9 de dezembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - II Domingo do Advento - Parte 2 de 6

2º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

São Mateus. XI, 2-10.

2- FORTALEZA
No Evangelho deste domingo, Jesus tece os mais belos louvores à fortaleza de S. João Batista; “Que fostes ver no deserto? Que foi contemplares ao longo das margens do Jordão? Não era, não, um caniço agitado pelo vento! Não era um homem molemente vestido”.
Quando Jesus falava, devia ter na mente os espessos canaviais que se formam ao longo das águas e que, batidos pelo sopro dos ventos, vergam ora para um lado, ora para outro.
Hoje o Batista, que não se deixou dobrar nem pela prepotência de um tirano coroado, nem pelas sensualidades da carne, deve ensinar-nos a sermos fortes contra o respeito humano, fortes contra as paixões.

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1- Fortes contra o respeito humano.
Frederico II, imperador da Prússia, costumava ter no seu palácio e à sua própria mesa muitos homens insignes pela ciência ou pelas artes. Singular e extravagante como era, quis ele, um dia de sexta-feira, convidar a jantar um príncipe romano, católico, para lhe tentar a fé e por à prova a sua coragem religiosa. O imperador não era católico.
Mas as iguarias eram feitas com carne, e o príncipe romano, tranqüilo e desembaraçado, deixava-as passar, contentando-se com enganar a fome apenas com alguns pedacinhos de pão.
O imperador observava sem falar; mas, depois, entre brincalhão e sério disse: “Por que não comeis? Acaso não vos agrada a cozinha da Alemanha?”
“Não, Majestade, a vossa cozinha é excelente para os outros dias da semana, mas hoje, para um católico, é má. A Igreja proíbe comer carne na sexta-feira”.
Ante essa nobre e franca resposta, Frederico replicou: “Admiro-vos: prestastes uma grande homenagem à vossa religião! Agora passai a sala vizinha, onde estão preparadas comidas de magro. Também eu irei fazer-vos a honra que mereceis”.
Aquele príncipe de Roma não era um caniço agitado pelo vento. Era um homem de caráter. E tanto mais quando se achava a mesa do Imperador, entre tantas personalidades ilustres que não pensavam como ele.
Assim deveriam ser todos os cristãos. Se estivermos convencionados de que a nossa religião é a única verdadeira, de que Deus existe, de que Jesus Cristo é a única salvação, e de que fora d’Ele e da sua Igreja não há senão ruína eterna. Devemos nos sentir capazes de manifestar estas idéias mesmo exteriormente. Mas infelizmente ainda há cristãos de meias medidas, os quais não querem renunciar à sua fé, mas, ao mesmo tempo, não tem a coragem das suas convicções. São escravos de um sentimento vil que os dobra como caniços sob o vento. Tal sentimento chama-se respeito humano: um belo nome, mas pessimamente aplicado. Primeiramente é preciso respeitar a Deus, primeiramente é preciso respeitar a própria fé, e depois tenha-se também consideração com nossos irmãos.
Tende isto em mente quando, entre pessoas que falam mal, que vestem mal, que ofendem abertamente as leis de Deus, sentirdes medo de agir diversamente delas.
Aliás, freqüentemente sucede o que ocorreu ao príncipe católico à mesa de Frederico II. Aqueles mesmos que gracejam ou fazem as admirações, são os primeiros a admirar e a estimar os bons que têm a coragem das suas idéias. Às vezes, uma fé sincera e franca vale a conquista de almas para as quais os fatos valem bastante mais do que as palavras.
Recordemos, além disto, aquilo que Jesus afirmava aos seus discípulos e a todos aqueles que o seguiam: “Diante do meu Pai que está nos céus, eu também me envergonharei de quem se houver envergonhado de mim diante dos homens”. (Mt. X, 33)

2- Fortes contra as paixões.
Antes de começar a fundar as grandes obras de caridade, S. Vicente de Paulo era pároco de uma pequena aldeia na França. A fama de sua santidade difundira-se pelas terras vizinhas, e, para ouvir as suas prédicas, para confessar-se com ele, acorriam até mesmo alguns que havia tempo não estavam em ordem com o Senhor.
Havia um conde famoso pelos muitos duelos que havia sustentado. Todas as vezes que era ofendido, mesmo levemente, ele desafiava o seu adversário para combater com a espada, e era sempre tão afortunado, que já se não contavam as suas vítimas. Uma vez, porém, ouvindo uma prédica de S. Vicente, ele foi tocado pela graça de Deus e converteu-se. Vendeu as suas terras, e, com o preço obtido, fundou mosteiros e consolou os pobres. Era preciso que S. Vicente o moderasse, tanta era a generosidade com que ele se dera ao Senhor. Mas restava-lhe ainda a espada que tantas vezes lhe servira para ofender o senhor, e ele não sabia decidir-se a separar-se dela. Aquela espada mantinha sempre aceso nele um pouco de afeto a sua vida passada; e, como aos primeiros fervores haviam sucedido momentos de frieza, se ele continuasse a conservar aquela arma talvez voltasse a vida de antes. Mas, um dia, possuído da vergonha de tal fraqueza, ele para o seu cavalo, desce, traz a espada e quebra-a em mil pedaços contra uma rocha, e, tornando a montar, exclama: “Agora, finalmente, sou livre”.
Comparáveis a espada daquele conde são as paixões que cada um de nós traz consigo desde o nascimento. Alguns são inclinados à soberba, à vanglória, à arrogância. Outros, por sua vez, amam as coisas terrenas, tem o coração ´por demais apegado ao dinheiro, aos negócios. Outros, ainda, sentem a ânsia de gozar, e quereriam sempre e só satisfazer os seus maus instintos.
Ter as paixões não é um mal: é apenas sinal de ser homem. Porém elas podem tornar-se espadas cortantes, instrumentos de pecado, quando não são sujeitadas à lei de Deus. Se, com a firmeza de uma vontade resoluta, não colhermos as rédeas aos nossos pensamentos, aos nossos instintos, às nossas inclinações, tornamo-nos caniços agitados pelo vento, e, após um período breve de fervor e de bondade, logo nos dobramos para uma vida desregrada.
Não são os frágeis caniços, e sim as árvores robustas, que sabem resistir ao sopro ruinoso do vento; os caniços findam na corrupção da lama.
Para evitar este péssimo fim, é preciso seriamente despedaçar aquelas espadas. Um golpe só não basta. A vitória sobre as nossas paixões não é tão fácil e tão pronta como pode ser o quebrar a espada do duelo. É preciso resistir sempre e todo dia, toda hora que passa devemos dar dois golpes decisivos, persuadidos de que só a morte as quebrará para sempre.
Porém, quanto mais avançamos nesta luta espiritual, tanto mais nos tornamos fortes, e a graça de Deus, que se une à nossa vontade, dá à alma cristã uma doce segurança de viver no amor do Senhor.

Conclusão.
“Feliz o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, e põe a sua complacência na lei do Senhor. Ele é como uma árvore que é plantada ao longo de correntes de águas, a qual dará fruto a seu tempo, e tudo que ela faz resulta bem”. (Salmo I).
Os maus, ao contrário, são como caniços que o vento, passando, abaixa; antes, são como uma nuvem de pó que o vento levanta e dispersa. Impii tanquam pulvis quem projicit ventus.


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