17 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A SEXTA-FEIRA

Da condenação de Jesus e subida ao Calvário
1. Pilatos, com medo de perder as boas graças de César, depois de haver declarado tantas vezes a inocência de Jesus, condenou-o finalmente a morrer crucificado. Ó meu inocentíssimo Salvador, que delito cometestes para serdes condenado à morte? pergunta S.Bernardo, e responde: O vosso pecado é o vosso amor. O vosso pecado é o grande amor que nos tendes, é ele que mais do que Pilatos vos condena à morte. Lê-se a iníqua sentença. Jesus a escuta e todo resignado a aceita, submetendo-se à vontade do eterno Padre, que o quer ver morto e morto na cruz por nossos pecados: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte de cruz” (Fl 2,8). Ah, meu Jesus, vós aceitastes inteiramente inocente a morte por meu amor; eu, pecador, por vosso amor, aceito a morte quando e como vos aprouver. Lida a sentença, precipitam-se com fúria sobre o inocente cordeiro, impõem-lhe novamente suas vestes e apresentam-lhe a cruz feita com duas toscas traves. Jesus não espera que lha imponham, ele mesmo a abraça, beija-a e coloca-a sobre seus feridos ombros, dizendo: “Vem, minha querida cruz, há trinta anos que eu te busco; quero morrer por ti por amor de minhas ovelhas”. Ah, meu Jesus, que podíeis fazer ainda para obrigar-me a vos amar? Se um criado meu se tivesse oferecido unicamente a morrer por mim, teria conquistado todo o meu amor. Como, pois, pude eu viver tanto tempo sem vos amar, sabendo que vós, meu sumo e único senhor, morrestes por mim? Eu vos amo, ó sumo bem, e, porque vos amo, arrependo-me de vos ter ofendido.
2. Os condenados deixam o tribunal e se dirigem para o lugar do suplício: entre eles se acha também o rei do céu com a cruz às costas: “E carregando sua cruz se encaminhou para o lugar que se chama Calvário” (Jo 19,17). Saí também vós do paraíso, ó serafins, e vinde acompanhar o vosso Senhor que sobre o Calvário para ser crucificado. Ó espetáculo! Um Deus que vai ser crucificado pelos homens! Minha alma, contempla o teu Salvador que vai morrer por ti. Vê como está com a cabeça curvada, com os olhos trêmulos, todo coberto de feridas, escorrendo sangue com aquele feixe de espinhos na cabeça e aquele pesado madeiro sobre os ombros. Ó Deus, com que dificuldade caminha ele, parecendo que vai expirar a cada passo que dá. Ó Cordeiro de Deus, aonde ides? Vou morrer por ti. Quando me vires morto, recorda-te do amor que te mostrei e ama-me. Ah, meu Redentor, como pude viver até agora esquecido do vosso amor? Ó pecados meus, vós haveis amargurado o coração de meu Senhor, esse coração que tanto me amou. Ó meu Jesus, arrependo-me da injustiça que vos fiz, agradeço-vos a paciência que tendes tido comigo e vos amo: amo-vos com toda a minha alma e só a vós eu quero amar. Recordai-me sempre do amor que me consagrastes, para que eu nunca mais deixe de vos amar.
3. Jesus Cristo sobe o Calvário e nos convida a segui-lo. Sim, meu Senhor, vós, inocente, ides adiante com a vossa cruz; pois bem, caminhai, que eu não vos abandonarei. Enviai-me a cruz que quiserdes, que eu a abraço e com ela quero acompanhar-vos até à morte. Quero morrer juntamente convosco, como vós morrestes por mim. Vós me mandais que eu vos ame e eu nada mais desejo senão amar-vos. Meu Jesus, vós sois e sempre haveis de ser meu único amor. Ajudai-me a vos permanecer fiel. Maria, minha esperança, rogai a Deus por mim.

16 de maio de 2024

Programação de Missas no Apostolado do IBP Curitiba

Na Capela, Rua Lamenha Lins, 2115, Rebouças
⛪ 5ª feira, 16/05
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪ 6ª feira, 17/05
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪ Sábado, 18/05
Vigilia de Pentecostes
17h00, Vigília e Missa Cantada

⛪ Domingo, 12/05
Domingo de Pentecostes

08h00, Confissões
08h30, Missa Rezada

09h30, Confissões
10h00, Missa Cantada

18h30, Confissões
19h00, Missa Rezada

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A QUINTA-FEIRA

Da coroação de espinhos e das palavras “Ecce Homo”
1. Não contentes com a horrenda dilaceração feita no sacrossanto corpo de Jesus com a flagelação, os carnífices, instigados pelo demônio, e pelos judeus, querendo tratá-lo como rei de teatro, cobrem-lhe os ombros com um trapo de cor vermelha, para simbolizar o manto real, e colocam-lhe na cabeça um feixe de espinhos trançados em forma de coroa e uma cana na mão para significar o cetro. E para que essa coroa não servisse só para ludíbrio, mas também para tormento, com a tal cana calcavam-lhe os espinhos na cabeça para que o ferissem e traspassassem. Assim, os espinhos chegaram a penetrar até o cérebro, no dizer de S. Pedro Damião, e tanto era o sangue que escorria das feridas, que ficaram repletos de sangue os olhos, a barba, os cabelos de Jesus, como foi revelado a S. Brígida. Esse tormento da coroação foi por si dolorisíssimo e foi também o mais longo entre os sofrimentos que lhe infligiram até à sua morte e cada vez que se tocava ou na coroa ou na cabeça se renovavam as horrendas dores. Ah, espinhos ingratos, que fazeis? assim atormentais o vosso Criador? Mas que espinhos? Minha alma, foste tu que com teus maus pensamentos consentidos feriste a cabeça de teu Senhor. Meu caro Jesus, vós sois o rei do céu, mas estais reduzido a rei de opróbrios e de dores. Eis a que estado vos reduziu o amor por vossas ovelhas. Ó meu Deus, eu vos amo, mas enquanto vivo estou em perigo de abandonar-vos e negar-vos o meu amor, como fiz até agora. Meu Jesus, se sabeis que eu vos ofenderei de novo, fazei que morra agora, que espero estar em vossa graça. Oh! não permitais que eu torne a perder-vos: por minhas culpas bem mereceria essa desgraça, mas vós seguramente não merecereis que vos abandone novamente. Não, meu Jesus, não quero perder-vos de novo.
2. Aquela chusma indigna, não satisfeita com ter coroado tão barbaramente a Jesus Cristo, quer motejar dele e multiplicar as afrontas e os ultrajes. Ajoelham-se por isso diante dele e, zombando, saúdam-no: Ave, rei dos judeus; cospem-lhe na face, dão-lhe bofetadas e o insultam com gritos e risadas de desprezo. (Mt 27,39; Jo 19,3). Ah, meu Senhor, a que estado estais reduzido? Se alguém passasse por ali e visse esse homem assim deformado, coberto com esse trapo de púrpura, com aquele cetro na mão, aquela coroa na cabeça e tão escarnecido e maltratado por aquela gentalha, por quem o tomaria senão pelo homem mais infame e celerado do mundo? Eis, pois, o Filho de Deus feito o ludíbrio de Jerusalém. Ah, meu Jesus, se contemplo externamente o vosso corpo, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se entro no vosso coração, não encontro senão amarguras e angústias que vos fazem sofrer agonias. Ah, meu Deus, quem poderia humilhar-se a sofrer tanto por suas criaturas, senão vós, que sois uma bondade infinita? Mas, porque sois Deus, amais como Deus. Essas chagas que em vós vejo são provas do amor que me tendes. Oh! se todos os homens vos contemplassem no estado de dor e vitupério em que um dia fostes visto por toda a Jerusalém, quem poderia deixar de ser presa de vosso amor? Senhor, eu vos amo e me dou todo a vós: eis aqui meu sangue, minha vida, tudo eu vos ofereço: eis-me pronto a padecer e morrer como vos aprouver. E como poderia negar-vos alguma coisa, se vós me não negastes nem o vosso sangue nem vossa vida? Aceitai o sacrifício que vos faz de si mesmo um mísero pecador, que agora vos ama de todo o seu coração.
3. Depois de reconduzido a Pilatos, Jesus foi mostrado por este ao povo com as palavras: “Eis aqui o homem” (Jo 19,5). Queria dizer: Eis o homem que trouxestes ao meu tribunal, acusando-o de ter pretendido fazer-se rei; eis que esse temor desapareceu; pois, como vedes, o reduzistes a tal estado que pouco poderá viver. Deixai-o, portanto, morrer em sua casa, e não me obrigueis a condenar um inocente. Os judeus, porém, mais enfurecidos, gritaram loucamente: “Seu sangue caia sobre nós” (Mt 27,25) e depois: Que seja crucificado. Tira-o, tira-o, crucifica-o! (Jo 19,25). Como Pilatos mostrava do balcão Jesus ao povo, assim também o eterno Pai do céu apontava-nos seu Filho, dizendo-nos igualmente: Eis aí o homem que eu vos prometi para vosso redentor e tão suspirado por vós: esse é o meu único Filho, que eu amo como a mim mesmo. Ei-lo tornado por vosso amor o homem mais cheio de dores e mais desprezado entre todos os homens. Contemplai-o e amai-o. Ah, meu Deus, eu contemplo esse vosso Filho e o amo, mas contemplai-o também e, pelo merecimento de suas dores e desprezos, perdoai-me todas as ofensas que eu vos tenho feito. O sangue desse Deus, que é vosso Filho, caia sobre nossas almas e nos obtenha a vossa misericórdia. Eu me arrependo, ó bondade infinita, de vos ter ofendido e me arrependo de todo o coração. Conheceis, porém, a minha fraqueza: ajudai-me, Senhor, tende piedade de mim. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

15 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A QUARTA-FEIRA

Da flagelação de Jesus Cristo
1. Vendo Pilatos que os judeus não deixavam de exigir a morte de Jesus, condenou-o aos flagelos. “Então Pilatos se apoderou de Jesus e mandou açoitá-lo” (Jo 19,1). Julgou o juiz injusto que com isso acalmaria seus inimigos. Esta saída teve um resultado sumamente doloroso para Jesus. Os judeus supondo que Pilatos, depois de tal suplício, o poria em liberdade, como o havia abertamente declarado: “Depois de castigado o soltarei... Castigá-lo-ei e o soltarei” (Lc 23,16 e 22), corromperam os carrascos para que o flagelassem de tal modo que viesse a perder a vida no suplício. Entra, minha alma, no pretório de Pilatos, transformado nesse dia em horrendo teatro de dores e de ignomínias do Redentor, e vê como se despoja de suas vestes (como foi revelado a S. Brígida) e abraça a coluna, dando com isso aos homens uma evidentíssima prova de como se submetia voluntariamente aos mais desumanos sofrimentos e de quanto os amava. Contempla como esse cordeiro, com a cabeça baixa e todo envergonhado, espera por esse martírio. Eis que aqueles bárbaros como cães danados já se lançam sobre ele. Contempla aqueles impiedosos carrascos, dos quais uns lhe batem no peito, outros lhe flagelam as cosas, estes lhe retalham os flancos, aqueles outros as demais partes de seu corpo: mesmo sua cabeça sagrada e sua bela face não são poupadas. O sangue divino já corre de todas as partes: esse sangue já cobre os azorragues e as mãos dos carrascos, a coluna e até a terra. Ó Deus: já não encontrando mais esses bárbaros parte sã para ferir, ajuntam chagas a chagas e dilaceram por completo seu corpo sacrossanto. “E sobre a dor de minhas chagas acrescentaram novas chagas” (Sl 68,27). Ó minha alma, como pudeste ofender um Deus flagelado por ti? E vós, ó meu Jesus, como pudestes padecer tanto por um ingrato? Ó chagas de Jesus, vós sois a minha esperança. Ó meu Jesus, vós sois o único amor de minha alma.
2. Foi sumamente dolorosa aquela flagelação, pois, conforme foi revelado a S. Maria Madalena de Pazzi, os verdugos foram sessenta, sucedendo uns aos outros, e os instrumentos escolhidos para esse fim foram tão desumanos que cada golpe fazia uma ferida. Os golpes chegaram a vários milhares, pois que puseram a descoberto os ossos das costas de nosso Redentor, como foi revelado a S. Brígida. O certo é que fizeram tanto estrago que Pilatos julgou poder mover à compaixão seus mesmos inimigos, razão por que, do alto de seu palácio, lhes mostrou Jesus, dizendo: “Eis aqui o homem” (Jo 19,5). O profeta bem nos predisse o estado doloroso a que seria reduzido nosso Salvador na sua flagelação, dizendo que sua carne deveria ser toda pisada e seu corpo bendito se tornaria semelhante ao de um leproso todo coberto de chagas: “Foi quebrantado pelos nossos crimes e nós o reputamos como um leproso” (Is 53, 4-5). Ah, meu Jesus, eu vos agradeço tão grande amor; desagrada-me muito haver-me unido aos que vos flagelavam. Detesto todos os meus malditos prazeres, que vos custaram tantas dores. Fazei-me recordar constantemente do amor que me tendes, par que vos ame e não vos ofenda mais. Mereceria um inferno à parte se, depois de haver conhecido o vosso amor e depois de me haverdes perdoado tantas vezes, eu vos ofendesse novamente e me condenasse. Ah, esse amor e essa misericórdia seriam para mim no inferno um novo inferno ainda mais tormentoso. Não, meu amor, não o permitais. Eu vos amo, ó sumo bem, eu vos amo de todo o meu coração e quero amar-vos sempre.
3. Para pagar, pois, as nossas culpas e particularmente as de impureza, quis Jesus suportar esse grande suplício em suas carnes inocentes. Nós ofendemos a Deus, Senhor, e vós quisestes pagar a pena. Seja para sempre bendita a vossa infinita caridade. Que seria de mim, ó meu Jesus, se não tivésseis satisfeito por mim? Oh! nunca vos tivesse eu ofendido. Mas, se, pecando, desprezei o vosso amor, agora não desejo outra coisa que amar-vos e ser amado por vós. Vós dissestes que amais a quem vos ama. Eu vos amo sobre todas as coisas, vos amo com toda a minha alma; fazei-me digno de vosso amor. Sim, espero que me tenhais perdoado e que presentemente, por vossa bondade, me ameis. Ah, meu caro Redentor, prendei-me cada vez mais estreitamente ao vosso amor, não permitais que eu me separe jamais de vós. Eis-me aqui, inteiramente vosso, castigai-me como quiserdes. mas não permitais que eu fique privado de vosso amor. Fazei que vos ame e disponde de mim como vos aprouver. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

14 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A TERÇA-FEIRA

Da prisão e apresentação de Jesus aos judeus
1. Judas entra no horto e, entregando com um beijo o seu Mestre, caem sobre Jesus aqueles insolentes ministros e o encadeiam como a um celerado (Jo 18,12). Um Deus preso? E por quê? E por quem? Por suas próprias criaturas. Que dizeis, ó anjos do céu? E vós, ó meu Jesus, por que vos deixais prender? “Ó Rei dos reis, que há de comum entre vós e as cadeias?” pergunta S. Bernardo. Que relação existe entre as cordas dos escravos e dos réus com o Rei e o Santo dos santos? Mas se os homens se atrevem a vos prender, vós, que sois onipotente, por que não vos desprendeis e livrais dos tormentos que esses bárbaros vos preparam? Ah, compreendo, não são propriamente essas as cordas que vos prendem: é o amor para conosco que vos ata e condena à morte. Vê, ó homem, como aqueles cães maltratam a Jesus, diz S. Boaventura; estes o agarram, aqueles o empurram, uns o amarram, outros lhe batem. Contempla então a Jesus, que como um manso cordeiro se deixa conduzir e sacrificar sem resistência. E vós, discípulos, que fazeis? Por que não socorreis a fim de arrancá-lo das mãos dos inimigos? Pelo menos, por que não o acompanhais para defender a sua inocência diante dos juízes? Mas, ó Deus, até os discípulos, ao vê-lo preso e acorrentado, fogem e o abandonam (Mc 14,50). Ó meu Jesus abandonado, quem tomará a vossa defesa, se até os que vos são mais caros vos abandonam? E ver que essa injúria não teve fim com a vossa paixão! Quantas almas, depois de se haverem consagrado à vossa imitação e recebido muitas graças especiais, vos abandonaram por qualquer paixão de vil interesse, ou de respeito humano, ou louco prazer. Infeliz de mim, que sou um esses ingratos. Ó meu Jesus, perdoai-me, que eu não quero mais deixar-vos. Eu vos amo e prefiro perder a vida a perder a vossa graça.
2. Conduzido à presença de Caifás, este o interroga a respeito de seus discípulos e sua doutrina. Jesus responde que não havia falado em segredo, mas em público, e que os que o rodeava bem sabiam o que havia ensinado (Jo 18,20). A tal resposta um dos ministros, dizendo-o temerário, dá-lhe uma horrível bofetada, perguntando-lhe: “É assim que respondes ao pontífice?” (Jo 18,22). Ó paciência de meu Senhor! Como é possível que uma resposta tão sensata mereça uma afronta tão grande na presença de tanta gente e do próprio pontífice que, em vez de repreender aquele insolente, antes o aplaude com seu silêncio? Ah, meu Jesus, vós sofrestes tudo para pagar as afrontas que eu, temerário, vos fiz. Ó meu amor, eu vos agradeço. Eterno Pai, perdoai-me pelos merecimentos de Jesus. Meu Redentor, eu vos amo mais do que a mim mesmo. Em seguida o iníquo pontífice o interrogou se ele era em verdade o Filho de Deus. Jesus, por respeito ao nome de Deus, que tinha sido invocado, respondeu que sim. Caifás rasgou então suas vestes, afirmando ter Jesus blasfemado. E todos gritaram que ele era digno de morte! (Mt 26,66). Sim, meu Salvador, sois de fato réu de morte, pois que vos obrigastes a satisfazer por mim, que sou em verdade réu de morte eterna. Visto, porém, que com a vossa morte me adquiristes a vida, é justo que eu consagre a vós toda a minha vida. Eu vos amo e nada mais desejo senão amar-vos. E depois que vós, o maior de todos os reis, quisestes por meu amor ser desprezado mais do que todos os homens, eu quero por vosso amor sofrer todas as afrontas que me forem feitas. Pelos merecimentos de vossos desprezos, dai-me a força para suportá-los.
3. Tendo o conselho dos sacerdotes declarado Jesus Cristo réu de morte, aquela gentalha pôs-se a maltratá-lo toda a noite com bofetadas, pontapés e escarros, como a um homem infame (Mt 27,67). E ainda zombaram dele, dizendo: “Adivinha, ó Cristo, quem foi que te bateu?” (Mt 26,68). Ah, meu caro Jesus, eles vos esbofeteiam, vos cospem no rosto e vós vos calais, e como um cordeiro tudo sofreis por nós, sem vos lamentar (Is 53,7). Mas, se eles não vos conhecem, eu vos reconheço por meu Deus e Senhor e protesto que sei muito bem que tudo o que padeceis, padeceis como inocente e só por amor de mim. Eu vos agradeço, ó meu Jesus, e vos amo de todo o meu coração. Tendo despontado o dia, conduzem Jesus a Pilatos, par que fosse condenado à morte. Pilatos, entretanto, o declarou inocente; mas, para livrar-se dos judeus que continuavam a vociferar, o enviou a Herodes. Este, desejando presenciar qualquer prodígio por mera curiosidade, interrogou-o sobre muitas coisas. Jesus, porém, se cala e não lhe dá resposta, visto que ele não a merecia. Por isso, o rei soberbo o desprezou soberanamente e mandou que o revestissem com a veste dos loucos, uma túnica branca. Ó Sabedoria eterna, ó meu Jesus, essa injúria ainda vos faltava, a de ser tratado como louco. Ó Deus, também eu vos desprezei no passado como Herodes. Não me castigueis, porém, como a Herodes, negando-me a vossa voz. Herodes não vos reconheceu por quem éreis; eu vos reconheço por meu Deus; Herodes não se arrependeu de vos ter injuriado, mas eu me arrependo de todo o coração; Herodes não vos amou, mas eu vos amo sobre todas as coisas. Não me negueis, portanto, a voz de vossas inspirações. Dizei-me o que quereis de mim, que eu quero fazer tudo com a vossa graça. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

13 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA A SEGUNDA-FEIRA

Do suor de sangue e agonia de Jesus no horto
1. Nosso amante Redentor, aproximando-se a hora da morte, dirigiu-se ao horto de Getsêmani, onde ele mesmo iniciou a sua doloríssima paixão, permitindo ao temor, ao tédio e à tristeza que viessem atormentá-lo (Mc 14,33; Mt 26,37). Começou, pois, a sentir um grande pavor e tédio da morte e dos sofrimentos que deviam acompanhá-la. Com toda a vivacidade apresentaram-se-lhe à mente os flagelos, os espinhos, os cravos, a cruz e não em separado, mas tudo de uma só vez veio afligi-lo e de modo especial o atormentou a vista da morte que devia sofrer abandonado de todo o auxílio humano e divino. Aterrorizado com a vista horrenda de tantos maus tratos e ignomínias, pediu ao Padre eterno que lhe poupasse esses tormentos: “Pai, se for possível, passe de mim este cálice” (Mt 26,39). Mas como? Não foi Jesus que tanto desejara sofrer e morrer pelos homens, quando dizia: “Devo ser batizado com um batismo e em que ansiedade me sinto eu até que ele se cumpra” (Lc 12,50). Como, pois, teme assim essas penas e essa morte? Ah, ele bem desejava morrer por nós, mas para que não pensássemos que ele morreria sem dores em virtude de sua divindade, fez aquele pedido ao Pai, para que ficássemos cientes de que não só morria por nosso amor, mas também sujeito a uma morte tão dolorosa, que lhe causava grande pavor.
2. Além disso, uma grande tristeza se apodera do aflito Senhor, chegando ele a dizer que ela só bastaria para lhe dar a morte. “Minha alma está triste até à morte” (Mt 26,38). Mas, Senhor, está em vossas mãos livrar-nos da morte que vos preparam os homens: por que, pois, vos afligis? Ah, não foram tanto os tormentos da paixão como os nossos pecados que mais afligiram o coração de nosso amante Salvador. Viera à terra para destruir o pecado; vendo, porém, que, apesar de toda a sua paixão, se continuaria a cometer tantos crimes no mundo, essa vista fê-lo sofrer o tormento da morte antes de morrer, e suar sangue em tanta abundância, que banhou a terra em redor dele: “E seu suor se fez como gotas de sangue, correndo sobre a terra” (Lc 22,44). Sim, isso sucedeu unicamente porque Jesus se viu em presença de todos os pecados que os homens haveriam de cometer depois de sua morte, todos os ódios, desonestidades, furtos, blasfêmias, sacrilégios e assim cada culpa vinha por sua vez dilacerar-lhe o coração com sua malícia como uma fera cruel. Dizia então consigo: é esta, pois, a vossa gratidão, ó homens, ao meu amor? Se eu vos soubesse gratos, com que alegria não morreria por vós! Mas ver, depois de tantos sofrimentos, tantos pecados, depois de um amor tão grande, tanta ingratidão, é isso o que me faz suar sangue. Logo, meu amado Jesus, foram os meus pecados que então tanto vos afligiram. Se eu tivesse pecado menos, teríeis sofrido menos. Quanto maior foi o prazer que me procurei, ofendendo-vos, tanto mais vos afligi então. E como não morro de dor, pensando que eu paguei o vosso amor aumentando a vossa pena e tristeza. Eu afligi, pois, esse coração que tanto me amou. Às criaturas tenho-me mostrado mui grato, só convosco tenho sido ingrato. Perdoai-me, meu Jesus, eu me arrependo de todo o meu coração.
3. Vendo-se Jesus carregado com os nossos pecados, prostrou-se com a face por terra (Mt 26,39), como envergonhado de levantar os olhos para o céu, e posto em agonia rezava com maior instância (Lc 22,43). Nessa hora, Senhor, vós suplicastes ao Padre eterno que me perdoasse, oferecendo-vos a morrer em satisfação de minhas culpas. Minha alma, como não te rendes a tão grande amor? Contudo, acreditando nisso, podes amar alguém fora de Jesus? Eia, pois, lança-te aos pés de teu Senhor agonizante e dize-lhe: Meu caro Redentor, como pudestes amar a quem tanto vos ofendeu? Como pudestes sofrer a morte por mim, vendo a minha ingratidão? Fazei-me participante da dor que sentistes no horto. Eu detesto todos os meus pecados e uno este meu arrependimento à aversão que deles sentistes em Getsêmani. Ó amor de meu Jesus, tu és o meu amor. Senhor, eu vos amo e por vosso amor eu me ofereço a padecer toda espécie de pena e de morte. Pelos merecimentos da agonia que sofrestes no horto, dai-me a santa perseverança. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

12 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

OPÚSCULO VII

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO PARA CADA DIA DA SEMANA

MEDITAÇÃO PARA O DOMINGO

Do amor de Jesus em padecer por nós
1. O tempo depois da vinda de Jesus Cristo não é mais tempo de temor, mas de amor, como predisse o profeta: “O teu tempo, o tempodos que amam” (Ez 16,8), já que um Deus veio para morrer por nós: “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). Na lei antiga, antes de o Verbo se encarnar, podia o homem duvidar, assim direi, se Deus o amava com ternura; depois, porém, de vê-lo morrer por nós exangue e desprezado sobre um patíbulo infame, não podemos mais duvidar que ele nos ama com toda a ternura. E quem poderá chegar a compreender o excesso do amor do Filho de Deus para conosco, querendo pagar a pena devida aos pecados? “Em verdade ele tomou sobre si as nossas fraquezas e sobrecarregou-se com as nossas dores. Foi ferido por causa de nossas iniqüidades e quebrantado por nossos crimes” (Is 53,4-5). Tudo isso foi resultado do grande amor que nos tem. “Ele nos amou e nos lavou no seu sangue” (Ap 1,5). Para nos lavar da sordidez de nossos pecados, quis ele esvair-se em sangue para com ele nos preparar um banho de salvação. Ó misericórdia, ó amor infinito de um Deus! Ah, meu Redentor, muito fizestes para que vos amasse e mui ingrato seria se não vos amasse com todo o coração. Meu Jesus, eu vos desprezei porque vivi até agora esquecido do vosso amor: vós, porém, não vos esquecestes de mim. Eu voltei-vos as costas e vós correstes após mim; eu vos ofendi e vós tantas vezes me perdoastes; eu tornei a ofender-vos e vós tornastes a perdoar-me. Ó Senhor, por aquele afeto com que me amastes sobre a cruz, ligai-me estreitamente a vós com as suaves cadeias de vosso amor; ligai-me, porém, de tal maneira que eu não possa mais separar-me de vós. Eu vos amo, ó sumo Bem, e quero amar-vos sempre no futuro.
2. O que mais nos deve inflamar a amar Jesus Cristo não é tanto a sua morte, nem as dores e as ignomínias sofridas por nós, como o fim que ele tinha em vista, padecendo por nós tantas e tão grandes penas, isto é, patentear-nos o seu amor e conquistar os nossos corações. “Nisso conhecemos a caridade de Deus, que ele sacrificou sua vida por nós” (1Jo 3,16). Não era absolutamente necessário que Jesus sofresse tanto e morresse por nós: seria suficiente derramar uma só gota de seu sangue ou uma só lágrima em nosso favor: essa gota de sangue ou lágrima derramada por um Homem-Deus bastaria para salvar mil mundos; ele quis, porém, derramar todo o seu sangue, quis sacrificar sua vida num mar de dores e desprezos para nos fazer compreender o grande amor que nos tem e para nos obrigar a amá-lo. “A caridade de Cristo nos impele” (2Cor 5,14). S. Paulo não diz a paixão, a morte, mas o amor de Jesus Cristo nos força a amá-lo. “Por todos morreu Cristo, para que os que vivem já não vivam para si, mas só para aquele que morreu por eles” (2Cor 5,15). Vós, pois, ó meu Jesus, morrestes por nós, para que nós todos vivêssemos só para vós e vosso amor! Mas, meu pobre Senhor, permiti que assim vos chame, vós sois tão amável, que chegastes a padecer tanto para ser amado pelos homens; quantos, porém, vos amam? Vejo-os todos interessados em amar, uns as riquezas, outros as honras, estes os prazeres, aqueles os parentes, alguns os amigos, outros até os animais, mas mui poucos os que vos amam verdadeiramente a vós que sois digno de todo o amor. Sim, quão poucos, ó Deus! Entre esses poucos desejo eu estar, apesar de vos ter ofendido pelo passado, amando a lama coo os outros; agora, porém, eu vos amo sobre todas as coisas. Ó meu Jesus, as penas que por mim sofrestes obrigam-me a amar-vos; o que, porém, mais me prende a vós e me arrebata por vós é ver o amor que me demonstrares, padecendo tanto para ser por mim amado. Sim, ó meu Senhor amabilíssimo, vós vos destes por amor todo a mim; eu por amor me dou todo a vós. Vós morrestes por meu amor e eu por vosso amor quero morrer quando e como vos aprouver. Permiti que eu vos ame e ajudai-me com vossa graça e fazê-lo dignamente.
3. Não há coisa que possa acender mais em nós o fogo do amor divino que a consideração da paixão de Jesus Cristo. S. Boaventura diz que as chagas de Jesus Cristo, por serem chagas de amor, são dardos que ferem os corações mais duros e chamas que abrasam os ânimos mais gelados. Uma alma que crê e pensa na paixão do Senhor não poderá ofendê-lo e deixar de amá-lo e mesmo de elanguescer de amor, vendo um Deus quase fora de si por amor de nós. “Vimos a Sabedoria como que enlouquecida pelo excesso de amor”, e diz S. Lourenço Justiniano. Por isso os pagãos, segundo o Apóstolo, ouvindo a pregação da paixão de um Deus crucificado, julgavam-na uma loucura. “Nós pregamos Cristo crucificado, que é para os judeus um escândalo e para os pagãos uma loucura” (1Cor 1,23). Como é possível, perguntavam, que um Deus onipotente e felicíssimo, como esse que se nos prega, tenha querido morrer por suas criaturas? Ah, Deus amante apaixonado dos homens, como é possível que uma bondade tão grande e um amor tão forte seja tão mal correspondido pelos homens? Costuma-se dizer que amor com amor se paga: mas o vosso amor com que amor poderá ser pago? Seria necessário que um outro Deus morresse por vós para compensar o amor que nos testemunhastes morrendo por nós. Ó cruz, ó chagas, ó morte de Jesus, vós muito me constrangeis a amá-lo. Ó Deus eterno e infinitamente amável, eu vos amo, eu quero viver só para vós, só para vos agradar. Dizei-me o que quereis de mim, que eu quero fazer tudo. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

11 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VIII

Jesus morto na cruz
Cristão, levanta os olhos, e contempla Jesus morto sobre aquele patíbulo com o corpo cheio de chagas que ainda correm sangue. A fé ensina que ele é teu Criador, teu Salvador, a tua vida, teu libertador, aquele que mais te ama que qualquer outro e o único que pode fazer-te feliz. Sim, meu Jesus, eu o creio: vós sois aquele que me amou desde toda a eternidade sem nenhum mérito meu; mesmo prevendo as minhas ingratidões, me destes o ser unicamente por pura bondade. Vós sois o meu Salvador, que me livrastes por vossa morte do inferno tantas vezes merecido. Vós sois a minha vida pela graça que me estes, pois sem ela permaneceria morto para sempre. Vós sois o meu Pai e Pai amoroso que me perdoou misericordiosamente tantas injúrias que vos fiz. Vós sois o meu tesouro, que me enriqueceu com tantas luzes e favores em vez e castigos que eu merecia. Vós sois a minha esperança, já que eu não posso esperar bem algum de quem quer que seja fora de vós. Vós sois, portanto, o meu verdadeiro e único amante: basta dizer que chegastes a morrer por mim. Vós, em suma, sois o meu Deus, o meu sumo bem, o meu tudo. Ó homens, ó homens, amemos a Jesus Cristo, amemos um Deus que se sacrificou totalmente por nosso amor. Ele sacrificou as honras que lhe competiam sobre a terra, sacrificou todas as riquezas e as delícias que podia gozar e se contentou com levar uma vida humilde, pobre e atribulada: finalmente, para pagar com seus sofrimentos os nossos pecados, quis sacrificar todo o seu sangue e sua vida, morrendo num mar de dores e de desprezos. Filho, diz da cruz o Redentor a cada um de nós, filho, que mais poderia eu fazer para ser amado por ti do que morrer por teu amor? Vê se se encontra no mundo quem te haja amado mais do que eu, teu Senhor e Deus. Ama-me, pois, ao menos em reconhecimento do amor que te demonstrei. Ah, meu Jesus, como é possível não chorar sempre o mal que fiz, desprezando o vosso amor, apesar de saber que os meus pecados vos obrigaram a morrer de dor sobre um patíbulo infame? E como poderei ver-vos pendente desse lenho por meu amor e não vos amar com todas as minhas forças? Como se explica, porém, Senhor, que vós, tendo morrido por nós todos, para que ninguém mais viva para si mesmo (2Cor 5,15), e eu tenha vivido unicamente para afligir-vos e desonrar-vos em vez de viver exclusivamente para amar-vos e glorificar-vos? Ah, meu Senhor crucificado, esquecei-vos das amarguras que vos causei, das quais eu me arrependo de todo o meu coração, e atraí-me pela vossa graça inteiramente a vós. Eu não quero mais viver para mim mesmo, mas
só agora vós que tanto me tendes amado e mereceis todo o meu amor. Eu me dou todo a vós e todas as coisas que me pertencem, sem reserva. Renuncio a todas as honras e prazeres desta terra e me prontifico a padecer por vosso amor tudo o que vos aprouver. Vós, que me concedeis esta boa vontade, dai-me também a graça de a pôr em prática. Ó Cordeiro de Deus, sacrificado sobre a cruz, ó vítima de amor, ó Deus amoroso, pudesse eu morrer por vós como morrestes por mim. Ó Mãe de Deus, Maria, obtende-me a graça de sacrificar toda a vida que me resta ao amor do vosso amabilíssimo Filho.

10 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VII

Jesus na cruz
Jesus na cruz! Que espetáculo para os anjos do paraíso, ver um Deus crucificado. E que impressão nos deve causar o rei do céu pendente de um patíbulo, coberto de chagas, desprezado e amaldiçoado por todos, agonizando e morrendo de dores sem nenhum alívio. Ó Deus, por que é que assim padece este divino Salvador inocente e santo? Padece para pagar as culpas dos homens. E onde se viu um tal exemplo, o Senhor padecer por seus servos? O pastor morrer por suas ovelhas? O Criador sacrificar-se inteiramente por suas criaturas? Jesus na cruz! Eis o homem das dores, predito por Isaías. Ei-lo nesse lenho infame e cheio de dores tanto externas como internas. Exteriormente está dilacerado pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos, o sangue escorre de todas as partes e cada um de seus membros sofre uma dor particular. Interiormente é afligido pela tristeza, está desolado e abandonado por todos e até por seu próprio Pai. Mas o que mais o atormenta entre tantos sofrimentos é a vista horrenda de todos os pecados que depois de sua morte cometeriam os homens remidos por seu sangue. Ah, meu Redentor, entre esses ingratos vós então me víeis e todos os meus pecados. Portanto eu também muito contribui para vos afligir na cruz em que morríeis por mim. Oh, antes tivesse eu morrido e não vos tivesse ofendido. Meu Jesus e minha esperança, a morte me aterroriza, pois então terei de vos dar conta de todas as injúrias que fiz ao amor que me tivestes, mas a vossa morte me anima e me faz esperar o perdão. Eu me arrependo de todo o coração de vos ter desprezado. Se, no passado, não vos amei, eu quero amar-vos no resto de minha vida e quero fazer tudo e tudo sofrer para vos agradar. Ajudai-me, meu Redentor, vós que morrestes na cruz por meu amor. Senhor, vós dissestes que, quando estivésseis suspenso na cruz, atrairíeis todos os corações para vós: “E eu, quando for suspenso da terra, atrairei tudo a mim” (Jo 12,32). Vós, morrendo crucificado por nós, arrebatastes tantos corações ao vosso amor, que por vós deixaram tudo, bens, pátria, parentes e até a vida. Ah, arrebatai também o meu pobre coração, que agora, por vossa graça, deseja vos amar, e não mais permitais que eu ame o lodo como o fiz até agora. Ó meu Redentor, pudesse eu ver-me despojado de todo o afeto terreno, para esquecer-me de tudo e lembrar-me só de vós e a vós só amar! Eu tudo espero da vossa graça. Vós conheceis a minha incapacidade; ajudai-me, vos rogo, pelo amor que vos obrigou a sofrer por mim uma morte tão acerba no monte Calvário. Ó morte de Jesus, ó amor de Jesus, arrebatai todos os meus pensamentos, todos os meus afetos e fazei que de hoje em diante eu não pense nem busque outra coisa que agradar a Jesus. Amabilíssimo Senhor, ouvi-me pelos merecimentos da vossa morte. E vós, também, ó Maria, atendei-me, já que sois a Mãe da misericórdia; rogai a Jesus por mim; vossas súplicas podem tornar-me um santo e isso eu o espero.

9 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VI

Ignomínias que Jesus sofreu na sua paixão
As maiores ignomínias que Jesus sofreu foram as que suportou na sua morte. Primeiramente sofreu a ignomínia de ver-se abandonado por seus amados discípulos, dos quais um o traiu, outro o renegou, e todos eles fugiram e abandonaram Jesus, quando ele foi preso (Mc 14,50). Depois, foi apresentado a Pilatos como um malfeitor que merecia ser crucificado (Jo 18,30). Em seguida, foi por Herodes escarnecido como louco e revestido de uma túnica branca (Lc 23,11). Barrabás foi-lhe preferido, o ladrão homicida, tendo Pilatos cedido aos gritos dos judeus (Jo 18,40). Foi flagelado como escravo, pois esse castigo era reservado aos escravos (Jo 19,1). Foi escarnecido como rei de burla, depois de haverem-no coroado de espinhos por zombaria e saudado como rei, cuspindo-lhe no rosto (Mt 27,29). Finalmente, foi condenado a morrer no meio de dois celerados, como Isaías já o dissera (Is 53,12). Expirando na cruz, sujeitou-se à morte mais ignominiosa, à qual só os malfeitores eram condenados naqueles tempos, e por isso entre os judeus era tido por amaldiçoado por Deus e pelos homens o que morria crucificado (Dt 21,23). Assim escreve o Apóstolo: “Foi feito por nós maldição, porque está escrito: Amaldiçoado é todo aquele que é suspenso no lenho” (Gl 3,13). São Paulo diz que nosso Redentor, renunciando a uma vida esplêndida e deliciosa que podia gozar nesta terra, preferiu levar uma vida cheia de tribulações e sofrer uma morte repleta de ignomínias: “Jesus, tendo diante de si o gozo, sustentou a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12,2). Dessa forma verificou-se em Jesus Cristo a profecia de Jeremias de que havia de viver e morrer saciado de opróbrios: “Dará suas faces ao que o ferir, será saturado de opróbrios” (Lm 3,30). Ao que exclama S. Bernardo: “Ó último e primeiro, ó opróbrios dos homens e glória dos anjos! O mais alto de todos é feito o ínfimo de todos”. E conclui que tudo isso é obra do amor que Jesus Cristo nos tem: “Ó força do amor! Quem fez isso? O amor!” Ó meu Jesus, salvai-me, não permitais que eu, depois de ter sido remido por vós com tantas dores e tanto amor, me condene e vá para o inferno a odiar-vos e amaldiçoar o amor que me demonstrastes. Muitas vezes eu mereci esse inferno, já que vós não podeis fazer mais do que fizestes para obrigar-me a amar-vos e eu não podia fazer mais do que fiz para obrigar-vos e castigar-se. Mas, visto que me esperastes por bondade e ainda continuais a convidar-me a vos amar, eu quero amar-vos e quero amar-vos com todo o meu coração e sem reserva. Dai-me a graça de o fazer. E vós, ó Maria, Mãe de Deus, socorrei-me com as vossas súplicas.

8 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO V

Vida desolada de Jesus Cristo
A vida de nosso amante Redentor foi toda desolada e privada de todo o conforto. Sua vida foi aquele grande mar inteiramente amargo sem nenhuma gota de doçura ou consolação: “Grande como o mar é a tua dor” (Lm 2,13).O Senhor revelou um dia a S. Margarida de Cortona que durante sua vida inteira não experimentou uma só consolação sensível. A tristeza que ele experimentou no jardim de Getsêmani era tão grande, que bastaria para tirar-lhe a vida, e essa tristeza ele não a sofreu só, então, mas o afligiu sempre desde o primeiro instante de sua encarnação, pois todas as penas e ignomínias que ele deveria suportar até à morte lhe estavam sempre presentes. Mas não foi tanto essa vista quanto a de todos os pecados que os homens cometeriam depois de sua morte que o afligiu sumamente durante sua vida inteira. Ele viera por meio de sua morte a tirar os pecados do mundo e a resgatar as almas do inferno; mas via que, apesar de sua morte, todas as iniqüidades possíveis seriam cometidas na terra, das quais cada uma, vista distintamente por ele, o afligia imensamente, como escreve S. Bernardino de Sena: “Ele viu em particular cada uma das culpas”. E foi essa a dor que ele tinha sempre diante dos olhos e sempre o afligia: “Minha dor está sempre na minha presença” (Sl 37,18). S. Tomás diz que a vista dos pecados dos homens e da ruína de tantas almas que se haviam de perder foi para Jesus Cristo um tormento tão grande que sobrepujou as dores de todos os penitentes, mesmo daqueles que morreram de pura dor. Os mártires sofreram grandes dores, cavaletes, unhas de ferro, couraças ardentes, mas suas dores eram sempre mitigadas por Deus com doçuras internas. Entre tantos martírios não houve um só tão penoso como o de Jesus Cristo, já que sua dor e sua tristeza foram pura dor e pura tristeza, sem mistura de consolação: “A grandeza da dor de Cristo se aprecia da inteireza da dor e da tristeza” (3 p. q. 46 a. 6). Tal foi a vida de nosso Redentor e tal foi a sua morte, inteiramente desolada. Ao morrer na cruz, privado de todo o alívio, procurava alguém que o consolasse, mas não encontrou: “Busquei alguém que me consolasse e não o encontrei” (Sl 68,21). Não encontrou então senão escarnecedores e blasfemadores que lhe diziam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz. Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo” (Mt 27,40 e 42). E assim o aflito Jesus, achando-se abandonado de todos, se voltou para seu eterno Pai; vendo, porém, que até seu Pai o havia abandonado, deu um grande grito e exclamou num lamento supremo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46). E assim terminou a vida nosso Salvador, morrendo como ele predisse por Davi, submergido numa tempestade de ignomínias e de dores: “Eu cheguei ao alto mar e a tempestade me submergiu” (Sl 68,3). Quando nos sentirmos desolados, consolem-nos com a morte desolada de Jesus Cristo; ofereçamos-lhe então a nossa desolação, unindo-a com a que ele inocentemente padeceu no Calvário por nosso amor. Ah, meu Jesus, quem não vos amará, vendo-vos morrer assim desolado e consumido de dores para pagar os nossos pecados? E eu sou um dos carrascos, que tanto vos afligi durante toda a vossa vida com a vista de meus pecados. Mas já que me chamastes à penitência, concedei-me ao menos que eu participe daquela dor que sentistes das minhas culpas durante a vossa paixão. Como posso procurar prazeres, eu que tanto vos afligi com os pecados de minha vida? Não, eu não vos peço prazeres e delícias, eu vos suplica lágrimas e dor: fazei que eu viva o resto de minha vida chorando sempre os desgostos que vos dei. Abraço vossos sagrados pés, ó meu Jesus crucificado e desolado, e assim eu quero morrer. Ó Maria, Mãe das dores, rogai a Jesus por mim.

7 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO IV

Jesus tratado como último dos homens
“Nós o vimos... desprezado e como o último dos homens, como o homem das dores” (Is 53,2). Foi uma vez vista na terra este grande portento: o Filho de Deus, o rei do céu, o senhor do universo, desprezado como o mais vil de todos os homens. Diz S. Anselmo que Jesus Cristo na terra quis ser tão desprezado e humilhado que os desprezos e as humilhações que ele recebeu não podiam ser maiores. Ele foi tratado como desprezível: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55); foi postergado por sua origem: “De Nazaré pode vir alguma coisa boa?” (Jo 1,46); foi tido por louco: “Tem demônio e perdeu o juízo; por que o estais ouvindo?” (Jo 10,20); foi considerado como um glutão e amigo do vinho: “Eis um homem comilão e que bebe vinho” (Lc 7,34); foi julgado feiticeiro: “É em nome do príncipe dos demônios que ele expele os demônios” (Mt 9,34); passou por herético: “Não dissemos com toda a razão que és um samaritano?” (Jo 8,48). E na sua paixão foram-lhe feitos os maiores impropérios. Nessa ocasião foi tratado como blasfemo. Quando ele declarou que era o Filho de Deus, disse Caifás aos outros sacerdotes: “Eis, ouvistes agora mesmo a blasfêmia; que vos parece? e eles em resposta disseram: é réu de morte” (Mt 25,67). Em seguida começaram a cuspir-lhe no rosto e outros o feriam com socos e bofetadas (Mt 26,67). Cumpriu-se então a profecia de Isaías: “Eu entreguei meu corpo aos que me feriam e as minhas faces aos que me arrancavam os cabelos da barba; não virei a face aos que me afrontavam e cuspiam em mim” (Is 50,6). Foi tratado como profeta falso: “Adivinha, ó Cristo, quem me
bateu” (Mt 26,68). No meio de tantas ignomínias que nosso Salvador sofreu naquela noite, aumentou-lhe o sofrimento a injúria que lhe fez Pedro, seu discípulo, renegando-o três vezes e jurando nunca o ter
conhecido. Vamos, almas devotas, procurar o Senhor naquele cárcere onde está abandonado por todos e em companhia de seus inimigos, que porfiam em maltratá-lo. Agradeçamos-lhe tudo o que sofre por nós com tanta paciência e consolemo-lo com o arrependimento das injúrias que lhe fizemos, visto que também nós pelo passado os desprezamos e, pecando, protestamos não o conhecer. Ah, meu amável Redentor, desejava morrer de dor ao pensar que tanto amargurei o vosso coração, que tanto me amou. Esquecei-vos de tantos desgostos que vos dei, e dirigi-me um olhar amoroso, como fizestes com Pedro, depois de vos haver negado, o que o fez chorar toda a sua vida o pecado cometido. Ó grande Filho de Deus, ó amor infinito, que padeceis por esses mesmos homens que vos odeiam e maltratam, vós que sois adorado pelos anjos, que sois uma majestade infinita, faríeis uma grande honra aos homens, permitindo-lhes que vos beijassem os pés, como então consentistes em vos tornar naquela noite o escárnio daquela canalha? Meu Jesus desprezado, fazei que eu seja também desprezado por vosso amor. Como poderei recusar os desprezos, vendo que vós, meu Deus, os suportastes por meu amor? Ah, meu Jesus crucificado, fazei-vos conhecer e fazei-vos amar. Causa tristeza ver o desprezo que os homens mostram para com a paixão de Jesus Cristo! Mesmo entre os cristãos, quantos são os que pensam nas dores e ignomínias que esse divino Redentor suportou por nós? Somente nos últimos dias da semana santa, quando a Igreja com o plangente canto dos salmos, com a denudação dos altares, com as trevas e o silêncio dos sinos nos recorda a morte de Jesus Cristo, somente então, digo, nos lembramos da passagem de sua paixão e depois no resto do ano não pensamos mais nisso, como se a paixão de Jesus fosse uma fábula ou como se tivesse morrido por outros e não por nós. Ó Deus, quão grande será a pena dos condenados no inferno, vendo quanto padeceu um Deus para salvá-los e eles preferiram perder-se! Ó meu Jesus, não permitais que eu seja do número desses infelizes! Não o serei, porque não quero deixar de pensar no amor que me testemunhastes sofrendo tantas penas e ignomínias por mim. Ajudai-me a amar-vos e recordai-me sempre do amor que me consagrastes.

6 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO III

Jesus, o homem das dores

“Varão das dores e experimentado nas enfermidades” (Is 53,3).
Assim o profeta Isaías descreve nosso Redentor. Salviano, considerando os padecimentos de Jesus Cristo, escreve: “Ó amor, não sei como hei de chamar-te, se doce, se cruel, pois pareces ser ambas as coisas”. Ó amor de meu Jesus, não sei como hei de apelar-te: mui doce vos mostrastes para conosco, ó Jesus, amando-nos tanto depois de tantas ingratidões, e mui cruel para convosco mesmo, sobrecarregando-vos com uma vida cheia de dores e uma morte amarga para pagar os nossos pecados. S. Tomás escreve que Jesus para salvar-nos do inferno se submeteu à dor em grau máximo, ao vitupério em grau supremo. Bastaria que ele sofresse qualquer dor para satisfazer por nós a justiça divina; quis, porém, sofrer as injúrias mais vis e as dores mais agudas para nos fazer compreender a malícia de nossas culpas e o amor que nutria por nós em seu coração. Dor em sumo grau: para assim poder sofrer, foi-lhe dado um corpo especial (Hb 10,5). Deus fez o corpo de Jesus Cristo propositalmente para o sofrimento e por isso criou-lhe uma carne sumamente sensível e delicada; sensível, porque sentia mais vivamente as dores; e delicada, porque era tão tenra, que qualquer golpe lhe causava um ferimento: em suma, era seu corpo sacrossanto um corpo feito de propósito para padecer. Todas as dores que sofreu Jesus Cristo até expirar estavam-lhe presentes desde o primeiro instante de sua encarnação: ele as viu todas e de boa vontade de Deus que o queria sacrificado por nossa salvação. “Então ele disse: Eis que eu venho, ó Deus, para fazer a vossa vontade” (Hb 10,9). Eis-me aqui, ó meu Deus, eu me ofereço para tudo. E foi essa oferta que nos obteve a divina graça, segundo o Apóstolo: “Por essa vontade é que temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb 10,16). O que, porém, vos levou a sacrificar, ó meu Salvador, a vossa vida no meio de tantas dores por nossa salvação? S. Paulo responde: a isso o induziu o afeto que nos tinha: “ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). Entregou-se: o amor o induz a entregar seu corpo aos flagelos, sua cabeça aos espinhos, sua face aos escarros e bofetadas, suas mãos e pés aos cravos e sua vida à morte. Quem quiser ver um homem de dores, contemple Jesus Cristo na cruz. Ei-lo aí, suspenso por esses três cravos, estando seu corpo com todo o peso pendente das chagas das mãos e dos pés atravessados; cada membro seu sofre sua dor própria e sem alívio. As três horas que Jesus passou na cruz são chamadas com razão as três horas de agonia do Salvador; pois, durante essas três horas, ele sofreu uma agonia contínua e uma dor que lhe arrancava aos poucos a vida, chegando finalmente a morrer de pura dor. Que alma poderá ver-vos morto na cruz por ela, ó meu Jesus, e viver sem vos amar? E como pude eu viver tantos anos esquecido de vós, causando tantos desgostos a um Deus que tanto me amou? Oh! tivesse eu antes morrido e nunca vos tivesse ofendido! Ó amor de minha alma, ó meu Redentor, pudesse eu morrer por vós que morrestes por mim! Eu vos amo, ó meu Jesus, e não quero amar a mais ninguém senão a vós.

5 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO II

Quão grande é a obrigação que temos de amar Jesus Cristo
“Não te esqueças nunca da graça que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua alma por ti” (Eclo 29,20). Comumente entendem os intérpretes por tal fiador a Jesus Cristo, que, vendo-nos incapazes de satisfazer a justiça divina por nossos pecados, se ofereceu voluntariamente a pagar por nós, e de fato pagou as nossas dívidas com seu sangue e com sua morte. Não era suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens para compensar as injúrias feitas por nós à divina Majestade; era necessário que a ofensa feita a um Deus fosse satisfeita só mesmo por um Deus, o que realizou Jesus Cristo: “Em tanto Jesus foi feito fiador de melhor aliança” (Hb 7,22). Nosso Salvador, pagando pelo homem como fiador com seu sangue, obtém-lhe por seus merecimentos a graça de contrair um novo pacto com Deus, de lhe ser concedida a graça e a vida eterna se ele observar a lei divina. E este acordo Jesus como ratifica na instituição da Eucaristia, dizendo: “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” (1Cor 11,25). Com isso ele queria significar que aquele cálice com seu sangue era o instrumento ou a escritura de segurança pela qual se firmava um novo pacto entre Deus e Jesus Cristo, por meio do qual se concedia a graça e a vida eterna a todos os homens que lhe permanecem fiéis. E assim o Redentor, pelo amor que nos tinha, satisfez rigorosamente por nós a justiça divina, sofrendo as penas que nos eram devidas: “Em verdade ele carregou com os nossos langores e tomou sobre si as nossas dores” (Is 53,4). E isso tudo foi feito de seu amor: “Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). S. Bernardo diz que Jesus Cristo, para nos remir, não se poupou a si mesmo. Ó judeus infelizes, como podeis estar à espera do Messias prometido pelos profetas? Ele já veio e vós o matastes, mas, não obstante esse vosso crime, o divino Redentor está pronto a perdoar-vos, já que ele veio para salvar os que se haviam perdido: “Veio para salvar o que se havia perdido” (Mt 18,11). S. Paulo escreve que Jesus Cristo, para livrar-nos da maldição merecida por nossas culpas, sobrecarregou-se com todas as maldições a nós devidas e por isso quis morrer a morte dos amaldiçoados, que era a morte da cruz: “Cristo nos remiu da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, porque está escrito: ‘maldito todo aquele que se for suspenso no lenho’ (Gl 3,13). Que honra não seria para um pobre camponês se, tendo sido aprisionado pelos corsários, seu próprio rei o resgatasse com perda do reino! Muito maior, porém, é a nossa grandeza por termos sido remidos por Jesus Cristo com a efusão de seu próprio sangue, do qual uma só gota vale mais que mil mundos!” “Não fostes remidos por coisas perecíveis como o ouro ou a prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como o do Cordeiro imaculado” (1Pd 1,18 e 19). Sendo assim, S. Paulo nos adverte que cometemos uma injustiça contra nosso Salvador, quando dispomos de nós segundo a vossa vontade e não conforme a dele e quando nos reservamos qualquer coisa e, ainda pior, quando nos tomamos alguma liberdade com detrimento de Deus, visto que não nos pertencemos mais a nós mesmos, mas somos de Jesus Cristo, que nos adquiriu por um grande preço: “Acaso não sabeis... que não sois de vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço” (1Cor 6,19 e 20). Ah, meu Redentor, se eu derramasse todo o meu sangue, se desse mil vidas por vosso amor, que compensação seria ao amor que me demonstrastes, derramando o vosso sangue e dando a vossa vida por mim? Dai-me a graça, ó meu Jesus, de ser todo vosso no resto de minha vida e não amar nada fora de vós. Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho.

4 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

OPÚSCULO VI

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO

MEDITAÇÃO I

A Paixão de Jesus Cristo é a nossa consolação
Quem poderá consolar-nos mais neste vale de lágrimas do que Jesus crucificado? Nos remorsos de consciência que nos causa a recordação de nossos pecados, o que é que pode unicamente acalmar as aflições que então experimentamos senão o saber que Jesus Cristo quis entregar-se a si mesmo à morte para pagar as nossas culpas? “Entregou-se a si mesmo por nossos pecados” (Gl 1,4). Em todas as perseguições, calúnias, desprezos, privações de bens e de honras que sofremos nesta vida, quem é que melhor nos pode fortalecer para sofrermos com paciência e resignação, senão Jesus Cristo desprezado, caluniado e pobre, que morre nu e abandonado de todos em uma cruz? Nas enfermidades, que coisa há que mais nos console do que a vista de Jesus crucificado? Quando nos achamos doentes, repousamos num leito bem cômodo; mas Jesus, quando na cruz, onde devia morrer, teve por leito um tosco de madeiro, no qual esteve suspenso por três cravos, e por travesseiro, para apoiar a cabeça ferida, aquela coroa de espinhos que não cessou de o atormentar até à morte. Quando estamos enfermos, temos ao redor do leito parentes e amigos que se compadecem de nós e nos procuram distrair; Jesus morre no meio de inimigos que, mesmo na ocasião em que ele agonizava e estava a expirar, o injuriavam e escarneciam, dando-o como um malfeitor e sedutor. Nada há, certamente, como a vista de Jesus crucificado para aliviar um enfermo nos seus sofrimentos, especialmente quando ele se vê abandonado pelos outros na sua doença. Unir então as suas penas com as de Jesus Cristo é o maior alívio que pode experimentar um pobre enfermo. Nas angústias ainda maiores da morte, ocasionadas pelos assaltos do inferno, à vista dos pecados cometidos e das contas que em breve deverão ser dadas no tribunal divino, a única consolação que poderá ter um moribundo, que já está combatendo com a morte, é abraçar-se com o crucifixo e dizer: Meu Jesus e meu Redentor, vós sois o meu amor e a minha esperança. Em suma, tudo o que temos de graças, de luzes, de inspirações, de santos desejos, de afetos devotos, de contrição dos pecados, de bons propósitos, de amor de Deus e de esperança do céu, tudo é fruto e dom que nos provém da Paixão de Jesus Cristo. Ah, meu Jesus, que esperança poderia ter eu, que tantas vezes vos voltei as costas e mereci o inferno, de entrar na companhia de tantas virgens inocentes, de tantos mártires, de tantos apóstolos e dos serafins do céu, para contemplar a vossa bela face na pátria feliz, se vós não tivésseis morrido por mim, divino Salvador? A vossa paixão, pois, é que, não obstante os meus pecados, me dá a esperança de entrar um dia na companhia dos santos e de vossa Mãe bendita, para cantar as vossas misericórdias e agradecer-vos e amar-vos para sempre no paraíso. Assim eu o espero, ó meu Jesus. “Eu cantarei por todo o sempre as misericórdias do Senhor”. Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim.

3 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO XV

Para o sábado santo

Maria assiste à morte de Jesus na cruz
1. “Estava, porém, junto à cruz de Jesus sua Mãe” (Jo 19,25). Consideremos nesta rainha dos mártires uma espécie de martírio mais cruel que todo outro martírio, uma mãe vendo morrer um filho inocente, justiçado num patíbulo infame: “Estava em pé”. Desde a hora em que Jesus foi preso no horto, os discípulos o abandonaram; não, porém, sua Mãe: ela o assiste até vê-lo expirar diante de seus olhos. “Estava junto dele”. As mães fogem quando vêem seus filhos padecendo e não os podem socorrer: estariam prontas a sofrer as dores em lugar dos filhos, mas quando os vêem padecer sem poder auxiliá-los, não suportam tal pena e por isso fogem e vão para longe. Maria, não; ela vê o Filho no meio dos tormentos, vê que as dores lhe roubam a vida, mas não foge, nem se afasta, antes se encosta à cruz na qual o Filho está morrendo. Ó Mãe das dores, não me desdenheis e permiti que vos faça companhia na morte do vosso e do meu Jesus.
2. “Estava junto à cruz”. A cruz é, pois, o leito em que Jesus deixa de viver: leito de dores, em que a aflita Mãe, vê Jesus todo ferido pelos açoites e pelos espinhos. Maria observa que seu pobre Filho, pendente daqueles três cravos de ferro, não encontra repouso nem alívio: desejaria procurar-lhe algum alívio; desejaria, já que ele tem de morrer, que ao menos expirasse em seus braços; nada disso, porém, lhe é permitido. Ah, cruz, diz, restitui-me o meu Filho: és o patíbulo dos malfeitores; meu Filho, porém, é inocente. Não vos aflijais, ó Mãe: é vontade do eterno Pai que a cruz não vos restitua Jesus senão depois de morto. Ó rainha das dores, alcançai-me a dor de meus pecados.
3. “Estava junto da cruz sua Mãe”. Considera, minha alma, como ao pé da cruz Maria está olhando para o Filho! E que Filho, meu Deus! Filho que era ao mesmo tempo seu Filho e seu Deus; Filho que desde a eternidade tinha escolhido para sua Mãe, e a havia preferido no seu amor a todos os homens e a todos os anjos; Filho tão belo, tão santo, tão amável como nenhum outro; Filho, que lhe fora sempre obediente; Filho, que era seu único amor, pois que era Filho de Deus. E esta Mãe teve de ver morrer de dores, diante de seus olhos, um tal Filho! Ó Maria, ó Mãe, a mais aflita entre todas as mães, compadeço-me de vosso coração, especialmente quando vistes vosso Jesus inclinar a cabeça, abrir a boca e expirar. Por amor deste vosso Filho, morto por minha salvação, recomendai-lhe a minha alma. E vós, meu Jesus, pelos merecimentos das dores de Maria, tende piedade de mim e concedei-me a graça de morrer por vós, como morrestes por mim. Com S. Francisco de Assis vos direi: Morra eu, Senhor, por amor de vós, que por amor de meu amor vos dignastes morrer.

2 de maio de 2024

Programação de Missas no Apostolado do IBP Curitiba

Na Casa do Padre: Olavo Bilac, 76
⛪ 6ª feira, 03/05
Primeira sexta-feira do mês
07h30, Missa Rezada
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Na Capela, Rua Lamenha Lins, 2115, Rebouças
⛪ 5ª feira, 02/05
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪ 6ª feira, 03/05
Primeira sexta-feira do mês
18h30, Hora Santa Reparadora
19h30, Missa Rezada

⛪ Sábado, 04/05
08h30, confissões
09h00, Missa Rezada

⛪ Domingo, 05/05
V Domingo depois da Páscoa

08h00, Confissões
08h30, Missa Rezada

09h30, Confissões
10h00, Missa Cantada

18h30, Confissões
19h00, Missa Rezada

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO XIV

Para a 6.ª feira santa

Jesus morto pendente da cruz
1. Minha alma, levanta os olhos e contempla aquele crucificado. Contempla o Cordeiro divino já sacrificado sobre o altar da dor. Reflete que ele é o Filho dileto do eterno Pai e que morreu pelo amor que te consagrou. Vê como tem os braços estendidos para abraçar-te, a cabeça inclinada para dar-te o ósculo da paz, o lado aberto para receber-te no seu coração. Que dizes? Merece ou não ser amado um Deus tão amoroso? Ouve o que ele te diz daquela cruz: Vê, filho, se existe no mundo quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu Deus, não há no mundo quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu Deus, não há no mundo quem me tenha amado mais do que vós. Mas que poderei dar em retorno a um Deus que quis morrer por mim? Que amor de uma criatura poderá jamais compensar o amor de seu criador morto para conquistar o seu amor?
2. Ó Deus, se o mais vil dos homens tivesse sofrido por mim o que sofreu Jesus Cristo, poderia deixar de amá-lo? Se eu visse um homem dilacerado pelos açoites, pregado numa cruz para salvar-me a vida, poderia lembrar-me disso sem me abrasar em amor? E se me fosse apresentado o seu retrato expirando na cruz poderia contemplá-lo com indiferentismo, pensando: Este homem morreu assim atormentado por meu amor e, se não me houvesse amado tanto, não teria morrido dessa maneira? Ah, meu Redentor, ó amor de minha alma, como poderei esquecer-me mais de vós? Como poderei pensar que os meus pecados vos reduziram a um tal estado e não chorar sempre as injúrias feitas à vossa bondade? Como poderei vos ver morto de dor sobre essa cruz por meu amor e não vos amar com todas as minhas forças?
3. Meu caro Redentor, bem reconheço nessas vossas chagas e membros dilacerados outras tantas provas do terno amor que me consagrais. Já, pois, que para me perdoar não perdoastes a vós, olhai-me com aquele mesmo amor com que me olhastes uma vez da cruz, na qual morríeis por meu amor; iluminai-me e atraí para vós todo o meu coração, para que de hoje em diante eu nada mais ame fora de vós. Não permitais que eu me esqueça de vossa morte. Vós prometestes que, levantado na cruz, haveríeis de atrair os nossos corações. Eis aqui o meu coração, que, enternecido com a vossa morte e enamorado de vós, não quer resistir mais ao vosso chamamento: ah, atraí-o todo e tornai-o todo vosso! Vós morrestes por mim e eu desejo morrer por vós e, continuando a viver, só para vós quero viver. Ó dores de Jesus, ó ignomínias de Jesus, ó morte de Jesus, ó amor de Jesus, fixai-vos no meu coração e aí fique sempre a vossa memória a ferir-me continuamente e a inflamar-me em amor. Eu vos amo, bondade infinita, eu vos amo, amor infinito, vós sois e sereis sempre o meu único amor. Ó Maria, Mãe do amor, obtende-me o santo amor.

1 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO XIII

Para a 5.ª feira santa

Jesus morre na cruz
1. Eis que o Salvador está prestes a morrer. Contempla, minha alma, aqueles belos olhos que se obscurecem, aquela face já pálida, aquele coração que palpita lentamente, aquele sagrado corpo que já se entrega à morte. Tendo Jesus experimentado o vinagre disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Põe ainda uma vez diante dos olhos todos os padecimentos sofridos durante sua vida, pobreza, desprezos, dores e, oferecendo então tudo a seu eterno Pai, disse: Tudo está consumado. Meu Pai, eis já completa a redenção do mundo com o sacrifício de minha vida. E voltando-se para nós, como para que respondamos, repete: Tudo está consumado, como se dissesse: Ó homens, amai-me, porque eu fiz tudo e nada mais tenho a fazer para conquistar o vosso amor.
2. Chega afinal a hora, e Jesus falece. Vinde, ó anjos do céu, vinde assistir à morte de vosso rei. E vós, Mãe dolorosa, chegai-vos mais à cruz e contemplai atentamente vosso Filho, pois está prestes a expirar. E ele, depois de ter recomendado seu espírito ao Pai, invoca a morte, dando-lhe a permissão de tirar-lhe a vida. Vem, ó morte, lhe diz, depressa exerce o teu ofício, mata-me e salva as minhas ovelhas. A terra treme, abrem-se os sepulcros, rasga-se o véu do templo. Já faltam as forças aos agonizantes Jesus; pela violência das dores, foge-lhe o calor, fica inerte seu corpo, abaixa a cabeça, abre a boca e morre. “E tendo inclinado a cabeça, entregou o seu espírito” (Jo 19,30). A gente o vê expirar e, notando que não faz mais movimento, diz: Está morto, está morto. E a estes se alia também a voz de Maria, que diz por sua vez: Ah, meu Filho, já estás morto.
3. Está morto! Quem, ó Deus, está morto? Está morto o autor da vida, o Unigênito de Deus, o Senhor do mundo. Ó morte, tu foste o assombro do céu e da terra. Ó amor infinito! Um Deus sacrificar sua vida e seu sangue por quem? Por suas criaturas ingratas, morrendo num mar de dores e de desprezos para pagar as suas culpas! Ó bondade infinita! Ó amor infinito! Ó meu Jesus, vós morrestes, pois, pelo amor que me consagrastes. Não permitais, portanto, que eu viva um instante sequer sem vos amar. Eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo, meu Jesus, morto por mim. Ó Mãe das dores, Maria, ajudai a um servo vosso que deseja amar Jesus.