Nas reproduções de retratos, depois de se representar o quadro completo, apõem-se alguns pormenores ampliados, para se apreciar melhor a sua beleza.
Vamos fazer isso com o retrato da Virgem Mãe.
O Evangelho conservou-nos um pormenor belíssimo que devemos reproduzir aqui: o pormenor de uma mãe que perde o seu filho sem ter culpa e o procura com dor e sem descanso.
Continuemos, caros católicos, nosso propósito de tratar do sentido espiritual das cerimônias e orações da Santa Missa no Rito Romano Tradicional. Após a consagração do cálice, seguem três orações que formam um conjunto: Unde et memores, Supra quae propitio e Supplices te rogamus. Nós trataremos hoje das duas primeiras. Essas orações que sucedem a consagração vão explicitar aquilo que ocorre no momento da transubstanciação. Lembremos que o que ocorre no instante da consagração – a transformação da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e no Sangue de Cristo – é algo de sobrenatural. Precisamos de todas as cerimônias da Missa para explicar essa conversão, esse milagre.
Unde et memores. Essa oração é chamada de anamnese, que quer dizer lembrança e ela desenvolve as palavras logo após a consagração do cálice: “toda fez que fizerdes isso, fazei-o em memória de mim.” Ela mostra que cumprimos, de fato, esse mandamento do Senhor na Última Ceia. Donde, lembrando, Senhor, nós, vossos servos e o vosso povo santo, da bem-aventurada paixão do mesmo Jesus Cristo Vosso Filho. As palavras “nós, vossos servos”, fazem referência ao próprio sacerdote, chamado de servo durante a Santa Missa. Assim é no Hanc Igitur logo antes da consagração e no Placeat tibi Sancta Trinitas antes da bênção final. O povo santo é como São Pedro e São Paulo chamavam os primeiros cristãos para destacar a dignidade dos que foram regenerados pelo batismo e para lembrar que são chamados à santidade. Primeiro, faz-se menção ao sacerdote e, em seguida, ao povo, para lembrar que é o padre que oferece propriamente o sacrifício e que o povo se une a Ele.
Lembramos da bem-aventurada paixão de Cristo, bem como da Sua ressurreição dos infernos e da sua gloriosa ascensão. A Missa é formalmente a renovação da paixão de Cristo, do calvário, da Cruz. É com Sua paixão e morte que Cristo merece infinitamente as graças para nossa salvação. Já explicamos, no Suscipe Sancta Trinitas, porque se citam a ressurreição e a ascensão de Cristo. Seria para diminuir a cruz de Cristo, para amenizá-la? Não. Deixemos o Papa Bento XIV nos explicar porque fazemos referência à ressurreição e a ascensão de Cristo na Missa. Diz o papa: “nos sacrifícios judaicos, a vítima (depois de sacrificada) era queimada no altar dos holocaustos, para que tudo que houvesse de defeituoso fosse consumido pelas chamas e para que a fumaça se elevasse ao céu em odor de suavidade como diz a Sagrada Escritura. Sob a nova Lei, a vítima (Jesus Cristo, depois de Sua morte na cruz) é consumida na Ressureição e na Ascensão. Com efeito, na ressureição, o que era mortal em Cristo é absorvido pela vida, como diz o apóstolo na segunda epístola aos coríntios, e o que podia haver de corruptível em Cristo é destruído. E, na ascensão, a vítima – que é Ele mesmo – é aceita por Deus em odor de suavidade e colocada à sua direita.” A ressurreição é, então, como o fogo do altar que consome a vítima. A ascensão é como a fumaça que sobe até Deus, mostrando que o sacrifício Lhe foi agradável. Assim, a ressurreição, que significa o fim de toda a mortalidade no corpo de Cristo, e a ascensão, que significa a aceitação do sacrifício de Cristo por parte de Deus, são, em certo sentido, parte do sacrifício da cruz. Nessa oração do Unde et memores essa verdade nos é lembrada mais uma vez. Hoje, existe com frequência uma tendência a esquecer a paixão e morte de Cristo na Missa, como se ela fosse mera comemoração da ressurreição. É um erro grave. Na prática, vemos, às vezes, a cruz do altar sendo substituída por Cristo ressuscitado. Todavia, não se pode tampouco fazer abstração da Sua ressurreição e ascensão. É mencionada a ressurreição dos infernos, lembrando que Nosso Senhor desceu ao limbo onde se encontravam os justos do Antigo Testamento, para liberá-los e conduzi-los ao céu. É desse inferno que se trata aqui, como também no Credo, quando dissemos que Cristo desceu aos infernos.
Continua a oração dizendo que oferecemos à preclara majestade de Deus dos dons que Ele mesmo nos deu: oferecemos a hóstia pura, a hóstia santa, a hóstia imaculada, o pão santo da vida eterna e cálice da salvação perpétua. Lembremos que hóstia quer dizer vítima, vítima que é Nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele a hóstia pura, formada pelo Espírito Santo no seio de Maria Virgem, sem o pecado original. É Ele a hóstia santa, unida substancialmente ao Verbo de Deus, fonte de toda a santidade. É Ele a hóstia imaculada, sem mancha de qualquer pecado também atual. Ao dizer essas palavras, o padre faz três vezes o sinal da cruz sobre o corpo e o sangue de Cristo conjuntamente. Antes da consagração, o sinal da cruz tinha a função de abençoar e de preparar o pão e o vinho para a transubstanciação. Depois da consagração, sendo já o corpo e o sangue de Cristo, o sinal da cruz simplesmente designa a vítima, que é Nosso Senhor Jesus Cristo e nos lembra que a Missa é a renovação do calvário. Não se poderia abençoar aquele que é a causa de toda bênção. Depois, ao mencionar o pão santo da vida eterna e o cálice da salvação perpétua, o padre faz o sinal da cruz separadamente sobre o corpo de Cristo e o Seu sangue. Essas palavras lembram a promessa de vida eterna de Cristo para quem comer o seu corpo e beber o seu sangue. No total, temos cinco sinais da cruz, lembrando as cinco chagas do Senhor.
Devemos notar bem, caros católicos, como oferecemos a Deus aquilo que Ele mesmo nos deu. Nem poderia ser diferente. Só podemos oferecer a Deus algo bom. Tudo o que é bom vem de Deus. Deus é o autor de todo bem. Deus é quem realizou a obra da criação e da redenção: lembremos a oração de bênção da água no ofertório. Se podemos oferecer algo a Deus, é porque Ele mesmo nos deu esse algo. Se podemos oferecer o Corpo e o Sangue de Cristo, é porque Ele mesmo nos Deus Cristo, é porque o próprio Cristo se entregou a nós e por nós. Com essa oração, devemos reconhecer a soberania e a bondade de Deus para conosco.
Passamos à segunda oração depois da consagração, Supra quae propitio, que é continuação do Unde et memores. Dignai-vos lançar vosso olhar, propício e sereno, sobre estes dons. Pedimos a Deus que encontre nesses dons o Seu agrado, que Ele seja aplacado. E pedimos que aceite esses dons – que são o Corpo e o Sangue de Cristo – como Ele aceitou os sacrifícios de Abel, Abraão e Melquisedeque. É claro que sabemos que a Santíssima Trindade aceitará muito mais o sacrifício de Cristo do que esses sacrifícios do Antigo Testamento. Mas mencionamos esses sacrifícios para aumentar a nossa confiança. Se aceitou esses, aceitará muito mais e com muito mais fruto o sacrifício perfeito de Nosso Senhor. Pedimos isso também para que Deus se agrade com o padre que oferece o sacrifício nesse momento e com o povo que se une ao padre.
Entre tantos sacrifícios do Antigo Testamento, a oração cita os três mais célebres e que melhor significam o sacrifício da cruz. De modo proposital, não se faz menção dos sacrifícios do Templo, abolidos pelo sacrifício de Cristo.
Os sacrifícios de Abel e de Abraão prefiguraram o sacrifício sangrento da cruz. O sacrifício de Melquisedeque prefigura o sacrifício não sangrento da Missa. Abel ofereceu o melhor que tinha a Deus, as primícias de seu rebanho. Jesus, filho unigênito do Pai, oferece a vítima mais perfeita, o melhor que poderia ser oferecido, isto é, oferece a si mesmo. Abel é morto por seu irmão, como Jesus foi morto pelos judeus, seus irmãos de sangue. O sangue de Abel clama por vingança. O de Cristo clama para implorar o perdão dos pecados. Abel é chamado de puer, isto é, de criança, para significar a disposição pura de sua alma ao oferecer o seu sacrifício. Ele é chamado de justo pelo próprio Cristo nos Evangelhos. Não houve melhor disposição que a de Cristo ao se oferecer a si mesmo nem maior justiça que a de Cristo.
O sacrifício de Abraão aqui mencionado é o sacrifício de seu filho Isaac. Isaac, filho de Abraão, subia a montanha carregando a madeira que serviria para seu próprio sacrifício em obediência ao seu pai. Nosso Senhor, Filho de Deus, subiu a montanha do calvário carregando a madeira do seu próprio sacrifício, a cruz, em obediência a seu Pai, o Pai Eterno. Isaac não estava consciente de seu sacrifício. Nosso Senhor sempre esteve consciente do seu. Devemos também destacar as disposições de Abraão, obediente plenamente a Deus, a ponto de se dispor a sacrificar seu próprio filho. Sabemos bem que Deus não quis que o sacrifício fosse consumado, mandando um anjo para impedir o sacrifício de Isaac, pois Ele não quer sacrifícios humanos. Era uma provação da fé, da fidelidade, da obediência de Abrãao. Abraão é chamado nosso patriarca porque é o nosso pai na fé e é de sua descendência que se formou o povo eleito, do qual veio o Salvador.
O sacrifício de Melquisedeque prefigura a Missa. Melquisedeque oferecia pão e vinho. Na Missa, se oferecem à Santíssima Trindade o corpo e o sangue de Cristo sob as aparências de pão e de vinho. Melquisedeque era o rei de Salem, que quer dizer paz. É pelo sacrifício da cruz e pela sua renovação na Missa que podemos obter a paz com Deus e com nosso próximo. Melquisedeque não tinha genealogia (não são citados os seus ascendentes) ao contrário dos sacerdotes da lei mosaica, que precisavam comprovar toda a sua filiação. A genealogia desconhecida prefigura a genealogia misteriosa, isto é, divina de Cristo e lembra que o sacerdócio de Cristo não é um sacerdócio hereditário, reservado a uma família ou tribo como era o sacerdócio sob a lei de Moisés. Melquisedeque é aqui chamado sumo sacerdote justamente porque seu sacerdócio prefigura de modo excelente o sacerdócio de Cristo, que é, Ele, sim, o sumo e eterno sacerdote. O sacrifício de Melquisedeque é chamado santo e imaculado porque não envolvia derramamento de sangue, mas é chamado assim sobretudo porque prefigura o sacrifício da Missa.
Nessa oração, devemos enxergar como a Igreja quer que tenhamos as mesmas disposições dessas três figuras eminentes para que o sacrifício de Cristo seja aceito por Deus também como nosso sacrifício e para que possamos receber os frutos do sacrifício da cruz renovado sobre os altares. Devemos ter a justiça e a inocência de Abel, a fé e a obediência de Abraão, e devemos buscar a paz como Melquisedeque, isto é, devemos buscar a paz com Deus e com nosso próximo, pedindo o perdão de nossos pecados, amando a Deus e ao nosso próximo. Com essas disposições poderemos obter os benefícios sem fim da Santa Missa e Deus será propício e sereno para conosco.
Importante: No próximo dia dois de fevereiro (02/02/2018) às 19:00 horas, Festa da Purificação de Nossa Senhora, também conhecida como Nossa Senhora da Candeia ou da Candelária, haverá bênção das velas. Trazer velas para a bênção. Chegar com antecedência, pois a bênção ocorrerá no início da celebração.
Programação das Missas na Capela Nossa Senhora das Vitórias
- Missa todos os domingos às 10:00 horas, com oração do Santo Terço a partir de 09:30h Obs: O Padre atenderá confissões somente antes da missa. - Missa todos os sábados às 09:00 horas. - Missa todas as segundas, terças e quartas-feiras às 07:30 horas. - Missa todas as quintas-feiras às 19:00 horas, com exposição e bênção do Santíssimo a partir de 18:00 horas. - Missa todas as sextas-feiras às 19:00 horas.
Local: Capelania Militar Nossa Senhora das Vitórias – Capelania Militar do Exército Endereço: Rua Francisco Rocha, nº 740 - Batel - Curitiba - Pr. Referências: Hospital Geral de Curitiba (Hospital Militar) e Colégio Estadual Julia Wanderley
A Virgem, que foi mãe na terra, continua a ser mãe no céu.
Os seus filhos somos nós, os homens.
Entregou-lhes Jesus quando morria na cruz, depois de a ter feito verdadeira mãe nossa.
Como a Virgem Santíssima continua sendo mãe perfeita e a maternidade consiste em pensar continuamente nos filhos e procurar-lhes o maior bem, alegremo-nos, confiemos.
Temos no céu uma mãe que pensa constantemente em nós, que deseja sinceramente o nosso bem, que tem em suas mãos os tesouros da divindade e quer comunicar-no-los.
Descansemos confiadamente, como criancinhas, nos braços de tão boa mãe.
O egoísmo diz: pensar só em mim sem preocupar-me com os mais; procurar o meu bem estar, ainda que para isso tenha de sacrificar os mais.
A maternidade diz: esquecer-me de mim, para pensar nos outros; sacrifício próprio pelo bem dos mais.
Por isso a jovem que aspira a ser uma mãe exemplar, tem que preparar-se arrancando todos os rebentos do egoísmo e acostumando-se ao sacrifício.
Não se prepara a que cultiva o egoísmo. A que procura o seu prazer sem preocupar-se com o bem dos outros. A que tem como plano diário - aonde e como gozarei mais?
A que pretende ser um ídolo a quem todos adorem: os pais, os irmãos, as amigas, o noivo; e mais tarde, o marido, os filhos, e os criados.
Numa jovem assim, o egoísmo abafará o instinto da maternidade.
Quando for esposa, não quererá o peso dos filhos, porque custam muitos sofrimentos, e ela não sabe sofrer.
O máximo aceitará um ou dois, para que alegrem a casa e a acompanhem quando estiver só, pois a solidão é muito triste.
E a esses filhos só dará o imprescindível: não os amamentará nem alimentará quando os pequenos, não cuidará deles quando maiores, não os educará. Tem que divertir-se e não pode estar presa ao lar.
Quando os filhos forem maiores e pretenderem tomar estado de vida, irritar-se-á e, se puder, evitá-lo-á. Quer que, quando ela seja idosa e não possa divertir-se e todas a abandonarem, aquele filho ou filha estejam sempre ao seu lado, acompanhando-a e mimando-a; ainda que os filhos tenham de sacrificar os seus ideais de matrimônio, de apostolado e todo o seu futuro.
Essa mulher, embora tenha filhos, não tem a grandeza de uma mãe. Não merece a veneração dos seus filhos, porque nada há tão pouco apreciável como o egoísmo, e ela é egoísta.
A que aspira a ser mãe perfeita, deve cultivar o instinto da maternidade, fazendo obras de caridade que requeiram sacrifício.
A mulher que não é nem mãe material nem mãe espiritual, atrofia na sua natureza esse instinto precioso que torna venerável a mulher, concentra-se em si mesma, e prepara o caminho para o histerismo.
Depois de andar a pensar nove meses como seria o seu filho, quando Maria o teve por fim nos seus braços, quando viu que as profecias e as criações da sua imaginação não igualavam a realidade, então, sim, esqueceu-se por completo de si mesma para pensar no seu filho e sacrificar-se por Ele.
Doravante só terá olhos para ver o seu filho, ouvidos para escutar os seus desejos, mãos para trabalhar por ele, lábios para o beijar, coração para o amar.
Ela dará a Jesus tudo o que uma mãe pode dar a um filho, e mais ainda porque aquele seu filho não tinha pai na terra.
Dar-lhe-á à custa dos maiores sacrifícios: pátria, lar, comodidades, tudo. Como mãe ideal, sofrerá também o martírio da separação, quando lho peça o Eterno Pai.
Primeiro será uma breve separação, de três dias, mas muito dolorosa: "procuramos-te com o coração dorido". Era o prelúdio do martírio. Depois, será uma separação maior, quando Jesus abandonar a casinha de Nazaré para consagrar-se à vida apostólica. Por fim a separação mais dolorosa. Os verdugos o levarão para conduzi-lo aos tribunais, condená-lo à morte, e cravá-lo numa cruz.
Este sacrifício supremo pede-lho seu próprio Filho; e ela aceita-o com heroísmo de Rainha dos mártires.
Maria de pé, junto à cruz de seu filho, presenciando a sua agonia, chorando, com o coração despedaçado, mas não abatida nem desesperada.
Maria com os braços abertos, porque lhe arrancaram deles o cadáver de seu filho, com os olhos fixos no céu, oferecendo a Deus o sacrifício da sua alma, aí tendes a maternidade na sua grandeza mais heroica. Aí tendes a mãe ideal.
Alexandre Magno, quando sitiava uma cidade, mandava acender uma grande fogueira e comunicar aos habitantes do lugar que, enquanto a fogueira estivesse acesa, podiam alcançar perdão.
Deus é também magnânimo. Por isso, todo homem, enquanto permanecer acesa a chama de sua vida, pode contar com a misericórdia de Nosso Senhor.
O mais arriscado, porém, é deixar a conversão e o cuidado da alma para a última enfermidade, para o último instante de vida.