18 de janeiro de 2009

FILOSOFIA TOMISTA


A PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS ESTÁ INSCRITA NA DISTINÇÃO DA ESSÊNCIA E DA EXISTÊNCIA CARACTERÍSTICA DE TODO O SER FINITO
Santo Tomás de Aquino
("O Ente e a Essência", cap.V)

"Tudo aquilo que não entra no conceito da essência ou da qüididade vem-lhe do exterior e entra na composição dela. Pois, se nenhuma essência pode ser concebida sem os seus elementos, toda a essência pode ser concebida sem que a sua existência o seja. Eu posso, com efeito, conceber o que é o homem ou a fênix, embora ignorando se um ou outro existe realmente. É pois evidente que a existência é diferente da essência ou da qüididade, a menos que exista um ser cuja essência seja o próprio existir. Pois não pode haver pluralidade senão pela adição duma diferença, como para o gênero que se diversifica em espécies; ou, então, pela recepção duma forma em matérias diferentes, como para a espécie dividida em indivíduos; ou então ainda pela diferença daquilo que uma coisa é em si mesma e daquilo que ela é numa outra, como uma calor separado seria, pela sua separação, diferente dum calor não separado.

Supondo que exista um ser que seja o ato puro de existir, ao ponto de ser a própria existência subsistente, tal ser não poderia receber nenhuma adição de diferença, porque nessa altura não seria o ato puro de existir, mas a existência mais uma certa forma; ainda menos receberia a adjunção duma matéria, porque nessa altura não seria a existência subsistente, mas uma existência material. Resta, portanto, que tal ser, que é para si mesmo o seu próprio existir, não pode deixar de ser único. É preciso, pois, que em todo o ser para além deste a existência seja distinta da sua qüididade ou natureza, ou da sua forma. Eis porque nos seres espirituais é preciso que haja existência para além da forma, aliás diz-se que o ser espiritual é forma e existência.

Ora, tudo o que convém a uma coisa, ou deriva dos princípios da sua natureza, como o poder de rir no homem, ou então é recebido de qualquer princípio extrínseco, como a atmosfera recebe a luz do sol. Mas é impossível que o existir duma coisa seja produzido pela forma ou a qüididade dessa coisa, quero dizer a título de causa eficiente, pois nessa altura tal coisa seria para si mesma a sua própria causa e daria a si mesma o seu próprio existir, o que não é possível. É preciso, pois, que todas as coisas cuja existência é diferente da essência devam a sua existência a uma outra. E como tudo o que existe por um outro se liga àquilo que existe por si, como à causa primeira, é preciso portanto que haja uma realidade que seja a causa de existência para todas as coisas, pelo fato de que ela própria é o ato puro de existir. Doutra maneira, ir-se-ia indefinidamente de causa em causa, uma vez que tudo o que não é ato puro de existir deve o seu existir a uma causa. É, pois, evidente que mesmo o ser espiritual é forma e existência, e que ele deve a existência ao ser primeiro que é ato puro de existir. Tal é a causa primeira que é Deus".

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