19 de dezembro de 2015

Sermão para a Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora 08.12.2015 – Pe Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] Bendita entre as mulheres: a Imaculada Conceição



Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Benedicta tu in mulieribus. Bendita sois vós entre as mulheres, diz o Arcanjo Gabriel na Anunciação. Bendita sois vós entre as mulheres, diz Santa Isabel na Visitação. Bendita sois vós entre as mulheres, repete constantemente a Igreja na sua liturgia, honrando a Mãe de Deus. Bendita sois vós entre as mulheres, repetem todos os dias os cristãos autênticos no mundo inteiro, recitando o Terço ou simplesmente rezando uma Ave-Maria. E assim se cumpre a profecia que fez Nossa Senhora no Magnificat: e todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
Bendita é Maria, com efeito. Bendita, entre tantos outros motivos, porque foi concebida sem pecado e sem pecado permaneceu durante toda a sua vida. Festejamos, hoje, a Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Nossa Senhora foi preservada por Deus da lei comum a todos os descendentes de Adão e Eva: nascer com o pecado original, nascer separados de Deus, sem a graça santificante. O pecado coloca a desordem na alma, faz que ela não se submeta mais a Deus. Essa desordem enfeia a alma, mancha ou macula a alma. A beleza supõe a ordem enquanto a feiura supõe a desordem. Por isso, chamamos o pecado de mancha ou mácula, pois coloca a desordem em nossa alma. Nossa Senhora foi concebida imaculada, sem a mancha, sem a desordem, sem a feiura do pecado.
Se Nossa Senhora escapou dessa lei comum a todos os descendentes de Adão, foi em vista de sua maternidade divina. Como todos os dons concedidos a Maria, também a sua concepção imaculada lhe foi dada em vista da maternidade divina. O grande princípio quando se fala de Nossa Senhora é esse: a maternidade divina constitui a base para as graças e privilégios dados a Maria. Essas graças são preparação para a maternidade divina ou consequência dessa maternidade. A Imaculada Conceição de Nossa Senhora é em vista da maternidade divina. Não convinha que a mãe de Jesus Cristo estivesse em algum momento sob o pecado, sob o domínio do demônio. Não convinha que a mulher que, por meio de sua descendência, esmaga o demônio, como nos diz o Protoevangelho no Gênesis, estivesse em algum momento sob o domínio do demônio pelo pecado. Além disso, seria uma desonra para Jesus o pecado de sua Mãe. A honra dos pais atinge a dos filhos. Não convinha que a honra de Jesus fosse atingida por um pecado pecado de sua mãe. Assim, ela foi concebida sem pecado e sem pecado permaneceu durante toda a sua vida.
Outro princípio que esclarece as graças e privilégios recebidos por Maria é o princípio de singularidade. Sendo a Virgem Maria uma pessoa inteiramente singular porque, evidentemente, é a única Mãe de Deus, Deus lhe dá com toda a justiça graças singulares. Quando Deus chama uma pessoa para uma missão, lhe dá as graças para que cumpra bem essa missão. Nossa Senhora recebeu a missão singular de ser Mãe de Deus. A ela cabem graças singulares, muito especiais. Entre essas graças únicas, está a graça da Imaculada Conceição, a graça de ter sido concebida sem o pecado original, ao contrário de todos os outros seres humanos, excetuando Nosso Senhor, claro. Virgo Singularis canta a Igreja no esplêndido hino Ave Maris Stella.. Virgem Singular. À Virgem singular foi dada a singular graça de ser concebida sem pecado.
Um outro princípio que podemos mencionar para entender um pouco as graças e privilégios de Maria é o princípio de eminência. Qualquer graça que Deus tenha concedido a algum santo ou criatura humana, Ele o concedeu ainda mais perfeitamente à Virgem Maria. Pio XI (Encíclica Lux Veritatis) diz que “Maria é a Mãe de Deus e que, como tal, obteve com aumento qualquer privilégio concedido a qualquer santo na ordem da graça santificante.” São Tomás diz que se acredita com razão que “aquela bem-aventurada Virgem que gerou o Unigênito do Pai teve de receber mais que qualquer outro os dons e privilégios da graça.” Podemos dizer também que quanto mais uma coisa está próxima da causa, mais ela se assemelha à causa. Assim, quanto mais próxima do fogo, mais uma coisa terá calor. Quanto mais próxima da santidade, mais uma coisa será santa. Maria é a criatura que está mais próxima de Deus, a Santidade. Ela tem que ter recebido mais do que todos os outros dessa santidade. Sabemos que o profeta Jeremias e que São João Batista foram purificados do pecado original no ventre de suas respectivas mães. Foram concebidos com o pecado original, mas purificados ainda no ventre materno. Com Nossa Senhora, a bondade divina vai muito além. Ela a purificou desde sempre, desde a sua concepção, não permitindo que a mais perfeita obra da Santíssima Trindade fosse manchada pelo pecado nem um instante sequer.
Para entender a Imaculada Conceição, poderíamos nos fazer aquelas perguntas que o povo se fazia para argumentar em favor da Imaculada Conceição: Poderia estar a Rainha dos anjos sob a tirania do demônio, que foi vencido pelos anjos? Poderia se a mediadora da reconciliação também inimiga de Deus, ainda que um só instante? Eva, que nos perdeu, foi criada em graça e Maria, por quem nos veio a salvação, teria sido concebida em pecado? O sangue de Cristo teria brotado de um manancial manchado? A Mãe de Deus escrava de satanás? Evidentemente, nada disso era conveniente. Esses argumentos populares mostram como o povo defendia a Imaculada Conceição com razões simples, mas profundas.
Nossa Senhora escapou, então, da lei do pecado original, mas não escapou da lei da redenção. Todos os homens, de Adão ao último, foram redimidos por Nosso Senhor Jesus Cristo. Também Nossa Senhora foi redimida pelo seu Filho. Normalmente, a redenção é liberadora, nos livra do pecado. Com Nossa Senhora, a redenção foi preventiva, evitando que ela caísse no pecado. Posso liberar um prisioneiro pagando para que seja liberado do cativeiro onde já se encontra ou pagando antecipadamente, evitando que seja colocado no cativeiro. Nossa Senhora foi redimida por antecipação, que é uma verdadeira e própria redenção, mais profunda que a redenção simplesmente liberadora.
Bendita é Maria, concebida sem pecado. Concebida em graça, em amizade com Deus. E não qualquer graça, mas uma graça proporcional ao seu futuro papel de Mãe de Deus. Uma graça, portanto, enorme. Maior que a de todos os anjos e santos.
Nesse dia da Imaculada Conceição, procuremos imitar Maria Imaculada, inimiga do pecado, amiga de Deus.
Em nome do Pai…


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