30 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 186

186) Dar de beber a quem tem sêde.
Oh! a sêde! Que tormento! Pensa nos caminhantes que vão pelas estradas sob o sol ardente, sem encontrar uma sombra para descansar e sem uma gota de água!
Nunca recuses, menino, um copo de água a um pobre sequioso. Ser-nos-ão pedidas contas no dia do juízo de como tratamos o nosso próximo. Se tivermos sido caridosos, o Senhor nos dirigirá o doce convite: ..."Vinde benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome e deste-me de comer; tive sêde e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, nu e me vestistes; enfêrmo, e me visitastes; estava no cárcere e fostes visitar-me. Então lhe responderão os justos dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; sequioso e te demos de beber? E quando te vimos peregrino, e te recolhemos; nu e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo, ou no cárcere e fomos visitar-te? E respondendo o Rei lhes dirá: Na verdade vos digo que todas as vezes que vós fizestes isto a um destes meus irmão mais pequeninos a mim o fizestes" (Mateus, 25, 34-40).
Nenhum preceito no Evangelho nos é inculcado com mais insistência do que o da caridade sob suas diversas formas. "E todo aquele que der de beber a um destes pequeninos um simples copo de água fresca, só porque é meu discípulo, em verdade vos digo não perderá a sua recompensa" (Mateus, 10,42).

29 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 185

Obras da Misericórdia Corporais

185) Dar de comer a quem tem fome.
A nossa caridade para com o proxímo deve ser operosa. Não deve contentar-se com palavras bonitas, mas traduzir-se em obras.
Pratica-se a caridade mediante as obras de misericórdia. Estas referem-se a duas espécies de necessidades que podem atingir o nosso próximo: necessidades do corpo e necessidades da alma. As primeiras são chamadas obras de misericórdia corporais; e as outras, de misericórdia espirituais.
A primeira entre todas as obras de misericórdia corporais é a que nos leva a socorrer o próximo na mais urgente das necessidades, isto é, a fome.
Menino, não conheces, por certo, este tormento. Todavia, quantos meninos pobres passam dias inteiros em jejum e a chorar, porque não têm o que comer!
Sê, pois, generoso para com os pobrezinhos que batem à tua porta. Imita essa caridosa senhora que vês representada na figura. É santa Francisca, nobre matrona romana. A sua porta estava sempre apinhada de necessitados de todo o gênero, aos quais ela dava tudo o que não lhe era estritamente necessário. Admirável exemplo de caridade!
O Senhor disse: "Da maneira que puderes, sê criativo. Se tiveres muito, dá muito; se tiveres pouco, procura dar de boamente também este pouco" (Tobias, 4, 8-9).

28 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 184

184) Que é que pedimos a Nossa Senhora com a Ave Maria?
Com a Ave Maria pedimos a Nossa Senhora a sua materna intercessão para nós, na vida e na morte.
É serena a morte quando confortada pela presença e pelo auxílio de Maria. Com maternal cuidado acorre ela à cabeceira de seus devotos, a fim de prepará-los para o grande passo e defendê-los contra os últimos e mais terríveis assaltos do demônio. E as doçuras, que a assistência de Nossa Senhora faz antegozar a seus devotos nos últimos momentos! Essa dulcíssima Senhora fá-los prelibar as alegrias eternas. Quando o mistério da morte fôr desvendado, Maria Santíssima mostrar-lhes-á o fruto bendito de seu ventre - Jesus.
É esta morte que pedimos a Nossa Senhora na Ave Maria, oração simples e ao mesmo tempo sublime. Nenhuma outra prece podemos oferecer-lhe, que lhe seja mais agradável e honrosa. Nenhuma outra há mais útil e mais fecunda em graças!
Ave Maria, cheia de graça!
A vida passa
Com tanta luta, com tanto anseio
Mas em Ti creio,
Doce Rainha... E ouve-me agora,
Nossa Senhora!
Minha alma sobe para implorar-te
Por tôda parte,
Crença e esperança, calma e ventura,
Sonho e ternura
P'ra dar sossêgo, numa oração,
Ao coração!

Ave Maria, cheia de graça!
Lírio sem jaça,
Rosa dos prados, flor de poesia,
Ave Maria!
Ao sentimento dá mais perfume,
E acende o lume
Da caridade no mútuo afeto,
Em cada teto!
Das mães, das virgens, poder e amparo,
Tesouro raro;
Deixa que esplenda, com claridade,
Toda verdade!

Dá graça e bençãos às minhas filhas,
Ó Tu que brilhas
Com tanta glória, com tanto encanto!
Sob o teu manto
Tua alma é estrela que nos conduz
A Deus e à luz!

Seis badaladas soam cantando!
Aves, em bando,
Procuram logo paz e carinho
Em cada ninho...
Nesta hora santa, está findo o dia
Ave Maria!

(Marina Stella Quirino Marchini. "Sursum Corda")

27 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 183

183) Com que oração especialmente invocamos a Nossa Senhora?
Invocamos a Nossa Senhora especialmente com a Ave Maria ou Saudação angélica.
"O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um varão que se chamava José, da casa de Devi; e o nome da Virgem era Maria. E, entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo e bendita és tu entre as mulheres" (Lucas 1, 26-29).
A "Ave Maria", é tambem chamada "Saudação Angélica", porque começa com as palavras pelas quais o anjo Gabriel saudou a Maria Virgem em nome de Deus, ao anunciar-lhe que tinha sido escolhida para a Mãe do Redentor. Continua com as palavras com que Santa Isabel, sua prima, a saudou, depois de já se haver tornado Mãe de Deus: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre" (Lucas 1,42).
A segunda parte da Ave Maria é uma piedosa súplica na qual pedimos à Mãe de Deus, tão poderosa Medianeira junto do Trono do Altíssimo, que interceda por nós pecadores, durante todas as horas de nossa vida, principalmente na hora de nossa morte.
Esta suave oração, deve aflorar freqüentemente aos nossos lábios, lembrando-nos de que se a Virgem Santíssima é Mãe de Deus, é também Mãe dos homens que gemem e choram neste vale de lágrimas. É Mãe que a todos acolhe com o mais solícito carinho.
Ouçamos mais uma vez o Cantor da Divina Comédia:
"Por ti (Maria) se enobrece tanto a natura
Humana, que o Senhor não desdenhou-se
De se fazer de quem criou, feitura.
Em ti misericórdia, em ti piedade,
Em ti magnificência, em ti se aduna
Na criatura o que haja de bondade."
(Paraíso, 33, 4-19)

26 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 182

182) Que é o Pai Nosso?
O Pai Nosso é a oração ensinada e recomendada por Jesus Cristo.
O Pai Nosso é a oração por excelência, é a oração divina, porque nasceu da inteligência e do coração de Jesus. Vê como absorto em profundo recolhimento, Ele ensina aos discípulos a divina oração. Por ela, dirigimo-nos a Deus com o doce nome de "Pai", pedindo-lhe antes de tudo, a sua própria glória:
1) Que o seu nome seja santificado e glorificado. 2) Que o seu reino, pelo qual os Apóstolos tanto trabalharam e pregaram, se estenda pelo universo. 3) Que sua vontade seja feita em toda parte, assim como o próprio Jesus rezou em sua agonia no Hôrto das Oliveiras.
Nas outras quatro petições, pedimos-Lhe graças espirituais e temporais: 1) Que nos seja dado o pão cotidiano, assim como foi dado a Elias profeta. 2) Que nos sejam perdoados os pecados, como Jesus os perdoou na Cruz e como também aconteceu com Davi, que impediu a morte de seu inimigo. 3) Que nos faça triunfar das tentações assim como fez Jesus no deserto. 4) Que nos livre do mal, assim como livrou Daniel da boca dos leões.
O Pai Nosso - diz Tertuliano - é um resumo do Evangelho, de tôda a Religião. Ele encerra o dogma, a moral e o culto do Cristianismo. Nele se encontra tudo o que precisamos para a alma e para o corpo. É a oração das crianças, dos adultos e dos velhos, dos principiantes e dos perfeitos, de todos enfim. É a primeira e a última palavra do amor divino. Aos pobres dá esperança, aos ricos a pobreza de espírito.
Consola os doentes, fortifica os moribundos. Todos o compreendem, todos encontram nele as doçuras da piedade cristã (Cônego Duarte Leopoldo, "Concordância dos Santos Evangelhos", 6.ª parte, cap. 12).

25 de abril de 2010

Confissões de um Converso

Trecho do livro "Confissões de um Converso" (Quadrante, 2002), de Robert Hugh Benson (1871-1914), ex-clérigo anglicano convertido ao catolicismo em 1903.

E assim recorri uma vez mais ao Novo Testamento, em busca de um fio condutor que desse sentido a tudo, de alguma autoridade vivente para a qual as próprias Escrituras apontassem; e, sobretudo, quis pôr à prova a pretensão da autoridade que, à luz da lógica humana, me parecia ser a mais consistente de toda a cristandade - a pretensão do ocupante da Cátedra de Pedro de ser o Mestre e Senhor de todos os cristãos.
Disseram-me, naturalmente, que eu encontraria no Novo Testamento aquilo que esperasse encontrar; que interiormente tinha já aceitado as afirmações de Roma e que, portanto, tinha chegado à conclusão de que essas afirmações se baseavam nas Escrituras. Pediram-me que voltasse aos teólogos para a interpretação das Escrituras - que voltasse, na verdade, àquele mesmo emaranhado de testemunhas que, no seu conjunto, pareciam confirmar a posição de Pedro, e que pouco antes me tinham aconselhado a deixar de lado em favor da própria Palavra de Deus.
No entento, que outra opção me restava senão tentar comprovar honestamente, com base nessa divina autoridade, a única afirmação que, em toda a Cristandade, me parecia a única consistente, razoável, histórica, prática, satisfatória e - pela própria natureza da questão - intrinsecamente necessária?
Bem, não preciso dizer que encontrei ali essa afirmação com muito mais facilidade, e expressa de forma muito mais patente, do que muitas outras afirmações plenamente aceitas por mim com base na autoridade das Sagradas Escrituras. Dogmas como o da Santíssima Trindade, sacramentos como o da Confirmação, instituições como o episcopado - tudo isso pode ser encontrado nas Escrituras, tanto pelos católicos como pelos anglicanos, se a pessoa se dispuser a aprofundar o seu estudo. Mas o primado de Pedro não exige nenhum estudo aprofundado: encontra-se à superfície, cintilando como uma joia esplêndidam se se afastam dos olhos os preconceitos anti-católicos.
Quando institui a Igreja, o Senhor afirma que a edificará sobre Cefas (cfr. Mt 21, 42 e 16, 18); o Bom Pastor ordena ao mesmo Cefas que apascente as suas ovelhas, mesmo depois de ele aparentemente ter perdido a confiança do seu Senhor (Jo 10, 11 e 21, 15-17). A Porta confia a Pedro as Chaves (Jo 10, 7 e Mt 16, 19). Ao todo, encontrei vinte e nove passagens da Escritura - e ainda outras, mais tarde - nas quais o primado de Pedro está claramente implícito, e não encontrei uma sequer que fosse contrária ou incompatível com essa missão. Publiquei tudo isto num folheto intitulado Uma cidade construída sobre um monte, logo depois da minha conversão.
É-me completamente impossível indicar o argumento concreto que, finalmente me convenceu. Aliás, não forma os argumentos que acabaram por convencer-me, como não foram as emoções que me impeliram. Foi antes como se tivesse sido arrastado pelo Espírito de Deus até um ponto de observação privilegiado de onde pudesse observar os fatos como realmente eram. E foi o livro de Newman, o Desenvolvimento da Doutrina Cristã, que me apontou esses fatos, que dirigiu o meu olhar de um ponto para outro e me mostrou como todo o glorioso edifício da Igreja se baseava sobre o inabalável alicerce do Evangelho para depois erguer-se para o céu.
Foi ali - para servir-me de outra metáfora - que pude ver a mística Esposa de Cristo crescer através dos séculos, da infância até a adolescência, crescer em estatura e sabedoria; não por acrescentar conhecimentos, mas por desenvolvê-los, fortalecendo os seus membros, abrindo as suas mãos; mudando, sim, o aspecto e a linguagem - usando ora um, ora outro conjunto de termos humanos a fim de explrimir cada vez mais claramente o seu pensamento; tirando do seu tesouro coisas novas e velhas, que eram suas desde o princípio; habitada pelo Espírito do seu Esposo, e mesmo sofrendo como Ele sofreu.
Também ela foi traída e crucificada, morrendo diariamente como o seu Grande Senhor (cfr. 1 Cor 15, 31); negada, escarnecida e desprezada; filha da dor, familiarizada com todo o sofrimento (cfr. Is 53, 3); desfigurada, caluniada, agonizante; despojada das suas vestes, e ainda assim - como filha de Rei que é - "cheia de glória" (cfr. Sl 44, 4); parecendo às vezes morta, e no entanto, como o seu Modelo, sempre unida à Divindade; jazendo no sepulcro, cercada pela vigilância dos poderes seculares, mas sempre ressuscitando, espiritual e transcendente, no dia da Páscoa; atravessando portas que os homens julgavam fechadas para sempre; oferecendo os seus banquetes místicos pelos cenáculos e às margens do mar; e, sobretudo, ascendendo para sempre aos céus a fim de habitar nas moradas celestiais com Aquele que é o seu Esposo e o seu Deus.
À medida que eu contemplava a sua face, as dificuldades desvaneciam-se uma após outra. Agora eu entendia que o seu aspecto externo tinha mesmo de modificar-se e que a criança envolta em faixas nas Catacumbas devia parecer diferente da soberana Mãe e Senhora de todas as Igrejas, a Rainha do mundo. Compreendia igualmente que até a sua constituição teria de parecer modificada: os seus membros, que a princípio se moviam de forma espasmódica e desconexa, deviam ser progressivamente orientados pela Cabeça visível, à medida que Ela crescia em forças; os grandiosos gestos da sua infância - os primeiros Concílios - deviam evoluir pouco a pouco para a voz serena a fluir dos seus lábios; a sabedoria implícita e desordenada dos primeiros séculos tinha de exprimir-se cada vez com maior precisão, à medida que ela aprendia a comunicar aos homens aquilo que sabia desde sempre. E vi também como era necessário que Ela apregoasse até os nossos dias os princípios que tinahm norteado os seus atos desde sempre; ou seja, que nos temas vitais da sua mensagem, os pronunciamentos da sua Cabeça visível estavam protegidos pelo Espírito da Verdade, o mesmo Espírito que um dia havia formado o seu corpo no ventre da raça humana. Esta era, no seu longo percurso, a inevitável afirmação que tinha de fazer uma Igreja que se declarava depositária da Revelação.
Não digo que todas as minhas dificuldades tenham desaparecido imediatamente. Não foi assim. Na verdade, suponho que não existe um único católico vivo que ouse afirmar que não tem dificuldades neste ponto. No entanto, "dez mil dificuladdes não fazem uma dúvida". Sempre existirão os velhos eternos problemas do pecado e do livre arbítrio; mas para quem olhou a fundo nos olhos desta grande Mãe, esses problemas são quase nada. Se nós não sabemos, Ela sabe; mesmo que não revele tudo o que sabe, Ela o sabe; pois em algum lugar lá do seu íntimo, no mais profundo do seu grande coração, está escondida a sabedoria do próprio Deus.

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 181

181) Que devemos pedir a Deus?
Devemos pedir a Deus a sua glória, e para nós a vida eterna bem como as graças mesmo temporais, como nos ensinou Jesus Cristo no Pai Nosso.

24 de abril de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 180

180) É necessário orar?
É necessário orar, e orar muitas vezes, porque Deus o manda e, ordináriamente, só quando se ora Ele concede as graças espirituais e temporais.
Quis Deus muitas vêzes manifestar-nos a necessidade e a eficácia da oração.
O povo eleito vencia seus inimigos mais com a oração e a confiança em Deus, do que com as armas. No deserto teve de fazer frente a um exército temível. Moisés ordenou-lhes que fôssem combater. Durante o combate, subiu ao monte para rezar. Enquanto Moisés conservava os braços levantados para o céu, os israelitas venciam. Quando, levado pelo cansaço, ele os abaixava, os inimigos tomavam campo. Fireram-no então sentar-se sobre uma pedra. Arão e Hur sustentavam-lhe os braços com as mãos, para que Moisés não se cansasse. Foi assim que Israel venceu o inimigo (Êxodo, 17).
A oração é necessária, porque o homem tem obrigação de adorar a Deus. Deve manifestar-Lhe seu amor e gratidão, pedir-Lhe perdão das ofensas feitas e implorar-Lhe auxílio para suas necessidades.
Além disso, é um dever, porque Jesus Cristo no-lo ordenou e porque, geralmente, só às pessoas que rezam são concedidas graças espirituais e temporais.
Assim como o pássaro precisa de asas para voar, nós precisamos da oração para ganhar o céu. Quem reza, certamente salvar-se-á.
"O direito de Deus exigiria que nós rezássemos constantemente! Isto é que seria perfeição, mas Deus não exige tanto do homem. Contenta-se apenas com algumas palavras intercaladas em nossas ocupações diárias, que nos elevem até Ele, principalmente nos momentos de aflição, fraqueza, tentação e perigo. Nessas horas sentimos, ao vivo, a presença de sua majestade, a ação de sua bondade, a necessidade de sua assistência" (Monsabré).