13 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

A primeira razão que temos de aspirar à santidade, é «a vontade de Deus»: Haec est voluntas Dei sanctificatio vestra.  Deus quer, não só que nos salvemos, mas também que sejamos santos. E qual o motivo desta vontade de Deus? «É que Ele próprio é santo»: Sancti estote, quoniam ego sanctus sum. Deus é a própria santidade; nós somos criaturas Suas; Ele quer que a criatura reproduza a Sua imagem: mais ainda, quer que, «na nossa qualidade de filhos, sejamos perfeitos, como Ele, nosso Pai celeste, é perfeito»: Estote perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est. É o preceito de Jesus.
Deus encontra a sua glória na nossa santidade. Não esqueçamos nunca esta verdade: cada grau de santidade a que chegarmos, cada sacrifício que fizermos para a adquirir, cada virtude que com seu brilho ornar a nossa alma, será eternamente uma glória para Deus.
Diariamente cantamos, e parece-me que cada dia com mais satisfação: Tu solus sanctus, Jesu Christe 
 - «Só Vós sois Santo, ó Jesus Cristo»; e, por isso, sois a grande glória de Deus. Durante toda a eternidade Jesus Cristo dará uma glória infinita ao Pai, mostrando-Lhe as Suas cinco Chagas, magnifica expressão de soberana fidelidade e perfeito amor com que «sempre cumpriu o que o Pai reclamava d'Ele": Quae placita sunt ei facio semper.
O mesmo se dá com os Santos. Estão «diante do trono de Deus», e incessantemente Lhe dão alegria.
O zelo ardente dos Apóstolos, o testemunho dos Mártires purpureado de sangue, a profunda ciência dos Doutores, a radiante pureza das Virgens constituem outras tantas homenagens agradáveis a Deus.
Nesta « multidão que ninguém pede contar", cada Santo brilha com particular fulgor; e Deus olhará
com eterna complacência para os esforços, lutas, vitórias desse Santo, que são quais outros tantos troféus aos pés de Deus, a honrar as Suas infinitas perfeições e a reconhecer os Seus direitos.
É, portanto, para nós ambição legítima trabalhar com todas as forças para adquirir esta glória. que Deus recebe da nossa santidade; devemos aspirar ardentemente por fazer parte dessa sociedade bem-aventurada, em que o próprio Deus pôs as Suas complacências. É para nós motivo de não nos contentarmos com uma perfeição medíocre, mas de visarmos incessantemente a corresponder, o mais perfeitamente possível, ao desejo de Deus: Sancti estote, quia ego sanctus sum.
Outra razão é que, quanto mais elevada for a nossa santidade, mais exaltaremos o valor do sangue de Jesus.
Diz S. Paulo que «Jesus Cristo se entregou inteiramente à morte, e morte da cruz, para santificar a Igreja e fazer dela uma sociedade resplandecente, sem mácula nem ruga, santa e imaculada».  Foi este o fim do Seu sacrifício.
Ora uma das causas mais vivas de aflição para o Coração de Jesus durante a agonia no Horto das Oliveiras, foi a perspectiva da inutilidade do Seu sangue para tantas almas que haviam de rejeitar o dom divino: Quae utilitas in sanguine meo?  Jesus Cristo compreendia que uma só gota daquele sangue seria suficiente para purificar o mundo e santificar multidões de almas: mas, para obedecer ao Pai. consentiu, com indizível amor, em derramar até à última gota este sangue que continha a virtude infinita da Divindade. E, no entanto, temos de dizer: «Que utilidade resultou do derramamento deste sangue» ?
A grande ambição que faz palpitar o Coração de Jesus é glorificar o Pai; por isso, o seu mais veemente desejo - quomodo coarctor - era dar a vida para atrair ao Pai inúmeras almas que produzissem muitos frutos de vida e de santidade: In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum PLURIMUM afteratis.
Mas quantos há que compreendam o ardor do amor de Jesus? Quantos correspondem aos desejos do Seu Coração? Tantas almas que não cumprem as leis divinas! Outras guardam os mandamentos; mas pouquíssimas são as que se entregam a Jesus e à ação do Seu Espírito com essa plenitude que leva à santidade.
Felizes das almas que se abandonam sem reserva à vontade divina! Inteiramente unidas a Cristo, que é a vide, «produzem abundantes frutos e glorificam o Pai celeste»: proclamam sobretudo a virtude do sangue de Jesus.
Senão, vede. Qual é o cântico entoado pelos eleitos, que S. João nos mostra no Apocalipse prostrados diante do Cordeiro? "Fostes imolado e, pelo Vosso sangue, nos resgatastes para Deus, de toda a tribo, de toda a língua, de todo o povo, de toda a nação . . . A Vós glória e louvor»! Os Santos confessam que são os troféus do sangue do Cordeiro, troféus tanto mais gloriosos quanto mais eminente é a sua santidade.
Procuremos, pois, com todo o ardor das nossas almas, purificar-nos cada vez mais no sangue de Jesus, produzir esses frutos de vida e santidade que Jesus Cristo nos mereceu pela Sua Paixão e morte. Se formos santos, os nossos corações exultarão, durante toda a eternidade, com a alegria que daremos a Jesus Cristo, cantando os triunfos do Seu divino sangue e a omnipotência da Sua graça.

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