
Como esposa, ela devotou-se toda à educação dos seus filhos, assim como ao seu próprio progresso nas virtudes, esforçando-se, por todos os meios, para, depois de Deus, agradar seu marido. Por quase meio ano subsistiu ela a pão e água, e certa vez, quando esteve doente, Deus mudou a água em vinho, que os médicos lhe haviam recomendado beber, mas que ela recusava. Outra vez, quando ela beijou uma ferida repugnante numa pobre mulher, ela foi curada imediatamente. Num inverno, enquanto ela dava dinheiro aos pobres, ocultando-o ao marido, as moedas tornaram-se rosas*. Deu a vista a uma jovem cega de nascença, e curou muitas outras pessoas de graves enfermidades pelo Sinal da Cruz. Os milagres que ela operou desse gênero foram muitos. Ela não apenas construiu, mas adornou ricamente conventos, escolas e igrejas. Tinha muita habilidade em fazer a paz entre reis, e labutou para aliviar todo sofrimento, seja público ou particular.
Morto D. Dinis, Isabel, que, na sua mocidade, havia sido um modelo para as virgens, e, no seu matrimônio, para as esposas, então, na sua viuvez foi um exemplo para as viúvas. Vestida com hábito das religiosas de Santa Clara, compareceu fielmente ao funeral do Rei, e logo em seguida foi a Compostela, onde doou muitos preciosos dons de seda, ouro e prata, e pedras preciosas, pelo bem da alma dele. Então, voltou para casa, e gastou em santas e piedosas obras tudo o que lhe sobrara que lhe fosse caro e precioso. Terminou o verdadeiramente régio convento de freiras de Coimbra. Alimentou os pobres, defendeu as viúvas, protegeu os órfãos; querendo aliviar as misérias de todos, vivia não para si, mas para Deus e para o bem de todos os mortais. Estourando uma guerra entre seu filho, Afonso IV, Rei de Portugal, e seu neto, Afonso XI, para reconciliá-los, for morar na famosa cidade de Estremoz, na fronteira dos dois reinos. Na viagem, contraiu uma febre severa, da qual, após uma visão da Virgem Mãe de Deus, morreu uma santa morte em 4 de julho de 1336. Tornou-se notável por milagres após a morte, especialmente pelo suavíssimo odor que exala o seu corpo já há mais de trezentos anos. E, no ano de nossa salvação de 1625, ano do jubileu, com o aplauso de todo o mundo cristão, Urbano VIII formalmente inscreveu-a entre os Santos.
* "Levava uma vez a Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres(...) Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,(...) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo delas."
—Crônica dos Frades Menores, Frei Marcos de Lisboa, 1562
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