3 de dezembro de 2014

Sonhos de Dom Bosco.

8/21 - SONHO DAS CONSCIÊNCIAS ( M.B. VI, 817-821)

Mas três noites que precederam o último dia do ano 1860, D. Bosco fez três sonhos, como ele os chamou, mas que nós com toda certeza, por aquilo que temos visto, percebido, experimentado, podemos chamar de celestes visões. Era o mesmo sonho três vezes repetida, mas sempre com diferentes particularidades. Eis brevemente como o nosso bom pai o apresentou na última noite do ano de 1860 a todos os jovens reunidos. Assim ele falou:
Encontrei-me por três noites seguidas nos Campos de Revolta com D. Cafasso, com Sílvio Péllico e com Conde Cays. Na primeira noite ficamos conversando sobre certos assuntos de Religião com relação aos tempos atuais. A segunda a passamos discutindo assuntos morais em que foram apresentados problemas especialmente sobre educação da juventude. Vendo que já por duas noites seguidas faziam um mesmo sonho, decidi contá-lo aos meus filhos, se ainda não tivesse sonhado as mesmas coisas pela terceira vez. E eis que na noite entre 30 e 31 de dezembro, encontrei-me novamente no mesmo lugar e com os mesmos personagens. Deixando de lado outros assuntos, lembrei-me que estávamos no fim do ano e que deveria apresentar aos meus queridos filhos a lembrança para  ano novo. Por isso falei a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- O senhor que é meu grande amigo, me apresente uma lembrança para os meus filhos?
Ele respondeu:
- Calma! Se você quiser que eu lhe apresente a lembrança, fale aos seus filhos que se preparem e saldem suas contas.
Nós estávamos num grande salão, no meio do qual havia uma mesa. D. Cafasso, Sílvio Péllico e Conde Cays se assentaram. Eu no entanto obedecendo a D. Cafasso, saí do salão e fui chamar os jovens que estavam do lado de fora, fazendo cada um suas somas numa ficha que tinham entre as mãos. Os jovens entravam em fila segurando a ficha, em que estavam anotados muitos números e se apresentavam aos três senhores e a eles entregavam a própria ficha. Aqueles senhores a soma e se era bem caprichada e cheia de números, a devolviam a cada um, porém não aceitavam aquelas que apresentavam números forjados. Os primeiros eram aqueles que tinham contas em ordem, os segundos os que estavam desordenado. Não poucos estavam entre estes últimos. Aqueles que recebiam a sua ficha assinada saiam da sala alegres e iam cantar sua alegria no pátio; os outros porém saiam tristes e mortificados. A fila de jovens era comprida todos ficavam esperando. Esta operação foi bem demorada; finalmente ninguém mais se apresentou. Parecia que todos os jovens se tivessem apresentado, quando D. Bosco viu alguns que estavam esperando e não entravam. Perguntou a D. Cafasso:
- Mas estes o que estão fazendo?
- Estes, respondeu D. Cafasso, tem a ficha em branco, portanto não dá para fazer a soma, aqui trata-se de fazer a soma daquilo que se possui e o que foi feito. Portanto esses jovens podem ir preencher suas fichas com números, depois reapareçam para podermos fazer a soma.
Desta maneira acabou-se aquela operação.
Então, eu com os três senhores saímos daquela sala para o pátio, e vi, um número de jovens, aqueles cujas fichas eram corretas e caprichadas, que corriam, que pulavam e brincavam com uma alegria extraordinária. Estavam todos satisfeitos. Vocês não podem imaginar minha satisfação vendo este espetáculo.
Mas havia um certo número de jovens que não brincavam, mas estavam observando os outros. Estes não estavam muitos alegres. Entres estes alguns tinham uma tira cobrindo os olhos, outros uma névoa rodeando a cabeça, outros tinham um coração cheio de terra, outros o tinham vazios das coisas de Deus. Eu os vi e os reconheci muito bem e os tenho bem presentes na cabeça que poderia dar os nomes um por um.
Também percebi que no pátio faltavam muitos dos meus jovens e falei para os meus botões: "Onde estão aqueles que tinham a ficha em branco?". Olho aqui, procuro ali e finalmente vi um lugar afastado do pátio um espetáculo deprimente! Vejo um deitado no chão, pálido como a morte. Depois outros sentados num banco imundo, outros deitados em esteiras sujas, outros no chão, outros sobre pedras que ali havia. Eram todos os que não haviam suas contas aprovadas. Estavam gravemente doentes; alguns tinham a língua  outros o ouvido, outros os olhos cheios de vermes que os roíam. Um tinha a língua podre; outro a boca cheia de terra; um terceiro exalava um fedor insuportável, outros eram as doenças daqueles coitados. Quem tinha o coração carcomido, quem tinha horrorosas feridas… havia ali um leproso…
Vendo isso fiquei transtornado, não conseguindo acreditar naquilo que estava presenciando. Cheguei mais perto de um daqueles coitados e perguntei-lhe:
- Mas você é mesmo fulano?
- Sim, sou eu mesmo!
- Mas como você chegou a esta horrível situação?
- O que fazer? Farinha do meu saco! Veja! Este é o fruto das minhas desordens!
Conversei com um outro e recebi a mesma proposta. Este espetáculo doía-me dentro, mas foi aliviado em parte pelo que vi depois.
No entanto de coração comovido dirigi-me a D. Cafasso e perguntei-lhe:
- A que remédio devo procurar para sarar estes meus pobres jovens?
- Você sabe muito bem o que deve fazer, respondeu-me D. Cafasso. Não há necessidade e o repetir. Pensa! Use a criatividade!
- Pelo menos me apresente uma lembrança aos bons, insisti eu suplicando humildemente e confiante em meu pedido.
D. Cafasso então fez um sinal para segui-lo e aproximando-se do prédio abriu uma porta. Entramos num salão maravilhoso, ornamentado em ouro, em prata e com toda espécie de ornamentação, iluminada por milhares de lâmpadas… Era  bem amplo. No meio do salão havia uma mesa cheia de doces, dos mais caprichados e dos mais gostosos, capazes um só de saciar o desejos dos jovens. Vendo isso, estava saindo para fora para chamar os jovens a entrarem e contemplarem aquele magnífico espetáculo. Mas D. Cafasso parou-me gritando:
- Calma! Nem todos podem comer estas delícias. Chame só aqueles que tem suas contas em ordem.
Assim fiz, e em poucos segundos aquele salão estava cheio de jovens. Então estava eu para começar a distribuir aqueles doces. Mas D. Cafasso se opõem e…
- Calma, Dom Bosco! Nem todos podem experimentar estas delícias, nem todos estão dignos!
E indicou-me os que não podiam comer. E entre estes mostrou em primeiro lugar os que estavam cheios de chagas, que não se encontravam na sala, porque não tinham suas contas em regras, depois mostrou-me outros, que apesar de terem contas em regras, tinham porém ou neblina nos olhos ou o coração cheio de terra, ou vazio das coisas do céu.
Mas eu com ar suplicante falei-lhe:
- D. Cafasso! Deixe que eu dê também a esses últimos; também eles são meus filhos, tanto mais que há muita fartura e não há perigo que falte.
- Não, não - falou ele. Só aqueles que têm boca sadia podem comer, os outros não; não sabem aproveitar, não estão dignos destas delícias, porque tem a boca estragada e cheia de amargura, as coisas doces dão enjôo e não podem comer.
Fiquei quieto e comecei a distribuir aqueles doces só aqueles que me foram indicados. Todos servidos pela primeira vez abundantemente, recomecei novamente a distribuição com uma dose abundante! Eu vos asseguro que estava feliz em ver os jovens comer com apetite e satisfação. Nos seus rostos estavam estampados a alegria, não pareciam mais os jovens do Oratório tanto estavam transfigurados.
Aqueles que na sala ficaram sem doces, ficavam num canto tristes e confusos. Entristecidos em vê-los dirigi-me a D. Cafasso e perguntei-lhe insistentemente que permitisse que os doces fossem dados também àqueles, para que pudessem experimentar.
- Não, não - respondeu D. Cafasso. Estes não podem comer, que eles sarem e então poderão experimentá-los.
Eu olhava aqueles  coitados. Olhava também os muitos jovens que ficaram fora, todos doentes… Reconhecia todos e percebi que alguns deles tinham o coração totalmente bichado.
Voltei a falar com D. Cafasso:
- Por favor indique-me que remédio utilizar e como fazer para sarar aqueles meus filhos!
Ele respondeu:
- Pense, use a sua fantasia; o senhor já o conhece.
Então insisti para que dissesse a lembrança prometida para os meus jovens.
- Muito bem, respondeu. Vou falar!
E dando uns passos para atrás, por três vezes, com voz cada vez mais forte, gritou:
- Preste atenção! Preste atenção! Preste atenção!
Assim dizendo ele e com seus companheiros foram saindo e desaparecendo, assim foi o sonho.
Então acordei e encontrei-me sentado na cama e com as costas frias como o gelo.
Este foi o meu sonho. Agora cada um interprete como quiser, mas saiba sempre dar-lhe a importância que se dá a um sonho…


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