6 de janeiro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 248 a 250

OS PAIS E A VOCAÇÃO RELIGIOSA

1. S. Afonso Maria de Ligório teve muito que sofrer e lutar para chegar a ser padre e religioso. É que seu pai empregou todos os esforços e meios para obrigá-lo a abraçar o estado do matrimônio. A tudo resistiu denodadamente o fervoroso jovem, não cedendo nem as caricias nem as ameaças. Depois de consultar seu diretor espiritual, consagrou-se totalmente a Deus; e em sinal de que cumpria a sua palavra, colocou sua espada de cavalheiro sobre o altar de Nossa Senhora.
Seu pai abraçava-o e dizia-lhe com os olhos banhados em lágrimas: “Filho, por que me queres deixar? Por que me deixas, Afonso meu?”. Isto causou ao Santo uma enfermidade que fazia tremer todo o seu corpo, e confessava mais tarde que, em toda a sua vida, nunca tivera tentado mais forte..

2. Certo jovem estudante sentia vocação religiosa, mas temia dizê-lo a seu pai. Este ficou sabendo disso por imprudência de um amigo, e opôs-se resolutamente. O rapaz, um ou outro dia, tornava a pedir a licença, mas sem resultado. Fez uma novena a S. Francisco Xavier e ao terminá-la disse ao pai: “Papai, farei o que o senhor quer: irei a Madrid para estudar medicina; mas asseguro-lhe que, chegado à maioridade, deixarei tudo e me farei jesuíta”. O pai, impressionado, fê-lo sentar-se a seu lado; com carinho e vivacidade apresentou-lhe as dificuldades da vida religiosa, as perseguições e calúnias dos inimigos dela e os trabalhos e penas dos missionários. Não podendo vencer a firmeza do filho, toma papel e pena e ali mesmo escreve a permissão que o filho desejava. Pouco depois entrava o jovem no noviciado. Hoje trabalha como missionário na China.

3. A mãe de S. João Bosco ficou ciente de que seu filho tratava de abraçar a vida religiosa. O sacerdote, que lho comunicou, aconselhou-a a opor-se a tal intento, porque, sendo sacerdote secular, podia ajudá-la, quando fosse velha, e, sendo religioso, não. A mãe do Santo não aceitou esses conselhos; pelo contrário, decididamente, disse ao filho: “Eu de ti não quero nada nem espero nada. Nasci na pobreza, tenho vivido na pobreza e quero morrer na pobreza... Primeiramente, a salvação de tua alma... E digo-te agora, solenemente, que, se te fizeres padre e chegares porventura a ser rico, eu nunca mais irei ver-te. Recorda-te bem disso!”

5 de janeiro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 247

EXCELÊNCIA DA VIDA RELIGIOSA

“A vida religiosa é a vida mais excelente de todas.
Pese a quem não tem elevado de vistas nem sentimento da virtude, a vida religiosa tem sido, no conceito de todos os verdadeiros sábios e de todos os homens virtuosos, a vida ideal do homem, o grau mais alto da perfeição cristã, a imitação mais perfeita da vida do paraíso, e até da vida angélica e até da vida divina de Jesus Cristo na terra.
Quereis saber o que é a vida religiosa? Eu vô-lo direi que é o mar. O mar, para onde correm todas as torrentes de água viva, que. não querem empantanar-se e apodrecer na corrompida terra. O mar, onde não para a corrupto porque arroja tudo as praias; nem impureza, porque o sal da graça preserva-a de toda a infecção. O mar, por onde, por ocultas maneiras, sai a benéfica neblina, que se converte em nuvem e se desfaz em chuvas, e descendo sobre a terra apodrecida e estéril, a purifica, fertiliza e cobre de flores e excelentes frutos.
Quem vem a este mar. dulcíssimo da vida religiosa? Hoje como ontem, e como no principio da Igreja, e como sucederá até o fim do mundo, vem os melhores homens e as mais santas mulheres. O mais delicado, o mais nobre, o mais esforçado, o mais prudente, o mais corajoso, o mais santo que vai aparecendo sobre a terra” (P. Vilariño).

4 de janeiro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 246

COMO GRANDES HOMENS HONRAVAM O SACERDOTE

O imperador Constantino disse certa vez: “Aos sacerdotes compete julgar os imperadores, não aos imperadores julgar os bispos”.
Carlos Magno, quando se encontrava com algum sacerdote, apeava de seu cavalo, descobria-se e beijava a mão do ministro de Deus.
Carlos V, imperador, estando a ouvir um sermão, viu de pé, ali perto, o P. Frei Domingos de la Cruz, embaixador. do México. Levantou-se o monarca, ofereceu ao religioso a sua cadeira; e como este a recusasse cortesmente, o imperador permaneceu em pé até que trouxessem outra cadeira para o sacerdote sentar-se ao seu lado.
Também o rei Boleslau honrava de tal modo aos sacerdotes, que não se atrevia a sentar-se na presença deles.
Canuto, rei da Dinamarca, ordenou aos grandes de seu reino, que cedessem sempre o lugar de honra aos sacerdotes.
Lamatirne escreve: "O respeito ao sacerdote é sinal do respeito interior que toda alma religiosa tem à Divindade. É que esses homens vivem em comunicação mais íntima com o infinito”

3 de janeiro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 245

O BOM EXEMPLO DO SACERDOTE

O cardeal Mercier dizia: “O que salva o mundo não é a letra morta do Evangelho encerrada num livro melhor. ou pior impresso; não é nenhuma doutrina abstrata, incapaz de agitar o fundo das almas, mas o Evangelho palpitante na vida do homem, na vida cristã, sobretudo na vida dos que por seu estado sacerdotal representam a Cristo Salvador.” (Retiro Pastoral).
E o bispo Mons. Berteaud dizia: “A Igreja é combatida por todos os lados. Não pode prescindir de nossas virtudes. Este sistema é o mais brilhante e o mais santo. A voz dos lábios de S. Bernardo é um som; a voz das obras é um trovão. Nossas virtudes são obras patentes e gloriosas. Nós somos o arrimo da obra divina. Ditosa aliança, a da felicidade do sacerdote com a salvação das almas e a glória de Jesus Cristo”.
Um bom padre vale mais que vinte obras de apologética. Valerei eu por uma?...

2 de janeiro de 2017

Sermão para a Festa da Circuncisão do Senhor e Oitava do Natal - Diác. Marcos Mattke, IBP

Sermão para a Festa da Circuncisão do Senhor e Oitava do Natal

Diác. Marcos Vinicius Mattke, IBP

Curitiba, 1º de janeiro de 2017


Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Revmo. Pe. Renato,
Caríssimos fiéis,

“Todos os confins da Terra viram a salvação do nosso Deus”: palavras do gradual e da comunhão.

E a epístola de São Paulo manifesta o que é essa salvação: “Jesus Cristo, que se deu a si mesmo por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo que lhe pertença”.


Primeiro dia deste novo ano civil, enquanto o mundo materialista se preocupa em desejar boas entradas de um próspero ano-novo tão somente com “muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender”, como os porcos que olham somente para a terra, a Santa Igreja, como a águia que se eleva ao céu contemplando o sol, celebra com a festa da circuncisão do Senhor o último dia da oitava do Natal; oitava que prolongou por oito dias a festa do Nascimento de Nosso Salvador. Logo, caríssimos, ainda é Natal! E o episódio da circuncisão está intimamente inserido neste grande mistério que a Santa Igreja nos apresenta mais uma vez no dia de hoje, para bem inculcar esta verdade que devemos ter em mente e meditar todos os dias do ano: Deus veio a nós se fazendo verdadeiro homem para nos purificar e nos resgatar das garras do pecado para que, cumprindo zelosamente seus ensinamentos, sejamos seu povo e possamos ter com ele a vida eterna.

Deus estabelecera a circuncisão no oitavo dia do nascimento como sinal da aliança contraída com o Patriarca Abraão (Gen. XVII, 13) e sua posteridade. Pela circuncisão o povo judeu, depositário das promessas divinas e do qual viria a nascer o messias prometido, era distinto e separado das demais nações; por ela o circuncidado era incorporado ao povo eleito e adquiria o dever de cumprir a lei dada por Deus ao seu povo (Gal. V, 3). Ainda era um sinal da graça de Deus, que incitava à circuncisão do coração, como pregava o profeta Jeremias (Jr. IV, 4; IX, 25-26), isto é, o combate ao pecado e aos vícios, pela submissão à vontade de Deus e pela prática de sua Lei. O próprio ritual judaico mostra a razão desta lei: aquele que operava a circuncisão dizia: “Bendito seja o Senhor nosso Deus, que nos santificou com seus preceitos e nos deu a circuncisão”; a que respondia o pai do circuncidado: “Que nos concedeu introduzir nosso filho na Aliança de Abraão nosso pai”; e os demais presentes diziam em coro: “Feliz aquele que vós escolheis, e chamais para habitar em vossos átrios. Possamos nós ser saciados dos bens de vossa casa, da santidade de vosso templo. Vós nos atendeis com os estupendos prodígios de vossa justiça, ó Deus, nosso salvador. Vós sois a esperança dos confins da terra e dos mais longínquos mares” – palavras do salmo 64 (Sl. LXIV, 5-6). A circuncisão introduzia o judeu no povo eleito, santificava-o pela fé no Salvador prometido e pela prática dos preceitos da lei, e confirmava o povo eleito na esperança do Salvador que deveria vir. 

Ora, o Antigo Testamento tem como centro a vinda do Messias, todo ele figura, anuncia e prepara o seu Advento. Como diz Santo Agostinho: “Toda a Escritura narra Cristo e ensina a caridade: a Lei toda estava grávida de Cristo” (Contra Faustum Manichæum Libri XXXIII, MIGNE, P.L., XLII, col. 207a), e o próprio redentor disse aos fariseus: “escrutai as escrituras, são elas que dão testemunho de mim” (Jo. V, 39). Assim, afirma Santo Ambrósio (Expositio Evangelii secundum Lucam. MIGNE, P.L., XV, col. 1572b-1573b) que a circuncisão estabelecida por Deus na antiga Lei era a prefiguração da purificação e remissão dos pecados que Nosso Senhor Jesus Cristo operou por sua encarnação redentora. Ainda neste sentido, assevera Santo Tomás de Aquino (Summa Theologiæ. IIIª, Q. LXX, a. 1) que é a circuncisão uma prefiguração do batismo, pois que, assim como ela incorporava o circuncidado que professava sua fé no messias prometido ao antigo povo eleito, esse sacramento, indispensável para a salvação, incorpora à Igreja, o novo povo eleito, o cristão que professa sua fé no Cristo Salvador.  Ainda, como a circuncisão colocava o judeu sob o jugo pesado da antiga lei, por este sacramento recebemos o suave jugo da lei da graça, pela qual vivemos da vida divina já nesta vida, tornando-nos filhos de Deus e recebendo as virtudes teologais, fé, esperança e caridade, que nos levam a dirigir nossos atos a Deus como nosso fim último, agindo como verdadeiros filhos de Deus. 

Podemos ainda, caríssimos, ver nesse episódio da Circuncisão as primícias do sacrifício redentor de Cristo: a Circuncisão é o prelúdio da Paixão. Sendo Deus, não estava ele submetido à lei judaica, pois era ele o próprio legislador, mas quis Nosso Senhor assumir toda a natureza humana, fazendo-se semelhante a nós em tudo exceto no pecado (Heb. IV, 15). Submeteu-se assim a este penoso preceito, tomando sob si todo o jugo da antiga lei e de todos nossos pecados para purificar-nos e impor-nos o suave jugo da Nova Aliança. Nas palavras de São Paulo, “submeteu-se à lei para ganhar aqueles que estavam submetidos à lei” (Gal. IV, 4-5). Disse, com efeito, Nosso Salvador: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt. XI, 28-30). É para nos obter essa suprema graça por seu sacrifício que Cristo veio a nós, e as primeiras gotas deste sangue redentor são derramadas hoje – é hoje que nosso Redentor começa a sofrer para nos salvar.

Cristo começa a sofrer: é na obediência, na humilhação e no sofrimento que ele mostra sua onipotência, pois que é pela sua paixão que ele nos traz a redenção. Assumindo a condição humana, Nosso Salvador a restaura na amizade de Deus e nós podemos assim nos dirigir ao nosso fim último que é a bem-aventurança celeste. Mas para isso, caríssimos, devemos fazer nossa parte: como ensina São Paulo (Col. I, 24), devemos completar em nossa carne aquilo que faltou à paixão de Cristo, e como disse Nosso Senhor, “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc. IX, 23-24). Como assevera o Apóstolo na epístola de hoje: a graça das graças de Deus apareceu ao mundo com Cristo Nosso Salvador. Veio ele nos redimir e nos deixar o exemplo a ser imitado para agradar a Deus e ganhar a bem-aventurança eterna: renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, isto é, reconhecer Deus como nosso sumo bem e fim último, elevar-se acima dos bens materiais, reconhecendo que, criaturas de Deus, devem ser utilizados para a glória de Deus e nossa santificação; circuncidemos nossos corações, vivamos, neste mundo, sóbria, justa e piedosamente, conforme a lei divina e os ensinamentos de Nosso Redentor, aguardando o momento de retornar a nossa pátria celeste para a qual fomos criados.

Caríssimos, tenhamos todos os dias em mente essa realidade: Deus veio nos salvar, devemos nós cooperar então com a sua graça! Assim para o verdadeiro católico, o Natal não acaba hoje, mas todo dia é Natal. E é essa uma realidade, e não uma mera ideologia ou filosofia de vida: Deus quer nossa salvação e todos os dias ele vem a nós pelas graças que nos envia para nossa conversão e salvação. É esse o supremo bem, caríssimos; é isso que devemos desejar acima de tudo nesse novo ano. Aproveitemos particularmente as graças dessa festa de Natal, rogando, consoante a coleta de hoje, a intercessão da Bem Aventurada e Sempre Virgem Maria, Mãe de Nosso Salvador, que com ele ofereceu as primícias de seu sacrifício e que Deus utilizou como fonte para derramar as graças de sua encarnação sobre os homens.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Missas Tridentinas - Programação de Natal e Final de Ano - 2016/2017

Missas Tridentinas - Programação Dezembro/16 e Final de Ano
24/12/16  Sábado             09:00h   Missa

Tesouro de Exemplos - Parte 244

O QUE ESCREVEU HIPÓLITO TAINE

“Todos os patifes, todos os borrachos, todos os ladrões, todos os maus indivíduos, todos os demagogos, todos os anarquistas, são inimigos dos padres. Por outro lado, a gente boa, os homens de bem, as pessoas honradas, delicadas, dignas de estima, todas olham o padre com simpatia. Os fatos são certos; portanto, anda-se com muito más companhias, quando se combatem os padres” (Histoire de la Commune).

1 de janeiro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 243

DIGNIDADE DO SACERDOTE

Conta o P. Guilherme Doyle que, na Irlanda, um eminente juiz de direito ouvia missa todos os dias em seu oratório particular; e, pelo capelão que celebrava ali todos os dias, tinha o maior respeito e veneração. Esse juiz costumava dizer: “Quando estou no tribunal, lembro-me que sou representante de Sua Majestade o Rei e espero e exijo que me prestem a honra devida ao meu cargo; um sacerdote, porém, é o embaixador de Jesus Cristo, Rei dos reis e, portanto, é ainda mais digno de toda a honra que se lhe possa tributar”.
“Realmente, não há na terra coisa mais excelente que um sacerdote santo. Nem para os povos há um dom mais precioso, nem para a sociedade reitores mais excelentes, nem para as multidões educadores mais eficazes, nem para as famílias honra mais excelsa, nem para a Santa Igreja gloria maior”.