20 de maio de 2013

A salvação é o negócio mais importante e o mais descuidado.

Quam dabit homo commutationem pro anima sua? – “Que dará o homem em troca da sua alma?” (Matth.16, 26.)

Sumário. Coisa estranha! Ninguém quer passar por negligente nos negócios do mundo e muitos não tem pejo de descuidar o negócio da eternidade, o mais importante de todos. Muitos fazem até tudo para perderem a alma e a maior parte dos cristãos vivem como se as verdades eternas fossem outras tantas fábulas. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e pensemos seriamente de que nada nos serviria ganharmos o mundo inteiro, se depois viéssemos a perder a nossa alma. Perdida alma, está tudo perdido, e para sempre!

I. A salvação eterna é certamente o negócio que sobre todos os outros mais nos interessa, porque dele depende a nossa eterna felicidade ou desgraça. Todavia é deste negócio que os cristãos menos se ocupam. Não se poupa nenhum cuidado, nem se perde nenhum momento, para chegar a tal dignidade, ganhar tal demanda, concluir tal negócio; que de conselhos então, que de providenciais! Não se come, não se dorme. Mas depois, que se faz para assegurar a salvação eterna? Como é que se vive? Não se faz nada, ou, para melhor dizer, faz-se tudo para a perder e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, o céu e a eternidade não fossem verdades da fé, mas sim fábulas inventadas pelos poetas.

Que mágoa não sentimos quando se perde uma demanda, uma colheita! Quantos cuidados para reparar o prejuízo! Quando se perde um cavalo, um cão, quantas diligências para os reaver! Perdemos a graça de Deus e dormimos e gracejamos e rimos! – Coisa estranha! Cada um tem pejo de passar por negligente nos negócios do mundo; e são inúmeros os que não têm pejo de se descuidar do negócio da salvação, o mais importante de todos! Confessam que os Santos foram verdadeiros sábios, porque só trabalharam para se salvarem e eles mesmos ocupam-se de todas as cosias do mundo com exceção da sua própria alma!

Mas vós, diz são Paulo, ao menos vós, meus irmãos, aplicai-vos ao grande negócio da vossa salvação eterna, que é o negócio que mais vos interessa: Rogamus vos, ut vestrum negotium agatis (1). “Porquanto”, exclama Jesus Cristo, “de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma? (2)” Perdida a alma está tudo perdido, e perdido para sempre.

II. Persuadamo-nos de que a salvação eterna é para nós o negócio mais importante, por ser irreparável se não o realizarmos. Portanto, afim de o levarmos a feliz êxito, não receemos trabalhos nem fadigas. “O reino eterno”, diz são Bernardo, “não se da aos preguiçosos, mas aos que se houverem valorosamente no serviço de Jesus Cristo.”

Ah! Meu Deus, graças Vos dou por me achar ainda aqui aos vossos pés e não no inferno, tantas vezes por mim merecido. Mas de que me serviria a vida que me concedeis, se eu continuasse a viver privado da vossa graça? Nunca mais isto me suceda! Virei-Vos as costas e Vos perdi, ó meu supremo Bem. Arrependo-me de todo o coração e antes tivesse morrido mil vezes! Eu Vos perdi; mas o Profeta me diz que sois todo bondade e Vos deixais achar pela alma que Vos busca: Bonus est Dominus animae quarenti illum (3) . Se no passado tenho fugido de Vós, ó Rei de meu coração, agora Vos busco e só a Vós quero buscar.

Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, com todo o afeto da minha alma. Aceitai-me e não desprezeis o amor de um coração que algum tempo Vos desprezou. Doce me facere voluntatem tuam (4) – “Ensinai-me a fazer a vossa vontade.” Dizei-me o que devo fazer para Vos agradar; quero fazer tudo que desejardes. Meus Jesus, salvai a minha alma, pela qual destes o sangue e a vida; dai-me a graça de Vos amar sempre nesta vida e na outra.

Espero tudo pelos vossos merecimentos. Confio também em vossa intercessão, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria. (II 54)

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1. 1 Thess. 4, 11.
2. Matth. 16, 26.
3. Thren. 3, 25.
4. Ps. 142, 10.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 126-128.)

19 de maio de 2013

DOMINGO DE PENTECOSTES

Amor de Deus para com os homens na missão do Espírito Santo.

Et repleti sunt omnes Spirit Sancto, et coeperunt loqui variis linguis - "E foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em várias línguas" (Act. 2, 4).

Sumário. No sacramento da Confirmação todos nós recebemos o mesmo Espírito Santo que Maria Santíssima e os apóstolos receberam hoje tão abundantemente. Consideremos o amor que neste sublime mistério nos mostraram as três Pessoas divinas apesar dos maus tratos que o mundo infligiu a Jesus Cristo. Já que o amor se paga com amor, roguemos ao Espírito divino, que nos abrase o coração com suas felizes chamas, e nos conceda que com a língua louvemos a Deus e o façamos louvar pelos outros.

I. Antes de partir desta terra, o divino Redentor prometeu várias vezes aos apóstolos, que, uma vez voltado para o céu, havia de pedir ao Pai lhes mandasse outro Consolador, o Espírito de verdade, que ficaria sempre com eles. Eis que hoje Jesus cumpre fielmente a sua promessa.

Refere São Lucas que "quando se completaram os dias de Pentecostes, todos os discípulos estavam juntos no mesmo lugar e perseveravam unanimamente na oração com as mulheres e Maria, a Mãe de Jesus. E veio de repente do céu um ruído, como de vento que soprasse com ímpeto e encheu toda a casa onde estavam sentados. E lhes apareceram repartidas umas como que línguas de fogo que repousaram sobre cada um deles. E foram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em várias línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem".

Consideremos aqui o amor que Deus nos mostrou em tão sublime mistério, porquanto no sacramento da Confirmação nós temos recebido o mesmo Espírito Santo, o Consolador, que Maria Santíssima e os apóstolos receberam hoje tão abundantemente e de um modo tão admirável. O Pai Eterno, não satisfeito de nos ter dado seu Filho divino, quis ainda dar-nos o Espírito Santo afim de que habitasse sempre em nossas almas e conservasse nelas aceso o fogo sagrado do amor. O mesmo faz o Filho Eterno, não obstante os maus tratos que os homens lhe infligiram na terra.

O Espírito Santo, pois, desce ao Cenáculo em forma de línguas de fogo, para nos ensinar que por nosso amor assumiu o ofício amoroso de dirigir as línguas dos apóstolos e dos seus sucessores, na pregação do Evangelho. Apareceu também em forma de chamas, para insinuar que alumiará os espíritos, purificará os corações e estimulará as vontades de todos os fiéis, para trabalharem na santificação própria e na dos outros. Oh! Que grande amor da parte da Santíssima Trindade!

II. Amor se paga com amor. Visto, pois, que ao mistério deste dia toda a Santíssima Trindade se esmerou em nos patentear o amor que Deus nos tem, justo é que o amemos com todas as nossas forças. Roguemos, portanto, ao Espírito Santo queira ascender em nossos corações as chamas sagradas do seu amor.

Ó Espírito Santo, divino Paráclito, pai dos pobres consolador dos aflitos, santificador das almas, eis-me aqui prostrado em vossa presença, para Vos adorar com a mais perfeita submissão. Creio firmemente que sois Deus eterno, da mesma substância com o Pai e o Filho divino, e amo-Vos com todos os meus afetos sobre todas as coisas. Ingrato e insensível a vossas santas inspirações, tantas vezes Vos ofendi pelos meus pecados. Peço-Vos humildemente perdão e pesa-me sumamente ter-Vos desagradado, ó Bem supremo.

Ofereço-Vos o meu pobre coração e peço-Vos queirais purificá-lo com a água de vida eterna, e fertilizá-lo com o orvalho celestial, afim de que seja morada digna de Deus e só em Deus ache repouso. Sois fogo; abrasai-me de vosso santo amor; sois um laço, prendei-me com os laços de caridade; sois força; dai-me forças contra os espíritos malignos. Sois finalmente o tesouro de todo o bem; enriquecei-me com todos os vossos dons celestiais, assim como enriquecestes a alma de Maria Santíssima e dos santos apóstolos.

A mesma graça peço-a de Vós, ó Eterno Pai. "Vós, que no presente dia ensinastes os corações dos fiéis com a luz do Espírito Santo, dai-nos pelo mesmo Espírito o conhecimento e o amor do que é reto, e que sempre gozemos da sua consolação" (1). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria. (III 473)
 
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1. Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 123-125.)

DOMINGO DE PENTECOSTES

A Igreja divina

O Evangelho deste dia de Pentecostes é inteiramente consagrado à vinda e à obra do Espírito Santo.

O dia de Pentecostes relembra-nos, de fato, não só as promessas, mas a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, de modo que, é realmente este o dia em que nasceu a Igreja Católica pela virtude do Espírito Santo.

Foi pela luz e a força deste mesmo Espírito Santo, que a Igreja se expandiu triunfante, penetrando no mundo inteiro, regenerando-o e levando- o a Deus.

Como estamos meditando sobre a organização da Igreja como sociedade, o nosso tema corresponde plenamente ao assunto da festa de Pentecostes.

Esclareçamos hoje dois pontos apologéticos de suma importância no assunto:

1. O corpo da Esteja.
2. A alma da Igreja.

Estes dois aspectos nos darão, num relance, a fisionomia inteira da Igreja, e nos mostrarão a sua união suave, harmoniosa e forte.

I. O corpo da Igreja

São Paulo diz que a reunião dos fiéis forma um corpo único.—Unum tamen corpus sunt. (1 Cor. XII. 12)

E continuando a sua magistral aplicação, o Apóstolo diz que nós somos o corpo de Cristo e membro de seus membros (1 Cor. XII. 27) e que o Cristo é a cabeça da Igreja. (Col. I. 18)

A Igreja é, pois, o corpo místico de Jesus Cristo, sendo Ele mesmo a cabeça deste corpo vivo.

Havendo um corpo, deve haver também uma alma. Pois, todo corpo vivo é vivificado por uma alma:

alma vegetativa para as plantas;
alma sensitiva para os animais;
alma racional para os homens;
alma divina para a Igreja.

Por isso dizemos que as plantas têm uma vida vegetativa; os animais, uma vida sensitiva; o homem, uma vida racional; e a Igreja, uma vida divina. E esta vida é o próprio Espírito Santo.

O corpo da Igreja é a organização social, visível, de que o sucessor de São Pedro, o Papa é a cabeça visível.

E fazem parte deste corpo todos aqueles que são batizados e estão submissos aos chefes que governam a Igreja.

Esta submissão é exterior e interior, pois, os fiéis têm, necessariamente, relações externas e internas com a Igreja docente.

As relações externas constam da profissão de uma mesma fé, da participação dos mesmos sacramentos e da obediência ao único Vigário de Jesus Cristo na terra: o Papa.

Estas três relações externas são necessárias para se pertencer ao corpo da Igreja; mas não bastam para alguém ser um bom Cristão.

A relação interna com a Igreja docente é o característico dos que pertencem à alma da Igreja: é a união com Jesus Cristo, pela graça santificante, não podendo ser unido aos demais membros da Igreja que desconhece.

Desta distinção, ressalta que, para pertencer, ao mesmo tempo, ao corpo e à alma da Igreja, é preciso ter interiormente a graça de Deus, e exteriormente fazer profissão de fé imposta pela Igreja docente, participar dos sacramentos que ela reconhece, e obedecer a Jesus Cristo, Chefe invisível da Igreja, representado visivelmente na pessoa do Santo Padre, o Papa.

Um católico deixa de pertencer à alma da Igreja, separando-se dela publicamente, pela apostasia, a heresia, o cisma, ou sendo separado dela pela excomunhão.

Os pecadores, mesmo públicos, conhecidos como tais, e os hereges ocultos, pertencem ainda ao corpo da Igreja, mas deixam de pertencer à sua alma.

Pode-se também pertencer à alma da Igreja, sem pertencer ao seu corpo. Nesta condição estão aqueles que não podem conhecer exteriormente a Igreja, como são as crianças batizadas; e, de modo secundário, aqueles que, pela fé e a esperança, possuem o gérmen da graça, como são os hereges e cismáticos de boa fé.

Quando a boa fé de uma alma encontra a graça divina, realiza-se o mistério da Justificação.

II. A alma da Igreja

A Igreja, sendo um corpo vivo, possui também uma alma.

A alma é o princípio da vida.

Lembremo-nos da cena magnífica da criação de Adão. Há uma tocante analogia entre a criação do homem e a criação da Igreja.

Depois de ter tomado um pouco de barro, e de ter formado dele o corpo do homem, Deus tira de seu Coração um sopro de amor, e eis que a estátua de barro se anima, abre os olhos, o coração bate... e a humanidade começa a existir!

É a imagem do que aconteceu no berço da Igreja.

Com suas mãos divinas, Jesus Cristo dispôs o corpo da Igreja, criou-lhe, formou-lhe as artérias, e, inclinando-se amoroso sobre esta Igreja em formação, lhe insuflou um sopro de vida.

No começo do mundo Deus soprou sobre a fronte de Adão, e criou nele uma alma vivente. (Gen. II. 7)

Aqui, Jesus Cristo sopra sobre a fronte de sua Igreja, representada pelos Apóstolos sob a direção de Pedro: et insufflavit in eos, e faz deles uma sociedade vivente: Accipite Spiritum Sanctum.

Eis porque, logo em seguida, com a sua palavra onipotente, Ele lança a Igreja no espaço, como Deus lançara Adão no espaço do mundo.

Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra e sujeitai-a (Gen. 28), disse Deus a Adão.

Ide, pois, ensinai a todas as gentes, disse Jesus aos Apóstolos.

Sob o sopro de Deus, Adão levantou-se e começou a cantar em êxtases.

A Igreja levanta-se igualmente sob o sopro do Espírito Santo, e começa a falar, a agir, a converter o mundo.

O corpo da Igreja é belo, harmonioso; mas o que é mais harmonioso ainda e mais belo é a sua alma: é o Espírito Santo que a anima.

Os inimigos da Igreja estão bem iludidos a este respeito. Dizem e predizem que vão destruir a Igreja, que vão sepultá-la.

Desde Juliano o Apostata, até Hitler, a mesma canção tem sido entoada sob diversos tons e melodias: mas o fiasco tem sido e será sempre o mesmo.

Que podem eles fazer? Podem matar o corpo, mas não matam a alma!

Podem encarcerar o Papa!
Podem exilar os Bispos!
Podem assassinar os Padres!
Podem demolir as Igrejas!

Mas, que é isso? Só atacam o corpo da Igreja: a alma lhes escapa.

O que seria preciso era estrangular a alma.

Mas, como fazê-lo, quando não se pode nem tocar a alma de uma criança?

A alma do homem foge quando o corpo é incapaz de hospedá-la. E a alma da Igreja, está no Papa, nos Bispos, nos Padres, nos fiéis, mas ela não está ligada a ninguém: é o Espírito Santo.

Oh, perseguidores, oh, iconoclastas! Oh comunistas! Cerrai os punhos contra a Igreja! Despedaçai-a com a vossa foice afiada!... Batei-a sobre a bigorna dos vossos erros, com a massa do vosso ódio! Podeis matar o corpo... a alma vos escapa, ela é divina!

Há 19 séculos que a impiedade, o vício e a loucura procuram estrangular a alma da Igreja.

Que conseguiram eles?

Caíram! E sobre o seu túmulo desonrado a Igreja sempre triunfante, canta o seu <>, e lança o seu perdão.

A Igreja não morre! Ela é divina, porque a sua alma é divina: é o próprio Espírito Santo.

Ela está sempre viva, sempre radiante, sempre gloriosa... Ela triunfa no sangue de seus filhos, nas fogueiras, sob a espada de seus perseguidores, como triunfa sobre os túmulos de seus carrascos.

Eis a alma da Igreja: a alma divina da Igreja; a alma que diviniza o corpo da Igreja e faz dela o farol da humanidade, o rochedo indestrutível, onde todos os náufragos da vida encontram abrigo e salvação.

III. Conclusão

Tal é a obra admirável, fundada por Jesus Cristo: obra divina, inteiramente divina.

Ele mesmo, com as suas mãos divinas, formou o corpo da Igreja e insuflou neste corpo o sopro divino, que é o Espírito Santo.

O que precede é o bastante para excitar em nós um grande amor à Igreja divina de Cristo, coluna e firmamento da verdade.

Os nossos pais chamavam-na, com lágrimas nos olhos: Sancta Mater Ecclesia - A nossa Santa Mãe Igreja, como expressão da veneração e do amor que lhe dedicavam.

De fato, ela é Mãe, ela é a Esposa de Jesus Cristo; ela é o sopro de seu Coração, ela é o próprio Espírito Santo, fecundando e salvando a humanidade em demanda para o céu.

Ela merece, pois, todo o nosso amor e toda a nossa fidelidade, tanto ao seu corpo como à sua alma.

EXEMPLOS

1. Testamento de O'connell

O'connell, sentindo aproximar-se o termo da sua vida, depois de seus grandes empreendimentos, depois de ter feito triunfar a fé cristã em sua pátria, a Irlanda, desejava ir morrer em Roma, e depositar os seus restos mortais aos pés do representante de Deus na terra.

Não teve a felicidade de chegar à Roma. A moléstia prostrou-o em Genova, onde morreu nos mais admiráveis sentimentos de fé e de amor à Igreja Católica.

Em seu Testamento deixou o seu corpo para a Irlanda, seu coração para Roma e sua alma para o céu.

Seu coração devia ficar em Roma. De fato é ali que permanecem as afeições do cristão.

2. Santa Teresa

Chegando ao fim da sua carreira laboriosa e fecunda, Santa Teresa de Ávila, em presença das suas Irmãs, reunidas em redor de seu leito, agradecia a Nosso Senhor em alta voz de tê-la feito filha da Santa Igreja, e de permitir que morresse como tal, - Sim, Senhor, disse ela com um acento de imensa gratidão, sou verdadeiramente a filha da vossa Santa Igreja. É suave morrer na fé da Igreja romana, fortalecida pelos socorros com que ela abre as portas do céu para os seus filhos.

3. Santa Catarina

Quando se trata da Igreja, cada cristão deve saber defendê-la. Santa Catarina era filha de um humilde tintureiro de Sena; consagrou a sua vida em exaltar a Santa Igreja.

Não receava para este fim, ir ao palácio dos reis da Europa, de visitar os Cardeais e até o Soberano Pontífice para combinar meios de trabalhar pela prosperidade da Igreja.

Foi ela que decidiu o Papa a deixar Avinhão e a voltar para Roma.

Se não nos é dado fazer tanto como esta santa, pelo menos rezemos pela exaltação da Santa Igreja e a conversão de seus inimigos.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 219 – 226)

18 de maio de 2013

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO - NONO DIA

NONO DIA – SÁBADO
O amor é um tesouro que encerra todos os bens.

Infinitus thesaurus est hominibus; quo qui usi sunt, participes facti sunt amicitiae Dei – “Ela é um tesouro infinito para os homens; do qual os que usaram têm sido feitos participantes da amizade de Deus” (Sap. 7, 14).

Sumário. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, acha logo a felicidade, porque o Senhor lhe satisfará todos os desejos e o fará contente mesmo no meio das maiores tribulações. Felizes de nós, se conhecemos o grande tesouro do amor divino e procuramos obtê-lo a todo custo, desapegando-nos das coisas criadas!

I. O amor é o tesouro de que fala o Evangelho, o qual nos cumpre adquirir a custo de tudo mais. A razão é porque ele é realmente aquele bem infinito que nos faz participante da amizade de Deus. Aquele que acha Deus, acha tudo que pode desejar: Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui (1) – “Deleita-te no Senhor, e Ele te concederá as petições do teu coração”. O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, Deus lhe satisfará todos os desejos. Quais são com efeito os homens mais felizes da terra, senão os santos? E porque? Porque só querem e buscam a Deus.

Estando um príncipe a caçar, vi um solitário percorrendo a floresta, e perguntou-lhe o que fazia nesse deserto. Mas vós, Senhor, retorquiu logo o anacoreta, que vindes buscar aqui? – Eu, acudiu o príncipe, ando em busca de caças – E eu, tornou o solitário, busco a Deus.

O tirano que martirizou São Clemente de Ancira, ofereceu-lhe ouro e pedras preciosas para conseguir que ele renegasse a Jesus Cristo; mas o santo, dando um profundo suspiro, exclamou: Pois que! Um Deus posto em paralelo com um pouco de lama! – Feliz de quem conhece o tesouro do divino amor e procura obtê-lo! Quem o conseguir, despojar-se-á por si mesmo de tudo, para não possuir senão a Deus. “Quando o fogo pega na casa”, dizia São Francisco de Sales, “lançam-se todos os utensílios pela janela”. E o Padre Segneri, o moço, grande servo de Deus, tinha costume de dizer: “O amor divino é um roubador que nos tira todos os afetos terrenos ao ponto de exclamarmos então: Senhor, que desejo senão a vós?” Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum (2) – “Deus de meu coração, e a minha porção, Deus, para sempre”.

II. Ó mundanos insensatos, exclama Santo Agostinho, ó homens, aonde ides para contentar o vosso coração? Bonum quod quaeritis, ab ipso est. Aproximai-vos de Deus, recuperai a sua graça, buscai o seu amor, porque só Ele pode dar-vos a felicidade que andais procurando – Nós ao menos não sejamos tão insensatos, e como nos exorta o mesmo santo Doutor, de hoje em diante, busquemos unicamente o amor de Deus, busquemos o único bem, no qual estão encerrados todos os outros: Quaere unum bonum, in quo sunt omnia bona. Mas não podemos achar este bem, sem renunciar a todo o afeto pelas coisas da terra, como o ensina Santa Teresa: Desapega o teu coração das criaturas e acharás a Deus.

Meu Deus, no passado não foi a Vós que busquei, mas busquei a mim mesmo e às minhas satisfações; e por elas me apartei de Vós, que sois o Bem supremo. Mas Jeremias me consola, assegurando-me que sois só bondade para os que Vos buscamBonus est Dominus animae quaerenti illum (3). Amadíssimo Senhor meu, compreendo o mal que fiz deixando-Vos, e arrependo-me de todo o coração. Vejo que sois um tesouro de valor infinito; não querendo deixar inútil esta luz, renuncio a tudo, e escolho-Vos para único bem dos meus afetos.

Ó meu Deus, meu amor, meu tudo, por vós suspiro. Vinde, ó Espírito Divino, e com o santo fogo do vosso amor, consumi em mim todo o afeto de que não sois o objeto. Fazei-me todo vosso, e que tudo vença para Vos agradar. Ó Maria, minha advogada e Mãe, ajudai-me com as vossas orações. (*II 399.)

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1. Ps. 36, 4.
2. Ps. 72, 25.
3. Thren. 3, 25.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 121 - 123.)

17 de maio de 2013

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO - OITAVO DIA

OITAVO DIA – SEXTA-FEIRA
O amor é um vínculo.

Super omnia autem caritatem habete, quod est vinculum perfectionis – “Acima de tudo, tende e caridade, que é o vínculo da perfeição” (Col. 3, 14).

Sumário. Antes da vinda de Jesus Cristo, os homens afastavam-se de Deus, e aferrados à terra, recusavam unir-se ao seu Criador. Mas nosso amável Senhor enviou-nos o Espírito Santo, afim de que, assim como Ele é o vínculo indissolúvel que une o Pai ao Verbo Eterno, assim una nossas almas a Deus pelo amor. Procuremos, pois, estar fortemente ligados por este vínculo de perfeição, e não correremos mais risco de nos afastar de Deus. Antes de tudo, porém, é necessário que livremos nosso coração de todos os laços que o prendem ao mundo.

I. Assim como o Espírito Santo, amor incriado, é o laço indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim é este mesmo Espírito que une nossas almas a Deus. A caridade, diz Santo Agostinho, é uma virtude que nos une a Deus: Caritas est virtus coniungens nos Deo. Daí este grito de alegria de São Lourenço Justiniano: Ó Amor, tu és então um vínculo de tal maneira forte, que pudeste encadear um Deus e uni-Lo a nossas almas! O caritas, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit! – Os laços do mundo são laços de morte, mas os de Deus são laços de vida e salvação: Vincula illius alligatura salutares (1). Porquanto são vínculos de amor, e o amor nos une a Deus, nossa única e verdadeira vida.

Antes da vinda de Jesus Cristo os homens separavam-se de Deus; aferrados à terra, recusavam unir-se ao seu Criador; mas o Senhor, cheio de ternura, os atraiu a si pelos laços de amor, como tinha prometido por Oséas: In funiculis Adam traham eos, in vinculis caritatis (2) – “Eu os atrairei com cordas de Adão, com os vínculos da caridade”. Estes laços são os seus benefícios: luzes, apelos ao seu amor, promessas do paraíso; mais é sobretudo o dom que nos fez de Jesus Cristo no sacrifício da cruz e no Sacramento do altar, e enfim, o dom de Espírito Santo. Por isso exclama o Profeta: Solve vincula colli tui, captiva filia Sion (3) – “Rompe as cadeias de teu pescoço, filha cativa de Sião”. Ó alma, criada para o céu, desfaze-te dos laços da terra para te unires a Deus pelos laços do santo amor.

II. Caritatem habete, quod est vinculum perfectionis (4) – “Tende a caridade, que é o vínculo da perfeição”. O amor é um laço que reúne todas as virtudes, e torna a alma perfeita. Daí a seguinte palavra de Santo Agostinho: Ama, et fac quod vis – Ama a Deus e faze o que queres, porque quem ama a Deus tem cuidado de evitar tudo que causa desgosto ao objeto de seu amor e procura agradar-lhe em tudo.

Dulcíssimo Jesus, muito me haveis obrigado a amar-Vos; muito Vos custou obter o meu amor. Ingratíssimo seria eu, se Vos amasse pouco, ou dividisse o meu coração entre Vós e as criaturas, depois que por mim derramastes vosso sangue e sacrificastes vossa vida! Quero desapegar-me de tudo, e por em Vós só todos os meus afetos. Muito fraco sou para executar esta resolução; Vós, que me a inspirais, dai-me a força de a cumprir.

Amadíssimo Jesus meu, feri meu pobre coração com a suave seta do vosso amor, para que não cesse de arder no desejo de Vos possuir e consumir-me de amor para convosco. A Vós procure sempre, a Vós só deseje, a Vós ache sempre. Ó meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. Fazei com que eu repita sempre durante a minha vida, e sobretudo na hora da minha morte: Meu Jesus, só a Vós quero e nada mais. – Ó Maria, minha Mãe, fazei com que de hoje em diante eu não queira senão a Deus. (II 399.)

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1. Ecclus. 6, 31.
2. Os. 11, 4.
3. Is. 52, 2.
4. Col. 3, 14.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 119 - 121.)

16 de maio de 2013

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO - SÉTIMO DIA

SÉTIMO DIA – QUINTA-FEIRA
Pelo amor a alma torna-se morada de Deus.

Ego rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit vobis, ut maneat vobiscum in aeternum – “Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, afim de que more sempre convosco” (Io. 14, 16).

Sumário. É esta a magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: Se me amais, rogarei ao Pai, e ele vos enviará o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco. Deus, portanto, habita na alma que O ama. Lembremo-nos, porém, de que Deus é cheio de zelos. Quer habitar só na alma, e não está contente, se não o amamos de todo o coração e queremos dividir o nosso amor entre ele e as criaturas.

I. O Espírito Santo é chamado Hóspede das almas: “Dulcis hospes animae”. É o efeito da magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que O ama: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e rogarei ao Meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, o Espírito Santo, afim de que more sempre convosco: “Ut maneat vobiscum in aeternum”. Sim, sempre, porque o Espírito Santo não desampara nunca uma alma, a não ser que seja expulso por ela: “Non deserit, nisi deseratur”.

Deus portanto, habita em toda a alma de que é amado; mas declara não ficar satisfeito, se não o amamos de todo o nosso coração. Escreve Santo Agostinho, que o senado romano se recusou a admitir Jesus Cristo no número dos deuses, dizendo que Ele é um Deus soberbo que quer ser adorado com exclusividade. Isto é verdade: Nosso Senhor não aceita rival num coração que O ama; quer habitar nele só e ser amado mais que todos. Se Ele não se vê amado acima só, tem, por assim dizer, segundo a expressão de São Tiago, zelos das criaturas com que é dividido esse coração, que ele deseja só para si: “Ad invidiam concupiscit vos Spiritus qui habitat in vobis” (1). Numa palavra, como diz São Jerônimo: Jesus é um Deus cheio de zelos: Zelotypus est Iesus.

É este o motivo porque o Esposo celeste louva a alma que, semelhante à rola, vive na solidão escondida do mundo: “Pulchrae sunt genae tuae, sicut turturis” (2). Não quer que o mundo tenha parte no amor desta alma, deseja-a toda inteira para si. Se ele ainda louva a sua Esposa, chamando-a jardim fechado – Hortus conclusus, soror mea sponsa (3) – , é porque ela não deixa entrar em seu coração nenhum afeto terreno. Ah! Jesus não merece todo o nosso amor? “Totum tibi dedit, nihil sibi reliquit”, diz São João Crisóstomo: Ele nos deu tudo, seu sangue e sua vida; mais do que isto não podia nos dar.

II. Se queremos que Deus habite em nossa alma com a plenitude de sua graça, consagremo-la hoje de novo toda inteira e sem reserva a seu serviço e repitamos esta nossa consagração muitas vezes durante o dia, especialmente na oração mental, na santa comunhão e na visita ao Santíssimo Sacramento.

Lembremo-nos de que há três meios principais pelos quais uma alma se pode dar toda a Deus. Primeiro, evitar todas as faltas deliberadas, ainda que pequenas, e para este fim reprima o mais insignificante desejo desordenado e mortifique a satisfação dos sentidos. Segundo, escolher, entre as coisas boas, a melhor, que mais agrade a Deus. Terceiro, aceitar com paz e gratidão, das mãos do Senhor, tudo o que mortifica o nosso amor próprio e em particular os desprezos. Lembremo-nos de que tem mais valor aos olhos de Deus um desprezo sofrido em paz e por amor a Ele, do que mil mortificações e mil práticas.

Ó meu Deus, bem vejo que me quereis todo para Vós. Tanta vezes Vos expulsei da minha alma. Mesmo assim não Vos dedignais de nela entrar e unir-Vos a mim. Ah! Tomai agora posse de todo o meu ser; dou-me inteiramente a vós. Aceitai-me, ó meu Jesus, e não permitais que eu viva de agora em diante um instante sequer sem vosso amor. Vós me buscais, e eu não busco senão a Vós. Quereis minha alma, e ela só Vos quer a Vós. Vós me amais, e eu também vos amo; e já que me amais, prendei-me tão perfeitamente convosco, que não me aparte mais de vós. – Ó Rainha do céu e minha querida Mãe, Maria, em vós ponho minha confiança. (*II 398.)

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1. Iac. 4, 5.
2. Cant 1, 9.
3. Cant 4, 12.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 117 - 119.)

15 de maio de 2013

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO - SEXTO DIA

SEXTO DIA – QUARTA-FEIRA
O amor é uma virtude que fortifica.

Fortis est ut mors dilectio – “O amor é forte como a morte” (Cant. 8, 6).

Sumário. Quanto se trata de agradar ao objeto amado, o amor vence tudo; não há dificuldade que resista ao amor; porque, aquele que ama, não sente o sofrimento, ou se o sente, o ama. O sinal, pois, mais certo para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus é a sua fidelidade na adversidade como na prosperidade. Dizemos que amamos a Deus, mas até agora que fizemos por ele? Como suportamos as cruzes que nos manda para nosso bem?

I. Assim como não há força criada que resista à morte, assim não há dificuldades que não ceda ao ardor de uma alma amante. Quando se trata de agradar ao objeto amado, o amor vence tudo, perdas, desprezos, dores. Nada é bastante duro para resistir ao fogo do amor, diz Santo Agostinho: Nihil tam durum, quod non amoris igne vincatur. O sinal mais certo, pois, para conhecer se uma pessoa ama deveras a Deus, é sua fidelidade em amar na adversidade como na prosperidade.

Dizia São Francisco de Sales que Deus é tão amável quando nos aflige, como quando nos consola, porque faz tudo por amor e até quando mais nos aflige nesta vida é que nos testemunha mais o seu amor. São João Crisóstomo julgava São Paulo mais feliz nos ferros que arrebatado ao terceiro céu.

Também os santos mártires se regozijavam no meio dos tormentos e agradeciam ao Senhor como um grande favor que lhes dispensava o terem que sofrer por seu amor. E os outros santos, que não acharam tiranos para os atormentar, tornaram-se carrascos de si mesmos pelas penitências com que se castigaram, afim de se fazerem agradáveis a Deus. Aquele que ama, diz Santo Agostinho, não sente sofrimento, ou se o sente, o ama: In eo quod amatur, aut non laboratur, aut ipse labor amatur.

II. Ó Deus de minha alma, digo que vos amo; mas que faço por vosso amor? Nada. É então um sinal de que não vos amo, ou vos amo muito pouco. Meu Jesus, enviai-me o Espírito Santo, que me venha dar a força de sofrer e fazer alguma coisa por vosso amor antes de minha morte. Ah! Meu amado Redentor, não permitais que eu morra neste estado de frieza e ingratidão em que eu tenho vivido até hoje. Concedei-me a graça de amar os sofrimentos, depois de tantos pecados que me tornaram digno do inferno.

Ó meu Deus, todo bondade e todo amor, desejais habitar em minha alma onde tantas vezes vos expulsei; vinde, estabelecei nesta vossa morada, dominai nela e fazei-a toda vossa. Amo-vos, ó meu Senhor, e já que vos amo, comigo estais, como São João m´o afirma: Qui manet in caritate, in Deo manet, et Deus in eo (1) – “Aquele que mora no amor permanece em Deus e Deus nele”. Se, pois, estais comigo, aumentai em mim as chamas de vosso amor, fortificai as cadeias que me prendem a vós, afim de que eu suspire somente por vós, busque somente a vós, e assim unido convosco, não me separe jamais do vosso amor. Ó meu Jesus, quero ser vosso, todo vosso. - Ó minha Advogada e Rainha, Maria, alcançai-me o santo amor e a perseverança (II 397).

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1. 1 Io 4, 16

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 115 - 117.)

14 de maio de 2013

Sermão Ascensão do Senhor - Padre Daniel Pinheiro - IBP

Sermão para a Solenidade da Ascensão
12 de maio de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Se alguém ouviu falar em uma aparição de Nossa Senhora Aparecida aqui no Distrito Federal, por favor não se deixe enganar. O Padre responsável por isso abandonou a Igreja Católica, depois abandonou uma Igreja Ortodoxa, portanto cismática, e fundou sua própria religião, casando-se e divorciando-se várias vezes. O que acontece ali é obviamente algo puramente natural, não há nada de sobrenatural e não há nada de católico, apesar de Nossa Senhora Aparecida ser invocada para atrair e enganar os católicos. Mais uma vez, peço que não se deixem levar e enganar por essas supostas aparições recentes, que prejudicam as almas. (Nota do Editor: ver o sermão “A Armadilha das falsas aparições”)
Peço as orações de todos pelo Apostolado para que possa avançar materialmente e, sobretudo, espiritualmente.
Celebramos hoje a Solenidade da Ascensão. A Festa acontece sempre na quinta feira após o V Domingo depois da Páscoa, 40 dias depois da Páscoa. A Ascensão é festa de Preceito, mas como no Brasil não é feriado, não existe, para a Ascensão, a obrigação de ir à Missa na quinta-feira. Mas para que os fiéis não fiquem sem a graça própria do Mistério da Ascensão, a Igreja faz a solenidade no Domingo seguinte. A graça própria do Mistério da Ascensão está expressa na Coleta de hoje: que nós tenhamos nosso espírito já no céu, que nós possamos desejar o céu. Fazer a solenidade de Festas no Domingo não é algo tão recente quanto parece. Pelo menos desde o tempo de São Pio X há essa prática, depois que esse Santo Papa fez algumas mudanças no Calendário, tirando certas festas do Domingo. Foi permitido, então, fazer a solenidade delas no Domingo. A necessidade de fazer essas solenidades de festas de preceito surge com a prejudicial separação da Igreja e do Estado, fazendo que os feriados civis já não correspondam aos dias de preceito, prejudicando a prática da Religião.
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E o Senhor Jesus, depois que assim lhes falou, elevou-se ao céu, e está sentado à direita de Deus.
Nessa solenidade da Ascensão, caros católicos, devemos considerar a alegria que nos causa a Ascensão de Cristo, devemos considerar a importância dos 40 dias que Nosso Senhor passou na Terra depois da Ressurreição e devemos considerar a importância das últimas palavras de Cristo.
Como dissemos no último Domingo, caros católicos, a Ascensão do Senhor poderia parecer para nós motivo de tristeza, pois nos tira a presença física de Nosso Senhor. Ao contrário, porém, ela deve ser para nós motivo de grande alegria. Alegria pelo que a Ascensão significa para Cristo e alegria pelo que ela significa para nós.
Motivo de alegria pelo que a Ascensão significa para Cristo. Aqui na Terra foi condenado pelo tribunal dos homens, humilhado, tratado como um verme. Foi zombado pelos homens por ter atribuído a si a divindade e os atributos divinos. A Ascensão é a resposta de Nosso Senhor e da Santíssima Trindade. Aquele que é perseguido e humilhado por causa da justiça – e justiça quer dizer aqui santidade – será exaltado. Nosso Senhor ressuscitou e subiu aos céus por sua própria virtude, demonstrando a sua divindade. Ele sobe aos céus para sentar-se à direita do Pai. Como falamos, à direita, porque Nosso Senhor é também Deus como o Pai é Deus e como o Espírito Santo é Deus, nem inferior, nem superior, nem acima nem abaixo, mas à direita. As três pessoas são um só Deus. E ele está sentado. O estar sentado é a posição do soberano. Estar sentado à direita do Pai significa a realeza de Cristo, significa que ele detém o poder de governo, de legislador, de juiz. Nosso Senhor é rei imortal, rei das almas e das nações. Além disso, já não convinha ao corpo glorioso de Cristo habitar aqui embaixo. O corpo glorioso demanda uma habitação que corresponda à sua glória: o céu. Finalmente, com a Ascensão nós temos a certeza de que o sacrifício de Cristo na Cruz foi agradável a Deus. No Antigo Testamento, a aceitação do sacrifício era simbolizada pela fumaça que subia aos céus, dirigindo-se para Deus. No Novo Testamento, é a Ascensão de Nosso Senhor que manifesta a aceitação plena do sacrifício oferecido no Calvário. Com a Ascensão, a justiça está plenamente realizada. A obediência e a caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo recebem a recompensa completa com a Ascensão. Só podemos nos alegrar com tal fato.
A Ascensão de Cristo também é para nós motivo de alegria pelos benefícios que nos traz. Motivo de alegria porque Nosso Senhor age, no céu, para aplicar os méritos infinitos adquiridos durante sua vida aqui na Terra, adquiridos sobretudo durante sua paixão e morte. Alegria porque Cristo, tendo subido aos céus, nos enviou o Espírito Santo, para ensinar toda a verdade aos Apóstolos e à Igreja, e para dar a força necessária para transmitir e viver essa verdade. A Ascensão do Senhor é motivo de alegria porque favorece as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A Ascensão aumenta o mérito da nossa fé. Nossa fé tem muito mais valor com Cristo no céu do que se Ele estivesse entre nós fisicamente, pois a fé é daquilo que não se vê. A Ascensão aumenta nossa esperança, pois aumenta o nosso desejo do céu e nos dá a certeza de que, auxiliados com a graça divina, podemos chegar até o céu. Se a cabeça subiu ao céu, também os membros devem subir. Assim, se vivermos como bons católicos, seremos membros de Cristo e subiremos ao céu junto com Ele. E Nosso Senhor diz que vai preparar o nosso lugar na casa do Pai, o que é motivo de grande esperança. A Ascensão de Cristo aumenta também a caridade. Nosso coração, nosso amor se encontra onde está o nosso tesouro. Ora, nosso tesouro é Cristo, no qual se encontra a nossa salvação. Assim, a Ascensão nos faz amar as coisas do alto e os meios para alcançar as coisas do alto, que são os mandamentos e a fé católica e impede um amor muito terreno a nosso salvador. Grande deve ser, então, nossa alegria nesse dia da Ascensão do Senhor.
Consideremos, agora, brevemente a importância dos 40 dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor. Depois de sua Ressurreição, Nosso Senhor Jesus Cristo passou quarenta dias na terra, para provar por muitos meios sua Ressurreição e para falar aos apóstolos e discípulos sobre o reino de Deus, como nos diz São Lucas nos Atos dos apóstolos hoje (Atos I). Portanto, Nosso Senhor passou esses quarenta dias instruindo os apóstolos sobre as verdades de fé, sobre a Igreja e sua constituição hierárquica, sobre as Sagradas Escrituras. Foi nesse período que, muito provavelmente, Nosso Senhor instituiu quatro dos sete sacramentos: os sacramentos da confissão, da crisma, da extrema-unção, do matrimônio. Muito pouco do que Cristo ensinou nesses quarenta dias nos foi transmitido pela Sagrada Escritura. Como é óbvio, caros católicos, nem tudo o que Nosso Senhor ensinou está contido na Sagrada Escritura, ao contrário do que pretendem os protestantes. São João Evangelista diz que Jesus fez ainda muitas coisas que não foram escritas (São João XXI, 25). É a própria Sagrada Escritura que afirma que Cristo fez coisas que não estão contidas na Bíblia, mas que se transmitem pela Tradição. Quem lê a Sagrada Escritura com honestidade e reta intenção se dá conta dessa evidência. Esses quarenta dias que antecederam a Ascensão de Cristo e os ensinamentos do Divino Mestre nesse período com a instituição de quatro dos sete sacramentos são, então, importantíssimos para a nossa salvação.
Finalmente, podemos considerar brevemente as últimas palavras de Cristo antes de sua Ascensão. As últimas palavras de uma pessoa são o seu testamento espiritual, refletem o que tem de mais importante para essa pessoa. Nosso Senhor diz aos apóstolos “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo. O que, porém, não crer, será condenado.” Essas últimas palavras expressam aquilo que moveu Nosso Senhor durante toda a sua vida aqui na terra: o desejo de que as pessoas se salvem. Mas, para tanto, é preciso que o Evangelho seja pregado, que as pessoas tenham a fé, e uma fé viva, acompanhada das obras, da prática dos mandamentos. É preciso que elas sejam batizadas. É essa a finalidade da Igreja: pregar o Evangelho, transmitir a fé, administrar os sacramentos para levar as almas para o Céu. Diante disso, vale lembrar que começa hoje, no Brasil, a semana de oração para a unidade dos Cristãos. É preciso lembrar que como cantamos no Credo, a Igreja de Cristo, que é a Igreja Católica já é una: ela é una pela unidade da fé, pela unidade dos sacramentos e pela unidade de governo, sob o Santo Padre. A Igreja de Cristo, a Igreja Católica não perdeu nem pode perder a sua unidade. Aqueles que perdem a fé, que rejeitam a autoridade eclesiástica ou os meios de santificação dados por Cristo se afastam da Igreja de Cristo e de sua unidade. A unidade não consiste em estar juntos. A verdadeira unida se faz com a mesma fé, a mesma autoridade, os mesmos sacramentos. A unidade entre Cristãos que deve ser buscada é, na verdade, a volta de hereges e cismáticos à unidade da Igreja Católica. Rezemos, durante essa semana para que aqueles que estão afastados da Igreja Católica, que é a Igreja de Cristo, possam voltar ao único rebanho de Cristo, fora do qual não há salvação. Rezemos para que isso aconteça, nessa semana em que, infelizmente, alguns erros contra a fé serão cometidos em nome de uma unidade mal compreendida. Lembremo-nos das palavras de Nosso Senhor:  “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo. O que, porém, não crer, será condenado.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.