27 de novembro de 2015

Sermão para o 24º Domingo depois de Pentecostes - Padre Renato Coelho. IBP

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
No Evangelho de hoje lemos sobre o joio plantado no meio do trigo. O dono do campo diz que não se deve retirar o joio antes da hora certa para não correr o risco de perder também algum trigo. O joio é comumente associado aos homens maus e o trigo aos justos.
Olhando para os homens de hoje, pode-se perguntar: Por acaso há ainda o risco de se perder o trigo? Não seria já tudo joio? O que impede Deus de lançar fogo em tudo como Ele fez antigamente em Sodoma e Gomorra? E a resposta aparece já na época de Abraão: se houver ao menos algum justo naquele local, Deus poupará o todo do desastre iminente.
Passando aos dias atuais, estamos numa situação muitíssimo pior do que Sodoma e Gomorra. O vício é louvado e a virtude zombada. Todavia, Deus ainda poupa os homens pois há algo ainda que Ele quer preservar.
Muitos santos dizem que a causa do mundo ainda não ser castigado como o era na época do Antigo Testamento é a Missa. A Missa de fato apazigua a cólera divina de modo que não conseguimos imaginar. Mas há um fato curioso, a cólera divina nem sempre se manifesta de modo cinematográfico através de um ato violento causando mortes físicas e destruição. Às vezes, a cólera divina se manifesta de um modo mais sutil, mas continuando também a ser um castigo. Esse modo é o silêncio de Deus. Deus abandona os homens às suas misérias sem colocar obstáculos.
Mas a Missa não devia evitar esse tipo de castigo também? Sim, quando ela ocorre conforme a vontade de Deus, levando nossas súplicas de modo agradável e suave aos Céus. Mas e quando a própria Missa é causa da ira divina? E quando a Missa é feita de modo não a apaziguar a ira divina, mas sim a atiçá-la? E quando a comunhão, ao invés de ser um modo de dar força aos homens para praticar o bem, é consumida apenas para confirmá-lo no mal, como querem agora alguns com a comunhão para os adúlteros?
Os homens, principalmente aqueles que deviam se consumir pelo zelo das coisas de Deus, acabaram tratando as coisas santas como se fossem coisas profanas. Pior, permitem que as coisas santas sejam tratadas de qualquer modo, sem respeito algum. E assim, pouco a pouco, Deus permite que as pessoas percam a fé, de modo sutil e silencioso, o que o papa João Paulo II chamou de apostasia silenciosa. Sem alarde, sem barulho, as pessoas continuam a ir na Missa, mas já não tem mais a fé. Não tem uma fé viva, apenas fazem atos mecânicos e, fora da Missa, vivem como se Deus não existisse. Vão na praia, como se não houvesse lei moral e de modéstia. Assistem conteúdo contrário à fé e à moral nos cinemas e na televisão, sem ficar minimamente indignados com isso, ao contrário, vão atrás, buscam tais coisas. Onde está o coração aí está o seu tesouro. Pelo modo como vivem, percebe-se que Deus e Sua Lei são algo secundário, o mundo, as coisas do mundo, isso sim seria o importante.
Hoje, ser católico não implica mais em ser alguém inimigo das coisas do mundo, ao contrário, nada mais mundano do que um católico. Até um protestante, um budista, tem alguma ressalva às coisas do mundo. O católico moderno, não. Jesus, porém, nos diz, não vos conformeis com o mundo. O mundo não deve ser a nossa medida e modelo, mas sim os Evangelhos.
Uma Missa que busca se adequar ao mundo, claramente não segue os ensinamentos de Cristo. A Missa é feita para agradar a Deus e não ao mundo ou ao seu príncipe, o demônio. E estaríamos nós a favorecer uma Missa mundana, que ao invés de apaziguar a cólera divina, apenas permite que ela ocorra de modo ainda mais agudo, permitindo que o interior das pessoas morra, mantendo ainda apenas a casca?
Alguém poderia pensar: “Que bom que não preciso ir neste fim-de-semana a esse tipo de Missa sacrílega”. Mas esse pensamento tem algo de curioso. Por um lado, a pessoa fica feliz de não participar de algo ruim. Por outro, usa o verbo precisar, como se em algum outro momento, alguém precisasse, ou devesse ir a uma Missa ruim. Como pode isso? Há claramente um defeito grave de formação. Não faz sentido nós sermos obrigados a fazer algo ruim, ao contrário, a reta moral nos ensina a fugir do que é ruim e buscar o que é bom. Se nossa consciência aponta que tais Missas são insuportáveis, e se são insuportáveis para nós que temos muitos defeitos de apreciação, quanto mais não o seriam para Deus que repudia toda imperfeição? Mesmo na Missa tridentina, onde o sacerdote suplica diversas vezes para que Deus seja misericordioso com os defeitos que possam ter ocorrido, poderia ser mais agradável a Deus se fosse feita em presença de um sacerdote e fiéis santos. Devemos todos buscar que a Missa seja cada vez mais agradável a Deus, de todos os modos. Seja na qualidade dos objetos usados, seja no modo como é rezada, seja, principalmente, nas disposições internas que devemos ter durante a Missa, o que implica em vestimenta adequada (não minissaia, chinelo, camisa regata etc.), celular no modo silencioso, e continuamente em espírito de oração o que a música gregoriana tanto propicia.
Ainda um outro poderia pensar: “Ah, mas eu vou numa Missa qualquer e não me deixo contaminar, repudio dentro de mim os maus exemplos”. E erra também. Primeiro, de que modo se está agradando a Deus favorecendo algo que distancia as pessoas de Deus tornando-as mais mundanas, se não mais infantis? Deus nos pode que sejamos como as crianças na pureza e simplicidade de coração e não em incapacidade intelectual. Em segundo lugar, como é que se diz que não se deixa contaminar, negando a própria natureza humana que é tão facilmente influenciada pela imitação? Conseguiu-se aprender a falar em português como? Lendo livros de gramática ou imitando os outros? Quando aparece uma tentação de palavrão na cabeça, nós criamos aquela palavra feia de modo frio e estudado, ou apenas aquilo aparece de tanto escutarmos na rua e em outros lugares? Se alguém honestamente responde que tudo isso que falei é fruto da nossa capacidade de sermos facilmente influenciados pelo que ocorre ao nosso redor, como, de modo mágico, não o seríamos participando, vendo, coisas que tratam as coisas santas sem o devido respeito? É óbvio que nos tornamos cada vez mais insensíveis e desrespeitosos com as coisas santas quando frequentamos tais lugares. A conclusão católica que se impõe é que devemos fugir das Missas que trazem maus frutos e buscar apenas aquelas que trazem bons frutos.
Devemos favorecer aquilo que aproxima as pessoas de Deus, consequentemente apaziguando a Sua cólera, e não aquilo que favorece a multiplicação do joio. Se o inimigo plantou o joio no meio de trigo, isso não exclui ele ter plantado joio nas coisas da igreja, haja visto os maus padres que existem aos montes por aí, além dos maus fiéis, bem como nos vários tipos de Missa disponíveis (cada padre teria a “sua” missa). Devemos olhar com atenção e saber distinguir um do outro e fugirmos do joio, em todas as suas modalidades, e nos unirmos ao trigo. Se não prestarmos atenção e apenas nos unirmos a aquilo que nos é mais próximo e fácil (por exemplo, vou na Missa só porque é perto de casa, sigo o padre fulano por ele ser famoso etc.), corremos o risco de nos unirmos ao joio e sermos cortados fora junto com ele no dia determinado por Deus.
Que Nossa Senhora nos preserve disso e nos faça ver, o quanto antes, a urgência que temos em buscar a Deus o máximo possível e o quanto antes, pois Deus deve ser o primeiro a ser servido em nossas vidas.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.



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