19 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 2/4

A necessidade da vida interior esta tão longe de desviar das obras de zelo as almas generosas, se a vontade de Deus claramente conhecida lhes manifestar como um dever o encarregarem-se delas, que subtrair-se a esse trabalho ou tratá-lo com negligência, desertar do campo de batalha com o pretexto de melhor cultivar a própria alma e chegar a uma união mais perfeita com Deus, seria pura ilusão e, em certos casos, origem de verdadeiros perigos. Vae mihi, diz São Paulo, si nom evangelizávero.
Feita esta reserva, apressamo-nos em dizer que consagrar-se alguém à conversão das almas, esquecendo-se de si mesmo, origina uma ilusão mais grave. Deus quer que amemos ao próximo como a nós mesmos, mas nunca mais que a nós mesmos, isto é, nunca a ponto de pessoalmente nos prejudicarmos, o que, na prática, equivale a exigir mais cuidados com a nossa própria alma do que com a alma alheia, visto que o nosso zelo deve ser regulado pela caridade; o prima sibi cháritas permanece um adágio teológico.

18 de novembro de 2019

Pobreza nas Coisas Indispensáveis - Santa Teresinha

Torno às lições que "meu Diretor" me deu. Certa noite, após Completas, procurei em vão vossa candeia nas prateleiras destinadas a guardá-la. Era o grande silêncio, impossível reclamá-la. Deduzi que alguma irmã, crendo pegar sua candeia levara a nossa, e esta me fazia muita falta. Em vez de me aborrecer com esta privação, senti-me muito feliz, percebendo que a pobreza consiste em ver-se privado não só das cousas agradáveis, mas ainda das cousas indispensáveis. E assim, nas trevas exteriores, fui iluminada interiormente...

17 de novembro de 2019

Desapeguemo-nos das Consolações de Jesus para nos Apegarmos a Ele Somente - Santa Teresinha

Celina, como  deves sentir-te feliz por contemplar a bela natureza, as montanhas, os rios prateados. Tudo é tão grandioso, tão bem feito para elevar as nossas almas...
Querida Irmãzinha, deixemos a terra, voemos para a montanha do Amor onde está o belo lírio das nossas almas. Desapeguemo-nos das consolações de Jesus para nos unirmos a ele somente!

15 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard


Objeção tirada da importância da salvação das almas.

Parte 1/4

Mas, dirá a alma exterior à procura de pretextos contra a vida interior, como atrever-me a limitar minhas obras de zelo? Posso porventura dizer que despendo forças demais, tratando-se sobretudo da salvação das almas? A minha atividade não substitui tudo, com muita vantagem, pelo sublime exercício da dedicação? Quem trabalha, ora. O sacrifício avantaja-se à oração. E São Gregório não chama ao zelo das almas o mais agradável sacrifício que se possa oferecer a Deus? Nullum sacrificium est Deo magis acceptum quam zelus animarum.
Precisemos primeiramente o verdadeiro sentido desta frase de São Gregório, servindo-nos da voz do Doutor angélico. Oferecer espiritualmente um sacrifício a Deus, diz ele, é oferecer-lhe alguma coisa que o glorifique. Ora, de todos os bens, o mais agradável que o homem pode oferecer é indubitavelmente a salvação de uma alma. Mas cada qual deve antes de tudo oferecer-lhe a sua própria alma, segundo oque diz a Escritura: Quereis agradar a Deus, tende piedade de vossa alma. Feito este primeiro sacrifício, ser-nos-á então permitido proporcionar aos outros felicidades semelhante. Quanto mais estreitamente o homem unir a Deus sua alma primeiro, e depoi/ s a de outrem, tanto mais favoravelmente será acolhido seu sacrifício. Mas esta união, tão íntima e generosa quão humilde, apenas pode contrair-se pela oração. Aplicar-se cuidadosamente ou fazer aplicar os outros à vida de oração, à contemplação, agrada, portanto, muito mais a Deus do que consagrar-se ou obrigar os outros à ação, às obras. Portanto, concluí São Tomás, quando São Gregório afirma que o sacrifício mais agradável a Deus é a salvação das almas, não é sua intenção dar à vida ativa preferência sobre a contemplação; quer apenas dizer que oferecer a Deus uma só alma, lhe dá infinitamente mais glória e a nós muito mais méritos de que apresentar-lhe tudo quanto de mais precioso exista na terra.

13 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 3/3

Não tenhamos dúvida alguma, a principal razão de esperar a ressurreição da França e de numerosos outros países é que talvez em nenhuma outra época tenha havido o que de há alguns anos a esta parte se verifica, mesmo entre simples fiéis, a saber: uma porção de almas tão ardentemente desejosas de viver unidas ao Coração de Jesus e de dilatar o seu reinado, fazendo germinar em derredor delas a vida interior. Ínfima minoria, essas almas de escol? Talvez. Mas que importa o número, havendo a intensidade? A reconstrução da França após a Revolução, deve-se atribuir a essa plêiade de sacerdotes amadurecidos na vida interior pela perseguição. Por meio deles, uma corrente de vida divina veio reanimar uma geração que a apostasia e a indiferença pareciam ter votado a uma morte que nenhum esforço humano vingaria conjurar.
após cinquenta anos de liberdade de ensino em França, após esse meio século que viu a eclosão de obras inumeráveis e durante o qual nos passou pelas mãos a mocidade francesa e logramos, nós católicos, o apoio quase completo dos governantes, qual a razão por que, a despeito de resultados aparentemente gloriosos, não pudemos formar na nação maioria tão profundamente cristã que lutasse contra a coligação dos sectários de Satanás? Certo que o abandono da vida litúrgica e a cessação da sua irradiação sobre os fiéis contribuíram para esta impotência. A nossa espiritualidade tornou-se acanhada, árida, superficial, exterior, ou inteiramente sentimental, e não mais possui aquela penetração e aquele incitamento da alma que causa a liturgia, essa grande força de vitalidade cristã.
Mas não existirá também outra causa no fato de nós, padres, educadores, à míngua de vida interior intensiva, não termos podido gerar senão almas de uma piedade superficial, sem ideal poderoso e sem profundas convicções? professores, não temos sido nós mais zelosos em alcançar o êxito dos diplomas e o prestígio da obra do que em dar às almas uma solidíssima instrução religiosa? Não temos despendido as nossas forças sem visar sobretudo à formação das vontades, para gravar em caracteres de rija têmpera a imagem de Jesus Cristo? E essa mediocridade não terá tido tantas vezes por causa a banalidade da nossa vida interior?
A sacerdote santo, houve quem dissesse, corresponde povo fervoroso; a sacerdote fervoroso, povo piedoso; a sacerdote piedoso, povo honesto; a sacerdote honesto, povo ímpio. Sempre um grau de vida a menos naqueles que são gerados.
Seria talvez exagero admitir esta proposição; julgamos, porém, que as seguintes palavras de Santo Afonso exprimem suficientemente qual a causa a que se devem atribuir as responsabilidades de nossa atual situação:
" Os bons costumes e a salvação dos povos dependem dos bons pastores. Se à frente de uma paróquia estiver um bom pároco, depressa nela se verá a devoção florescente, os sacramentos frequentados, a oração mental praticada. Daí o provérbio: Qualis pastor talis paróchia, segundo esta palavra do Eclisiástico (10, 2): Qualis est rector civitatis, tales et inhabitantes in ea.