13 de janeiro de 2011

Da hediondez da contracepção - Parte II - Pe. Álvaro Negromonte

FALSOS MOTIVOS


São insubsistentes os motivos com que pretendem justificar-se os fraudadores. Examinemos alguns dos mais comuns.

1) Situação econômica

Autoriza a continência periódica desde que seja real. Nunca autorizará um ato contra a natureza. Na verdade, os que argumentam com situação econômica são, em geral, os que melhor a desfrutam. Guilherme Schimidt chegou a estabelecer como uma tese que "o temor dos filhos é fruto da abundância, e não da necessidade". Têm com que manter os próprios filhos e estão ainda obrigados em consciência a concorrer para as crianças pobres que vivem na miséria. Mas desejam uma vida cada vez mais burguesa, gozadores, impenitentes e insaciáveis.

Move-os a desmedida ambição da riqueza, a preocupação obsedante do luxo, a vaidade imbecil da ostentação. Aqueles, cuja situação econômica é deveras penosa, são os grandes procriadores em que se estaria a densidade demográfica, se o Estado acudisse à mortalidade infantil que dizima assustadoramente as classes proletárias.

2) Melhor educação aos filhos

Não consiste, porém, em colégios caros, vida folgada, estágios no estrangeiro, mimos excessivos, absoluta ociosidade servida à mão por serviçais bem pagos. Pelo contrário. Nada melhor para prejudicar a educação dos filhos! Como nada melhor para realizar uma boa educação doméstica e social do que o ambiente da família numerosa.

3) Saúde da esposa

Quer o marido poupar a saúde da esposa, em prejuízo da consciência dela impondo-lhe sacrifícios morais, enchendo-a de remorsos, atribulando-lhe o coração cristão - contanto que ele não diminua a dose de prazeres sexuais! esta é a verdade. Sei de casos em que o "delicado" esposo, para poupar a cara metade, franzida e doentia, fê-la correr o risco de uma operação esterilizadora - quando o cavalheirismo (já não digo o amor) mandava conter-se, se fosse real o motivo alegado.

Já vimos que os processos anti-concepcionais são todos eles nocivos aos cônjuges, especialmente à esposa. Ao invés, a medicina diz que é na maternidade que se realiza plenamente o organismo feminino. A maternidade é necessária à saúde e ao desenvolvimento da mulher, diz o Dr.Pinard. A maternidade é uma função normal e fisiológica do organismo feminino, junta o Dr. Guchtencere. Podíamos alinhar dezenas de citações semelhantes.

Mas não se trata somente do aspecto físico do problema. Igualmente importante é o lado psíquico. Os processos anti-concepcionais não são tão esterilizantes como parecem... Não geram filhos, mas geram perturbações nervosas. Alguns são unicamente responsabilizados pelos médicos como fonte de desequilíbrios psíquicos.

"O nervosismo da mulher contemporânea progride inquietadoramente dia a dia, escreve o Dr. Cattier em seu La Procréation Humanine. Eis um fato em que todos convêm... Já sabemos, agora, de modo seguro, que a causa do desequilíbrio da mulher reside muitas vezes na esfera genital. Deve-se perguntar se, na vida conjugal, os atos contra a lei natural e a lei fisiológica e principalmente as fraudes anti-concepcionais... não são as verdadeiras causas do desequilíbrio tantas vezes verificado".

E ele conclui esta página dizendo:

"É banal repetir que a mulher foi feita para a maternidade. É para ela uma lei inelutável: procurando fugir-lhe, ela o faz sempre em prejuízo de sua saúde geral".

O médico belga Schockaert (Mariage et Natalité) depois de acentuar os males orgânicos dos métodos neo-maltusianistas..., aponta os inconvenientes psíquicos: irritabilidade, irascibilidade, tristezas, emotividade, falta de energia e coragem, idéias de suicídio. Os estados de angústia se acentuam quando a mulher é católica - o que quase sempre acontece entre nós, o estado de pecado a abate; o remorso a tortura; o pensamento da morte a apavora. Vive sobressaltada. Repelida (dos Sacramentos) da Confissão e da Eucaristia, sente-se diminuída, humilhada em face das companheiras piedosas, retrógrada espiritual em vista dos seus tempos de vida sacramental.

Não sei como é possível preconizar o neo-maltusianismo em nome do bem-estar da esposa.

4) Ordem médica

Há um grave risco de vida com nova concepção, afirma o médico; e vai logo aconselhando a evitar filhos... Esses riscos graves são, em geral, muito fáceis em proclamá-los; mas a experiência mostra felizmente que eles são mais raros. A verdadeira medicina, em vez de secar a fonte da vida, cuja proteção e defesa é sua missão, tem feito precisamente diminuir os inevitáveis perigos que acompanham a maternidade.

Os cuidados acépticos e anticépticos reduziram a porcentagem mínimas a mortalidade obstétrica. Há um século, Semmelweis estabelecia 10% de morte nestes casos; já hoje De Lee dá 1,5% (NB: a edição deste livro é de 1955). E que fossem os perigos frequentes; poderão os homens transtornar as leis naturais, mudar a natureza das coisas e sobrepor-se à vontade de Deus? Têm com que substituir a graça divina nas almas? Irão defender seus clientes no tribunal definitivo que decide da eternidade? Para o verdadeiro "é melhor morrer do que pecar". As senhoras que morreram vítimas da maternidade, nos raros casos em que isto acontece, são verdadeiras heroínas, que não devem ser lastimadas, mas glorificadas.

São um exemplo, não apenas às outras senhoras, mas a todos os que só sabem cumprir deveres fáceis e se acovardarem diante do sacrifício. Mas, não esqueçamos de apontar o egoísmo gozador desses maridos: não sabem conter-se nem ante os riscos da vida da esposa! Ela é que deve sacrificar a consciência à sua fome de sexo.

5) A saúde dos filhos

Têm sido franzinos ou subnormais. Há casos frequentes de degenerecência na família - máculas perigosas. Preferimos, sem dúvida, uma prole sadia. Mas a eugenia nunca poderá tornar lícitos processos imorais. Recorram à continência periódica; aos atos contra a natureza, nunca. Para quem sabe o que é a graça de Deus mais valem filhos doentios do que um só pecado mortal. Os cristãos, sem perderem de vista os cuidados científicos, procriam primeiramente para gerar filhos de Deus.

Chamamos a atenção para a solução simplista e apressada de certos médicos. Correm logo ao "remédio" anti-concepcional, em vez de buscarem os verdadeiros remédios. É assim quando se trata da saúde da esposa, é assim quando se trata da saúde dos filhos. Àquela cortam os riscos, desviando-a da maternidade; destes se descartam, eliminando-os... A ciência tem já hoje preciosos recursos para prevenir males hereditários: eles os desconhecem, ou não querem aplicá-los. A lei do menor esforço diminui, ao mesmo tempo, a necessidade dos estudos e... os clientes.

No entanto, quem acompanha os progressos da pediatria, da psicoterapia, e vê como realizam verdadeiros prodígios os médicos e educadores conjugados, sabe quanto bem se pode fazer às crianças mal dotadas. Se isto não autoriza facilidades perigosas aos que vão contrair matrimônio, muito menos deve autorizar desrespeito às leis divinas e naturais aos que já o contraíram.

A Igreja reconhece as razões da verdadeira eugenia. Ainda a nova ciência não tinha organização e nome, e a Igreja já cuidava da saúde dos homens e exigia em consciência cuidados preciosos ao bem-estar da prole possível e nascitura. Nunca, porém, aprovará meios eugênicos que colidam com os princípios naturais em que se espelha a Razão Eterna, fonte imutável de toda a Moral.

Grande coisa é a saúde: muito mais importa a higidez espiritual. Na hierarquia de valores dos que se conservam fiéis à Moral mais vale a alma que o corpo, mais vale o espírito que os músculos, mais vale a virtude que a força. A humanidade cultura sábios e santos, que viveram em corpos fracos e doentios: o saber e a bondade deram-lhes auréola.

Venha a eugenia dentro da Moral. Cuide-se dos corpos, sem prejuízo das almas. Melhorem-se as condições físicas, sem detrimento das espirituais. Revigore-se a saúde, revigorando ainda mais a virtude. Que os cuidados higiênicos não sirvam para estabelecer o domínio dos instintos sobre o espírito. O progresso humano não deve ser medido pela resistência física mas pela inteligência e pela consciência.

Os que acreditam no espírito sabem que as disposições morais se transmitem aos filhos, tal como as físicas. E que mais precisamos de caracteres que de atletas. O grande mal dos nossos tempos, é que os homens estão ficando menos homens. Uma eugenia que procure melhorar a "raça", em vez de elevar os homens, e que liberte as consciências dos preceitos espirituais para considerar as condições do "produto", e que repute a geração humana condicionada exclusivamente às normas da higiene - equiparando a geração dos homens com a reprodução dos irracionais, está desservindo à civilização e fazendo retrogradar a humanidade.

A maior de todas as medidas eugênicas é a virtude. Os subprodutos humanos nascem da libertação dos instintos - que é o pecado. Da impureza vêm os sifilíticos; da embriaguez, os agitados - e assim por diante. Pois, em geral, os "eugenistas" são pregadores da liberdade sexual, e não se pejam de repetir que a castidade é impossível e até nociva. Acima das necessárias condições fisiológicas, venham as mais necessárias ainda condições morais!

6) É só por algum tempo...

Fosse por única vez!... É gravíssimo pecado mortal. E não se pode cometer um pecado que seja, mesmo que para salvar o mundo.

As maternidades, em si, não são prejudiciais. Já vimos precisamente o contrário: são benéficas. E de modo geral não são tão frequentes que se tornem indesejáveis. A média apresentada pelas estastisticas é de um intervalo de dois anos no mínimo... Os primeiros filhos vêm mais próximos; os outros vão-se naturalmente espaçando. A própria amamentação é, em muitas senhoras, um óbice à concepção.

Restam os casos de excessiva fecundidade e de senhoras realmente fraquinhas - em que se pode recorrer à continência periódica.

Nunca, porém, seria lícito, por nenhum motivo, seja para que for, recorrer a processos pecaminosos. Só os que desconhecem o que seja o pecado, os que calejaram a pobre consciência, ou os que perderam a fé e o santo temor de Deus, poderão apelar para o pecado mortal, mesmo que fosse uma só vez na vida. E os que não entendem esta linguagem não são dignos do reino do céu.

7) Já tem a "família normal"

Isto é, os três filhos de que falam os sociológos e economistas. Mas esta linguagem não tem sentido em moral. Em moral cada ato fraudado é contrário à natureza e à vontade de Deus. Tanto faz ter dez filhos como não ter nenhum. Trata-se de um ato intrinsecamente mau que nenhuma razão poderá jamais contestar.

Os que se detêm no segundo ou no terceiro filho cortam o passo à felicidade, mesmo natural. Interessantes pesquisas sobre a felicidade conjugal determinam que as famílias com muitos filhos são mais felizes. Têm mais com quem compartilhar os sacrifícios e mais a quem proporcionar alegrias. Têm menos preocupações absorventes e assustadoras. A perda de um filho é sempre dolorosa, é naturalmente compensada pelos que ficam. Eis mais um castigo da própria natureza aos que calculam contra ela!

8) A intolerância da Igreja

Aliás, não se trata de uma doutrina da Igreja propriamente dita. Trata-se de uma lei natural, que a Igreja não poderá jamais modificar, nem modificará. Esta sagrada intransigência só pode honrá-la. Enquanto os bispos anglicanos (protestantes dos mais conservadores) autorizam o desrespeito às leis naturais, a Igreja mantém-se inabalável como a rocha em que Cristo a firmou. Enganam-se os que pensam que ela venha um dia a ceder nesta matéria.

A própria Bíblia é positiva, quando afirma que Onam "fazia uma coisa detestável" porque, quando se unia à esposa, "impedia que ela concebesse". E a severidade do castigo indica a gravidade da falta: "E por isto o Senhor o feriu de morte" (Gen. 38,10). De resto, contam pouco com a Igreja os cônjuges neo-maltusianos...

9) Não casou para a continência

É frequente este argumento na boca dos maridos. Laboram num engano: pensam que o casamento não exige continência. Exige, e não pequena. O nascimento de um filho exige de um marido decente o mínimo de dois meses de continência. Como o guardará, se não é capaz de conter-se uns poucos dias cada mês? Argumentando assim, ele justificará a infidelidade nas ausências ou enfermidades da esposa.

Não se casou para a continência absoluta, certo; casou-se, porém, para a continência conjugal, talvez ainda mais penosa. A esses maridos árdegos e sôfregos perguntaremos: Casaram-se, acaso, para o pecado? Ou pensam que o matrimônio dá-lhes alvará de licenciosidade conjugal?

(Excertos do livro: Noivos e esposos, do Pe. Álvaro Negromonte)

Sacerdote Eternamente - Parte 30

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO VII
A União a Deus na Oração



Da mesma forma que a caridade compassiva, a ternura paternal e mesmo maternal devem aproximar o pastor dos seus fiéis, assim também a constância na oração deve mantê-lo unido a Deus.

O pastor é homem de Deus, sem cuja graça nada pode; é de Deus que deve receber instruções; é a Deus que deve solicitar as graças necessárias seja para si seja para seu rebanho. Como poderá ele então haver-se, se antes que tudo não for homem de oração?

São Paulo diz: Nós somos os embaixadores de Jesus Cristo - Pro Christo legatione fungimur (Somos embaixadores de Cristo — 2 Cor 5,20). Ora, todo embaixador deve receber instruções daquele que o envia, a fim de trabalhar por seus interesses. Como poderá então o padre trabalhar pelos interesses de Deus junto aos fiéis se não tiver recebido orientação de Deus? E como poderá ser orientado por Deus não sendo pela oração?

Cabe aqui novamente a palavra de São Pedro, que tantas vezes já recordamos: Nos vero orationi et ministerio Verbi instantes erimus (At 6,4). Por onde se vê que o Apóstolo põe em primeiro lugar a oração, na qual receberá as luzes de Deus que transmitirá aos fiéis pela pregação: Orationi et ministerio Verbi. A palavra que não provém da oração não é senão um som vazio, pois será impotente, infecunda; e, em vez de ser palavra de Deus, não passará de palavra de homem.

Portanto, antes de tudo e acima de tudo, é necessário rezar.


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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

12 de janeiro de 2011

Curto método para meditar a Paixão



Após a invocação do Espírito Santo, façamo-nos três perguntas: 1.º Quem é que sofre? É um homem, um príncipe, um rei? É um anjo, um querubim, um serafim? Não, é mais ainda, é um Deus, o eterno, o infinito, o Criador de todas as coisas, o soberano do céu e da terra. Não nos é um estranho, pois que é nosso amigo, o nosso benfeitor, o nosso irmão, o nosso Pai por excelência. Que motivo para nos compadecermos de seus tormentos!

Detenhamo-nos em cada pensamento para melhor deles nos compenetrarmos.

2.º Que sofre ele? No seu corpo: a flagelação, a coroação de espinhos, o esgotamento de suas forças no caminho do Calvário, na crucifixão. Na sua alma: temores, desgostos, tristeza no jardim das Oliveiras, angústias indizíveis até a morte por causa dos nossos pecados e da perdição das almas.

Figuremo-nos sofrer nós mesmos todos esses suplícios, e nos compadecermos melhor das dores do Redentor.

3.º Como sofre ele? Com calma, paciência, submissão perfeita à vontade de seu Pai... Com o desejo de glorificá-lo e de salvar o gênero humano perdido... Praticando todas as virtudes num grau sublime e divino.

Consideremos pormenorizadamente essas virtudes. Unamo-nos às intenções e disposições do Homem-Deus que as pratica nas mais difíceis circunstâncias.

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BRONCHAIN, R. P. Meditações para todos os dias do ano. Tomo primeiro. Editora Vozes Ltda. Petrópolis, imprimatur de 1949.

Sacerdote Eternamente - Parte 29

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO VI
A Caridade Compassiva para com Todo Mundo



O padre deve dedicar-se a Deus e ao próximo; a Deus pela oração; ao próximo por uma terna e compassiva caridade.

Nosso Senhor, — que nos deu, no Evangelho, tantas divinas lições de ternura para com os pecadores, que nos contou as parábolas tão tocantes do filho pródigo e da ovelha desgarrada, e a história da mulher adúltera —, é Ele próprio o modelo dessa terna caridade de um pastor de almas.

“Que o pastor — diz São Gregório — seja unido a todos os fiéis pela compaixão; que pelas entranhas de sua misericórdia atraia a si e tome a si, para carregá-las, as enfermidades de todos. Que um pastor se mostre de forma tal que os fiéis não sintam vergonha alguma de lhe revelar o que tenham de mais secreto, e, quando agitados pelas ondas das tentações, que encontrem acolhida na alma do pastor como em um seio materno. Quase ad matris sinum! (como em um seio de mãe)”.



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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

11 de janeiro de 2011

Ato de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus



Dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai os vossos olhares sobre nós, humildemente prostrados diante de vosso altar. Nós somos e queremos ser vossos; e para que possamos viver mais intimamente unidos a Vós, cada um de nós neste dia se consagra espontaneamente ao Vosso Sacratíssimo Coração.

Muitos nunca Vos conheceram; muitos desprezaram os vossos mandamentos e Vos renegaram. Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao Vosso Sagrado Coração.

Senhor, sede o Rei não somente dos fiéis que nunca de Vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos que Vos abandonaram; fazei que eles tornem quanto antes à casa paterna, para que não pereçam de miséria e de fome. Sede o Rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de Vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade de fé, a fim de que em breve haja um só rebanho e um só pastor.

Sede o Rei de todos aqueles que estão sepultados nas trevas da idolatria e do islamismo, e não recuseis conduzi-los todos à luz e ao Reino de Deus.

Volvei, enfim, um olhar de misericórdia aos filhos do que foi outrora vosso povo escolhido; desça também sobre eles, um batismo de redenção e de vida, aquele sangue que um dia sobre si invocaram.

Senhor, conservai incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos; fazei que de um a outro pólo do mundo ressoe uma só voz: Louvado seja o Coração divino que nos trouxe a salvação! A Ele honra e glória por todos os séculos dos séculos. Amém.

(S. S. Pio XI, em 11 de dez. de 1925)

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KECKEISEN, Dom Beda. Missal quotidiano. Editado e impresso na Tipografia Beneditina Ltda. Salvador, Bahia, 1957.

Sacerdote Eternamente - Parte 28

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO V
A Utilidade no Uso da Palavra




Há tempo para calar e tempo para falar, diz o Espírito Santo. O homem de Deus deve saber discernir esses tempos. E, quando chegar o tempo de falar, é preciso que cuide de dizer o que Deus quer que ele diga, ou o que as almas têm direito de esperar de um enviado de Deus.

São Pedro, ensinando a todos os cristãos, dizia: Si quis loquitur, quase sermones Dei (Se alguém falar, que seja como palavra de Deus — 1 Ped 4,11). Mas, se tivesse escrito especialmente para os padres, ele certamente teria dito: Si sacerdos loquitur, sermones Dei (Se o padre falar, que sejam palavras de Deus). Excluiria o termo quase (como).

No púlpito, o padre deve falar como o próprio Deus. Fora dele, como um homem de Deus.

É conhecido o dito de São Bernardo a respeito de palavras jocosas:

In ore saecularium nugae, nugae sunt; in ore sacerdotum, blasphemiae (na boca de homens do mundo, os gracejos são gracejos; na boca de sacerdotes, são blasfêmias).

A palavra do padre deve ser sempre digna sem afetação, afável sem trivialidade, doce sem lisonja, grave sem dureza, de forma que lembre às almas o pensamento de Nosso Senhor do qual foi dito: Nunquam sic locutus est homo, sicut hic homo (Nunca homem algum falou como este homem — Jo 7,46).



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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

10 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 27

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO IV
A Discrição no Silêncio



O padre deve saber guardar um silêncio discreto. O respeito que ele deve ter a Deus e a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento bem como às almas de que ele é pastor fazem desse silêncio discreto uma lei indispensável.

Uma palavra de mais que saia de seus lábios poderá comprometer seu ministério, e causar prejuízo à própria palavra de Deus quando for por ele anunciada.

O padre não deveria falar senão quando tendo ordem de Deus para fazê-lo, pois faz parte das obrigações de um ministro só abrir a boca de conformidade com as intenções do soberano que o envia.

Sendo homem de oração, o padre não terá dificuldade em observar esta lei da discrição e do silêncio. Quando se tem a honra de privar habitualmente com Deus na oração, com Nosso Senhor no Santo Sacrifício, não se tem tendência para ir conversar com os homens.

O padre muito falador nunca será julgado pelas almas como um homem de Deus, pois nisso as almas jamais se enganam.


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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

9 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 26

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO III
O Bom Exemplo

Exemplo esto fidelium (sê um exemplo para os fiéis — 1 Tim 4,12), diz São Paulo a seu estimado Timóteo. In omnibus te ipsum praebe exemplum (em todas as coisas dá um bom exemplo — Tito 2,7), diz ele a Tito.

A alma do padre, diz São João Crisóstomo, deve ser mais pura do que os raios do sol(9). E diz ainda que os vícios de um padre não têm possibilidade de permanecerem escondidos, mas, por pequenos que sejam, depressa se tornam conhecidos: Neutiquam possunt sacerdotum vitia latere, sed etiam exigua cito conspicua sunt (De modo algum podem permanecer escondidos os vícios dos padres e mesmo pequenos logo se tornam manifestos(10)).

Sem o bom exemplo, o padre nem pode agir nem falar com utilidade para as almas. Pois deve praticar o bem para que mereça ser considerado pelas almas um homem de Deus; e só praticando o bem terá autoridade para ensiná-lo aos outros.

São Gregório de Nazianzo não pensava diferentemente dizendo:

“Antes de purificar é preciso estar puro; antes de ensinar a sabedoria é preciso tê-la adquirido; antes de iluminar é preciso tornar-se luminoso; antes de encaminhar os outros a Deus é preciso aproximar-se a si próprio d’Ele; e antes de santificar é preciso que se seja santo”(11).

Um padre jamais poderá ensinar uma virtude que não possua ou levar alguém à prática de um bem que ele nunca tenha praticado.

O exemplo é a primeira das pregações; sem ele de nada servirá toda a eloqüência do mundo: Aes sonans, cymbalum tinniens (Um bronze que soa, um címbalo que tine).

São Jerônimo faz a hipótese de um padre que tivesse em torno de si fiéis virtuosos sem que ele próprio o fosse ou que o fosse menos do que aqueles a quem devesse ensinar a virtude. Um tal estado de coisas causaria funesta ruína na Igreja, segundo este incisivo pronunciamento do santo:

Vehementer enim Ecclesiam Dei destruit meliores esse laicos quam clericos (quando os leigos são melhores do que os clérigos, advém veemente ruína na Igreja de Deus)

A razão dessa sentença é fácil de perceber. Os fiéis, não encontrando em seu pastor o que lhes é necessário para progredir na virtude ou mesmo para nela se manterem, irão decaindo, e a queda será tanto mais rápida quanto menos esteja o pastor em estado de sustentá-los no estágio em que já se encontravam.

Portanto, é necessário o exemplo, que tanto mais perfeito deverá ser quanto mais perfeitas forem as almas a instruir.

(9): De sacerdotio, livro VI, cap. 2.

(10): Op. cit., livro III, cap. 14.

(11): Oratio I e II.

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.