8 de setembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Coração da Santíssima Virgem


Parte 3/9

A Virgem santíssima sentiu todos os afetos que vibram na natureza humana; e sentiu-os com uma veemência como nunca sentiu coração humano; sobretudo sentiu o amor.
A Virgem Santíssima amou a Deus.
Amou-o com um amor que correspondia ao conhecimento completo que tinha dele.
E amou-o com a gratidão imensa que pediam os privilégios e as graças incomparáveis que Deus lhe tinha concedido.
Amou-o com o amor que a melhor das mães pode ter a seu filho; porque o próprio Deus encarnado quis ser seu Filho. Com profundo respeito nos aproximamos desse coração e exclamamos: "É impossível medir a água do mar. É impossível contar o número de estrelas e conhecer a imensidade dos espaços; porém mais difícil é calcular o amor do teu coração".
A medida do seu amor a Deus, foi a medida do seu amor  aos homens; porque esse amor que brotava do coração da Santíssima Virgem dirigia-se para Deus; porém Deus como um espelho refletia-o e dirigia-o para os homens. Como sentiu o amor, sentiu os outros afetos o coração de Maria.
Sentiu um profundo ódio ao pecado, tão profundo como era o seu amor a Deus.
Sentiu com veemência o desejo. Desejo de encontrar o Menino Jesus quando o perdeu.
Desejo de contemplar o seu Filho ressuscitado.
Desejo de subir ao céu depois que seu Filho deixou a terra.
Desejo da glória de Deus.
Desejo da salvação das almas. E na proporção do desejo, foi a fuga, o afastamento do mal.
A Santíssima Virgem teve na sua vida gozos tão intensos, que a imaginação humana não pode compreender.
Goza a alma dos santos quando Deus se lhes descobre um pouco aqui na terra e lhes permite saborear umas gotas da sua doçura.
A Virgem nos atos mais solenes da sua vida contemplou a divindade, como a vêem os bem aventurados do céu e naqueles momentos experimentou a felicidade dos mesmos bem aventurados.
A santíssima Virgem viveu dias de gozo inexplicável quando vivia em companhia de seu Filho Jesus, que sabia que era Deus; gozou com a amizade das santas almas que a rodeavam. E gozou sobretudo ao contemplar a glória de seu Filho depois da ressurreição.
Porém a medida desse gozo foi a intensidade da sua tristeza, ao perder o seu Filho e sobretudo ao vê-lo sofrer e morrer na cruz.
Maria sentada numa encosta do Calvário, com o cadáver de seu Filho nos braços é a personificação da dor, dor tão funda como o seu amor, mais profunda do que o mar. "A tua aflição é grande como o mar", diz-lhe a Igreja.
O coração da Virgem Santíssima vibrou também com as emoções da esperança.
O seu Filho tinha-se perdido; mas a esperança de o encontrar não se apagou no seu coração; por isso, procurava-o sem descanso. Seu Filho tinha morrido, estava enterrado; a esperança dos seus discípulos dissipava-se como o feno: "nos autem sperabamus". Nós esperávamos, mas que podemos esperar já? E no entanto o coração da Santíssima Virgem não vacila um momento. O seu coração permanece firme, sem oscilações, com a âncora da esperança agarrada às promessas de seu Filho: ressuscitarei.
A Virgem Santíssima esperou e perdeu também a esperança de conservar por mais tempo a vida de seu Filho quando o viu nas mãos dos seus inimigos e condenado à morte.
O coração da Virgem Santíssima estremeceu com o temor. Trouxe toda a vida cravada na alma a profecia de Simeão: "o teu Filho será perseguido" e o temor não abandonou aquele coração nem um só instante. E o seu temor era tão grande, como excelente era o Filho que temia perder e grande o amor que lhe professava.
Aquele coração exaltou-se numa audácia santa à vista dos trabalhos e sofrimentos que, como uma montanha escarpada, se apresentaram no seu caminho: a noite de Belém com os seus abandonos, a fugida para o desterro, as privações de uma vida pobre em Nazaré e sobretudo o caminho sangrento e o monte Calvário, semeado de espinhos e coroado com a cruz.

6 de setembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Coração da Santíssima Virgem


Parte 2/9

O coração do homem com ser tão estimável, é um mistério.
"O coração do homem é impenetrável; quem conseguirá conhecê-lo" - disse o profeta Jeremias.
É indecifrável para os estranhos. Apresenta-se disfarçado no rosto que aparenta muitas vezes o contrário do que sente o coração.
Apresenta-se desfigurado por defeitos que são superficiais e que não tem raízes no coração.
Como é difícil conhecer o coração de uma pessoa!
Nem os filhos, nem o marido chegam a suspeitar muitas vezes a ternura e o sacrifício que sofre o coração de uma mãe.
Uma mãe não conhece o íntimo do seu próprio coração.
E hoje vamos abeirar-nos do coração de Maria, o coração mais profundo, o maior e mais formoso que existiu depois do coração de Jesus.
Só o abeirar-nos desse abismo causa vertigem à pobre inteligência humana; mas ainda que seja audácia, tentemos aproximar-nos dele.
Começamos a falar do coração e não concretizamos o que entendemos por coração.
Na vida física o coração é um órgão importantíssimo; é o centro vital.
Quando o coração palpita com força, a vida esta assegurada; quando começa a enfraquecer, a vida esta em perigo; quando cessa de bater, a vida acabou.
Porém ao falar do coração, não o consideramos como centro da vida física do homem, consideramo-lo como centro da vida afetiva.
Na natureza humana existe uma grande variedade de afetos que os filósofos reduziram a onze: o amor e o ódio, o desejo e a renúncia, a alegria e a tristeza, a esperança e a desesperação, a audácia, o temor e a ira.
Porém, bem analisados estes afetos, podem reduzir-se a dois, visto que todos eles são a inclinação para um bem ou a fuga de um mal que pode ser presente ou futuro.
Mais ainda, o ódio pode também reduzir-se a amor; porque, ao mesmo tempo que fugimos do mal, amamos o bem oposto.
Todos os afetos humanos na sua variedade imensa podem reduzir-se portanto ao amor, a essa tendência que existe na natureza humana para o bem, ou porque o é na realidade, ou porque parece ao homem que o é.
Ora bem, esse amor, ou todos esses afetos que a ele se reduzem, têm que ter uma fonte donde provenham; tem que existir no homem uma faculdade, um órgão que os produza.
Esse órgão, essa faculdade, essa fonte de todos os afetos humanos, segundo alguns psicólogos, é o coração, a víscera designada com esse nome, o órgão dos afetos.
Segundo outros, não é o coração.
Porém seja ou não o coração que os produza, o fato é, que todos os afetos humanos se repercutem no coração; que o alteram, que o impressionam, que o apertam ou o dilatam.
Por isso chamamos coração ao conjunto de todos esses afetos humanos ou, dizendo melhor, ao órgão que os produz; numa palavra, à fonte donde brota o amor.

4 de setembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Coração da Santíssima Virgem


Parte 1/9

Vamos a entrar já no mais secreto do homem: o coração.
A inteligência é estimável; porém mais estimável é o coração.
Disse o grande apologista Lacordaire: "Se eu tivesse de erguer um altar a alguma coisa humana, preferia antes adorar as cinzas do coração do que as do engenho".
Os maiores homens não foram os artistas, nem os sábios, foram os santos. E os santos são fruto do coração.
Um santo é um homem que viveu num ambiente habitual de heroísmo; e o heroísmo não se pode levar ao fim sem um grande coração.
As imolações das virgens, os trabalhos dos apóstolos, os sofrimentos dos mártires foram inspirados por grandes corações.
Era grande o coração de São Paulo de quem disse São João Crisóstomo: "cor Pauli, cor Christi", o coração de Paulo era como o coração de Cristo.
Grande era o coração de São Vicente de Paulo, o herói da caridade, e o de São Pedro Claver, o apóstolo dos negros, e o de São Francisco Xavier, a quem o mundo inteiro parecia pequeno para o seu zelo e não podendo conter o amor que o abrasava, repetia: "basta, Senhor, basta".
Foi grande o coração de Teresa de Jesus, serafim em carne humana.
De Deus podemos dizer que é todo coração, pois assim o define São João Evangelista: "Deus charitas est". Deus é caridade.
Todas as obras da criação são manifestações do amor de Deus para com os homens, quer dizer, do coração: " Charitate perpetua dilexi te". Amei-te com amor eterno.
Por isso o próprio Jesus Cristo, para nos fazer sentir os seus benefícios, apresenta-se-nos com o coração na mão: "eis aqui este coração que tanto amou os homens".
Porque é tão precioso o coração do homem, tantos o querem para si inteiramente.
Os pais querem para si o coração dos filhos.
Os esposos desejam mutuamente o coração.
Os amigos reclamam também uma pequena parte do coração, e oferecem em troca um pouco do seu.
Todos alegam algum direito para possuir o coração do homem.
Porém no caminho da vida aparece uma infinidade de ladrões que, sem direito algum, gritam com insistência: entrega-me o coração.
Acima de todos os que solicitam o coração esta deus, o único que tem direito sobre ele.
Não é uma súplica, é uma ordem: "Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração".
E não se contenta com uma parte, mas pede-o todo inteiro, pois é todo seu.
O coração do homem deve ser um magnífico tesouro quando tantos o querem para si; e quando o próprio Deus o pede ao homem em paga dos benefícios que lhe faz.

2 de setembro de 2018

VII Congresso São Pio V - "A 'Reforma' Protestante" - Apresentação do Coral das Crianças

Prezados Amigos, Salve Maria!
Estamos disponibilizando o vídeo com a apresentação do Coral das Crianças no VII Congresso São Pio V.