A Igreja ainda não havia renunciado ao costume de impor penitências públicas. Muitos pecadores envergonhavam-se assim em reconhecer suas faltas diante de seus concidadãos e parentes; preferiam correr mundo e expor-se aos perigos e às fadigas de uma peregrinação a lugares longínquos. Por outro lado, o tribunal da penitência ordenava algumas vezes aos fiéis, principalmente aos guerreiros que se sepultassem no retiro e que evitassem com escrúpulo a dissipação e os combates. Que se julgue da revolução que se deveu operar nos espíritos, quando a mesma Igreja tocou a trombeta guerreira apresentou como agradável a Deus o amor das conquistas, a glória de vencer, o ardor pelos perigos, que antes eram tidos como pecados. Podemos crer que essas novidades na disciplina eclesiástica não favoreceram à melhoria dos costumes; mas é certo que serviram maravilhosamente à guerra santa e aumentaram muito o número dos peregrinos e de vingadores do santo sepulcro.
O clero mesmo deu o exemplo. A maior parte dos Bispos, que tinham o título de conde ou de barão e que fazia muitas vezes a guerra para manter os direitos dos seus bispados, julgou dever armar-se para a causa de Jesus Cristo. Os padres, para dar maior peso à sua pregação, tomaram também a cruz; um grande número de pastores resolveu seguir seu rebanho até Jerusalém; alguns dentre eles, como veremos em seguida, tinham sem dúvida presente ao pensamento, os bispados da Ásia, e cediam à esperança de ocupar um dia as sedes mais afamadas da Igreja do Oriente.
No meio da anarquia e das perturbações que desolavam a Europa desde o reinado de Carlos Magno, havia-se formado uma associação de nobres cavaleiros que percorria o mundo em busca de aventuras: eles tinham feito o juramento de proteger a inocência, socorrer os fracos oprimidos e combater os infiéis. A religião, que tinha consagrado sua instituição e abençoado sua espada, chamou-os em sua defesa e a ordem da cavalaria, que deveu uma grande parte de seu brilho e de seus progressos à guerra santa, contou um grande número de seus guerreiros que se reuniram sob o estandarte da cruz.
A ambição não foi talvez estranha ao seu devotamento pela causa de Jesus Cristo. Se a religião prometia suas recompensas aos que iam combater por ela, a fortuna prometia-lhes também as riquezas e os tronos da terra. Os que voltavam do Oriente falavam com entusiasmo das maravilhas que tinham visto, ricas províncias que tinham atravessado.
Sabia-se que duzentos ou trezentos peregrinos normandos tinham conquistado a Apúlia e a Sicília, dos sarracenos. Todas as terras ocupadas pelos infiéis pareciam dever pertencer aos valentes cavaleiros que só tinham por riqueza apenas seu nascimento, sua bravura e sua espada.
8 de maio de 2021
Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 35
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