esses atos comuns de caridade, que se dão a todos os homens, mesmo com nossos inimigos. Não somos obrigados, porém, a atos particulares de caridade que não se fazem com todos a não ser que esse ato seja necessário quando nosso inimigo se encontra em perigo sério para a sua alma ou para o seu corpo. Devemos, então, amar com amor de caridade mesmo os nossos inimigos.
Devemos amar com amor de caridade os anjos e santos no céu, pois já participam da vida divina, já estão definitivamente unidos a Deus e são seus amigos íntimos. Nada mais natural que os amemos com grande caridade. Devemos também amar as almas do purgatório, pois já estão unidas a Deus e a bem-aventurança eterna para elas é apenas uma questão de tempo.
Devemos, caros católicos, amar com amor de caridade nosso corpo. Ele é obra de Deus e unido a nossa alma, forma o nosso ser. Não somos um mero animal, pois temos uma alma espiritual, capaz de conhecer a verdade e amar o bem, capaz de conhecer Deus e amar a Deus. Não somos anjos, pois temos um corpo unido a nossa alma, e que a ajuda em suas funções. Somos corpo e alma, somos animais racionais. Devemos amar nosso corpo na medida em que coopera para a nossa salvação. E amar o nosso corpo é exatamente saber usá-lo devidamente, para praticar o bem e evitar o mal. Assim, a mortificação cristã, necessária para subjugar algumas tendências desordenadas do nosso corpo, que existem em virtude do pecado original, não é um ato de ódio ao nosso corpo ou de desprezo a ele, mas de amor a ele, para que ele possa realmente servir a Deus.
Finalmente, devemos amar com amor de caridade as outras criaturas. Devemos amá-las enquanto são bens que podemos utilizar para a glória de Deus, para auxiliar na nossa salvação e na salvação de nosso próximo. Deus criou essas coisas para que o homem as utilizasse bem, isto é, com verdadeira caridade, ordenando-as a Deus, usando-as para servir melhor a Deus.
Assim, caros católicos, podemos compreender um pouco melhor o preceito da caridade. Em primeiro lugar, devemos amar a Deus, Sumo Bem e fonte de toda a bem-aventurança. Em seguida, devemos amar a nossa alma, capaz da bem-aventurança, e nosso próximo, também capaz da bem-aventurança. Devemos amar os anjos e santos no céu, bem como as almas do purgatório, mas não os já condenados. Entre os nossos próximos estão também os pecadores e nossos inimigos. Devemos amar nosso corpo e as outras criaturas. Mas devemos sempre nos lembrar: a caridade dirige todas essas coisas para Deus, para servir a Deus, para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

9 de outubro de 2015

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência II

QUE É O MATRIMONIO SEGUNDO A VONTADE DIVINA?

Parte 3/5


Deus criou, pois, o matrimônio.
Mas por que? Que ideia fazia Ele da essência do matrimônio?

A) Perguntemos a nós mesmos: Que é o matrimônio conforme a vontade de Deus? É um contrato? É. Mas é outra coisa ainda.
a - Por ocasião de seu casamento, os esposos passam realmente um contrato: prometem mútua fidelidade, assistência recíproca, auxílio na desgraça, fazem esta promessa sob uma forma solene. O casamento é, pois, também um contrato.
Quem não vê, porém, que é alguma coisa a mais? É a fusão misteriosa de duas almas, o encontro decisivo, e a união de duas vidas humanas. A humanidade já o pressentia mesmo antes do cristianismo, e eis por que vemos que entre os povos pagãos já o casamento era colocado entre as cerimônias religiosas, as mais solenes e variadas.
b - Tem-se o hábito de dizer que para o casamento há necessidade de dois: de um homem e de uma mulher. É um grande erro! Há necessidade de três: de um homem, de uma mulher e de mais um ainda - Deus. De fato Deus deve ter aí o primeiro lugar. Ele instituiu o casamento; é pois somente com Deus e em Deus que se pode contratá-lo.
E não sendo o casamento um contrato puramente humano, e nem uma invenção humana, por isso mesmo a sua própria essência escapa à autoridade dos homens.
O gênero de existência, de civilização, de forma política, em que ele vive, depende do homem. O casamento, porém, e a família não dependem do homem.

B) Que é, então, o casamento? pergunto novamente. Talvez um negócio particular entre duas pessoas?
É-o, efetivamente, e mais alguma coisa ainda: é de ordem pública também, e é um negócio de interesse geral.
O casamento não é, pois, uma colocação para as jovens, que não poderiam sair-se bem de outra maneira? Certamente não. É o casamento uma troca de amabilidades e de cumprimentos? Um instrumento de prazeres particulares? Realmente não. É um negócio de ordem pública, extremamente importante. E será mais fácil de se reconhecer, no labirinto inextrincável das questões matrimoniais, se se teve continuamente presente no espírito que o casamento não é só um negócio particular, mas também de interesse público; particular, enquanto sou livre  de escolher, contrato matrimônio com quem quero. Mas uma vez realizado o casamento, então a sorte da humanidade inteira lhe esta unida; tornou-o, pois, de ordem pública: não depende mais de mim rompê-lo.

C) Que é o matrimônio segundo a vontade divina? pergunto ainda pela terceira vez. "A união entre um homem e uma mulher até a morte, eis a resposta definitiva".
O antigo e o novo testamento mostram em numerosos exemplos como Deus olhava a santidade do amor recíproco de duas almas, e a alta estima em que tinha a vida comum dos esposos.
a - Lemos continuamente no Antigo Testamento que Deus qualifica de aliança matrimonial suas relações com o povo eleito, e de infidelidade, a adoração dos ídolos por seu povo.
E, coisa curiosa: o Antigo Testamento encerra todo um livro, o "Cântico dos cânticos", que simboliza, no sentido profundo, o amor de Deus pela alma humana, mas para quem o toma no sentido literal, nada mais é do que uma coleção de cânticos nupciais, celebrando o amor recíproco entre o esposo e a esposa.
b - Nosso Senhor, porém, fala do matrimônio em um sentido ainda mais elevado.
"O reino dos céus é semelhante a um rei que celebra núpcias de seu filho" (Mt 22, 2), lemos em uma parábola. Quando o filho de Deus quis imolar-se pela salvação da humanidade, escolheu, para simbolo de seu amor, por ser o mais generoso, o amor dos esposos.
O seu primeiro milagre Nosso Senhor fez, sabe-se muito bem, em umas núpcias, onde faltava o vinho, tirando, assim, de embaraço os jovens esposos.
E quando, um dia, os discípulos de São João Batista lhe perguntaram por que os seus discípulos não jejuavam, enquanto que os de São João e os fariseus jejuavam, Nosso Senhor respondeu-lhes: "Os amigos do esposo poderão entristecer-se, enquanto o esposo esta com eles? Chegarão dias em que o esposo lhes será arrebatado, então eles hão de jejuar" (Mt 9, 15).

D) Mas para que nossas verificações acerca do matrimônio sejam mais completas, acrescentaremos ainda uma nova ideia. O matrimônio é não só uma coisa santa aos olhos de Deus, mas é, ao mesmo tempo, uma grande bênção e uma fonte de força indispensável para a sociedade.
a - A família é um organismo vivo e moral, onde cada um tem seus direitos e seus deveres fixados por Deus.
A família não é só a célula constitutiva da sociedade humana, como também o melhor apoio de ordem social, porque se baseia na ordem estabelecida e na autoridade. Ele encerra diferentes membros, com diferentes tarefas, trabalhando todos para um fim comum.
Os filhos submetem-se aos pais, a mãe é a senhora do lar, o pai é o chefe da família.
b - Sim, meus irmãos, ainda hoje não hesitamos em afirmar abertamente que, segundo a vontade de  Deus, o pai é o rei da família. Sua realeza, entre todas, é a mais antiga, porque sua fundação esta nas primeiras páginas da Sagrada Escritura (Gn 3, 16). Esta realeza é independente de toda forma política: em república ou em monarquia, no sufrágio público ou secreto, sob uma ditadura ou sob um regime constitucional, a realeza do esposo permanece sempre intacta: a família será sempre a pequena monarquia onde o pai é a cabeça, o chefe.
c - Peço às minhas ouvintes não se entristecerem. Peço aos meus ouvintes não se ensoberbecerem por causa disto. Peço, sobretudo, aos meus ouvintes de um e outro sexo não discutirem, sem objeto, para saber quem vale mais, se é o homem ou a mulher. Lembrem-se do exemplo daquela mulher a quem seu esposo declarava, um dia, mui convencidamente: "Enfim o homem é o rei da criação!" A esposa responde, pondo-lhe mui docemente a mão sobre a cabeça: "É verdade; mas a mulher é a coroa desta cabeça". Só assim é que se podem compreender mutuamente.
Certamente o homem não é uma mulher, nem a mulher um homem; os dois sexos nunca pois poderão ser iguais. Não significa, porém, isto que seus valores sejam desiguais. Mas se a natureza do homem e a da mulher são, muitas vezes, totalmente diferentes, daí resultam obrigações igualmente diversas, correspondendo aos dois sexos; mas estes deveres diferentes decorrem de direitos diferentes. Eis por que reconhecemos que a família é um pequeno estado, um pequeno organismo independente, um pequeno reino de Deus à parte, uma instituição onde há diferenças, subordinados e superiores, e uma repartição de trabalho. Faltando tudo isto, toda a família se desorganiza.

8 de outubro de 2015

Sermão para o 16º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A santidade sacerdotal


Sermão por ocasião da celebração de uma primeira Missa de um padre.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Vós, Senhor, sois suave e manso e cheio de misericórdia com aqueles que Vos invocam. (Intróito do 16º Domingo depois de Pentecostes).
O Papa Pio XII (Exortação Apostólica Menti Nostrae), mencionando seus antecessores São Pio X e Pio XI diz que o sacerdócio é o verdadeiro grande dom do Divino Redentor, que, para perpetuar até o fim dos séculos a obra da salvação do gênero humano consumada na cruz, transmitiu seus poderes à Igreja, querendo assim fazê-la participante de seu único e eterno sacerdócio. O sacerdote, continua o Papa Pio XII, é um “alter Christus”, porque está marcado com o caráter indelével que o torna semelhante ao Salvador; o sacerdote representa Cristo, que disse: “Como o Pai me enviou, assim eu também vos envio a vós” (Jo 20,21); “quem vos ouve, ouve a mim” (Lc 10,16). O sacerdote, iniciado, por vocação divina, neste divino ministério, “é constituído a favor dos homens nas coisas que tocam a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5,1). A ele (ao sacerdote) – diz ainda o Papa – é necessário que recorra quem queira viver a vida de Cristo e deseje receber força, conforto e alimento para a alma; a ele pedirá o remédio necessário quem deseja ressurgir do pecado e enveredar pelo caminho certo. Por este motivo, todos os sacerdotes podem a si mesmos aplicar as palavras do Apóstolo: “Somos auxiliares de Deus” (1Cor 3,9). Mas tão excelsa dignidade – arremata o Papa – exige dos sacerdotes que correspondam com a máxima fidelidade ao seu altíssimo ofício. Destinados a promover a glória de Deus na terra, a alimentar e engrandecer o Corpo Místico de Cristo, é absolutamente necessário que se elevem a tal santidade de costumes que por meio deles se difunda, por toda parte, o “bom odor de Cristo” (2Cor 2,15).
No mesmo dia em que o padre foi exaltado à dignidade sacerdotal, o bispo, em nome de Deus, lhe indicou solenemente qual seria o seu dever fundamental pela oração do Pontifical Romano: “Compenetrai-vos do que fazeis, imitai o que tratais, de modo que, ao celebrardes o mistério da morte do Senhor, cuideis de mortificar a vossa carne com todos os seus vícios e concupiscências. Seja a vossa doutrina uma medicina espiritual para o povo de Deus, seja o exemplo da vossa vida como um odor de consolação para a Igreja de Cristo, para que pela vossa pregação e conduta edifiqueis a casa, isto é, a Igreja de Deus”. Totalmente imune do pecado, a vossa vida, mais que a dos simples fiéis, seja, como diz São Paulo, “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3).” Adornado assim com a alta virtude que a sua dignidade exige, o sacerdote poderá cuidar do oficio a que foi destinado pela sagrada ordenação, que é o de continuar e completar a obra da redenção.
É este o programa que o sacerdote livre e espontaneamente assumiu: ser santo, porque santo é o seu ministério.
Como diz São Pio X, o padre não pode ser bom ou mal para si mesmo, sozinho, isolado. Mas grandes são as consequências de sua conduta e de sua maneira de viver para o povo. Que imenso tesouro, diz São Pio X, é um sacerdote verdadeiramente bom. O sacerdote deve ser sal da terra e luz do mundo. Se ele negligencia a sua santificação, o padre não poderá de nenhum modo ser sal da terra, pois aquilo que está corrompido e contaminado não conserva as outras coisas. E onde falta a santidade se introduz a corrupção. Assim, Nosso Senhor Jesus Cristo chama os sacerdotes que negligenciam a santidade um sal insosso, que não serve para mais nada, a não ser para ser jogado fora e esmagado pelos pés dos homens. Entre o Padre e um homem honesto, diz São Pio X, deve haver tanta diferença quanto existe entre o céu e a terra e, por isso, o padre deve vigiar para que sua virtude esteja isenta de toda reprovação, não somente em matéria grave, mas também em matéria leve.
Nós vemos, caros católicos, a necessidade dessa santidade manifestada em diversos aspectos da liturgia, mas particularmente no lavabo. No lavabo, na Missa Tradicional, o padre lava apenas a ponta dos quatro dedos que irão tocar na hóstia. Ele não lava a mão inteira. O significado espiritual do Lavabo é a grande pureza que deve estar presente na alma do sacerdote para oferecer o santo sacrifício da Missa. As mãos significam as obras. As obras do sacerdote devem ser limpas, puras, boas. Todavia, o sacerdote não lava as mãos inteiras porque já deve estar em estado de graça para rezar a Missa. Ele lava somente as pontas para mostrar que deve estar puro, mesmo das menores faltas. Como São Pedro, que não precisava ser inteiramente lavado na Última Ceia, mas que precisava somente ter os pés lavados pelo Senhor.
E quão importante é que o sacerdote esteja consciente da necessidade de sua santidade. São Pio X escreveu o seguinte ao Cardeal Respighi (Carta do 5 de maio de 1904) sobre a disciplina do clero: “A restauração de todas as coisas em Cristo, que nós nos propusemos, com a graça de Deus, no governo da Igreja, exige – como várias vezes já o demonstramos – a boa formação do clero, a seleção criteriosa das vocações, o exame da integridade de vida dos aspirantes, a prudência para não abrir muito facilmente as portas do santuário. Para fazer reinar Jesus Cristo no mundo nada é tão necessário quanto um clero santo, que seja guia dos fiéis pelo exemplo, pela palavra e pela ciência. Os fiéis, diz um velho provérbio, serão sempre tais quais os padres: sicut sacerdos, sic populus. Tal o sacerdote, tal o povo. Nós lemos, continua dizendo o Papa, no Concílio de Trento que “nada forma (o povo) de maneira mais habitual à piedade e ao culto de Deus que a vida e o exemplo daqueles que são consagrados ao ministério divino.”
Não há dúvida, o sacerdote tem obrigação de ser santo e de ser mais santo do que o mais piedoso dos leigos. E isso em virtude de seu sacerdócio, que o assimilou ainda mais profundamente a Cristo. Em virtude do poder do sacerdote sobre o Corpo real de Cristo na Eucaristia. Em virtude do seu poder sobre o Corpo Místico de Cristo, isto é, sobre os fiéis, para ensiná-los, para governá-los. Para atingir essa santidade, São Pio X (Exortação Haerent Animo) dá como principais meios coisas bem comuns, mas muito eficazes: a vida profunda de oração, por si e pelo próximo; a meditação católica diária; a leitura espiritual, o exame de consciência diário. Somente assim o sacerdote chegará ao ideal de estar crucificado para o mundo e o mundo para ele. Ajuda e muito na necessária santificação do sacerdote a oração dos fiéis, sobretudo daqueles que estão sob os seus cuidados.
São necessários sacerdotes e sacerdotes santos para restaurar tudo em Cristo. E eles vêm principalmente das boas famílias católicas. Como temos dito reiteradas vezes: é preciso o sacerdócio católico e as famílias católicas para restaurar tudo em Cristo. O primeiro jardim, diz Pio XI (Encíclica ad Catholici Sacerdotii Fastigium), e o mais adaptado, de onde germinam e aparecem as flores do santuário, é sempre a família verdadeiramente e profundamente católica. Continua o papa dizendo que a maior parte dos Bispos e dos padres de quem a Igreja proclama o louvor (Salmo 44, 15) devem a origem de sua vocação e de sua santidade ao exemplo e às lições de um pai repleto de fé e de virtude viril, ao exemplo e às lições de uma mãe casta e piedosa, às lições e ao exemplo de uma família na qual, com a pureza de costumes, reina soberana a caridade para com Deus e com o próximo. As exceções a essa regra comum da providência são raras e apenas a confirmam. Quando, em uma família, os pais, seguindo o modelo de Tobias e Sara, pedem a Deus uma posteridade numerosa, na qual seja bendito o nome de Deus pelos séculos dos séculos (Tobias 8, 9), e que eles a recebem com gratidão como dom do céu e como um depósito precioso ; quando eles se esforçam de inculcar em seus filhos, desde os primeiros anos, o santo temor de Deus, a piedade cristã, uma terna devoção a Jesus Eucarístico e à Virgem Imaculada e o respeito para com as pessoas sagradas ; quando, por sua vez, as crianças vêem nos pais um modelo de vida de honra, de trabalho e de piedade ; quando eles vêem que os pais se amam santamente no Senhor, que os pais se aproximam com frequência dos sacramentos, que obedecem não só à lei eclesiástica do jejum e da abstinência, mas que obedecem também ao espírito cristão da mortificação voluntária; quando as crianças vêem os pais rezarem no lar, agrupando em torno deles toda a família, a fim de que a oração em comum suba mais agradável ao céu; quando eles sabem que os pais têm compaixão com a miséria do próximo e que eles o vêm partilhar com o pobre seus ricos ou modestos bens, é muito provável que entre todos os filhos que se esforçam de seguir o exemplo dos pais haja pelo menos um que ouça o chamado do Divino Mestre: Vem e segue-me, farei de ti pescador de homens. (Mt 19, 21 ; Mc 10, 21) (cf. Mt 4, 19). Bem-aventurados os pais cristãos que, mesmo não fazendo da vocação dos filhos o objeto de suas orações fervorosas, como antigamente no tempo de maior fé, ao menos não têm medo disso e sabem ver nisso uma grande honra, uma graça de predileção do Senhor pela família.
Em nome do Pai…



7 de outubro de 2015

Catecismo Ilustrado - Parte 68

As Virtudes

As Virtudes Evangélicas ou Conselhos

1. As virtudes evangélicas são as que se referem às virtudes cardeais e que são especialmente aconselhadas no Evangelho, chamando-se por isso conselhos evangélicos.
2. São três: pobreza voluntária, castidade perpétua e obediência inteira, às quais se pode acrescentar a humildade cristã.
3. Pratica-se a pobreza voluntária renunciando, por amor de Deus, à posse dos bens terrenos.
4. Pratica-se a castidade perpétua vivendo castamente, abstendo-se não só de toda a sorte de pecado carnal, mas ainda do Matrimônio.
5. Pratica-se a obediência inteira, renunciando, por amor de Deus, à própria vontade, para se submeter à dos superiores em tudo o que não seja pecado.
6. São três e não mais os conselhos evangélicos principais, porque são três os impedimentos da perfeição, os quais são anulados pelos ditos conselhos. Esses impedimentos são: o amor dos bens da fortuna, o amor dos prazeres carnais, o amor das honras mundanas.
7. Estes conselhos servem para observar mais facilmente os mandamentos de Deus e unir-nos mais estreitamente com Ele, sacrificando-Lhe todos os nossos bens.
8. Estes conselhos, quando se convertem em lei por meio dos votos solenes, formam os estados perfeitos da religião cristã, que se chamam ordens religiosas ou religiões, segundo a regra de cada um dos fundadores.
9. A humildade é uma virtude pela qual, reconhecendo os nossos defeitos e fraquezas, referimos a Deus o pouco de bom que em nós encontramos. Leva-nos pois esta virtude a submeter-nos de coração não só aos superiores, mas ainda aos inferiores iguais.
10. Eis aqui como Nosso Senhor, no Evangelho, chama um jovem ao caminho da perfeição: “Então certo homem de posição fez-Lhe esta pergunta: “Bom Mestre, que devo fazer para obter a vida eterna?”. Jesus respondeu-lhe: “Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Tu conheces os mandamentos: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, nãos dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe”. Ele disse: “Tenho observado tudo isso desde a minha juventude”. Tendo Jesus ouvido isto disse-lhe: “Uma coisa te falta ainda: vende tudo quanto tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois vem e segue-Me”. Mas ele, ouvindo isto, entristeceu-se, porque era muito rico. Jesus, vendo esta tristeza, disse: “Como é difícil aqueles que tem riquezas entrem no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”. Os que O ouviram disseram: “Quem pode então se salvar?” Jesus respondeu-lhes: “ O que impossível aos homens é possível a Deus”.” (Lucas XVIII, 18-27)

Explicação da gravura

11. A gravura superior à esquerda representa um exemplo de humildade dado por São João Batista. “Um dia, os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a João para lhe perguntar: “Quem és tu?” E ele confessou e não negou: “Eu não sou o Cristo, nem Elias, nem profeta”. E os enviados perguntaram-lhe: “Porque pois batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem profeta?” João respondeu-lhes: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está Aquele a quem não conheceis. Este é o que virá após mim, e já era antes de mim, do Qual eu não sou digno de desatar a correia das sandálias”.” (Jo III, 26)
12. Os primeiros cristãos praticavam de um modo perfeito a pobreza voluntária. Os que tinham terras e bens, vendiam-nos, e como se vê na gravura superior, à direita, traziam aos Apóstolos o valor deles, que depois era distribuído aos pobres.
13. A gravura inferior, à esquerda, representa um exemplo de perfeita obediência da São Tiago e de São João, filhos de Zebedeu. Um dia que estavam concertando as suas redes, Nosso Senhor chamou-os para serem seus discípulos. E eles logo deixando o barco, as redes e os pais, O seguiram.
14. Na parte inferior da gravura, à direita, está representado Nosso Senhor Jesus Cristo, o amigo dos corações puros, e ao pé Dele quatro santos que sobressaíram na castidade mais perfeita, que é a virginal. São, à direita do Salvador, Maria Santíssima e São João Batista; à esquerda São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus e São João Evangelista, o Apóstolo predileto.