4 de julho de 2010

A Única Verdadeira Igreja...

Fr. Arnold Damen S.J. (1815 - 1890)

Sobre este Artigo e seu Autor:

Padre Arnold Damen nasceu na província de North Brabant, Holanda, em 20 de março de 1815. Clique em "Leia Mais..."
Foi admitido na Companhia de Jesus em 21 de novembro de 1837, e esteve no grupo de jovens noviços trazidos para o seu país pelo Padre DeSmet, renomado missionário jesuíta para os índios americanos. Em sua ilustre carreira, que contou uns cinquenta anos de trabalho apostólico até a sua morte, em 1.º de janeiro de 1890, o Padre Damen e seus companheiros dirigiram missões em praticamente todas as principais cidades dos Estados Unidos. Diz-se que ele foi mais amplamente conhecido neste país, e que exerceu pessoalmente uma influência maior que qualquer bispo ou sacerdote na Igreja Católica.
Pequena maravilha, pois, pela sua majestosa presença e força de eloquência, o Padre Damen, como missionário, atingiu um sucesso que ultrapassou qualquer outro, antes --- ou desde então ---, que se saiba, na América. O inflamado zelo apostólico deste amado e piedoso sacerdote pode ser apenas estimado pelas vinte mil conversões ao catolicismo pelas quais ele foi responsável, amiúde recebendo sessenta ou setenta almas para a Igreja em um dia. É também digno de nota que, em meio ao seu notável trabalho, ele também conseguiu fundar e organizar as grandes instituições jesuítas de Chicago.
O que explica a realização inspiradora do Padre Damen? Como um escritor expressou: "Ele não se importou com aplausos ou críticas. Ele estava trabalhando para salvar almas". Em outras palavras, suas nobres realizações foram frutos de imensa caridade. Ou seja, a caridade no sentido mais verdadeiro: Ele amava a Deus e seus companheiros tanto que ele não poupava a energia ou o esforço que fossem necessários para arrancar uma alma do erro espiritual e da escuridão que trariam a sua perda eterna. E para este santo jesuíta, tal era o destino certo e sempre presente fora da verdadeira Igreja.
O Padre Damen pregou numa época relativamente recente, quando os católicos não apenas ainda universalmente acreditavam, mas viviam segundo o infalivelmente declarado, imutavelmente constante dogma de Fé: "Fora da Igreja não há salvação". Esse foi, de fato, todo o credo e ensido pelo qual ele efetivamente converteu tantos.
Com prazer reimprimimos o convincente sermão do Padre Damen "A Única Verdadeira Igreja", inédito, exatamente como foi publicado pela primeira vez, um pouco depois da sua morte, em 1890. Temos duas intenções ao fazê-lo: Uma é lembrar nossos companheiros católicos, de qualquer classe ou dignidade na Igreja, que a crença inequívoca na doutrina da salvação não é apenas essencial para a recuperação da Fé dos graves erros que hoje a corrompem, mas é a marca inseparável da Igreja Militante. A segunda e importantíssima intenção, certamente, é encorajar os católicos a pôr a sua mensagem imperativa nas mãos dos não-católicos. Fazenod isso, todos vocês que colaboram com esses empenhos apostólicos estarão dando seguimento ao abençoado trabalho do venerável sacerdote, Arnold Damen.
Nihil Obstat: T.L. Kinkead, Censor Deputatus. Imprimatur: Michael Augustine, Arcebispo de Nova Iorque. "A única Igreja que Cristo estabeleceu é a Igreja Católica." "Aquele que crer e for batizado será salvo, mas aquele que não crer será condenado." (Mc 16, 16)

I. Meus queridos e amados cristãos: Dessas palavras do Divino Salvador, já lhes foi provado que a fé é necessária para a salvação, e que sem a fé não há salvação; sem a fé há eterna condenação. Leiam na sua própria Bíblia protestante o versículo 16 de São Marcos, e lá os senhores as encontrarão mais enfáticas do que na Bíblia católica. No entanto, que tipo de fé um homem deve ter para ser salvo? Qualquer fé? Ora, se qualquer fé basta, o próprio demônio será salvo, porque a Bíblia diz que os demônios creem e tremem. Não é, portanto, matéria de indiferença qual religião um homem professa; ele deve professar a reta e verdadeira religião, e sem ela não há esperança de salvação, porque é uma questão de razão, meu querido povo, que se Deus revela algo ou ensina algo, Ele deseja ser crido. Não crer é insultar Deus. Duvidar da Sua palavra, ou mesmo crer, mas com dúvida e hesitação, é um insulto a Deus, porque é duvidar da Sua Sagrada Palavra. Devemos, portanto, crer sem duvidar, sem hesitar.
Eu disse que fora da Igreja Católica não há fé divina --- não pode haver fé divina fora dessa Igreja. Alguns amigos protestantes ficarão chocados com isto, ouvindo-me dizer que fora da Igreja Católica não pode haver fé divina, e que sem a fé não há salvação, mas condenação. Provarei tudo o que eu disse. Eu disse que fora da Igreja Católica não pode haver fé divina. O que é fé divina? É quando cremos em algo baseados na autoridade de Deus, e cremos sem duvidar, sem hesitar.
Ora, todos os nossos irmãos separados, fora da Igreja Católica, tomam a interpretação privada da Bíblia como guia; mas a interpretação privada da Bíblia jamais poderá dar-lhes a fé divina. Permitam-me supor, por um momento, que aqui estivesse um presbiteriano; ele lê a sua Bíblia; da leitura da sua Bíblia ele conclui que Jesus Cristo é Deus. Ora, os senhores sabem que isso é a mais essencial das doutrinas cristãs --- o fundamento de todo o cristianismo. Da leitura da Bíblia, ele chega à conclusão de que Jesus Cristo é Deus; e ele é um homem sensato, um homem inteligente, e não um homem presunçoso.
E ele diz: "Eis o meu próximo, unitariano, que é tão racional e inteligente quanto eu, tão honesto, tão entendido e tão piedoso quanto eu sou, e, da leitura da Bíblia, ele conclui que Cristo não é, de modo algum, Deus. "Ora", diz ele, "do melhor da minha opinião e julgamento, eu estou certo, e meu irmão unitariano está errado; mas, na verdade", diz ele, "eu posso estar errado! Talvez eu não tenha o verdadeiro significado do texto, e, se eu estou errado, talvez ele esteja certo; mas, do melhor da minha opinião e julgamento, eu estou certo e ele está errado." Em que ele acredita? Em que autoridade? Na sua opinião e julgamento. E o que são eles? Uma opinião humana --- testemunho humano, e, portanto, fé humana. Ele não pode dizer positivamente: "Eu tenho certeza, certeza positiva, tão certo quanto há um Deus no céu, que este é o significado do texto". Então, ele não tem outra autoridade senão a sua própria opinião e julgamento, e o que o seu pregador lhe diz. Mas o pregador é um homem esperto. Há também muitos pregadores unitarianos espertos, e isso não prova nada; é apenas autoridade humana, e nada mais, e, portanto, apenas fé humana. O que é a fé humana? Crer em algo baseado no testemunho humano. A fé divina é crer em algo baseado no testemunho de Deus.

II. O católico tem a fé divina, e por quê? Porque o católico diz: "Eu creio em tal e tal coisa". Por quê? "Porque a Igreja mo ensina." E por que você crê na Igreja? "Porque Deus ordenou-me crer no ensinamento da Igreja; e Deus ameaçou-me com a condenação se eu não crer na Igreja, e São Pedro nos ensina, na sua epístola, que não há profecia ou interpretação privada das Escrituras, porque os ignorantes e inconstantes distorcem as Escrituras, a Bíblia, para sua própria condenação." Isso é uma linguagem forte, meu querido povo, mas essa é a linguagem de São Pedro, o chefe dos Apóstolos.
Os ignorantes e inconstantes distorcem a Bíblia para sua própria condenação! E ainda, apesar de tudo, a Bíblia é o livro de Deus, a mensagem inspirada; ao menos quando se tem uma Bíblia verdadeira, como nós, católicos, temos, e vocês, protestantes, não. Mas, meus queridos e amados amigos protestantes, não se sintam ofendidos quando eu digo tais coisas. Seus próprios entendidíssimos pregadores e bispos lhes dizem, e alguns escreveram volumes inteiros para prová-lo, que a tradução inglesa, que vocês têm, é muito falha e uma tradução falsa. Ora, digo-lhes, portanto, que a verdadeira Bíblia é tal qual os católicos a têm, a Vulgata Latina; e os mais entendidos dentre os protestantes concordaram que a Bíblia Vulgata Latina, que a Igreja Católica usa sempre, é a melhor que existe; e, portanto, é, como vocês devem ter percebido, por isso que, quando eu prego, eu dou o texto em latim, porque o texto latino da Vulgata é o melhor que existe.

III. Agora, eles podem dizer que os católicos reconhecem a Palavra de Deus; que é a mensagem inspirada; e que, portanto, nós temos certeza de que temos a Palavra de Deus; mas, meu querido povo, a melhor coisa pode ser usada mal, mesmo a melhor coisa; e, portanto, nosso Divino Salvador deu-nos uma mestra viva, para dar-nos o verdadeiro significado da Bíblia. E ele proveu-nos uma mestra com infalibilidade; e isso era absolutamente necessário, porque, sem isso --- sem a infalibilidade, jamais poderíamos estar certos da nossa fé.
Precisa haver uma infalibilidade; e sabemos que em todo governo organizado, em todo governo --- na Inglaterra, nos Estados Unidos, e em todo país, império ou república, há uma Constituição e uma lei suprema. Mas vocês não têm liberdade para explicar aquela Constutuição e lei suprema como vocês julgam que deva ser, porque, então, não haveria mas lei, se a todo homem fosse permitido explicar a lei e a Constituição como ele julga certo. Portanto, em todos os governos há um supremo juiz e uma suprema corte, e ao supremo juiz são referidos todos os diferentes entendimentos da lei e da Constituição. Todos devem cumprir as decisões do supremo juiz, e, se não cumprirem essa decisão, meu querido povo, não haveria mais lei, mas anarquia, desordem e confusão.
Suponham, ainda, que o Bendito Salvador tivesse sido menos sábio que os governos humanos, e que Ele não tivesse provido, para o entendimento da Sua Constituição e da Sua Lei, a Igreja de Deus. Se Ele não o tivesse feito, meu querido povo, ela não se teria preservado, como o foi, pelos últimos mil e oitocentos e cinquenta e quatro anos. Então, Ele estabeleceu uma Suprema Corte, um Supremo Juiz na Igreja do Deus Vivo.

IV. É admitido por todos os lados, por protestantes e católicos igualmente notáveis, que Cristo estabeleceu uma Igreja; e, o que é estranho dizer, todos os nossos amigos protestantes reconhecem, também, que Ele estabeleceu apenas uma Igreja --- apenas uma Igreja --- porque, toda vez que Cristo fala da Sua Igreja, é sempre no singular. Os leitores da Bíblia, que lembrem isso; meus amigos protestantes, prestem atenção. Ele diz: "Ouvi a Igreja" --- não ouçais as igrejas ---, "Eu construí a Minha Igreja sobre uma pedra" --- não as Minhas igrejas. Toda vez que Ele fala, seja em figuras ou parábolas, da Sua Igreja, Ele sempre chama à mente uma singularidade, uma união, uma unidade.
Ele fala da Sua Igreja como um rebanho de ovelhas, no qual há apenas um pastor --- que é o chefe de todos, e as ovelhas devem seguir a sua voz; "Eu tenho outras ovelhas que não são deste rebanho". Um rebanho, como vocês podem ver. Ele fala da Igreja como de um reino, no qual há apenas um rei para governar; fala da Sua Igreja como uma família, na qual há apenas um pai como chefe; fala da Sua Igreja como de uma árvore, e todos os ramos dessa árvore estão conectados com o tronco, e o tronco com as raízes; e Cristo é a raiz, e o tronco é Pedro e os Papas, e os grandes ramos são os bispos, os ramos menores são os sacerdotes, e o fruto da árvore são os fieis do mundo inteiro; e o ramo, diz Ele, que é podado da árvore morrerá, não produzirá nenhum fruto, e só serve para ser lançado no fogo --- isto é, condenação.
Isso é para falar claro, meu querido povo; mas não há motivo para ocultar-lhes a verdade. Eu quero falar-lhes a verdade, como osApóstolos pregaram no seu tempo --- não há salvação fora da Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

V. Ora, qual é essa Igreja? Existem, hoje em dia, trezentas e cinquenta diferentes igrejas protestantes, e quase todo ano juntam-se uma ou duas; e, ao lado desse número, há a Igreja Católica. Então, qual dessas várias igrejas é a única Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? Todas alegam ser a Igreja de Jesus. Mas, meu querido e amado povo, é evidente que nenhuma igreja pode ser a Igreja de Jesus a não ser a única que foi estabelecida por Jesus. E quando Jesus estabeleceu a Sua Igreja? Quando? Quando Ele estava sobre a terra. E há quanto tempo Cristo esteve sobre a terra? Os senhores sabem que a nossa era cristã data dele. Ele nasceu há muitos séculos. Isso é um fato histórico admitido por todos. Ele viveu sobre a terra por trinta e três anos. Isso foi há cerca de dezenove séculos antes da nossa época. Esse foi o tempo em que Cristo estabeleceu a Sua Igreja sobre a terra.
Qualquer Igreja, portanto, que não existiu durante todo esse tempo não é a Igreja de Jesus Cristo, mas é instituição ou invenção de um ou outro homem; não de Deus, não de Cristo, mas de homem.
Ora, onde está a Igreja, e qual é a Igreja que existiu por todo esse tempo? Toda a História informa-lhes que é a Igreja Católica; ela, e somente ela, dentre todas as denominações cristãs sobre a face da terra, existiu por todo esse tempo. Toda a História, pois, dá testemunho disso; não apenas a História catóilca, mas a História pagã, judaica e protestante, indiretamente. A História, pois, de todas as nações, de todos os povos, dá testemunho de que a Igreja Católica é a mais antiga, a primeira; é a única estabelecida por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Se houver algum pregador protestante que possa provar que a Igreja Católica começou a existir depois daquele tempo, que ele venha a mim, e eu lhe darei mil dólares. Meus queridos pregadores, eis uma chance de fazer dinheiro --- mil dólares para vocês. Não apenas toda a História, mas todos os monumentos da antiguidade dão testemunho disso, e todas as nações da terra o proclamam. Chamem um dos seus pregadores e perguntem-lhe qual foi a primeira igreja --- a primeira Igreja Cristã. Foi a presbiteriana, a episcopal, a Igreja da Inglaterra, a metodista, a universalista ou a unitariana? E eles lhes responderão que foi a Igreja Católica. Mas, meus queridos amigos, se vocês admitem que a Igreja Católica é a primeira e a mais antiga --- a Igreja estabelecida por Cristo --- por que vocês não são católicos?
A isso, eles respondem que a Igreja Católica corrompeu-se; caiu em erro, e que, protanto, foi necessário estabelecer uma nova igreja. Uma nova igreja, uma nova religião. E a isso nós respondemos que, se a Igreja Católica já foi a verdadeira igreja, então ela ainda é verdadeira, e será a verdadeira Igreja de Deus até o fim dos tempos, ou Jesus Cristo enganou-nos. Ouvi-me, Jesus, ouvi o que eu digo! Eu digo que, se a Igreja Católica, hoje, no século XIX, não é a verdadeira Igreja de Deus como era há 1854 anos, então eu digo, ó Jesus, que Vós nos haveis enganado, e sois um importor! E se eu não falo a verdade, ó Jesus, fulminai-me com a morte neste púlpito --- deixai-me morrer no púlpito, porque eu não quero ser pregador de uma religião falsa!

VI. Provarei o que eu disse. Se a Igreja Católica já foi a verdadeira Igreja de Deus, como é admitido por todos, então ela ainda é a verdadeira Igreja, e será a verdadeira Igreja de Deus até o fim dos tempos, porque Cristo prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja. Ele disse que ela foi construída sobre uma pedra, e que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela.
Então, meu querido povo, se a Igreja Católica caiu em erro, então as portas do inferno prevaleceram contra ela; e, se as portas do inferno prevaleceram contra ela, então Cristo não cumpriu a Sua promessa, então Ele nos enganou, e, se Ele nos enganou, então Ele é um impostor! Se Ele é um impostor, então Ele não é Deus, e, se Ele não é Deus, então todo o cristianismo é uma fraude e uma impostura.
Mais uma vez, em São Mateus, capítulo 28, versículos 19 e 20, nosso Divino Salvador diz aos Seus Apóstolos: "Ide, pois, e ensinai todas as nações, batizando-as em nome de Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que Eu vos ordenei". "Eia", diz Ele, "Eu, Jesus, o Filho do Deus Vivo, Eu, a Sabedoria Infinita, a Eterna Verdade, estou convosco todos os dias, até o fim do mundo." Cristo, portanto, solenemente jura que Ele estará com a Sua Igreja todos os dias até o fim dos tempos, até a consumação do mundo.
Mas Cristo não pode permanecer com a Igreja que ensina o erro, ou a falsidade, ou a corrupção. Se, pois, a Igreja Católica caiu em erro e corrupção, como nossos amigos protestantes dizem que caiu, então Cristo deve tê-la abandonado; se assim é, Ele faltou com o Seu juramento; se Ele faltou com o Seu juramento, Ele é um perjuro, e não há absolutamente nenhum cristianismo.
Mais uma vez, nosso Divino Salvador (São João, capítulo 14) prometeu que Ele enviaria à Sua Igreja o Espírito da Verdade, para permanecer com ela para sempre. Se, portanto, o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, ensina à Igreja toda a verdade, e lha ensina para sempre, então nunca houve e nunca pode haver um único erra na Igreja de Deus, porque, onde há toda a verdade, não há nem um erro que seja. Cristo prometeu solenemente que Ele enviaria à Igreja o Espírito da Verdade, que lhe ensinasse a verdade para sempre; portanto, nunca houve um único erro na Igreja de Deus, ou Cristo teria falhado nas Suas promessas se assim fosse.
Mais uma vez, Cristo nos ordena ouvir e crer nos ensinamentos da Igreja em todas as coisas; por todos os tempos e em todos os lugares. Ele não disse: ouçam a Igreja por mil anos ou por mil e quinhentos anos, mas: ouçam a Igreja, sem nenhuma limitação, sem nenhuma reserva, sem qualquer restrição de tempo. Isto é, por todos os tempos; em todas as coisas, até o fim dos tempos, e aquele que não ouvir a Igreja, que seja para ti, diz Cristo, como um pagão e como um publicano.
Portanto, Cristo diz que aqueles que se recusam a ouvir a Igreja devem ser vistos como pagãos; e o que é um pagão? Alguém que não louva o Deus verdadeiro; e um publicano é um pecador público. Essa é uma linguagem dura. Poderia Cristo ter-me ordenado crer na Igreja se a Igreja pudesse extraviar-me --- pudesse conduzir-me ao erro? Se o ensinamento da Igreja fosse corrompido, poderia Ele, o Deus da verdae, mandar-me, sem nenhuma restrição ou limitação, ouvir e crer nos ensinamentos da Igreja que Ele estabeleceu?
Novamente: Nosso Divino Salvador ordena-me ouvir e crer no ensinamento da Igreja como se Ele próprio estivesse falando-nos. "Quem vos ouve", diz Ele, na Sua ordem aos Apóstolos, "a Mim ouve, e quem vos despreza a Mim despreza." De modo que, quando eu creio no que a Igreja ensina, creio no que Deus ensina. Se eu rejeito o que a Igreja ensina, rejeito o que Deus ensina. Cristo, assim, fez da Igreja o órgão pelo qual Ele fala ao homem, e diz-nos positivamente que devemos acreditar no ensinamento da Igreja como se Ele mesmo estivesse falando-nos.
Portanto, diz São Paulo, na sua Epístola a Timóteo, "a Igreja é o fundamento" --- isto é, a forte fundação --- "e o pilar da verdade". Tire o fundamento deste edifício, e ele ruirá; assim é com estes pilares sobre os quais se assenta o pavimento; retire-os, e o pavimento cairá; assim, São Paulo diz: "A Igreja é o fundamento e o pilar da verdade", e, desde o momento em que se retira a autoridade da Igreja de Deus, induzem-se todos os tipos de erros e doutrinas blasfemas. Não é visto?

VII. No século XVI, o protestantismo tirou a autoridade da Igreja e constituiu cada homem como seu próprio juiz da Bíblia, e qual foi a consequência? Religião sobre religião, igreja sobre igreja, trazida à existência, e jamais cessou de surgir novas igrejas até hoje.
Quando preguei minha Missão em Flint, Michigan, convidei, como o fiz aqui, meus amigos protestantes para vir ver-me. Um homem bom e inteligente veio a mim e disse-me: "Aproveitarei esta oportunidade de conversar com o senhor". "A que Igreja o senhor pertence, meu amigo?", disse eu. "À Igreja dos Doze Apóstolos", disse ele. "Ah! ah!", disse eu, "Eu também pertenço a essa Igreja. Mas diga-me, meu amigo, onde começou a sua Igreja?" "Em Terre Haute, Indiana", disse ele. "Quem começou a Igreja, e quem foram os Doze Apóstolos, meu amigo?", disse eu. "Foram doze fazendeiros", disse ele; "todos pertencíamos à mesma Igreja --- a presbiteriana --- mas discutimos com nosso pregador, separamo-nos dele, e iniciamos nossa própria Igreja." "E isso", disse eu, "são os Doze Apóstolos a que o senhor pertence --- doze fazendeiros de Indiana! A Igreja começou a existir há cerca de trinta anos." Há alguns anos, quando estive em Terra Haute, pedi que me indicassem a Igreja dos Doze Apóstolos. Fui conduzido à janela e ma apontaram, "mas ela não existe mais", disse meu informante, "hoje é usada como loja de um fabricante de vagões".
Mais uma vez, São Paulo, em sua Epístola aos Gálatas, diz: "Ainda que nós, Apóstolos, ou mesmo um anjo do céu viesse a vós e pregasse um Evangelho diferente do que nós pregamos, seja anátema". Essa é a linguagem de São Paulo, porque, meu querido e amado povo, a religião precisa vir de Deus, não dos homens. Nenhum homem tem direito a estabelecer uma religião; nenhum hoemm tem direito a ditar para o seu próximo em que ele deve crer e o que ele deve fazer para salvar a sua alma. A religião precisa vir de Deus, e qualquer religião que não foi estabelecida por Deus é uma falsa religião, uma instituição humana, e não uma instituição de Deus; e, por isso, disse São Paulo na sua Epístola aos Gálatas: "Ainda que nós, Apóstolos, ou mesmo um anjo do céu viesse a vós e pregasse um Evangelho diferente do que nós pregamos, seja anátema".

VIII. Pode-se ver, meu querido e amado povo, pelo texto da Escritura que eu citei, que se a Igreja Católica já foi a verdadeira Igreja, então ela ainda o é. Os senhores também viram, pelo que eu disse, que a Igreja Católica é a instituição de Deus, e não dos homens, e isso é um fato --- um fato histórico, e nenhum fato histórico é tão suportado, tão bem provado quanto que a Igreja Católica é a primeira, a Igreja estabelecida por Jesus Cristo.
Então, do mesmo modo, é um fato histórico que todas as igrejas protestantes são instituições humanas --- todas elas. E eu lhes darei os seus dados, e os nomes dos seus fundadores ou instituidores. No ano de 1520 --- 368 anos atrás --- o primeiro protestante veio ao mundo. Antes dele não houve nenhum protestante no mundo, nenhum em toda a face da terra; e esse, como toda a história nos diz, foi Martinho Lutero, que era um sacerdote católico, que saiu da Igreja por orgulho, e casou-se com uma freira. Foi excomungado pela Igreja, podado, banido, e fez uma nova religião. Antes de Martinho Lutero, não houve nenhum protestante no mundo; ele foi o primeiro a levantar o estandarte da rebelião e da revolta contra a Igreja de Deus. Ele disse aos seus discípulos que eles deveriam tomar a Bíblia como seu guia, e eles o fizeram.
Mas, em pouco tempo, eles discutiram com ele; Zuinglius, e vários outros, e todos eles começaram uma nova religião. Depois dos discípulos de Martinho Lutero veio João Calvino, que, em Genebra, estabeleceu a religião presbiteriana, e, daí em diante, quase todas as religiões são chamadas pelo nome do seu fundador.
Pergunto ao protestante: "Por que você é luterano, meu amigo?" "Bem", diz ele, "porque eu creio na doutrina do bom Martinho Lutero." Portanto, não na de Cristo, mas na de um homem --- Martinho Lutero. E que tipo de home foi ele? Um homem que quebrou o juramento solene que fizera diante do altar de Deus, na sua ordenação, de sempre manter uma vida pura, célibe, virginal. Ele quebrou aquele solene juramento, e casou-se com uma Irmã Catarina, que também fizera o mesmo voto de castidade e virtude. E esse foi o primeirio fundador do protestantismo no mundo. O nome pelos quais eles se chamam diz que vieram de Martinho Lutero. Assim os presbiterianos são, algumas vezes, chamados calvinistas, porque vêm de João Calvino, ou professam que creem nele.

IX. Depois deles veio Henrique VIII. Ele era católico, e defendeu a religião católica; ele escreveu um livro contra Martinho Lutero, em defesa da doutrina católica. Eu mesmo vi esse libro na biblioteca do Vaticano em Roma, há alguns anos. Henrique VIII defendeu a religião, e, por isso, foi chamado pelo Papa "Defensor da Fé". Isso passou com os seus sucessores, e a Rainha Vitória é herdeira, hoje em dia.
Ele casou-se com Catarina de Aragão; mas havia na sua corte uma dama de honra da Rainha chamada Ana Bolena, que era uma bela mulher, e de aparência cativante. Henrique estava determinado a tê-la. Mas ele era um homem casado. Ele submeteu uma petição ao Papa para que lhe permitisse casar com ela --- e essa era uma petição tola, porque o Papa não tem poder para fazê-lo. O Papa e todos os bispos do mundo não podem ir contra a vontade de Deus.
Cristo diz: "Se um homem rejeitar a sua esposa e casar-se com outra, ele comete adultério, e aquele que se casa com aquela que foi rejeitada comete adultério também". Como o Papa indeferiria sua petição, ele tomou Ana Bolena de qualquer modo, e foi excomungado da Igreja. Após um tempo, havia outra dama de honra, mais bela que a primeira, mais bonita e charmosa aos olhos de Henrique, e ele disse que precisava tê-la também. Ele tomoui a terceira esposa, e uma quarta, quinta e sexta se seguiram.
Ora, esse é o fundador da Igreja Anglicana, a Igreja da Inglaterra; e, portanto, é isso que significa o nome da Igreja da Inglaterra. Nossos amigos episcopalianos têm feito grandes esforços para se chamar católicos, mas jamais o conseguirão. Eles reconhecem que o nome católico é um nome glorioso, e gostariam de possuí-lo.
Os Apóstolos disseram: "Eu creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica" --- eles nunca disseram: na Igreja Anglicana. Os anglicanos negam a sua religião, porque dizem que acreditam no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica. Pergunte-lhes se são católicos, e eles dirão: "Sim, mas não católicos romanos; nós somos católicos ingleses". Qual o significado da palavra católico? Vem da palavra grega "Catholicus" --- universal --- espalhado por toda a terra, e o mesmo por todo lugar. Ora, primeiro de tudo, a Igreja Anglicana, não é espalhada por toda a terra; só existe em uns poucos países, principalmente apenas onde a língua inglesa é falada. Em segundo lugar, eles não são o mesmo por toda a terra, porque existem agora quatro diferentes igrejas anglicanas: a Low Church, a High Church, a Igreja Ritualista e a Igreja Puseyita.
"Catholicus" significa mais do que isso, não apenas espalhado por toda a terra e o mesmo em todo lugar, mas significa, principalmente, o mesmo por todos os tempos, de Cristo até o presente dia. Ora, eles não existiram desde o tempo de Cristo. Nunca houve uma Igreja Episcopal ou uma Igreja Anglicana antes de Henrique VIII. A Igreja Católica já exsitia há mil e quinhentos anos antes que a Episcopal viesse ao mundo.
Depois do episcopalianismo, diferentes outras igrejas surgiram. Depois veio a metodista, certa de cento e cinquenta anos atrás. Foi iniciada por John Westley, que fora membro da Igreja Episcopal; subsequentemente, ele juntou-se aos Irmãos Moravianos, mas, não gostando deles, fez sua própria religião --- a Igreja Metodista. Após John Westley, várias outras surgiram; e, finalmente, vieram os campbellitas, cerca de sessenta anos atrás. Essa igreja foi estabelecida por Alexander Campbell, um escocês.

X. Bem, agora, meu querido e amado povo, os senhores devem estar pensando que o ato dos doze apóstolos de Indiana foi ridículo, mas eles tinham tanto direito de estabelecer uma igreja quanto Henrique VIII, Martinho Lutero ou João Calvino. Eles não tinham nenhum direito, nem o tinha Henrique VIII, nem o resto deles.
Cristo estabelecera a Sua Igreja e dera o Seu solene juramente de que a Sua Igreja permaneceria até o fim dos tempos; prometeu que a construíra sobre a pedra, e que as portas do inferno não prevalereciam contra ela --- então, meu querido povo, todas aquelas diferentes denominações de religião são invenção de homens; e eu lhes pergunto: pode um homem salvar os seus próximos por meio de uma instituição que ele possa fazer? A religião não precisa vir de Deus?
E, portanto, meus queridos e amados irmãos separados, pensem seriamente nisso. Os senhores têm uma alma a salvar, e essa alma será salva ou condenada; uma coisa ou outra: ou terá com Deus no céu, com com o diabo no inferno; portanto, meditem seriamente nisso.
Quando preguei minha Missão em Brooklyn, vários protestantes se tornaram católicos. Entre eles havia um muito bem educado e inteligente virginiano. Ele era presbiteriano. Após escutar minha lição, ele foi falar com o seu ministro, e pediu-lhe que fosse gentil o bastante para explicar-lhe um texto da Bíblia. O ministro deu-lhe o significado. "Bem, então", disse o gentil-homem, "o senhor está seguro e certo de que esse é o significado do texto, pois vários outros protestantes o explicam diferentemente?" "Ora, meu querido jovem", disse o pregador, "nós jamais podemos estar certos da nossa fé." "Bem, então", disse o jovem, "adeus: Se eu não posso estar certo da minha fé na Igreja Protestante, eu vou para onde o possa", e tornou-se católico. Na Igreja Católica, estamos seguros da nossa fé, e, se a nossa fé não é verdadeira, Cristo nos enganou. Imploro-lhes, pois, meus irmãos separados, que procurem livros católicos. Os senhores já leram muito contra a Igreja Católica, leiam agora, então, algo a favor dela.
Nunca se pode dar uma sentença imparcial sem ouvir ambos os lados da questão. O que vocês pensariam de um juiz diante do qual um policial traz um pobre infrator, e que, por causa do policial, sem ouvir o infrator, condena-o ao enforcamento? "Deixe-me falar", diz o pobre homem, "e eu provarei a minha inocência. Eu não sou culpado", diz ele. O policial diz que ele é culpado. "Bem, enforquem-no, mesmo assim", diz o juiz. O que os senhores diriam do juiz? Juiz criminoso! Homem injusto; você é culpado do sangue do inocente! Não é isso que os senhores diriam? Com certeza. Bem, meus queridos e amados amigos protestantes, isso é o que os senhores têm feito até agora; os senhores têm ouvido um lado da questão e condenado a nós, católicos, como um punhado de gente supersticiosa, pobres pessoas ignorantes, povo idólatra, pessoas sem juízo, indo e contando os seus pecados para o sacerdote; e, afinal de contas, o que é o sacerdote senão um outro homem qualquer?
Meus queridos amigos, os senhores examinaram o outro lado da questão? Não, os senhorse acham que não vale a pena; mas foi assim que os judeus fizeram com nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo; e foi assim que os pagãos e judeus trataram os Apóstolos, os ministros da Igreja, e os cristãos primitivos.
Permitam-me dizer-lhes, meus amigos, que os senhores nos têm tratado precisamente do mesmo modo que os judeus e pagãos trataram Jesus Cristo e Seus Apóstolos. Nesta tarde eu disse coisas duras, mas, se São Pedro estivesse aqui nesta noite, neste púlpito, ele teria dito coisas mais duras ainda. Disse-as, porém, não com espírito de inimizade, mas com espírito de amor, e um espírito de caridade, na esperança de abrir os seus olhos, de modo que as suas almas possam ser salvas. É amor pela sua salvação, meus queridos e amados irmãos protestantes --- pela qual eu de bom grado daria o sangue do meu coração --- meu amor pela sua salvação que me fez pregar-lhes como o fiz.

XI. "Bem", dizem os meus amigos protestantes, "se um homem pensa estar certo, ele não está certo?" Suponhamos, então, que um homem em Ottawa quer ir para Chicago, mas toma um carro para Nova Iorque; o condutor pede a sua passagem, e, imediatamente, diz: “Você está no carro errado; a sua passagem é para Chicago, mas o senhor está indo para Nova Iorque”. “Ora, o que é isso?”, diz o passageiro. “A minha intenção era certa.” “A sua intenção não o levará para o seu destino”, diz o condutor, “pois o senhor irá para Nova Iorque ao invés de Chicago.”
Os senhores dizem ter boa intenção, meus queridos amigos; sua intenção não os levará para o céu; os senhores precisam, também, agir corretamente. “Apenas aquele que faz a vontade do Meu Pai”, diz Jesus, “será salvo.” Há milhões de bem-intencionados no inferno. Os senhores precisam agir bem, e ter certeza de estar agindo bem, para serem salvos. Eu agradeço aos meus irmãos separados pela sua gentileza em vir para essas lições controversas. Eu espero não ter dito nada para ofendê-los. Na verdade, não faria sentido se eu não pregasse doutrinas católicas.

Tradução minha.

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