25 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 16

Um peregrino era como um ser privilegiado entre os fiéis. Quando havia terminado a viagem conquistava a reputação de santidade particular. Sua partida e sua volta eram celebradas com cerimônias religiosas. Quando ia se por em viagem, um padre apresentava-lhe com a sacola e o bordão, panos, marcados com uma cruz, aspergia-se água benta sobre suas vestes e o clero o acompanhava em procissão até a próxima paróquia. Voltando à pátria, o peregrino dava graças a Deus por seu regresso e apresentava ao sacerdote uma palma para ser depositada sobre o altar da Igreja, como um sinal de sua viagem felizmente terminada.

Os pobres, em sua peregrinação, encontravam socorros certos contra a miséria. Voltando ao seu país, recolhiam abundantes esmolas. A vaidade levava às vezes os ricos a empreender essas longas viagens o que faz o monge Glaber dizer, que vários cristãos iam à Jerusalém para se mostrar e contar, ao seu regresso, coisas maravilhosas. Muitos eram levados pelo amor à ociosidade e às novidades, outros, pelo
desejo de percorrer regiões desconhecidas ainda por eles. Não era raro encontrar-se um cristão que havia passado a vida em santas peregrinações e que tinha visitado Jerusalém, várias vezes.

Todos os peregrinos eram obrigados a levar consigo uma carta de seu príncipe ou do seu bispo: "Em nome de Deus, dizia-se, fazemos saber à V. grandeza (ou a vossa Santidade), que o portador desta, nosso irmão, nos pediu a licença para ir pacificamente visitar em peregrinação (o nome do lugar) com intenção de reparar às suas faltas ou rezar pela nossa conservação; por isso nós lhe concedemos esta carta, na qual apresentando-vos nossas saudações, rogamos-vos, por amor de Deus e de S. Pedro, que o recebais como vosso hóspede e lhe sejais útil durante sua viagem, ou sua volta, de modo que ele chegue são e salvo ao seu lar. Como é vosso costume, fazei-o passar dias felizes e que Deus que eternamente reina, vos proteja e guarde em seu reino. "Essa precaução para as peregrinações distantes devia prevenir muitas desordens; também a história não nos narra uma violência sequer feita por algum desses numerosos viajantes, cuja multidão enchia as estradas do Oriente.

24 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 15

 

Hospitalidade dos bárbaros para com os peregrinos.

As perseguições que padeciam em suas viagens aumentavam a reputação dos peregrinos e os recomendavam à veneração dos fiéis. O excesso de sua devoção inspirava-lhes muitas vezes o desprezo pelos perigos. A história cita um monge de nome Ricardo, abade de São Vitor, em Verdun, que, chegando ao país dos infiéis, parava à porta das cidades para celebrar a Santa Missa, expondo-se aos ultrajes e às violências dos muçulmanos; mas punha sua glória em sofrer toda sorte de males pela causa de Jesus Cristo.

O maior mérito aos olhos dos fiéis, depois do da peregrinação era devotar-se ao serviço dos peregrinos. Hospedarias eram construídas às margens dos rios, no alto dos montes, no meio das cidades, nos desertos, para receber, esses viajantes. Desde o século IX os peregrinos que vinham da Borgonha para a
Itália eram recebidos num mosteiro construído sobre o monte Cenísio. No século seguinte dois mosteiros, onde se recebiam esses viajantes desgarrados, substituíram os templos dos ídolos nos montes Joux, que desde então perderam o nome que haviam recebido do paganismo e tomaram o do piedoso fundador, São Bernardo de Menton. Os cristãos que partiam para a Judéia encontravam na fronteira da Hungria e nas províncias da Ásia Menor um grande número desses abrigos fundados pela caridade.

Cristãos estabelecidos em Jerusalém e em várias cidades da Palestina precediam os peregrinos e expunham-se a mil perigos para conduzi-los em seu caminho. A Cidade Santa tinha hospedarias para receber a todos os viajantes. Num desses abrigos, as mulheres que faziam a viagem da Palestina eram recebidas por religiosas consagradas às práticas da caridade. Os negociantes de Amalfi, de Veneza, de Gênova, os mais ricos dentre os peregrinos, vários príncipes do Ocidente davam, com suas esmolas, o necessário para a manutenção dessas casas, abertas para os viajantes pobres. Todos os anos, monges do Oriente vinham à Europa recolher os tributos que lhes dava a piedade dos cristãos.