27 de novembro de 2013

Pensamentos escolhidos de Cura d'Ars.

XXXI - Avisos e máximas sobre diversos assuntos.

10/20 - Regra invariável .

Eis aqui uma boa regra de conduta: Só fazer aquilo que se pode oferecer ao bom Deus. Ora, não se pode oferecer-lhe maledicências, calúnias, injustiças, cóleras, blasfêmias, espetáculos. Ai ! não se faz senão isto no mundo.

A pena da perda de Deus é o que faz o inferno.

Iniquitates vestrae diviserunt inter vos et Deum vestrum — “As vossas iniqüidades fizeram uma separação entre Vós e vosso Deus” (Is. 59, 2)

Sumário. A malícia do pecado mortal consiste no desprezo da graça divina e na perda voluntária de Deus, o Bem supremo. Com toda a justiça, pois, a maior pena do pecador no inferno é tê-lo perdido, sem esperança de O tornar a achar. Se quisermos ter uma garantia de não incorrermos em tamanha desgraça, demo-nos inteiramente e sem reservas ao Senhor. O que não se dá inteiramente a Deus ou o serve com tibieza, corre grande risco de O perder para sempre.

I. A gravidade da pena deve corresponder à gravidade do delito. Os teólogos definem o pecado mortal por estas duas palavras: aversio a Deo — “aversão de Deus”. Eis, pois, em que consiste a malícia do pecado mortal: consiste no desprezo da graça divina e na perda voluntária de Deus, o Bem supremo. Pelo que com toda a justiça a maior pena do pecador no inferno é o ter perdido a Deus.

São grandes as demais penas do inferno: o fogo que devora, as trevas que obcecam, os uivos dos condenados que ensurdecem, o mau cheiro que faria morrer aqueles desgraçados se pudessem morrer, a estreiteza que os oprime e lhes tolhe a respiração; mas todas estas penas nada são comparadas com a perda de Deus. No inferno os réprobos choram eternamente, mas o objeto mais amargoso do seu choro é o pensar que perderam a Deus pela sua culpa.

Ó Deus, que grande bem perderam eles! Durante esta vida os objetos que nos rodeiam, as paixões, as ocupações temporais, os prazeres dos sentidos, as contrariedades não nos deixam contemplar a beleza e bondade infinita de Deus. Mas uma vez que a alma sai do corpo, reconhece logo que Deus é um bem infinito, infinitamente formoso, e digno de amor infinito. E sendo que foi criada para ver e amar esse Deus, quisera logo elevar-se a Ele e com Ele unir-se. Como, porém, está em pecado, acha levantado um muro impenetrável, quer dizer, o pecado mesmo que lhe fecha para sempre o caminho para Deus: As vossas iniqüidades fizeram uma separação entre vós e o vosso Deus. — Meu Senhor, graças Vos dou, porque não me foi ainda fechado este caminho, como tinha merecido, e porque posso ainda ir para Vós. Peço-Vos, não me repilais! Meu Jesus, com Santo Inácio de Loyola Vos direi: Aceito toda a pena, mas não a de ser privado de Vós.

II. Se quisermos ter uma garantia de que não perderemos o nosso Deus, consagremo-nos inteiramente a Ele. O que não se dá todo a Deus corre sempre o risco de Lhe virar as costas e de O perder. Uma alma, porém, que resolutamente se desapega de todas as coisas e se dá toda a Deus, não O perde mais; porquanto, Deus mesmo não consentirá que uma alma que se Lhe deu de todo o coração Lhe volte as costas e O perca. Pelo que um grande Servo de Deus dizia que, em lendo-se a queda de alguns que primeiro levaram vida santa, se deve concluir que eles nunca se deram a Deus com todas as véras. — Demo-nos, pois, ao Senhor sem reserva e roguemos-Lhe sempre pelos merecimentos de Jesus Cristo que nos livre do inferno. Especialmente deve pedir isso aquele que na sua vida já perdeu a Deus por algum pecado grave.

Ai de mim, ó Senhor, que pelo desprezo da vossa graça mereci estar para sempre separado de Vós, meu Bem supremo, e odiar-Vos para sempre. Agradeço-Vos o me haverdes suportado quando estava na vossa inimizade: se então tivesse morrido, que seria de mim? Mas já que me prolongastes a vida, fazei que dela nunca me sirva para Vos ofender de novo, mas unicamente para Vos amar e para chorar os desgostos que Vos dei.

Meu Jesus, d'oravante sereis Vós o meu único amor; e o meu único temor será o de Vos ofender e de me separar de Vós. Nada, porém, posso, se não me ajudardes. Prendei-me sempre mais a Vós pelos laços de vosso santo amor; reforçai as santas e doces correntes de salvação, que me liguem mais e mais convosco. Pelos méritos de vosso Sangue espero que me ajudareis para ser sempre vosso, ó meu Redentor, meu amor, meu tudo: Deus meus et omnia. — Ó grande Advogada dos pecadores, Maria, ajudai um pecador que se recomenda a vós e em vós confia. (*II 291)

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 324- 326.)

26 de novembro de 2013

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Parte 1 - Meditação 10

CONSIDERAÇÃO X.

DO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO.

PARA A NOITE DE NATAL.

Evangelizo vobis gaudium magnum..., quia natus est vobis hodie Salvator.
Anuncio-vos uma grande alegria; nasceu-vos hoje um Salvador (Lc 2,10).

Anuncio-vos uma grande alegria. Eis o que disse o anjo aos pastores de Belém, e eis também o que vos tenho dizer hoje, almas fiéis: Trago-vos uma nova de grande alegria. E que nova de maior alegria pode dar-se a pobres exilados, condena-dos à morte, do que a da vinda do Salvador, que quer não só livrá-los da morte, mas também obter a sua entrada na pátria? essa é precisamente a nova que vos trago: Nasceu-vos hoje um Salvador. Nesta noite nasceu Jesus Cristo, e nasceu por vós, a fim de vos livrar da morte eterna e de vos abrir o céu, vossa pátria, donde vos tinham banido os vossos pecados.
Mas a fim de que o reconhecimento para com esse Redentor recém-nascido vos decida a amá-lo doravante, permiti vos ponha ante os olhos as circunstâncias desse acontecimento, dizendo-vos onde nasceu, como nasceu, e onde se acha esta noite; podereis então vir lançar-vos a seus pés e agradecer-lhe tão grande benefício e tanto amor. Mas antes peçamos a Jesus e Maria nos iluminem.
I.
Permiti que antes vos historie em poucas palavras o nas-cimento desse Rei do universo, que desceu do céu para a vossa salvação.
Otávio Augusto, imperador romano, querendo conhecer as forças de seu império, mandou fazer um recenseamento geral de todos os seus súditos. Para esse fim prescreveu a todos os governadores, e entre outros a Cirino, na Judéia, obrigassem os habitantes de suas respectivas províncias a se fazerem inscrever cada um em seu lugar de origem e a pagarem ao mesmo tempo um tributo em sinal de sujeição. É o que atesta S. Lucas. Publicada que foi essa ordem, José obedeceu pronta-mente e sem esperar o parto de sua santa Esposa, o qual es-tava próximo. Obedeceu logo e se pôs a caminho com Maria, que levava em seu casto seio o Verbo encarnado, para se inscrever na cidade de Belém. A viagem foi longa; pois, segundo os autores, a distância era de noventa milhas, isto é, de quatro dias; foi além disso bem penosa porque foi preciso atravessar uma região montanhosa, os caminhos eram maus, era na estação dos ventos, chuvas e frio.
Quando um rei entra pela primeira vez numa cidade de seu reino, quantas honras não lhe prestam! quantos arcos de triunfo, quantos aparatos de todo o gênero! Prepara-te, pois, ó ditosa Belém! prepara-te para receber dignamente o teu Rei: o profeta Miquéias te anuncia que Ele vai visitar-te, esse grande Rei, que é o soberano Senhor, não só da Judéia, mas do mundo inteiro. Saibas, diz-te o profeta, que entre todas as cidades do universo, tu és a cidade afortunada que se escolheu para lugar de seu nascimento o Rei do céu vindo à terra para reinar não sobre a Judéia, mas sobre todos os corações dos homens na Judéia e em todos os lugares: E tu Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá; mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel.
Mas eis que chegou a Belém dois pobres peregrinos José e Maria que leva em seu seio o Salvador do mundo. Entram na cidade e apresentam-se ao oficial imperial para pagar o tributo e se inscrever na lista dos vassalos de César, lista em que a-manhã será inscrito também o nome do filho de Maria, Jesus Cristo, que é o senhor de César e de todos os príncipes da terra. Mas quem os reconheceu? quem lhes foi ao encontro para honrá-los? quem os saudou? quem os acolheu? Ah! veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Vão eles como pobres, e como tais são desprezados; tratam-nos pior do que os outros pobres, todos os repelem. Por que? porque, como diz S. Lucas, enquanto lá estavam, chegou o momento em que Maria devia dar à luz. Foi naquele lugar e durante aquela noite que o Verbo encarnado quis nascer e tornar-se visível neste mundo; Maria o sabia e disso avisou seu casto esposo. José apressou-se a encontrar hospedagem conveniente em qualquer casa particular, a fim de não ser obrigado a conduzir a jovem Maria ao hotel, que não era lugar decente para uma jovem que ia dar à luz, tanto mais porque ele estava repleto de viajantes. Mas não achou ninguém que se dignasse ouvi-lo; mas de um, sem dúvida, o taxaram de imprudente por levar consigo sua esposa no estado em que se achava, e isso durante a noite e no meio de tão grande afluência de povo. Enfim, para não passar a noite na rua, foram constrangidos a apresentar-se na hospedaria; mas, ah! ela estava lá invadida por uma multidão de pobres que nela se refugiaram; forçaram-nos a retirar-se dizendo que não havia lugar para eles. Havia lugar para todos, mesmo para os mais pobres, só não para Jesus Cristo!
Essa hospedaria é a figura de tantos corações ingratos que se abrem a uma multidão de miseráveis criaturas e permanecem fechados para Deus. Quantos amam seus pais, seus amigos e até os animais e não amam a Jesus Cristo e não fazem caso de sua graça nem de seu amor! A SS. Virgem disse um dia a uma alma devota: “Foi por disposição particular de Deus que não houve hospedagem entre os homens nem para mim nem para meu Filho; foi a fim de que as almas amantes oferecessem um asilo a Jesus e o convidassem com ternura a habitar em seus corações”.
Prossigamos a nossa narração. Vendo-se assim repelidos de todas as partes, José e Maria saíram da cidade para procurar ao menos algum abrigo fora de seus muros. Caminham ao escuro, giram, espiam; finalmente divisam uma gruta cavada na montanha abaixo da cidade. Segundo Barradas, Beda e Brocardo, foi esse o lugar em que nasceu Jesus Cristo: era uma escavação feita no rochedo, separada da cidade, uma espécie de caverna que servia de abrigo aos animais. — Meu caro José, disse então Maria, não é preciso ir mais longe; entremos nesta gruta e fiquemos aqui. — Mas como? respondeu então José; minha cara esposa, não vês que a gruta é aberta, fria e úmida, que a água escorre de todos os lados? Não vês que isto é um estábulo e não habitação para homens? Como queres aqui ficar a noite inteira e aqui dar à luz o teu divino Filho? — E não obstante, é verdade, replicou Maria, que este estábulo é o palácio em que o Filho eterno de Deus resolveu nascer.
Oh! que terão dito os anos vendo entrar a Mãe de Deus nessa gruta para lá dar à luz o Rei dos reis? Os príncipes da terra nascem em aposentos resplandecentes de ouro; preparam-lhes berços enriquecidos de pedrarias, de panos do linho mais fino, e são rodeados dos primeiros senhores do reino. Mas o Rei do céu vem ao mundo num estábulo frio e sem lu-me, só tem trapos pobres para se cobrir, e um miserável pre-sépio com um pouco de palha para repousar seus membros! — Onde está a sua corte? pergunta S. Bernardo; onde está o seu trono? Lá não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e a sua manjedoura para lhe servir de berço. — Ó gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver nascer o verbo divino! Ó venturoso presépio, que tiveste a honra de receber o Senhor do universo! Ó palha afortunada, que serviste de leite àquele que repousa sobre as asas dos Serafins! Ah! ao considerarmos como Jesus quis nascer no meio de nós, deveríamos todos abrasar-nos de amor; ao ouvirmos os nomes: gruta, presépio, palha, leito, vagido, deveríamos, recordando-nos do nascimento de nosso Redentor, sentir os corações traspassados como de setas inflamadas. Sim, fostes felizes, ó gruta, ó presépio, ó palha! porém bem mais felizes são os corações que amam com fervor e ternura esse doce e amável Salvador, e que, inflama-dos de amor, o recebem na santa comunhão! Oh! com que de-sejo e contentamento vem Jesus repousar num coração que o ama!
II.
Apenas entrada na gruta, Maria se põe em oração; e tendo chegado a hora do nascimento do Salvador, desata os cabelos em sinal de respeito, e os derrama sobre os ombros. De repente vê uma grande luz; o seu coração exulta de gáudio celeste; abaixa os olhos, e, ó céu! que vê? vê sobre o solo uma criancinha, tão bela, tão amável, que arrebata; mas ele treme, estende as mãos para sua Mãe indicando que quer que Ela o tome em seus braços, segundo o que foi revelado a S. Brígida. Maria chama a José dizendo: “Vem ver o Filho de Deus que acaba de nascer”. José vem logo, e, vendo a Jesus pela primeira vez, adora-o derramando um rio de doces lágrimas. Em seguida a SS. Virgem toma com respeito seu caro Filho, conserva-o em seus braços com uma alegria misturada de terna compaixão, e põe-se a acalentá-lo, apertando-o contra o seu seio e cobrindo-o de seus beijos maternais. Considerai a devoção, a ternura, o amor que encheram o coração de Maria quando ela viu em seus braços, em seu regaço, o Senhor do universo, o Filho do Padre eterno, o qual quis também fazer-se filho dela, e que entre todas as mulheres a havia escolhido por Mãe. Ela o adora como seu Deus; beija-lhe os pés como a seu Rei, e as faces como a seu filho. Em seguida procura cobri-lo e enfaixá-lo; mas, ah! como são grosseiros e rudes aqueles pobres panos! ademais são frios, são úmidos; e nessa gruta não há fogo para aquecê-los.
Vinde, reis, imperadores; vinde todos vós, poderosos da terra! vinde homenagear o vosso supremo Senhor, que por amor de vós quis nascer tão pobre nessa caverna. — Mas não vejo ninguém apresentar-se! Não, ninguém: o Filho de Deus veio ao mundo, e o mundo não o quis conhecer.
Mas se não vêm os homens, vêm os anjos prosternar-se aos pés de seu soberano Senhor; o Padre eterno assim o ordenou para honrar seu divino Filho: Adorem-no todos os anjos de Deus, exclama o Salmista. Eles vêm em grande número e, louvando o Senhor, cantam em transportes de alegria: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade. Sim, glória à divina misericórdia, que quer que o Senhor, em vez de punir os homens rebeldes, tome sobre si a pena de seus pecados, e que os salve! Glória à divina sabedoria, que achou o meio de satisfazer à justiça e libertar o homem da mor-te por ele merecida! Glória ao poder divino, que tão admiravelmente triunfou do inferno! Suportando a pobreza, as dores, os desprezos e a morte, o Verbo eterno conquistou os corações de maneira tal que, ardendo em desejo de conhecer o seu a-mor, uma multidão de jovens dos dois sexos, de nobres personagens e até de príncipes, abandonou por Ele honras, riquezas e todas as coisas não excetuando a vida. Glória enfim ao divino amor, que moveu um Deus a fazer-se criança, pobre, humilde, a levar vida penosa e a sofrer morte cruel para mostrar aos homens o afeto que lhes tinha, e para ganhar o seu amor!
Nesse estábulo, diz S. Lourenço Justiniano, vemos a majestade divina como que aniquilada; vemos um Deus que é a sabedoria personificada levando o amor aos homens, por as-sim dizer, até a loucura.
III.
E agora Maria convida todos os homens, nobres e plebeus, ricos e pobres, santos e pecadores, a entrarem na gruta de Belém, a adorarem seu divino Filho e a lhe beijarem os pés. — Entrai, pois, almas cristãs, vinde ver sobre a palha o Criador do céu e da terra sob a forma duma criancinha, dum menino resplandecente de beleza e de brilhante luz. Agora que Ele nasceu na gruta e que está reclinado sobre palha, esse lugar já nada tem de repelente, mas tornou-se um paraíso. Entremos e não temamos.
Jesus nasceu para todos, para quem o deseja. Eu sou, diz Ele nos Cânticos, eu sou a flor dos campos e o lírio dos vales. Ele se diz Lírio dos vales, para nos dar e entender que, tendo Ele nascido tão pobre, só os humildes o podem achar. Eis por-que o anjo não anunciou o seu nascimento a César ou a Herodes, mas a pobres e humildes pastores. De resto, segundo o comentário do Cardeal Hugo, Ele se diz Flor dos campos, por-que é acessível a todos. As flores dos jardins são reservadas s seu dono; não é permitido a todos colhê-las nem mesmo vê-las; os muros que as cercam, a isso se opõem. As flores dos campos, ao contrário, são expostas à vista de todos os transe-untes, e cada um as pobre colher: assim Jesus quis estar ao alcance de todos que o desejam achar.
Entremos; a porta está aberta e, acrescenta S. João Cri-sóstomo, “não há guarda para dizer: Não é hora”. Os reis da terra fecham-se em seus palácios, e esses palácios são rodeados de soldados; não é fácil chegar-se a eles: quem lhes quer falar tem de suportar aborrecimentos: Venha em outra ocasião, agora não há audiência. Jesus Cristo não é assim: fica naque-la gruta, e sob a forma duma criança para atrair docemente todos os que se apresentam; a gruta está aberta, sem guardas e sem portas, de sorte que cada um pode entrar à vontade e em qualquer tempo para ver esse Rei-menino, falar-lhe e até abraçá-lo, se o ama e deseja.
Entrai, pois, almas cristãs, vinde ver no presépio sobre palhas esse tenro Menino que chora. Vêde como é belo; vêde que luz irradia, que amor respira; seus olhos enviam setas de fogo aos corações que o desejam; seus vagidos são chamas para toda a alma que o ama; “o estábulo e o presépio, diz S. Ber-nardo, vos clamam que ameis aquele que tanto vos amou”. Amai um Deus que é digno de amor infinito e que desceu dos céus, se fez menino, se fez pobre, para vos mostrar seu amor e ganhar o vosso por seus sofrimentos.
Se lhe perguntardes: Ah! Menino encantador! dizei-me, de quem sois Filho? — Ele responderá: “Minha Mãe é essa Virgem toda bela e toda pura que está perto de mim. — E quem é o vosso Pai? — Meu Pai é Deus. — E como! vós sois o Filho de Deus, e nasceis em tanta pobreza e humilhação? quem poderá jamais reconhecer-vos? que caso farão de vós? — Não, responde Jesus, a santa fé me fará conhecer pelo que sou, e me fará amar pelas almas que vim resgatar da morte e inflamar de amor. Não vim para ser temido, mas amado; e se é como criança pobre e humilde que me mostro aos vossos olhos pela primeira vez, é para que me ameis mais, vendo a que humilhação me reduziu o amor que vos tenho. — Mas, dizei-me, amável Menino, porque girais assim os vossos olhos ao redor de vós? que estão olhando? Ouço-vos suspirar! dizei-me: porque suspirais? Ó Deus, vejo-vos chorar! dizei-me: porque chorais? — Ah! me responde Jesus, olho ao redor de mim, para ver se encontro uma alma que me deseje. Suspiro, porque quisera ver ao meu lado um coração ardente de amor por mim, como eu ardo de amor por ele. Choro, sim, e eis porque choro: porque não vejo, ou vejo bem poucas almas e corações que me procuram e que me querem amar!
Exortação para o beijamento dos pés do divino
Menino em uso em algumas igrejas.
Levantai-vos, almas fiéis; Jesus vos convida esta noite a virdes lhe beijar os pés. Os pastores que o foram visitar no estábulo de Belém levaram-lhe seus presentes; é preciso que lhe ofereçais também os vossos. Mas que lhe ides oferecer? Escutai-me: o mais agradável presente que possais oferecer a Jesus, é um coração arrependido e amante. Eis, pois, os senti-mentos que cada um lhe deve exprimir:
Afetos e Súplicas.
Vendo-me manchado de tantos pecados, não teria a ousa-dia de aproximar-me de vós, Senhor, se me não convidásseis com tanta bondade; mas já que me chamais tão amorosamente, não quero recusar o favor que me fazeis. Não, não quero acrescentar às minhas faltas esta nova ingratidão para convosco; depois de vos haver tantas vezes voltado as costas, não quero por falta de confiança resistir a um apelo tão doce, tão gracioso. Mas sabeis que sou extremamente pobre; nada tenho para vos oferecer. Não tenho outra coisa que o meu miserável coração, que venho trazer-vos. É verdade que vos ofendi outrora, mas hoje me arrependo, e vo-lo ofereço arrependido. Sim, adorável Menino, arrependo-me de vos haver contristado. Eu o confesso, sou o bárbaro, o traidor, o ingrato, que vos causou tantas dores e vos fez derramar tantas lágrimas no estábulo de Belém; mas as vossas lágrimas são a minha esperança. Sou um pecador indigno de perdão; mas tenho a vós que, sendo Deus, vos fizestes menino para perdoar-me. Ó Pai eterno, se mereço o inferno, olhai para as lágrimas que vosso Filho inocente derrama para me obter misericórdia. Não recusais nada às preces de Jesus Cristo; atendei-o pois que implora de vós o meu perdão nesta noite, que é uma noite de alegria, uma noite de salvação, uma noite de perdão. — Ah! caro Menino, meu Jesus, espero de vós o perdão; mas não me basta o perdão dos meus pecados: nesta noite concedeis grandes graças às almas; eu também desejo uma grande graça que deveis fazer-me, a graça de vos amar. Agora que estou arrependido aos vossos pés, abrasai-me todo de vosso santo amor, e prendei-me a vós; mas prendei-me de tal forma que me não possa mais separar de vós. Amo-vos, ó meu Deus feito menino por mim, mas amo-vos pouco; quero amar-vos muito, a vós compete fazer que assim seja. Venho beijar-vos os pés e trazer-vos meu coração; eu vo-lo entrego, não o quero mais. Transformai-o e guardai-o para sempre. Não mo deis mais, pois se o puserdes em minhas mãos, temo que vos torne a trair.
SS. Virgem Maria, vós que sois a Mãe desse divino Meni-no, sois também a minha Mãe: em vossas mãos deposito meu pobre coração, apresentai-o a Jesus. Se vós lho apresentar-des, Ele o não rejeitará. Apresentai, pois, meu coração a Jesus, ó minha Mãe, e pedi que o aceite.

Mágoas tardias da alma negligente na hora da morte.

Iuravit per viventem in saecula saeculorum... Quia tempus non erit amplius — “Jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos... Não haverá mais tempo” (Apoc. 10, 6).

Sumário. Ai do moribundo que na vida se descuidou do bem da sua alma! À luz da vela bendita que então será acesa, verá as coisas do mundo bem diferentes do que agora se lhe afiguram. Dirá: Insensato que fui! Com tantos meios que Deus me proporcionou, podia santificar-me, e em vez disso, sou atormentado pelos mais acerbos remorsos. Dize-me, porém, meu irmão, de que servirá compreender esta verdade, quando já for tarde para remediar?... Façamos agora o que na hora da morte desejaremos ter feito.

I. Para o moribundo, que na sua vida se descuidou do bem da sua alma, todas as coisas que se lhe apresentarem serão outros tantos espinhos. Espinhos as recordações dos prazeres gozados, das demandas vencidas, das pompas ostentadas: espinhos os amigos que o virão visitar, assim como todas as coisas que eles lhe recordarão: espinhos os sacerdotes que alternativamente lhe assistirão: espinhos os sacramentos que deverá receber, a confissão, a comunhão e a extrema unção; espinho lhe será também o Crucifixo que lhe colocarão ao lado, porque nesta imagem verá quão mal correspondeu ao amor de um Deus morto para o salvar.

Quanto fui insensato! Dirá então o pobre doente. Podia tornar-me santo com as luzes e facilidades que Deus me deu; podia passar vida feliz na graça de Deus; e agora, de tantos anos que vivi, que me resta senão tormentos, desconfianças, temores, remorsos de consciência e contas para dar a Deus?... É bem difícil salvar-me!

O que não daria então, para ainda ter um ano, um mês, uma semana ao menos, com a cabeça sã? Estando então com a cabeça atordoada, o peito oprimido e falta de ar, nada pode fazer, não pode refletir, nem aplicar o espírito a qualquer ato de virtude. Está como encerrado num fosso escuro, onde tudo é confusão, onde não pode imaginar senão uma grande ruína que o ameaça e à qual se vê na impossibilidade de remediar. É por isso que desejaria tempo; mas ser-lhe-á dito: “Proficiscere. Depressa, regula nestes poucos momentos, o melhor possível, as tuas contas, e parte. Não sabes que a morte nunca espera, nem tem considerações para com pessoa alguma?” — Reflete aqui, meu irmão, quais seriam os teus sentimentos, se agora te avisassem de que a tua morte se aproxima? Ah! Quantos cristãos que meditaram nestas mesmas verdades, mas não as aproveitaram, choram agora, desesperados, no fogo do inferno?

II. Que motivo de susto não será para o enfermo o pensar e dizer: “Esta manhã tenho ainda vida; à noite talvez já esteja morto!... Hoje estou neste quarto, amanhã estarei no sepulcro!... E a minha alma, onde estará?”... Que susto quando vir preparar o círio fúnebre! Quando sentir o suor frio da morte! Quando começar a perder a vista, e os olhos se escurecerem! Que susto, enfim, quando acenderem o círio, porque a morte é iminente! O círio, ó facho da morte, quantas verdades descobrirás então! Como farás conhecer as coisas diferentes do que agora se afiguram! Como farás conhecer que todos os bens do mundo não são senão vaidades, loucuras e ilusões! Mas de que servirá compreender estas verdades, quando já não haverá tempo para se aproveitarem?

Ah, meu Deus! Não quereis a minha morte, mas sim que me converta e viva. Agradeço-Vos o terdes esperado por mim até hoje; agradeço-Vos a luz que me dais agora. Reconheço o erro que cometi, pospondo a vossa amizade a bens tão vis e miseráveis, como aqueles pelos quais Vos desprezei. Arrependo-me, estou aflito, de todo o meu coração, por Vos ter feito tamanha injúria. Nos dias que me restam, não deixeis, com a vossa luz e graça, de me ajudar a conhecer e a executar o que devo fazer para emendar a minha vida. De que me servirá chegar a conhecer esta verdade, quando já não tiver tempo para me corrigir?

Ne tradas bestiis animas confitentes tibi (1) — “Não entregues às feras as almas que te louvam”. Quando o demônio me tentar a ofender-Vos de novo, suplico-Vos, meu Jesus, pelos merecimentos da vossa Paixão, que estendais os braços e me preserveis de recair no pecado e de me tornar outra vez escravo dos inimigos da minha alma. Fazei que então sempre recorra a Vós, e não deixe de me recomendar a Vós, enquanto durar a tentação. Vosso sangue é a minha esperança, e a vossa bondade o meu amor. — Amo-vos, meu Deus, digno de um amor infinito, e fazei que sempre Vos ame. Fazei-me conhecer as coisas de que me devo desligar para ser todo vosso, porque é isto o que pretendo fazer. Mas dai-me força de executar esta resolução. — Ó Rainha do céu, ó Mãe de Deus, rogai por mim, pobre pecador. Fazei que não deixe nas tentações de recorrer a Jesus e a vós, que, pela vossa intercessão, preservais de toda a queda aquele que a vós recorre. (II 34.)

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1. Ps. 73, 19.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 432-435.)

Na morte tudo acaba.

Dies mei breviabuntur; et solum mihi superest sepulchrum — “Os meus dias se abreviam, e só me resta o sepulcro” (Iob 17, 1).

Sumário. A felicidade da vida presente é comparada por Davi ao sono de um homem que desperta; porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, como pouco dura o sono e logo se evapora. Já que nos temos que separar um dia desses bens, desprendamo-nos de tudo aquilo que nos afasta ou nos pode afastar de Deus, e não deixemos para amanhã o bem que podemos fazer hoje. Por terem procrastinado o bem, quantos se acham agora no purgatório e quiçá no inferno!

I. Davi chama à felicidade da vida presente sonho de um homem que desperta: Velut somnium surgentium (1); porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, assim como pouco dura o sonho e logo se evapora. Este pensamento determinou São Francisco de Borja a dar-se inteiramente a Deus.

O Santo foi encarregado de acompanhar à Granada o corpo da imperatriz Isabel. Quando abriram o caixão, o aspecto horrível e o mau cheiro do cadáver afugentaram toda a gente. Mas Francisco, guiado pela luz divina, deteve-se a contemplar naquele cadáver a vaidade do mundo e exclamou fitando-o: “Sois vós então a minha imperatriz? Sois vós aquela diante de quem se prostravam respeitosos tão notáveis personagens? Ó Isabel, minha senhora, que é feito da vossa majestade, da vossa beleza?”... “É, pois, assim”, concluiu consigo, “que terminam as grandezas e coroas da terra! Quero para o futuro servir um senhor que me não possa ser roubado pela morte.” Desde então consagrou-se inteiramente ao amor de Jesus crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso, o que depois executou entrando na Companhia de Jesus.

Tinha, portanto, razão certo homem desiludido quando escreveu estas palavras sobre um crânio: Cogitanti vilescunt omnia — “Tudo se afigura desprezível àquele que reflete”. Quem pensa na morte, não pode amar a terra. Mas porque é que há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. — Filii hominum, usquequo gravi corde (2) — Pobres filhos de Adão, diz o Espírito Santo, porque não arrancais do coração tantas afeições terrenas que vos fazem amar a vaidade e a mentira? O que aconteceu a vossos pais, acontecer-vos-á também. Habitaram eles essa mesma morada, dormiram nesse mesmo leito, e agora não estão mais aí. O mesmo vos acontecerá igualmente.

II. Meu irmão, cuida em dar-te sem demora todo inteiro a Deus, antes que a morte chegue, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, porque o dia presente passa e não volta mais, e amanhã pode vir a morte que nada mais te deixará fazer. Por causa dessas procrastinações, quantos estão agora no purgatório, e quiçá no inferno? Liberta-te quanto antes do que te afasta ou te pode afastar de Deus. Abandonemos pelo afeto os bens terrestres, antes que a morte no-los venha arrancar à força. — Beati mortui qui in Domino moriuntur (3). Felizes aqueles que, ao morrer, se acham já mortos para as afeições do mundo! Longe de recearem a morte, desejam-na e abraçam-na com alegria, pois, em lugar de os separar dos bens que amam, une-os ao soberano Bem, que é o único objeto do seu amor e que os tornará eternamente felizes.

Meu amado Redentor, agradeço-Vos o terdes esperado por mim. Que seria de mim, se me tivésseis deixado morrer quando estava longe de Vós? Seja sempre bendita a vossa misericórdia e a paciência que durante tantos anos me dispensastes. Agradeço-Vos a luz e a graça com que hoje me favoreceis. Então não Vos amava e pouco se me dava ser amado de Vós. Agora Vos amo de todo o coração, e não sinto maior pena do que a de haver desagradado tanto a um Deus tão bom.

Meu doce Salvador, porque não morri mil vezes antes de Vos ter ofendido! Tremo só ao pensar que no futuro Vos posso ofender ainda. Fazei-me morrer da morte mais cruel, antes que eu perca de novo a vossa graça. Fizestes-me tantas graças que não pedia, que já não receio me negueis a que Vos peço agora. Não permitais que Vos perca; dai-me o vosso amor e nada mais desejo. — Maria, minha esperança, intercedei por mim. (II 13.)

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1. Ps. 72, 20.
2. Ps. 4, 3.
3. Apoc. 14, 13.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 322-324.)

Pensamentos escolhidos de Cura d'Ars.

XXXI - Avisos e máximas sobre diversos assuntos.

9/20 - O trabalho de domingo.

O domingo é o bem do bom Deus; é seu dia, o dia do Senhor. Ele fez todos os dias da semana; podia reservar todos para si; deu-nos porém seis, reservou para si o sétimo apenas. Com que direito tocais no que não vos pertence? Sabeis que o bem roubado nunca é aproveitado. O dia que tomais do Senhor tão pouco vós aproveitará. Conheço dois meios bem seguros de ficar pobre; é trabalhar no domingo e tomar o bem alheio.

25 de novembro de 2013

XXV de Novembro - Das ocupações do Menino Jesus na Gruta de Belém.

Advocatum habemus apud Patrem, Iesum Christum iustrum — “Temos por advogado para com o Pai a Jesus Cristo, o Justo” (I Io. 2, 1).

Sumário. São duas as ocupações principais de um solitário: orar e fazer penitência. Eis que Jesus Menino, na lapinha de Belém, nos dá disso um belo exemplo. Consideremos nesta meditação, como no presépio ora incessantemente e faz continuamente atos de amor e de adoração. Todas as graças que já temos recebido e ainda esperamos obter, foram-nos alcançadas por aquelas orações de Jesus Deus. Demos graças por isso ao divino Menino, e cada vez que fizermos oração, unamo-nos em espirito a tão excelente Mestre.

I. São duas as ocupações principais de um solitário: orar e fazer penitência. Eis que o Menino Jesus nos dá disso o exemplo na lapinha de Belém. Tendo tratado em outra meditação da penitência de Jesus Menino, consideremos agora, como no presépio, que Ele escolheu para seu oratório na terra, não cessa de orar continuamente ao seu Pai eterno. Continuamente faz atos de adoração, de amor e de oração. — Antes deste tempo a divina Majestade tinha, sim, recebido as adorações dos homens e dos anjos; mas todas as criaturas não lhe tinham, de certo, tributado a honra que lhe tributou o Menino Jesus pela sua adoração na gruta em que nasceu. Unamos portanto sempre as nossas adorações com as que Jesus Cristo ofereceu na terra a Deus.

Quão belos e perfeitos eram os atos de amor que em suas orações fazia o Verbo incarnado para com seu Pai! O Senhor dera aos homens o preceito de o amarem de todo o coração e com todas as forças; mas nunca homem algum cumprira perfeitamente este preceito. Entre as mulheres a primeira a cumpri-lo foi Maria, e entre os homens Jesus Menino, que o cumpriu com perfeição ainda imensamente maior do que Maria. Em comparação do amor deste Menino, pode-se dizer que os Serafins eram frios. — Aprendamos dele a amar o nosso Deus como convém, e roguemos-Lhe nos comunique uma centelha do amor puríssimo com que na lapa de Belém amava a seu divino Pai.

Oh! Quão belas, perfeitas e agradáveis a Deus eram as orações do Menino Jesus! Ele orava a seu Pai a todos os instantes, e as suas orações eram todas em nosso favor, e até para cada um de nós em particular. Todas as graças que cada um de nós recebeu do Senhor: a vocação à verdadeira fé, o ter-nos chamado a fazer penitência, as luzes, a dor dos pecados, o perdão, os santos desejos, a vitória nas tentações e todo o outro bem que fizemos e ainda faremos; os atos de confiança, de humildade, de amor, de agradecimento, de oblação de nós mesmos, de resignação; todas estas graças nos foram alcançadas por Jesus, são efeito das orações de Jesus. De quanto Lhe somos, pois, devedores! Como devemos agradecer-Lhe e amá-Lo!

II. Oh! Quanto Vos devo, meu doce Redentor! Se não houvésseis pedido por mim, em que desesperada posição me achára! Graças Vos dou, ó meu Jesus; as vossas orações me obtiveram o perdão dos meus pecados, e me alcançarão também, assim o espero, a perseverança até à morte. Vós rogastes por mim: agradeço-Vos de todo o coração; mas peço-Vos que não deixeis de rogar por mim. Sei que, no céu, intercedeis ainda em nosso favor: Advocatum habemus Iesum Christum — “Temos por advogado a Jesus Cristo”. Sei que continuais a interceder por nós: Que etiam interpellat pro nobis (1) — “O que também intercede por nós”.

Continuai, pois, a orar, ó meu Jesus; orai, porém, mais particularmente por mim, que tenho maior necessidade das vossas orações. Confio que, em atenção aos vossos merecimentos, já Deus me perdoou; mas como tenho caído tantas vezes, posso cair de novo. O inferno não deixa e não deixará nunca de me tentar, para me fazer novamente perder a vossa amizade. Ah, meu Jesus! Vós sois a minha esperança, Vós me deveis dar a força para resistir; a Vós a peço, de Vós a espero.

Mas não me contento com a graça de não cair mais; desejo também a graça de muito Vos amar. Já se vem aproximando a minha morte. Se eu morresse agora, espero, sim, que me havia de salvar; mas amar-Vos-ia pouco no paraíso, porque até hoje pouco Vos amei. Quero amar-Vos muito pelo restante da minha vida, para muito Vos amar na eternidade. — Ó Maria, minha Mãe, rogai também por mim a Jesus; as vossas orações são onipotentes com este divino Filho que tanto vos ama. Desejais tão ardentemente vê-Lo amado! Pedi-lhe me dê um grande amor à sua bondade, e este amor seja um amor constante e eterno. (II 375.)

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1. Rom. 8, 34.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 418-421.)

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Parte 1 - Meditação 9

CONSIDERAÇÃO IX.

O VERBO ETERNO DE SUBLIME SE FEZ HUMILDE.

Discite a me, quia mitis sum et humilis corde.
Aprendei de mim, que eu sou manso e humilde de coração (Mt 11,29).

O orgulho foi a causa da queda de nossos primeiros pais; estes, por não quererem submeter-se à lei divina, perderam a si mesmos e todo o gênero humano. Para reparar tão grande desgraça, o Deus de misericórdia quis que seu Filho unigênito se humilhasse ao ponto de assumir a natureza humana, e que pelo exemplo de sua vida nos movesse a amar a santa humildade e a detestar o orgulho que nos torna odiosos aos homens e a Deus. Eis por que S. Bernardo hoje nos convida a visitar a gruta de Belém; lá encontraremos, diz ele, o que admirar, o que amar, e o que imitar.
Sim, nessa gruta achamos primeiro o que admirar. Que vejo? um Deus num estábulo! um Deus sobre a palha! Ó prodígio! esse Deus onipotente que Isaías viu sentado num trono de glória e majestade no mais alto os céus; onde o vemos agora re-pousar? num presépio! e desconhecido, abandonado, sem outros cortesãos que dois animais e alguns pobres pastores!
Lá encontramos também um objeto digno de nossos afetos: um Deus, o Bem infinito que quis aviltar-se ao ponto de mostrar-se ao mundo como pobre criança, e isso a fim de se fazer mais amável, mais caro aos nossos corações: “Quanto mais Ele se humilha por mim, diz ainda S. Bernardo, tanto mais eu o amo”.
Lá encontramos enfim um modelo a seguir. O Altíssimo, o Rei do céu reduzido ao estado mais humilde! uma criancinha em extrema indigência; nessa gruta em que acaba de nascer quer começar a ensinar-nos com seu exemplo, continua o mesmo Santo, aquilo que mais tarde nos ensinará dizendo: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Peçamos a Jesus e Maria nos iluminem.
I.
Quem não sabe que Deus é incomparavelmente o primeiro, o mais nobre de todos os seres, do qual depende toda a nobreza? Ele é de infinita grandeza. E independente; não recebeu de ninguém a sua grandeza, mas a possui em si mesmo. É o Senhor do universo; todas as criaturas lhe obedecem. O Apóstolo tinha pois razão de dizer: A Deus pertence toa a honra e glória. Para curar o homem do vício do orgulho e remediar a desgraça em que o orgulho o havia precipitado, esse grande Deus dignou-se dar-lhe o exemplo da humildade, assim como para desapegá-lo dos bens terrenos lhe deu, como vimos na consideração precedente, o exemplo da pobreza.
O primeiro e o maior exemplo de humildade da parte do Verbo eterno foi de se fazer homem e revestir-se da nossa natureza e de nossas misérias. “Quem veste roupa de outrem, diz Cassiano, oculta-se sob essa roupa; assim Jesus Cristo ocultou sua natureza divina sob a humilde veste da carne humana”. “Ó maravilha, exclama S. Bernardo, a Majestade se uniu à lama, o poder à fraqueza, o que há de mais sublime ao que há de mais baixo! E maravilha mais estupenda ainda, não contente de se fazer criatura, esse Deus quis ainda parecer pecador revestindo-se, segundo a palavra do Apóstolo, duma carne semelhante à nossa carne pecadora”.
Mas o Filho de Deus não se contentou de tomar a natureza humana e de parecer pecador; quis escolher o gênero de vida mais humilde e mais baixo que há entre os homens, de sorte que Isaías o chama o último dos mortais. Jeremias havia predito que Ele seria saturado de ignomínias; e Davi, que Ele se tornaria o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe. Eis por que Jesus Cristo quis nascer do modo mais abjeto que se possa imaginar: quis nascer num estábulo. Que vergonha para um homem, embora pobre, nascer num estábulo! Quais são os seres que nascer nos estábulos? Os pobres vem ao mundo em seus casebres, pelo menos numa esteira, e não num estábulo. Em estábulos só nascem os animais, os vermes; e como um verme quis nascer na terra o Filho de Deus: Sou um verme, diz Ele, e não um homem. Sim, observa S. Agostinho, assim quis nascer o Rei do universo para nesse mesmo abaixamento mostrar-nos a sua grandeza e o seu poder, fazendo com seu exemplo amarem a humildade os homens naturalmente cheios de orgulho.
Quando os anjos anunciaram aos pastores o nascimento do Messias, os sinais que deram para o acharem e reconhecerem foram outros tantos sinais de humildade: Achareis num estábulo, disseram, uma criança envolta em panos e reclinada num presépio sobre a palha; eis o vosso Salvador. Eis como se faz reconhecer um Deus que vem à terra abater o orgulho.
A vida de Jesus exilado no Egito corresponde aos seu nascimento. Que era ele aos olhos daqueles bárbaros todo o tempo que se demorou entre eles, senão um estrangeiro, um desconhecido, um indigente? Quem o conhecia? quem lhe prestava atenção?
Após a sua volta à Judéia, a sua vida pouco se diferençou da que levou no Egito. Viveu até aos trinta anos na oficina dum pobre artífice, que todos consideravam como seu pai; lá exercia
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o ofício dum simples operário, sempre pobre, obscuro e desprezado. Na santa Família não havia servos nem servas, observa S. João Crisóstomo. O único servo que havia na casa era o Filho de Deus, que quisera fazer-se filho do homem, isto é, de Maria, para ser um humilde servidor e como tal obedecer a um homem e a uma mulher: S. Lucas atesta que Ele lhes era submisso.
Após esses trinta anos de vida oculta, chegou enfim o tempo em que nosso Salvador tinha de mostrar-se em público, e cumprir sua divina missão pregando-nos sua celeste doutrina; desde então já não podia deixar de se manifestar tal qual era, o verdadeiro Filho de Deus. Mas, ah! quantos eram os que o re-conheciam e lhe prestavam a honra que merecia? exceto um pequeno número de pessoas que o seguiram e se tornaram seus discípulos, todos os outros, longe de o honrarem, o desprezaram como homem vil e impostor. Ah! foi sobretudo então que se verificou a profecia de S. Simeão: Ele será alvo de contradição. — Jesus Cristo foi contradito e desprezado em tudo: foi desprezado em sua doutrina; tendo-se declarado o Filho de Deus, foi taxado de blasfemo pelo ímpio Caifás, e, como tal, julgado digno de morte. Foi desprezado em sua sabedoria sendo considerado como louco: Ele perdeu o juízo, diziam seus inimigos, por que o ouvis? Foi desprezado em sua conduta e tratado de glutão, de embriagado e de amigo de gente de má vida; de mágico em comércio com os demônios; de Samarita-no, isto é, de herege e de demoníaco: Não temos razão de dizer que és um Samaritano e um possesso do demônio? Foi enfim tratado de sedutor e considerado, numa palavra, como um criminoso tão notório digno de ser condenado sem processo: Se Ele não fosse um malfeitor, diziam os judeus, não vo-lo teríamos entregue.
Chegado ao fim da sua vida e à sua dolorosa Paixão, quantos novos ultrajes e humilhações não teve de suportar o divino Salvador! Foi traído e vendido por um dos seus discípulos por trinta dinheiros, quantia inferior à dum vil animal. Foi renegado por um outro discípulo. Foi arrastado pelas ruas de Jerusalém, amarrado como um malfeitor e abandonado de to-dos, mesmo dos poucos discípulos que lhe restavam. Foi in-dignamente flagelado como um vil escravo. Foi esbofeteado em público. Foi tratado como um idiota por Herodes, que vendo que Ele nada respondia e não se defendia, o cobriu duma veste branca, querendo com isso fazê-lo passar por um ignorante, diz S. Boaventura. Foi tratado como rei de teatro: puseram-lhe na mão por cetro uma cana grosseira; sobre os ombros um peda-ço de pano rubro à moda de púrpura; e sobre a fronte um feixe de espinhos em lugar de coroa; e depois escarnecendo-o o saudavam, dobravam o joelho diante dele por escárnio dizen-do: Salve, rei dos judeus! e carregavam-no de escarros e gol-pes.
Nosso Senhor quis enfim morrer por nós, e de que morte? da morte mais ignominiosa, que é o suplício da crus: Ele se humilhou e se fez obediente até a morte, até a morte da cruz. Eram crucificados os que eram considerados como os mais vis e odiosos facínoras; os seus nomes eram para sempre amaldiçoados e votados à infâmia. A lei de Moisés dizia: Maldito todo aquele que pende no madeiro. Daí a palavra de S. Paulo: O Cristo se fez maldição por nós; o que S. Atanásio explica com as palavras: “Jesus quis tomar sobre si essa maldição para sal-var-nos da maldição eterna”. “Mas, Senhor, exclama aqui S. Tomás de Vilanova, que é da vossa glória, da vossa majestade nesse excesso de ignomínia? Não procureis a glória e a majestade em Jesus Cristo, responde ele: Ele veio para dar-nos o exemplo da humildade e manifestar o amor que tem aos homens; a esse amor o pôs, em certo sentido, fora de si mesmo”.
II.
Os pagãos contavam que, por amizade, Hércules havia limpado as estrebarias de Augias, e Apolo, guardado os rebanhos de Admeto: puras ficções, mas é de fé que, por amor dos homens, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus se humilhou a nascer num estábulo, a levar uma vida pobre e desprezada, e a morrer num patíbulo infame. — Ó força de amor divino! exclama S. Bernardo; o maior de todos fez-se o último, o mais humilde de todos! E qual o móvel desse prodigioso abaixamento? O amor, esquecido de sua dignidade, em se tratando de ganhar o afeto da pessoa amada. Assim, concluiu o Santo, Deus, a quem ninguém pode vencer, foi vencido pelo amor, pois que o amor o moveu a fazer-se homem e a imolar-se por nós num oceano de dores e opróbrios. O Verbo divino, a grandeza personificada, humilhou-se até se aniquilar em certo sentido, para mostrar ao homem o amor que lhe tinha.
E de fato, observa S. Gregório de Nazianzo, Deus não podia melhor manifestar o seu amor por nós do que humilhando-se ao ponto de abraçar as maiores misérias e as mais profundas humilhações que os homens podem padecer sobre a terra. E Ricardo de S. Vítor ajunta que, tendo o homem possuído a audácia de ofender a majestade divina, “o seu crime devia ser expiado pela extrema humilhação duma suprema grandeza”. Mas, replica S. Bernardo, na medida que Deus se humilhou por nós, se mostrou grande em bondade e em amor.
Depois que um Deus se humilhou tanto por amor do homem, repugnará ainda ao homem humilhar-se por amor de Deus? Sejam os vossos sentimentos conformes aos de Jesus Cristo, nos diz o apóstolo. Não merece o nome de cristão quem não é humilde e não procura imitar nisso a Jesus Cristo, que, como observa S. Agostinho, veio ao mundo todo revestido de humildade, precisamente a fim de abater o orgulho. O orgulho do homem, ajunta o Santo Doutor, é a doença que fez descer do céu o divino Médico, o saturou de ignomínias e o cravou na cruz. Envergonhe-se pois o homem de ser orgulhoso ao menos
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à vista dum Deus que tanto se humilhou para curá-lo do orgulho”. S. Pedro Damião exprime mais ou menos o mesmo pensamento nestes termos: “Nosso Senhor abaixou-se a fim de nos elevar”, isto é, de nos retirar da lama dos nossos pecados, e de nos colocar com seus anjos no seu reino eterno, segundo as palavras do Salmista: Levanta do pó da terra o desvalido, e tira da imundície o pobre para o colocar com os príncipes, com os príncipes do seu povo. De sorte que, como ajunta S. Hilário, humilhando-se Ele nos enobreceu. “Ó imensidade do amor dum Deus para com a humanidade! exclama S. Agostinho; Ele vem carregar-se de opróbrios para nos fazer participantes de suas honras; vem entregar-se às dores para operar a nossa salvação; vem padecer a morte para nos reconduzir à vida!”
Escolhendo um nascimento tão humilde, uma vida tão desprezada e uma morte tão ignominiosa, Jesus Cristo tornou nobres e amáveis os desprezos e os opróbrios. Eis por que todos os Santos neste mundo foram tão amantes e até tão ávidos das ignomínias que pareciam não saber desejar e procurar outra coisa que ser humilhados e espezinhados pelo amor de Jesus Cristo. A aparição do Verbo sobre a terra cumpriu exatamente a predição de Isaías: Nas cavernas em que antes ha-bitavam os dragões, nascerá a verdura da cana e do junco, isto é, segundo o comentário do Cardeal Hugo, o exemplo da humildade de Jesus Cristo faria nascer o espírito de humildade lá onde até então reinaram os demônios, que são espíritos de orgulho. E de fato, assim como a cana é vazia por dentro, os humildes são vazios a seus próprios olhos; em oposição aos soberbos, que são cheios de si, eles estão persuadidos, como é verdade, que tudo o que eles têm é um dom de Deus.
Daí podemos inferir quanto Deus ama uma alma humilde e detesta um coração soberbo. Mas é possível, exclama S. Ber-nardo, que haja ainda orgulhosos sobre a terra depois dos exemplos dados por Jesus Cristo, e que “o vermezinho se eleve quando a majestade infinita se aniquilou?” Sim, repitamo-lo: é possível que um verme da terra manchado de pecados persista no seu orgulho depois de ver um Deus de majestade e pureza infinitas humilhar-se tão profundamente para ensinar-lhe a ser humilde!
De resto, estejamos persuadidos que os orgulhosos não podem estar bem com Deus. Ouçamos o conselho de Santo Agostinho: “Quando vos elevais, Deus foge de vós; quando vos humilhais, Deus desce para vós”. O Senhor afasta-se pois dos orgulhosos; mas, ao contrário, um coração que se humilha, embora em pecado, não deve temer ser desprezado: Não desprezareis, ó Deus, um coração contrito e humilhado, cantava o Salmista. Ele prometeu atender a quem lhe pede: Pedi e dar-se-vos-á..., pois quem pede recebe; mas protesta pela boca de S. Tiago que não pode atender os soberbos: Deus resiste às preces dos orgulhosos, e não os ouve, ao passo que aos humildes dá a sua graça; não sabe negar-lhes nenhuma graça que lhe pedem. — S. Teresa dizia que Deus lhe concedia as maiores graças quando ela mais se humilhava em sua presença. A oração dum coração que se humilha penetra o céu, diz o Espírito Santo, sem ter necessidade de ser lá introduzida, e não se retira sem haver recebido de Deus o que reclama.
Afetos e Súplicas.
Ó meu Jesus desprezado, com o vosso exemplo tornastes caros e amáveis os desprezos aos que vos amam. Contudo, pois, em vez de recebê-los com alegria, como o fizestes, eu me tenho orgulhosamente revoltado contra os que me desprezavam e cheguei a ofender vossa majestade infinita? Fui a um tempo pecador e soberbo! Ah! Senhor, compreendo: não tenho sabido aceitar as afrontas com paciência, porque não soube amar-vos: se vos amasse, tê-los-ia achado doces e agradáveis. Mas já que prometeis o perdão a quem se arrepende, detesto do fundo da alma as desordens da minha vida, que tem sido tão diferente da vossa. Mas quero emendar-me e vos prometo de sofrer doravante todos os desprezos que me forem feitos, por vosso amor, ó meu Jesus que fostes tão desprezado por amor de mim. Sei que as humilhações são minas preciosas que abris às almas para enriquecê-las de tesouros eternos. Ah! bem mereço eu outras humilhações e outros desprezos, eu que desprezei a vossa graça: mereço ser calcado aos pés dos demônios! Mas o vosso sangue é a minha esperança. Quero mu-dar de vida, não quero mais ofender-vos; doravante só quero procurar o vosso beneplácito. Mereci mais vezes ser lançado nas chamas do inferno; vós que até agora me tendes esperado e perdoado, como espero, fazei que em vez de arder naquele horrível fogo, eu arda no doce fogo do vosso santo amor. Ó meu amor, não quero mais viver sem vos amar. Ajudai-me, não permitais que eu viva na ingratidão para convosco, como o fiz no passado. De hoje em diante quero amar a vós só; quero que meu coração só a vós pertença. Tomai posse dele e guardai-o eternamente, de sorte que eu seja sempre vosso e que sejais sempre meu, que eu vos ame sempre e que vós sempre me ameis. Sim, ó Deus infinitamente amável, assim o espero, sempre vos amarei, e vós me amareis sempre. Creio em vós, bondade infinita; espero em vós, bondade infinita; amo-vos, bondade infinita, amo-vos e não cessareis jamais de dizer-vos: Amo-vos, amo-vos, amo-vos; e porque vos amo estou resolvido a fazer quanto possa para comprazer-vos. Disponde de mim como vos aprouver. Basta que me deis a graça de amar-vos, e fazei de mim o que quiserdes. O vosso amor é e será sempre o meu único amor, o meu único bem.
Maria, minha esperança, Mãe do belo amor, ajudai-me a amar muito e sempre o meu Deus infinitamente amável.