28 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 269

AQUÊLE É MEU PAI

O imperador da Áustria, José II, ordenara que os presidiários fôssem empregados em trabalhos públicos. Alguns dêles varriam a praça de S. Estevão, em Viena. Um ministro observou que um môço bem trajado se aproximava de um daqueles varredores e beijava-lhe a mão. Um dia mandou chamar o môço e disse-lhe que aquêle modo de agir não lhe convinha.
"Senhor - disse o jovem - êsse condenado é meu pai". Comovido, o ministro referiu o fato ao imperador, o qual pôs o prêso em liberdade, dizendo: "Quem sabe educar seus filhso desta maneira não pode ser um malfeitor".

27 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 268

EM QUE TE OCUPAS?

Queixava-se um jovem ao seu confessor, dizendo-lhe que ouvia mal a missa.
- Que fazes durante a Missa? Em que te ocupas?
- Não faço outra coisa senão chorar os meus pecados.
- Continua, meu amigo; dêsse modo ouves muito bem a missa.

26 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 267

UM PROTESTANTE

Um protestante teve a curiosidade de entrar numa igreja durante a Missa num domingo, e pôs-se a observar os fiéis. Ao sair disse: "Os católicos dizem que Jesus Cristo está presente na Eucaristia; mas muitos dêles não o crêem; do contrário procederiam com mais respeito durante a Missa".

25 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 266

OITO HORAS POR DIA

S. Alfredo Magno, rei da Inglaterra, consagrava todos os dias oito horas à oração ou à leitura de livros piedosos. Oito horas aos negócios do Estado e oito horas ao descanso e às demais necessidades e ocupações. Levantava-se muito cedo e ia à capela, onde, prostrado por terra, fazia sua oração.

24 de fevereiro de 2013

Santa Missa no Rito Tridentino


Prezados leitores, Salve Maria!

Convidamos a todos os leitores do Blog São Pio V da cidade de Curitiba e cidades próximas, para a Primeira Missa Solene no Rito Tridentino do Diácono Rafael Rodrigo Scolaro, no dia 24 de fevereiro de 2013, 18:00 horas, na Paróquia da Catedral Ucraíno-Católica São João Batista.

A Catedral está localizada na Av. Presidente Kennedy, 3000 no bairro Água Verde.

Tesouro de Exemplos - Parte 265

SAIA SEM ESCOLTA

Os cortesãos censuravam o rei Henrique IV por sair, às vezes, sem escolta. Êle respondia: "O mêdo não deve existir na alma de um rei. Encomendo-me a Deus quando me levanto e quando me deito, e durante o dia lembro-me do Senhor. Estou sempre em suas mãos".

23 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 264

UMA BENÇÃO POR TELEGRAMA

Uma condessa fôra a Nice para pedir a D. Bosco que fôsse benzer a um seu netinho, que padecia dolorosa convulsões e parecia que se afogava. Não encontrando a D. Bosco, enviou-lhe um telegrama a Cannes, onde se achava.
O Santo, ao recebê-lo, enviou-lhe a bênção de Maria Auxiliadora também por telegrama e na mesma hora cessaram as convulsões e a criança sarou.

22 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 263

ESTUDE MEIA HORA MENOS

- Como vão seus estudos? - perguntou um sacerdote a um seu antigo aluno.
- Muito mal! Estudo o mais que posso e sempre tiro notas baixas.
- Estude meia hora meno - disse-lhe o antigo mestre - e empregue essa meio hora em pedir a Nossa Senhora que o ajude.
O rapaz seguiu o conselho, e após algumas semanas começou a progredir nos estudos, obtendo qualificação honorífica.

21 de fevereiro de 2013

Padre Daniel Pinheiro - IBP

[Sermão] Primeiro Domingo da Quaresma

Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-
No Santo Evangelho de hoje, vemos o demônio tentando NSJC. São Tomás diz que NSJC quis ser tentadopor quatro razões. Primeiramente, para nos auxiliar contraas tentações, isto é, para vencer as nossas tentações pelas suas, assim como venceu a nossa morte pela sua morte.Em segundo lugar, Ele quis ser tentado para que ninguém pense que está imune das tentações, por mais santo que seja. Terceiro, para nos dar o exemplo de como vencer as tentações. Quarto, para que tenhamos confiança em sua misericórdia, pois temos um Salvador semelhante a nós em tudo, salvo no pecado. É preciso ter claro, porém, que a tentação de Cristo no deserto é bem diferente da nossa. Quando somos tentados, inclinamo-nos e somos, em maior ou menor medida, atraídos ao mal e temos que combater essa inclinação, às vezes com grande dificuldade. Em Cristo, não houve nada disso, não houve qualquer conflito interno nem qualquer inclinação ao mal, por menor que seja. Para Cristo, as tentações que lemos hoje no Evangelho, eram puramente exteriores, pois do contrário haveria o início de uma desordem moral em Cristo, o que não pode ser admitido sem blasfêmia.
Convém, então, conhecermos o processo da tentação, para não confundi-la com o pecado. A tentação não é, em si, um pecado.
Nós vemos hoje, então, o demônio em seu ofício próprio, que é o de tentar, como nos diz São Tomás. Todavia, nem todas as tentações vêm do demônio. São Tiago no diz expressamente que “cada um é tentado por suas próprias concupiscências, que atraem e seduzem.” (Tiago I, 14). E também é evidente que outros homens podem nos tentar, nos incitar ao pecado pelo mau exemplo, por mau conselho, mandando, louvando o pecado, participando, ou então, não nos avisando, não impedindo, não denunciando o pecado quando podem e devem fazê-lo. A tentação pode ocorrer de dois modos distintos. O primeiro modo por persuasão interna, ou seja, pela imaginação, pela provocação de sentimentosdesordenados ou de paixões desordenadas, a fim de obscurecer nosso entendimento e arrastar nossa vontade. O segundo modo é pela proposição externa do objeto desordenado que atrai nossas paixões, nosso entendimento ou nossa vontade.
Para evitar a confusão entre a tentação e o pecado, é preciso distinguir três fases na tentação.
A primeira fase da tentação é a sugestão. A sugestão é a representação do pecado na imaginação ou na inteligência. Portanto, o pecado aparece em nossa imaginação ou em nossa inteligência. Essa mera representação ou aparição involuntárias - por piores que sejam e por mais duradouras que sejam – não constituem ainda pecado, se nossa vontade não consente. Evidentemente, devemos rechaçar essa sugestão assim que percebemos a sua maldade. Se a vontade não trabalha para afastar essa sugestão, nos expomos ao subsequente consentimento. Portanto, a negligência em não afastar essa sugestão ou representação é um pecado venial, sobretudo se a tentação é forte. Se eu desejo pensar em algo ruim ou imaginar algo ruim, já temos aí, evidentemente, um pecado, pois se trata de um ato plenamente voluntário. Eis a primeira fase: a sugestão, a imaginação ou o pensamentoruim involuntários.
A segunda fase da tentação é a deleitação não deliberada ou o sentir involuntário. Com frequência, a simples sugestão involuntária de que falamos acima geracerta deleitação ou uma sensação. Também aqui não há pecado, se essa sensação não é querida, se ela não é desejada nem permitida pela vontade. Essa sensação espontânea não é um ato voluntário e não pode, então, ser um pecado. Sentir não é consentir. E o pecado está somente no consentir. Então, se, ao contrário, consentimos nessa deleitação, nessa sensação agradável que nos traz a sugestão do pecado, cometemos aí sim uma ofensa a Deus.
A Terceira fase do tentação é o consentimento da vontade. Se depois da sugestão e dessa deleitação ou sensação involuntárias, a vontade rechaça ambas as coisas, não há aí pecado algum. O pecado só existe quando admitimos ou aprovamos a má sugestão ou a deleitaçãodesordenada. O pecado só vem  com o consentimento da vontade. É preciso ter bem claras essas três fases e ter em mente que o pecado só vem com o consentimento.
Muitas vezes, é difícil discernir se houve ou não consentimento. Há algumas regras para nos ajudar a saberse houve ou não consentimento. Assim, se se trata de uma pessoa de consciência reta que não costuma cair com frequência em pecado, a presunção de que não houve consentimento ou de que o consentimento foi imperfeito está a seu favor. Se se trata, ao contrário, de pessoa que tem a consciência larga e que costuma ceder com frequência às tentações, a presunção é de que houve consentimento. Se a pessoa lutou durante todo o período da tentação, rechaçando-a repetidas vezes, é provável que não tenha consentido ou ao menos que não tenha consentido plenamente. Da mesma forma, em geral, se a pessoa podia cometer facilmente um pecado externo correspondente à tentação e não o cometeu, há indíciosfortes de que não houve pleno consentimento. Em caso de dúvida séria se consentimos ou não, devemos fazer um ato de contrição e nos acusar dessa falta como duvidosa na confissão.
Para vencer as tentações é preciso, igualmente, distinguir três fases. A primeira fase antecede a tentação. Ela consiste em vigiar e orar. Nosso Senhor mesmo o diz:“Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt XXVI, 41). É preciso, portanto, ter uma vida de oração sólida, com as orações da manhã e da noite, com o Santo Terço, com jaculatórias. Recorrer a Nossa Senhora e ao Anjo da Guarda. É preciso vigiar, fugindo das ocasiões de pecado, evitando a ociosidade, combatendo o defeito dominante, mortificando os sentidos, sobretudo os olhos. Nosso Senhor nos dá o exemplo: no deserto, ele passou 40 dias rezando, meditando e mortificando-se, sem ociosidade, sem colocar-se em ocasião de pecado, etc…
A segunda fase do combate à tentação é durante a própria tentação. É preciso resistir à tentação assim que ela surge, isto é, quando ela inda é fraca e fácil de ser vencida.Não agir logo contra a tentação, sobretudo em matéria de fé e pureza, é um pecado venial de negligência e de exposição ao pecado, pois se deixamos o a imaginação ou o pensamento permanecerem, passaremos à deleitação involuntária e dessa deleitação temos um grande risco de passar ao consentimento. Nosso Senhor nos dá o exemplo. Ao contrário de Adão e Eva que pararam para pensar no que estava dizendo o demônio e terminaram consentindo, Cristo reage imediatamente, citando a Revelação. É preciso, assim, resistir à tentação seja diretamente, seja indiretamente. Resistir diretamente à tentação é fazer ou pensar o contrário daquilo que é sugerido pela tentação. Se a tentação consiste em falar mal de alguém sem necessidade, devemos procurar falar bem daquela pessoa, de suas qualidades. Se a tentação é de suprimir uma oração ou encurtá-la, devemos prolongá-la. Se a tentação é de irar-se sem causa ou de forma desproporcional, devemos agir com muita medida, etc. Resistirindiretamente consiste em não enfrentar a tentação, mas afastar-se dela, aplicando nossa imaginação e nossa inteligência em algo bom, lícito, que possa absorver nossas faculdades. Em tentações contra a fé e a castidade, devemos aplicar sempre a resistência indireta, pois nesses casos, a luta direta pode aumentar a tentação, dado o perigo e a sinuosidade da questão. Em matéria de fé e castidade, em particular, devemos aplicar as nossas faculdades, sobretudo a memória e a imaginação, a uma atividade que as absorva e devemos fazer isso rápida eenergeticamente, mas também com grande serenidade e calma. Por exemlo, podemos considerar todos os Estados do país e suas capitais, como diz um autor espiritual.
A tentação pode persistir, apesar de a rechaçarmosempregando os devidos meios. Se a tentação persiste, não devemos desanimar, não devemos perder a coragem. Será necessário repetir mil vezes o repúdio à tentação com serenidade e paz, evitando cuidadosamente o nervosismo, a perturbação e certo desespero, que seriam já um início de vitória do inimigo. Nosso Senhor dá mais uma vez o exemplo: Ele reage imediatamente à tentação e com vigor, mas com serenidade e calma. Cada ato de repulsa à tentação será um mérito adquirido diante de Deus e um novo fortalecimento para a alma. A tentação contínua, quando é igualmente rechaçada continuamente, aproxima a alma de Deus. Quando as tentações são contínuas, convém manifestá-las ao confessor, pois uma tentação declarada ao confessor é uma tentação semi-vencida já. O confessor poderá também dar conselhos mais precisos para evitar as tentações e combatê-las melhor. Claro, podemos pedir a Deus que nos livre dessas tentações, como fez São Paulo, sabendo, porém, que Deus pode continuar a permiti-las, justamente, para que possamos continuar a progredir humildemente, como ele fez com o mesmo Apóstolo. No Pai Nosso, não pedimos a Deus que nos livre da tentação, pedimos a Deus que não nos deixe cair nas tentações e que nos livre do mal, que é, antes de tudo, o pecado.
A terceira fase do combate às tentações é depoisdelas. A alma deve agradecer a Deus humildemente, se saiu vitoriosa do combate. Deve arrepender-se imediatamente, se teve a desventura de sucumbir, e procurar a confissão, se se trata de pecado grave. A alma deve aproveitar a lição da queda para os combates futuros.
Devemos nos lembrar, caros católicos, que as tentações sempre existirão. Elas só cessarão no céu. Diz a Sagrada Escritura: “Filho, vindo para servir ao Senhor, (…) prepara a tua alma para a tentação.” Em geral, quando tomamos a decisão de servir bem a Deus, somos mais tentados. E isso é bem normal. Quando estamos distantes de Deus, caminhamos sozinhos para o mal, não precisamos ser induzidos por alguém nem provocados ao erro. Quando a pessoa está distante de Deus já são tantos os perigos e as ocasiões de queda a que ela se expõe que o demônio nem precisa tentá-la, praticamente.
Eis, então, o combate contra a tentação, tentação que não é, em si, um pecado.
Aproveito também para tratar dos chamados pecados internos, para os quais muitas pessoas dão pouca importância ou automaticamente consideram como pecado venial, desde que não haja nenhum ato externo. Ora, o pecado é essencialmente algo interno, que está na vontade. Portanto, para que haja pecado não é necessário passar ao ato externo. Basta considerarmos o nono e o déicmo mandamentos: não cobiçar a mulher do próximo e não cobiçar as coisas alheias são pecados puramente internos. Assim, um pecado puramente interno tem a mesma gravidade essencial que o ato externo. Claro, o ato externo aumenta a malícia do ato interno em virtude da maior intensidade da vontade requerida para passar ao ato exterior, pela maior duração do ato interno, que se prolonga durante toda a execução exterior e pela eventualmultiplicação dos atos interiores quando da execução exterior. Além disso, os atos externos podem ter outras consequências: o escândalo, a destruição dos bens do próximo e a consequente obrigação de restituir, por exemplo. Mas, essencialmente, o pecado interno tem a mesma gravidade que o ato externo, pois o ato externo é simples prolongamento do pecado interno. Por isso, Nosso Senhor diz: “todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração.” (Mt V, 28). Portanto, se o ato externo é pecado mortal, o pecado puramente interno também será, se há a plena advertência e o pleno consentimento necessários para que haja pecado grave. Os pecados internos podem ser de três tipos. O primeiro tipo de pecado interno chama-sedeleitação morosa, que é regozijar-se na representação do pecado, como se ele estivesse sendo realizado, mas sem a intenção de realizá-lo exteriormente. Se alguém se regozija, com plena advertência e consentimento, nopensamento de assassinar outra pessoa, por exemplo, comete homícidio em seu coração, um pecado gravíssimo, por mais que não tenha a intenção de passar ao ato externo. O segundo tipo de pecado interno é o mau desejo,que ocorre quando a pessoa tem a intenção de executar o pecado quando for possível. Ainda que não consiga executá-lo, o pecado interno já está cometido com a mesma gravidade essencial do pecado externo. Com o mesmo exemplo, alguém que tem a intenção de matar outra pessoa, mas não consegue fazê-lo por que a polícia passou na hora, cometeu homicídio em seu coração. O terceiro e último tipo de pecado interno é a alegriapecaminosa, isto é, a alegria ou deleitação voluntárias com uma ação pecaminosa passada feita pela própria pessoa ou por outra. Aquele que, depois de ter matado alguém injustamente, se alegra de tê-lo matado, comete novamente homícidio em seu coração com a mesma gravidade essencial do homícidio propriamente dito. Portanto, os pecados internos não são sem importância, eles não são automaticamente veniais. Os pecados internostêm a mesma gravidade essencial do ato externo.
Sigamos o exemplo de NSJC, caros católicos: Adoremos ao Senhor e sirvamos a Ele somente, combatendo as tentações e evitando todo pecado.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Tesouro de Exemplos - Parte 262

DIANTE DE UMA IMAGEM DE MARIA

Conta o bispo de Verdun:
Dois homens tiveram uma discussão muito forte e um dêles, enfurecido, pôs-se a correr após o outro, com uma faca na mão. Quando estava para ser alcançado o que fugia agarrou-se a uma estátua de Nossa Senhora, dizendo:
"Terás coragem de ferir-me em presença da Virgem, nossa Mãe?"
A estas palavras, ao homem antes tão furioso caiu-lhe a faca da mão.

20 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 261

POUCAS PALAVRAS

Um dia foram duas pessoas perguntar a S. Macário como deviam rezar. Respondeu-lhes o Santo: "Não são necessárias muitas palavras; dizei sómente: Senhor, seja feita a vossa vontade!"

19 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 260

UMA GRANDIOSA PROCISSÃO

Em 1450 a cidade de Paris foi testemunha de um formoso espetáculo. Por ordem do bispo Guilherme, uma procissão de doze mil crianças de menos de catorze anos saiu da igreja dos Santos Inocentes, percorreu a cidade cantando e dirigiu-se à igreja de Notre Dame.
A voz da infância atraiu os olhares de  todos e abrandou os corações. Foi o meio mais eficaz para desarmar a cólera divina.

18 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 259

SERVIA-SE DOS MENINOS

S. Francisco Xavier, não podendo no curso de suas missões cuidar dos enfermos e da instrução dos fiéis, servia-se dos menino que batizara, os quais, seguindo suas recomendações, rezavam muito. Por suas orações saravam os doentes, os demônios eram afugentados e os idólatras, convertidos.

17 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 258

OS DOIS VASOS

Apareceu Jesus à serva de Deus Paula Maresca, e mostrando-lhe dois vasos, um de ouro e outro de prata, disse-lhe:
"Neste vaso de ouro guardo as comunhões sacramentais, e neste de prata guardo as comunhões espirituais".

16 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 257

ESTOU MELHOR

O general Droupt estivera gravemente enfêrmo. Vendo chegar o médico, disse-lhe:
- Doutor, estou melhor.
- De onde lhe vem esta melhora?
- Doutor, comunguei esta manhã - respondeu o general.

15 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 256

MEU ÚNICO REMÉDIO

Carlos V perguntou a um servo de Deus, que vivia na côrte, como fazia para conservar-se na graça de Deus no meio da licença de costumes dos cortesões e de tantas ocasiões de pecado.
- Majestade - respondeu - meu único remédio para não sucumbir é o temor de Deus e a comunhão diária.

14 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 255

PAI TODO-PODEROSO

Falava um pastor protestante com um menino que se preparava para a primeira comunhão, e perguntou-lhe:
- Você crê que na Hostia, que vai receber, está Jesus em corpo e alma?
- Creio, sim, senhor.
- Você sabe o Pai-Nosso?
- Sei, sim, há muito tempo.
- Então, reze-o.
- Pai nosso que estais no céu...
- Chega! Você compreende que Deus está no céu; logo, não pode estar na Hóstia.
O menino pensou um instante e disse:
- O senhor é capaz de rezar o Credo?
- Sou, sim: Creio em Deus Pai todo-poderoso...
- Basta! O sr. já compreende que, sendo Deus todo-poderoso, pode fazer o que quiser, e assim pode estar no céu e ao mesmo tempo na Hóstia consagrada.
O pastor, não sabendo que responder, confundido, deu por terminado o diálogo.

13 de fevereiro de 2013

Padre Daniel Pinheiro - IBP

Sermão para a Festa de São Cirilo de Jerusalém
09 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“O homem, tendo sido honrado por Deus, não compreendeu e comparou-se aos asnos tolos e fez-se semelhante a eles.” (Salmo 48, texto da vulgata)
Nestes dias de carnaval, nestes dias em que a bondade do Sagrado Coração de Jesus, em que a sua solicitude para conosco, em que a seu amor infinito é desprezado, nós temos o dever de buscar consolar o Sagrado Coração de Jesus, reparando pelas abominações cometidas nesses dias e também pelos nossos próprios pecados. É nosso dever fazer companhia ao Sagrado Coração de Jesus, vigiando com Ele, sofrendo com Ele, rezando com Ele. Se para muitos – muitos inclusive que dizem professar a religião católica – esses são dias de pecado, de atos viciosos, de desprezo ao amor divino e de ofensa à bondade e à majestade divinas. Se muitos zombam, nesses dias, de Deus e de sua misericórdia, e se muitos amam as coisas desse mundo – em particular a impureza – até o desprezo de Deus, para nós, ao contrário, esses dias são dias de graça, dias de misericórdia. São dias que Deus nos concede para satisfazer pelas nossas próprias faltas e pelos dos outros. São dias em que, acompanhando o Sagrado Coração de Jesus, traído pelos homens, coroado de espinhos, flagelado, crucificado e transpassado pela lança, devemos buscar formar com Nosso Senhor Jesus Cristo, um só coração. Um coração que deseje as mesmas coisas que Ele e que rejeite as mesmas coisas que Ele.
Só podemos avaliar com clareza as dimensões dos crimes que se cometem durante o carnaval, só podemos ter uma pálida noção da maldade dos homens nesses dias, só podemos ter uma pálida idéia da intensidade e da malícia das ofensas feitas a Deus nesses dias, se compreendemos a intensidade e a bondade do Sagrado Coração de Jesus, se compreendemos o fogo imenso da caridade que arde em seu Coração. Os profetas do Antigo Testamento, com frequência agiam assim, a fim de amolecer os corações endurecidos dos homens: por um lado, eles lembravam aos homens todos os benefícios divinos feitos ao povo de Israel e, por outro, ameaçavam com os devidos castigos, em particular com o inferno. Trataremos hoje, nessa primeira Missa e nessa primeira Bênção do Santíssimo, com intenção reparadora pelos pecados cometidos durante o carnaval, de considerar a bondade divina, todo o bem que Deus nos fez gratuitamente, por pura liberalidade, pois não temos direito a tantos e tantos benefícios.
O primeiro benefício que Deus nos fez foi evidentemente nos criar. Com frequência nos esquecemos disso. Não tínhamos nenhum direito à existência, não tínhamos nenhum direito, se posso dizer assim, a passar do nada para vida. E Deus não só nos dá a vida como nos conserva no ser a cada instante de nossa existência. Nesse exato momento, só estamos aqui porque Deus pensa em nós e quer que existamos. E Deus não nos deu qualquer ser. Deus nos deu uma um corpo e uma alma racional. Deus nos deu a inteligência e a vontade, para conhecer a verdade e amá-la. Para conhecer a verdade, quer dizer, para conhecê-lo, pois é ele a Verdade e para amar essa verdade. Só com isso, nossa honra já é grande.  Mas o amor divino não se contentou com isso. O Amor divino nos elevou à vida sobrenatural, Deus quis que participássemos de sua própria vida, Deus quis nos fazer semelhante a Ele. E o que Deus recebeu em troca? A ofensa, a ingratidão, a indiferença, a zombaria. O homem foi elevado a uma alta honra, mas não compreendeu e preferiu agir segundo a sua própria vontade, seguindo suas paixões desordenadas. O homem foi elevado à participação na vida divina, mas recusou tal participação e amou as criaturas até o desprezo de Deus.
Tendo cometido uma ofensa infinita, o homem estava condenando a viver separado de Deus. O amor divino, porém, desejando ardentemente nosso bem, resolveu vir ao mundo para nos salvar. E toda a história da humanidade se resume a isso: à preparação para a encarnação do Verbo, a vida do Verbo nessa Terra e as consequências da vida do Verbo entre os homens, em particular as consequências de seu sacrifício na Cruz. O amor de Deus para com os homens é tanto que Ele não poupou o seu próprio Filho. Deus assim amou os homens, ao ponto e lhes dar seu próprio Filho, para que possam se salvar. Vejamos a bondade divina.
No Antigo Testamento, Deus lembra aos israelitas todos os seus benefícios ao longo da história deles, a fim de suscitar em seus corações, a gratidão e a caridade. Em terras do Egito, ele fez grandes prodígios. O mar foi dividido para lhes dar passagem. De dia, ele os conduziu por trás de uma nuvem, e à noite ao clarão de uma flama. Rochedos foram fendidos por ele no deserto, com torrentes de água os saciou. Da pedra fizera jorrar regatos, e manar água como rios. Ele ordenou às nuvens do alto, e abriu as portas do céu. Fez chover o maná para saciá-los, deu-lhes o trigo do céu. Pôde o homem comer o pão dos fortes, e lhes mandou víveres em abundância. Fez chover carnes, então, como poeira, numerosas aves como as areias do mar, as quais caíram em seus acampamentos, ao redor de suas tendas. Delas comeram até se fartarem, e satisfazerem os seus desejos. Malgrado tudo isso, persistiram em pecar, não se deixaram persuadir por seus prodígios. Quantas vezes no deserto o provocaram, e na solidão o afligiram! Esqueceram a obra de suas mãos, no dia em que os livrou do adversário, quando operou seus prodígios no Egito e maravilhas nas planícies de Tânis; quando converteu seus rios em sangue, a fim de impedi-los de beber de suas águas; quando enviou moscas para os devorar e rãs que os infestaram; quando entregou suas colheitas aos pulgões, e aos gafanhotos o fruto de seu trabalho; quando arrasou suas vinhas com o granizo, e suas figueiras com a geada; quando extinguiu seu gado com saraivadas, e seus rebanhos pelos raios; quando descarregou o ardor de sua cólera, indignação, furor, tribulação, um esquadrão de anjos da desgraça. Matou os primogênitos no Egito, enquanto retirou seu povo como ovelhas, e o fez atravessar o deserto como rebanho. Conduziu-o com firmeza sem nada ter que temer, enquanto aos inimigos os submergiu no mar. Ele os levou para uma terra santa, até os montes que sua destra conquistou. Ele expulsou nações diante deles, distribuiu-lhes as terras como herança, fez habitar em suas tendas as tribos de Israel.
E diante de tantos benefícios – só citamos alguns – o que fizeram os judeus? Eles esqueceram as obras de Deuss, e as maravilhas operadas ante seus olhos. Entretanto, continuaram a pecar contra ele, e a se revoltar contra o Altíssimo no deserto. Provocaram o Senhor em seus corações, reclamando iguarias de suas preferências. Tentaram a Deus e provocaram o Altíssimo, e não observaram os seus preceitos. Deus fez tudo por eles. Eles nada fizeram por Deus.
Ora, se Deus reclama e pune a ingratidão dos judeus, diante desses benefícios, quanto maior será a dor do Sagrado Coração diante de nossos pecados e diante de nossa ingratidão, pois os benefícios que nos foram dados pelo Sagrado Coração são infinitamente superiores aos dados ao povo eleito. O Verbo veio ao mundo, padeceu desde o primeiro momento de sua encarnação e de seu nascimento. Fugiu para o Egito, levou trinta anos de uma vida humilde e escondida nos mais árduos trabalhos. Padeceu fome e sede, não tinha onde repousar a cabeça. Foi flagelado, foi cuspido e zombado. Foi coroado de espinhos, carregou sua caiu por terra três vezes. Foi crucificado, morto. Teve o Coração transpassado cruelmente por uma lança. Foi sepultado. Foi rejeitado por aqueles que ele veio salvar. Ensinou-nos toda a Verdade, fundou a Igreja, institui os sacramentos. Desce todo dia sobre os altares em Corpo, Alma, Sangue e Divindade para se entregar a nós. Perdoa nossos pecados na confissão. Deu-nos Nossa Senhora por mãe. E fez tudo isso, apesar de sermos pecadores. Que grandeza da caridade divina. E nós? Nós fomos elevados a uma sublime honra, a ponto do homem-Deus sofrer para nos salvar e nós não entendemos e preferimos nos assemelhar aos asnos tolos, pois quando pecamos nos assemelhamos aos animais, que não pensam e são incapazes de reconhecer a lei natural e a lei divina. Preferimos não seguir as leis de Deus, para seguir nossas irracionalidades, para nos tornar como os animais.
É exatamente o que ocorre de forma mais intensa no carnaval. O homem não entende a honra à qual foi elevado e se faz semelhante aos animais, pelos pecados, sobretudo pelos pecados de impureza, que de fato rebaixam o homem ao estado de animal. O homem prefere uma satisfação instantânea à vida eterna. O homem prefere perder o céu e dirigir-se ao inferno a agir conforme as leis divinas, conforme as leis naturais, conforme, portanto, àquilo que é o melhor para ele conforme com sua natureza racional. O homem prefere um instante ou uma vida passageira de prazeres e diversões desordenadas à vida eterna, à felicidade perfeita, à contemplação da verdade. O homem prefere flagelar novamente Nosso Senhor, coroá-lo de espinhos, flagel-alo, cuspir sobre o crucificado. O homem prefere aumentar o peso da cruz de Cristo. Prefere derrubá-lo e renovar a dor de todas as suas chagas, abertas para nos salvar. Ele prefere crucificar seu divino Salvador, ele prefere abrir o lado do Verbo encarnado e feri-lo diretamente em seu Sagrado Coração.
Esse Sagrado Coração continua sendo fonte de misercórdia e de caridade. E ele o será até o final da vida de cada homem. Mas um dia essa vida acaba e não sabemos quando, e se seguirá o juízo. E se o homem não se arrependeu sinceramente de seus crimes, o juízo será de condenação, pois ninguém zomba de Deus impunemente. Essas satisfações instantâneas e esses prazeres desordenados e irracionais, que assemelham o homem aos animais brutos se transformarão em sofrimento eterno. E serão condenados pelo amor divino, ou melhor, pela recusa do amor divino. Não poderão recorrer a esse amor, porque foram condenados justamente porque o recusaram.
Tantos benefícios divinos e tantos desprezos. Tanto amor e tanta indiferença. Tanta bondade e tanta malícia. Aproveitemos esses dias para acompanhar o Sagrado Coração de Jesus em seus sofrimentos, em sua agonia, em seu Coração ferido pela lança afiada dos pecados do carnaval. Acompanhemos Nosso Senhor com práticas de devoção, com mortificações, por menores e simples que sejam. Só a vinda a essa Missa nesses dias já é, talvez, para muitos um ato de generosidade. Devemos fazer um esforço. Alguns se dedicam tanto ao mal que passam dias sem dormir para cometer iniquidades. Dediquemo-nos um pouco ao bem, a Deus, ao Sagrado Coração de Jesus. Acompanhemos Nosso Senhor Jesus Cristo para que nosso coração possa formar com o dEle um só Coração, no sentido de amarmos Deus e o próximo, e a virtude e de detestarmos, o pecado, o vício e tudo o que conduz ao pecado. Não fiquemos indiferentes diante de tantos benefícios e de tanta caridade. Não fiquemos indiferentes diante dos sofrimentos do Sagrado Coração. Fomos elevados a uma honra sublime, a honra de filhos adotivos de Deus. Devemos compreendê-la e agir segundo essa filiação. É essa a nossa honra, a nossa glória, a nossa finalidade nesse mundo e a nossa alegria. Devemos nos fazer semelhantes não aos animais brutos, mas a Deus, nosso Pai.
Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao voso.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Tesouro de Exemplos - Parte 254

O QUE VALE UMA MISSA

Achava-se um missionário muito esgotado por seus trabalhos apostólicos. Seus companheiros, para induzi-lo ao descanso, diziam-lhe: "Se o médico conhecesse o vosso estado de saúde, não vos permitiria a celebração da Missa".
Mas o enfêrmo replicou: "Pelo contrário, se o médico soubesse o que vale uma Missa, êle me animaria a dizê-la diáriamente".

12 de fevereiro de 2013

Padre Daniel Pinheiro - IBP

Sermão para o Domingo da Quinquagésima
10 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Se não tiver a caridade, nada sou.” (I Cor, 13)
Três dias somente nos separam do começo da Quaresma. A Santa Igreja continua a nos preparar e a nos dispor, pela Sagrada Liturgia, a uma Quaresma que possa o dar frutos eternos. Para tanto, a Igreja nos apresenta o sublime elogio da caridade na Epístola de São Paulo e nos apresenta, no Evangelho, o anúncio da paixão e a cura de um cego. Mas como essas três coisas nos preparam de maneira perfeita para a Quaresma, pois não parece haver muita relação entre elas?
Para compreender o que a Igreja quer nos ensinar, devemos, antes de tudo, considerar bem a finalidade da Quaresma. A quaresma são quarenta dias de conversão, quarenta dias para que possamos morrer ao pecado com Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de ressuscitar com Ele para a vida da graça. Para fazer isso, precisamos da penitência, pela qual, com verdadeira dor e detestação de nossos pecados, satisfazemos pela ofensa feita a Deus. Todavia, a penitência sozinha não serve para nada, se ela não é inspirada pela caridade, quer dizer, ela não serve para nada se ela não é feita em união com Deus ou tendo em vista essa união com Deus, essa amizade com Deus. E isso porque a melhor das ações não tem valor algum para a salvação, se ela não é acompanhada da caridade ou se ela não tem por fim a caridade. Além disso, como somos fracos e inconstantes e sem Deus nada podemos fazer, devemos pedir a Deus, pela oração, que nossas penitências acompanhadas da caridade sejam agradáveis aos seus olhos.
Dessa forma, podemos compreender porque a Igreja escolheu estas passagens da Sagrada Escritura para o Domingo que precede a quaresma. A Igreja anuncia a Cruz, para que satisfaçamos pelos nossos inumeráveis pecados. Ela faz o elogio da caridade porque sem a caridade nada tem valor, dado que só a caridade ordena tudo a Deus. E, finalmente, ela nos apresenta a cura do cego, na qual encontramos um modelo de oração: “Filho de David, tende piedade de mim.” Assim, não podemos fazer uma penitência sincera sem ter por finalidade a união com Deus. E, ao mesmo tempo, não podemos estar verdadeiramente unidos a Deus se recusamos carregar a nossa própria cruz, quer dizer, se recusamos fazer penitência. A cruz e a caridade são inseparáveis nessa Terra. Todavia, nem a caridade nem a cruz podem existir sem a oração, pois sem Deus nada podemos fazer. É preciso fazer penitência não para se orgulhar, não para se mostrar aos outros, mas para recobrar ou aumentar a nossa amizade com Deus, pedindo-lhe, pela oração, essa amizade. Durante a Quaresma, a união da penitência, da oração e da caridade é indispensável. Uma Quaresma sem um desses três elementos seria uma Quaresma infrutífera, que não conduziria a uma união profunda e duradoura com Deus, união que é, justamente, o objetivo da Quaresma. É por isso que, tradicionalmente, recomendam-se esforços nesses três frontes durante a Quaresma: penitência (privar-se de algo que gosta, por exemplo), oração (determinar dias de visita ao Santíssimo, rezar um terço a mais, ou outra devoção) e obras de caridade (como, por exemplo, esmolas ou as obras de misericórdia corporais e espirituais).
Gostaria, porém, de dar um exemplo e uma sugestão, caros católicos, de resolução para essa Quaresma. Exemplo e sugestão de uma resolução que une muito bem esses três elementos de que acabamos de falar. Trata-se do combate de cada um contra seu defeito dominante.
O demônio, inimigo do homem, é como um leão que ruge ao nosso redor, procurando nos devorar. Com muita inteligência, ele busca, precisamente, nos atacar em nosso ponto fraco. Assim, ele faz a ronda para examinar todas as nossas virtudes teologais, cardeais e morais, e é no ponto em que nos encontra mais fraco, é nesse ponto, que é o mais perigoso para a nossa salvação, que ele nos ataca e tenta nos abater. Como um bom chefe de guerra, ele sabe que uma vez tomado o ponto mais fraco de nossa alma, o menos virtuoso, ele vai se tornar o mestre de todo o resto de nossa alma. Esse ponto mais desprovido de virtude, o mais arruinado pelas nossas más inclinações é justamente o nosso defeito dominante, que é também a raiz, a causa de muitos outros pecados. Esse defeito dominante pode ser muito diverso segundo cada pessoa: o orgulho, a vaidade, a sensualidade, a impureza, a falta de modéstia, o respeito humano, o apego aos bens desse mundo, o apego às honras ou à glória desse mundo. Ele pode ser a preguiça, sobretudo a preguiça espiritual, a falta de espírito sobrenatural, a falta de esperança, a inconstância, o espírito mundano, a cólera, etc…
É fácil ver a importância de combater nosso defeito dominante e isso por duas razões principais. Primeiramente, porque é do defeito dominante que nos vêm os maiores perigos para a nossa alma e as mais graves ocasiões de pecado. Como dissemos, ele é a raiz para vários outros pecados. Segundo, podemos ver a importância de combater o defeito dominante pelo fato de que, uma vez vencido o inimigo mais terrível, os inimigos mais fracos serão facilmente derrotados por nossa alma, que se tornou mais forte em razão da primeira vitória. Devemos agir como o Rei da Síria na guerra contra Israel. Esse Rei ordenou aos seus soldados que combatessem unicamente contra o Rei de Israel, prometendo que a morte do Rei inimigo daria uma vitória fácil sobre o resto do exército israelita. Foi exatamente o que aconteceu: tendo morrido o rei de Israel, todo o exército cedeu e a guerra terminou imediatamente. De maneira semelhante, caros católicos, será muito mais fácil vencer nossos outros defeitos quando tivermos vencido o nosso defeito dominante.
Para que sejamos vitoriosos nesse combate, é preciso, todavia, seguir o conselho da Igreja. A vitória sobre o nosso defeito dominante não ocorre sem os sofrimentos, sem as cruzes, sem as privações. É impossível vencê-lo sem a mortificação, sem a penitência. Do mesmo modo, sem a oração – sem muita oração – é igualmente impossível vencê-lo e até mesmo começar a batalha, pois é Deus que nos dá a força para combater e é Deus que nos dá, em última instância, a vitória. Sem Ele, mais uma vez, nada podemos fazer. Finalmente, é a caridade, a vontade de servir Deus, infinitamente bom e amável, que deve nos animar e nos dispor ao combate. São a cruz e a oração simples – mas eficaz – do cego que nos são lembradas pelo Evangelho. É a caridade – absolutamente necessária – que nos lembra São Paulo no sublime elogio da caridade. Mas para não se enganar a respeito de seu próprio defeito dominante, é necessário pedir o auxílio de Deus, para que Ele mostre qual é esse defeito e convém pedir conselho a um padre bom que conheça sua alma.
Se, caros católicos, conseguirmos vencer ou ao menos começar uma batalha séria contra nosso vício dominante – porque às vezes é preciso muito tempo para vencê-lo, como foi o caso, por exemplo de São Francisco de Sales com a ira – o caminho da santidade estará bem traçado, pois dessa forma cortamos o mal pela raiz, cortamos o mal em sua causa e evitamos todos os frutos ruins, que são os pecados. Com essa má árvore cortada, poderemos praticar com facilidade e alegria a virtude e o bem, avançando no caminho da perfeição.
Em todo caso, caros católicos, durante a Quaresma, não esqueçam nem um só desses três elementos: a penitência, a oração e a caridade. Com eles teremos uma Quaresma com frutos abundantes e duradouros porque teremos avançado em direção à vida eterna, satisfazendo por nossos pecados e nos dispondo à graça. Sem esses elementos, nossa Quaresma até poderá produzir alguns frutos, mas eles permanecerão superficiais e passageiros. Portanto: a cruz, a oração, a caridade. Isso é o resumo do Evangelho, o resumo da vida de Nossa Senhor Jesus Cristo. Deve ser também o resumo de nossas vidas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Tesouro de Exemplos - Parte 253

TRÊS COMUNHÕES

S. Catarina de Gênova achava-se muito doente, e os médicos desesperavam de sua vida e não encontravam remédio para aliviá-la.
A Santa recebeu uma luz do alto que lhe fêz conhecer que com três comunhões recobraria a saúde. O confessor administrou-lhe êsse remédio divino, e depois da terceira comunhão ela estava perfeitamente curada.
Uma noite, sonhou que no dia seguinte não poderia comungar, e sentiu uma dor tão viva que ao despertar encontrou o travesseiro banhado de lágrimas.

11 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 252

SANTA JULIANA

Era uma religiosa de clausura em Florença, Itália. Adoeceu tão gravemente, que, ao administrarem-se-lhe os sacramentos, não foi possível dar-lhe a comunhão, porque não podia reter nada no estômago. Chorando rogava ao sacerdote que, já que não podia receber Jesus pela bôca, pelo menos o colocasse alguns instantes sôbre o seu peito, para que estivesse mais perto de seu coração.
Assim o fêz o sacerdote, desaparecendo a sagrada Partícula, ao mesmo tempo que a Santa morria de gôzo. Sôbre seu peito acharam gravada, à maneira de sêlo, a imagem de Jesus.

9 de fevereiro de 2013

Frutos da meditação das dores de Maria Santíssima.

Sicut qui thesaurizat, ita et qui honorat matrem suam ― "Como quem ajunta um tesouro, assim se porta o que honra sua mãe" (Eclo 3, 5).

Sumário. Por causa do imenso amor com que Jesus Cristo ama sua querida Mãe, são-Lhe muito agradáveis os que com devoção meditam nas dores de Maria Santíssima e inúmeras são as graças que lhes comunica. Mas infelizmente, quão poucos são os que praticam tão bela devoção! Muitos cristãos, em vez de se compadecerem das dores de Maria, lh’as renovam com seus pecados ou sua tibieza. Irmão meu, serás tu também um destes ingratos?

I. Para compreender quanto agrada à Bem-Aventurada Virgem que nos lembremos de suas dores, bastaria somente saber que ela, no ano de 1239, apareceu a sete devotos seus (que depois foram os fundadores da Ordem dos Servos de Maria), com um hábito negro na mão e ordenou-lhes que, desejando fazer-lhe causa agradável, meditassem com freqüência em suas dores. Por isso queria que em memória delas trouxessem daí em diante aquele hábito lúgubre. Jesus Cristo mesmo revelou à Bem-aventurada Verônica de Binasco, que quase Lhe agrada mais ver compadecida sua Mãe que Ele mesmo, pois que lhe disse assim: Filha, são-me caras as lágrimas derramadas pela minha Paixão; mas como eu amo com amor imenso a minha Mãe, me é mais cara a meditação das dores que ela padeceu na minha morte.

Por isso são muito grandes as graças que Jesus prometeu aos devotos das dores de Maria. Refere o Padre Pelbarto ter sido revelado a Santa Isabel, que São João Evangelista, depois que a Santíssima Virgem foi assunta ao céu, desejava vê-la mais uma vez. Foi-lhe concedida a graça e apareceu-lhe sua cara Mãe e juntamente com ela também Jesus Cristo. Ouviu depois, que Maria pediu ao Filho alguma graça especial para os devotos das suas dores e que Jesus lhe prometeu para eles quatro graças especiais: 1º. Que o que invocar a divina Mãe pelos merecimentos de suas dores merecerá fazer, antes da morte, verdadeira penitência de todos os seus pecados. 2º. Que ele defenderá aqueles devotos nas tribulações em que se acharem, especialmente na hora da morte, 3º. Que imprimirá neles a memória de sua Paixão e que no céu lhes dará depois o competente prêmio. 4º. Que entregará os tais devotos nas mãos de Maria, afim de que deles disponha à sua vontade e lhes obtenha todas as graças que quiser. Em comprovação de tudo isto encontram-se nos livros inúmeros exemplos.

II. Se é tão agradável a Maria Santíssima que nos lembremos das suas dores e se são tão grandes as graças que Jesus Cristo prometeu a quem pratica esta devoção, claro está que, juntamente com a devoção à Paixão do Redentor, devia ser a de todos os cristãos. Mas infelizmente, quantos não há que, especialmente nestes dias de carnaval, em vez de honrarem a Virgem dolorosa, ainda lhe aumentam as penas e pela sua tibieza e pelos seus pecados lhe traspassam o coração com novas espadas?

É isso que, como conta o Padre Roviglione, a divina Mãe quis ensinar a um jovem seu devoto. Tendo este caído em pecado mortal e ido na manhã seguinte visitar uma imagem da Virgem que tinha sete espadas no peito, viu não sete, mas oito espadas. Ouviu então uma voz que lhe disse que aquele seu pecado tinha acrescentado a oitava espada no coração de Maria.

Ah, minha bendita Mãe! Não só uma espada, mas tantas espadas quantos têm sido os meus pecados acrescentei ao vosso coração. Ah Senhora! Não a vós, que sois inocente, mas a mim, réu de tantos delitos, se devem as penas. Mas já que vós quisestes padecer tanto por mim, ah! pelos vossos merecimentos impetrai-me uma grande dor dos meus pecados e paciência para sofrer os trabalhos desta vida, que serão sempre leves em comparação com os meus deméritos, pois que tantas vezes tenho merecido o inferno. Impetrai-me também, ó minha Mãe, uma devoção constante e terna à Paixão de Jesus Cristo e às vossas dores, afim de que, depois de Vos ter acompanhado na terra em vossas penas, mereça participar da vossa glória no céu. (*I 230.)

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(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 277-279.)

8 de fevereiro de 2013

Amor de Jesus em querer satisfazer por nós.

Dilexit nos, et tradidit semet ipsum pro nobis oblationem et hostiam Deo ― "(Jesus) amou-nos e se entregou a si mesmo por nós em oblação e como hóstia para Deus" (Eph. 5, 2).

Sumário. Nunca se deu, nem se dará jamais, no mundo outro fato semelhante ao que está consignado nos Evangelhos. Estando o homem por sua própria culpa condenado à morte eterna, o Filho de Deus pediu e obteve de seu divino Pai, que o deixasse tomar a natureza humana e pagar com a própria morte as penas devidas ao homem. Que te parece, irmão meu, este amor do Filho e do Pai? Todavia, a maior parte dos homens, talvez tu também, não responderam a tamanho amor senão com ingratidão.

I. A história refere um fato de um amor tão prodigioso que será a admiração de todos os séculos. Um rei, senhor de muitos reinos, tinha um filho único, tão belo, tão santo, tão amável que era as delícias do pai, que o amava tanto como a si mesmo. Ora, este jovem príncipe tinha tão grande afeição a um de seus escravos, que tendo aquele escravo cometido um crime, pelo qual foi condenado à morte, o príncipe se ofereceu a morrer em seu lugar. E o pai, zeloso dos direitos da justiça, consentiu em condenar à morte seu filho bem-amado, afim de que o escravo escapasse do suplício que havia merecido. A sentença foi executada: o filho morreu no patíbulo, e o escravo ficou salvo.

Este fato, que não teve e nunca terá outro semelhante no mundo, está consignado nos Evangelhos. Ali se lê que o Filho de Deus, o Senhor do universo, vendo o homem condenado, pelo seu pecado, à morte eterna, quis tomar a natureza humana, e pagar com a sua morte os castigos devidos ao homem: Oblatus est, quia ipse voluit (1) ― "Ele foi oferecido, porque o quis". E o Pai Eterno deixou-o morrer sobre a cruz para nos salvar a nós, miseráveis pecadores: Proprio Filio non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum (2) ― "Não perdoou a seu próprio Filho, mas entregou-o por nós todos". Que te parece, alma devota, este amor do Filho e do Pai?

Desta sorte, meu amável Redentor, morrendo quisestes sacrificar-Vos para me alcançar o perdão! E que Vos darei eu em reconhecimento? Vós me haveis obrigado demais a amar-Vos, e eu seria demais ingrato, se Vos não amasse de todo o meu coração. Vós me haveis dado a vossa vida divina, e eu, miserável pecador como sou, Vos dou a minha. Sim, ao menos tudo o que me resta de vida, quero empregá-lo unicamente em amar-Vos, obedecer-Vos e agradar-Vos.

II. O que abrasava mais São Paulo de amor para com Jesus era a lembrança de que ele quisera morrer, não só por todos os homens em geral, mas ainda por ele em particular. Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me (3). ― Ele me amou, dizia, e se entregou por mim. Cada um de nós pode dizer outro tanto; porque São João Crisóstomo assegura que Deus ama tanto cada um de nós, como ama o mundo inteiro. Assim, cada cristão não está menos obrigado a Jesus Cristo, por ter padecido por todos, do que se houvera padecido só para ele.

Meu irmão, se Jesus Cristo tivesse morrido somente para te salvar, deixando os outros na sua perda original, que obrigação Lhe não devias tu? Deves, porém, saber que Lhe és ainda mais obrigado por ter morrido por todos. Se ele só por ti houvesse morrido, que dor não seria a tua, pensando que teus próximos, teu pai e mãe, teus irmãos e amigos, pereceriam eternamente e que depois desta vida seríeis separados para sempre? Se fosses feito escravo com toda a tua família e alguém viesse a resgatar-te a ti somente, quanto lhe não pedirias que resgatasse também teus pais e irmãos! E quanto lhe não agradecerias, se ele o fizesse para te agradar! Dize, pois, a Jesus:

Ah! meu doce Redentor, Vós fizestes isso por mim, sem eu Vo-Lo ter pedido. Não somente me resgatastes da morte a preço de vosso sangue, também aos meus parentes e amigos, de sorte que me é permitido esperar que, reunidos todos, juntos gozaremos de Vós para sempre no paraíso. Senhor, eu Vos agradeço e Vos amo e espero agradecer-Vos e amar-Vos eternamente nessa bem-aventurada pátria. ― Ó Maria, ó minha Mãe das dores, obtende-me a santa perseverança. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo. (*I 541.)

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1. Is 53, 7.
2. Rom 8, 32.
3. Gal 2, 20

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 274-277.)

7 de fevereiro de 2013

O carnaval santificado e as divinas beneficências.

Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris ― "Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas riquezas" (Ecclus. 22, 28).

Sumário. Para desagravar o Senhor ao menos um pouco dos ultrajes que lhe são feitos, os Santos aplicavam-se nestes dias do carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à oração, à penitência, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com seu Bem-Amado. Procuremos imitar estes exemplos, e se mais não pudermos fazer, visitemos muitas vezes o Santíssimo Sacramento e fiquemos certos de que Jesus Cristo no-lo remunerará com as graças mais assinaladas.

I. Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que Lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

É por isso que os santos, afim de desagravarem o Senhor um pouco de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo de carnaval Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso afim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão freqüente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus sacramentado, ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.

II. Ut et in bonis illius laeteris ― "para que te alegres com ele nas suas riquezas". O meio para adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do céu as graças mais assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazeres-Lhe companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris. Oh, como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias de carnaval Lhe são oferecidos pelas almas suas prediletas!

Conta-se na vida de Santa Gertrudes que certa vez ela viu num êxtase o divino Redentor que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de virtude feitos por ela no carnaval, afim de a recompensar com graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na quinta-feira gorda, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa (como disse) dos obséquios praticados pela Santa no tempo de tantas ofensas.

Amabilíssimo Jesus, não é tanto para receber os vossos favores como para fazer coisa agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que Vos amam, para Vos desagravar da ingratidão dos homens para convosco, ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei. Em compensação de cada ofensa que recebeis, quero oferecer-Vos todos os atos de virtude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria Santíssima, que fizestes Vós mesmo, quando estáveis nesta terra. Entendo renovar esta minha intenção todas as vezes que nestes dias disser: + Meu Jesus, misericórdia (1). ― Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a vosso divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.

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1. Indulg. de 300 dias cada vez.

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274.)

6 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 251

SAÍAM DA IGREJA

S. Hilário,  vendo que algumas pessoas, depois da leitura do Evangelho, saíam da igreja, interrompeu a prática exclamando: "Podeis sair da igreja, mas do inferno não podereis sair!"

Padre Daniel Pinheiro - IBP

Sermão para o Domingo da Sexagésima
03 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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“Saiu o semeador a semear a sua semente (…) e uma parte caiu em terra boa e, depois de nascer, deu fruto, a cem por um.”
No Domingo da Sexagésima temos a bem conhecida parábola do semeador e dos diferentes terrenos em que cai a semente. O semeador é, antes de tudo, Deus, e a semente é a sua Divina Palavra. Mas o semeador é também os sacerdotes, encarregados por Deu de ensinar todas as nações. Os diferentes terrenos são as almas diversamente dispostas a receber a pregação da Palavra Divina. No Domingo da Sexagésima, a Igreja continua a querer nos dispor para uma boa quaresma, para uma quaresma que dê frutos a cem por um. Para nos dispor todos a uma boa Quaresma, que possa realizar em nós uma profunda conversão, a Igreja lembra ao semeador o seu dever de pregar e lembra às almas o dever de serem uma terra boa.
[Os deveres do sacerdote]
O bom semeador deve, em primeiro lugar, pregar a Palavra de Deus e não a sua própria. É necessária fidelidade extrema ao que ensina a Igreja, ele deve transmitir aquilo que recebeu, sem corrupção, sem emenda. Um sacerdote que prega outra coisa que a doutrina de Cristo, prega ventania e colherá tempestade. É o que vemos hoje. Prega-se muita ventania e colhe-se tempestade e não uma primavera, como querem muitos. Diz o Livro dos Provérbios (XXX, 6) “não acrescentes nada às palavras de Deus para não serdes por isso repreendido e achado mentiroso”. O sacerdote deve ter verdadeira pureza de intenção: seu fim tem que ser dar testemunho da verdade, para que todos tenham vida. Não deve buscar fins menos honestos como o renome, os elogios, a glória desse mundo. O sacerdote, além disso, deve ter uma vida de oração profunda e deve pregar também com o exemplo. O exemplo é indispensável. Uma pregação que é contrariada por um mau exemplo será quase sempre vã. O sacerdote deve praticar penitências, a fim de que seus ouvintes se disponham bem.  O sacerdote, evidentemente, deve ter uma ciência adequada e uma caridade ardente, pois só pode acender aquele que arde, como dizia São Francisco de Sales. A eloquência do sacerdote é a sua caridade.
Ademais, o Sacerdote deve ter em mente que sua missão é ensinar e não agradar aos ouvintes. O pregador deve, então, perguntar-se com São Paulo: “é o favor dos homens que eu procuro ou o de Deus? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo.” O Apóstolo diz também: “prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, porque virá tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos”. O semeador não deve temer as perseguições por ensinar a verdade divina, nem deve temer os sofrimentos e privações. São Paulo lhe dá o exemplo na Epístola de hoje: cárceres, açoites sem medida; muitas vezes viu a morte de perto; cinco vezes recebeu dos judeus os quarenta açoites menos um; três vezes foi flagelado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufragou, uma noite e um dia passou no abismo; viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de seus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Não é pouca coisa o que sofreu São Paulo para pregar o Evangelho.
Somente tendo isso em mente o pregador cumprirá devidamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide e ensinai todos os povos. Pregai o Evangelho a toda a criatura. Se o pregador insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, muitas vezes de forma inconveniente, ele cumpre simplesmente seu dever. O pregador insiste e desagrada muitas vezes porque tem de salvar a sua alma, o que se faz unicamente pela pregação da verdade revelada.
O pregador deve lembrar-se de que não tem que prestar contas aos homens, mas a Deus. Os fiéis poderão, talvez, dizer que não ouviram a Palavra de Deus, mas o sacerdote não terá desculpa por não tê-la pregado. A Quaresma se aproxima e, nesse tempo, o sacerdote deve cumprir ainda melhor a missão que lhe foi dada pela Igreja: levar as almas ao amor a Deus e à detestação do pecado.
[Os deveres dos fiéis]
Se ao sacerdote cabe o grave dever de anunciar a Palavra de Deus e de anunciá-la continuamente, sem mescla de erro, mas com fortaleza, prudência e ciência, aos fiéis cabe ouvir essa Palavra. E não só ouvi-la, mas colocá-la em prática. Nosso Senhor o diz: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a minha Palavra e a põem em prática” (Luc XI, 28). E o Salmista diz: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Sal XCIV, 8). E, finalmente, São João: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus” (Jo XIV, 24). Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso dispôr a alma pelo desejo de ouvi-la, pelo desejo de deixar o pecado, pela oração. Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso remover os obstáculos: é preciso sair do caminho aberto, é preciso remover as pedras e os espinhos. O caminho aberto é a alma que não se protege, não cerca o terreno. O caminho aberto é a alma em que qualquer coisa pode transitar. É a alma preguiçosa, que não reza e que não foge das ocasiões de pecado. Pode ser também a alma endurecida pelo pecado. O demônio a faz esquecer rapidamente a Palavra de Deus.  O pedregulho são as almas inconstantes. Recebem a doutrina com gosto e alegria, apreciam sua beleza e sua santidade, mas não tomaram a firme decisão de converter-se completamente e permanecem superficiais. Quando chegam as dificuldades, as tentações e as provações, voltam atrás. Os espinhos são as preocupações imoderadas da vida, os prazeres mundanos, o apego aos bens desse mundo. A alma cercada de espinhos recebe a Palavra de Deus, mas logo a esquece e a abandona, preocupada desordenadamente com as coisas desse mundo.
É preciso, caros católicos, ouvir a Palavra de Deus com docilidade e colocá-la em prática. Da fidelidade e da prontidão em recebê-la e em tomá-la por regra depende a nossa salvação. Como diz Nosso Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha Palavra… tem a vida eterna e não incorre no juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo V, 24).
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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Nota do Editor: os subtítulos foram acrescentados por nós e não pertencem ao texto original do padre.

Do número dos pecados.

Omnia in mensura et numero et pondere disposuisti― "Dispuseste tudo com medida e conta e peso" (Sap 11, 21).

Sumário. É sentimento de muitos Santos Padres, que Deus, assim como determinou para cada homem o número dos dias de vida que lhe quer dar, do mesmo modo fixou para cada um deles o número dos pecados que lhe quer perdoar e completado esse número não perdoa mais. Quem sabe, meu irmão, se depois dessa primeira satisfação indigna, depois do primeiro pensamento consentido, depois do primeiro pecado cometido, não quererá o Senhor castigar-te com uma morte repentina? O que então seria de ti por toda a eternidade?

I. Se Deus castigasse desde logo a quem O ofende, de certo não se veria injuriado como o é atualmente; mas por isso mesmo que o Senhor não castiga logo e espera, os pecadores animam-se a ofenderem-No mais. É porém preciso atender bem, que se Deus espera e suporta, todavia não espera e suporta sempre.

É sentimento de muitos Santos Padres, de São Basílio, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e outros, que Deus, assim como determinou o número dos dias de vida, os grãos de saúde e de talento que quer dar a cada homem, assim fixou para cada qual o número dos pecados que lhe quer perdoar; cheio o qual, não perdoa mais: "Devemos ter por certo", diz Santo Agostinho, "que Deus suporta o homem até certo ponto, depois do qual não há mais perdão para ele: Nullam illi veniam reservavi".

E não foi ao acaso que estes Santos Padres assim falaram, senão baseados nas divinas Escrituras, que em vários lugares dizem claramente que, embora os pecadores não contem os pecados, Deus os enumera, para castigá-los, quando o número estiver completo: ut in plenitudine peccatorum puniat (1). De sorte que Deus espera até ao dia em que se complete a conta dos pecados, e então é que pune.

A Escritura oferece muitos exemplos de castigos semelhantes, principalmente o de Saul, que depois da última desobediência foi abandonado por Deus. Encontra-se também o exemplo de Baltazar, que estando à mesa profanou os vasos do templo e viu então uma mão escrevendo na parede: Mane, Thecel, Phares. Veio Daniel, e explicando estas palavras, disse-lhe entre outras coisas, que o peso de seus pecados já tinha feito baixar a balança da divina justiça, e com efeito, nessa mesma noite Baltazar foi morto... A quantos infelizes não sucede a mesma desgraça! Vivem muitos anos no pecado, mas quando completam o número que lhes foi fixado, são colhidos pela morte e precipitados no inferno. Ducunt in bonis dies suos, et in puncto ad infera descendunt (2) ― "Passam os seus dias em prazeres e num momento descem à sepultura".

II. Há quem procure indagar o número das estrelas, dos anjos, dos anos que alguém terá; mas quem poderá jamais indagar o número dos pecados que Deus quer perdoar a cada homem? E por isso devemos tremer. Meu irmão, quem sabe se depois da primeira satisfação indigna, depois do primeiro pensamento consentido, depois do primeiro pecado cometido Deus ainda te quer perdoar? Quem sabe se não te sucederá o que sucedeu a tantos outros, que foram colhidos pela morte no mesmo instante em que estavam ofendendo o Senhor? E se tal acontecesse, que seria de ti durante toda a eternidade?

Graças, meu Deus! Quantos desgraçados, menos culpados que eu, estão agora no inferno, sem que haja para eles perdão ou esperança! E eu estou vivo ainda fora do inferno, com esperança do perdão e do paraíso, se eu quiser. Sim, meu Deus, quero o perdão. Arrependo-me de todo o coração de Vos ter ofendido, a Vós que sois a Bondade infinita.

Pai Eterno: respice in faciem Christi tui (3), olhai para vosso Filho morto por mim na cruz, e em consideração dos seus méritos, tende piedade de mim. Protesto que antes quero morrer que tornar a ofender-Vos. Em vista dos pecados que cometi e das graças que me haveis feito, tenho suficiente motivo para temer que um pecado mais encha a medida e me faça condenar. Ah! Ajudai-me com a vossa graça. De Vós espero luz e força para Vos ser fiel. Se prevedes que hei de tornar a ofender-Vos, fazei-me morrer neste instante, já que espero estar na vossa graça. Meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas e, mais que a morte, receio a desgraça de cair novamente em nossa inimizade. Por piedade, não o permitais. ― Maria, minha Mãe, tende compaixão de mim, ajudai-me, impetrai-me a santa perseverança.

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1. 2 Mac 6, 14.
2. Iob 21, 13.
3. Ps. 83, 10.

Nota: Os devotos de Santo Afonso poderão hoje tomar a meditação sobre a sua confiança em Deus, se ainda não foi lida na terça-feira da 5ª. semana depois da Epifania. Para os seguintes meses do ano aconselha-se aos mesmos devotos que fixem um dia para fazerem a sua meditação sobre uma virtude do Santo correspondente a cada mês. Do Santo Doutor pode-se dizer como de Jesus Cristo, que começou a fazer e a ensinar.

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 269-272.)

5 de fevereiro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 250

SEMPRE CHEGAVA TARDE

Um homem da Westfália, durante muitos anos sempre chegava tarde à Missa nos dias de preceito.
Adoeceu para morrer e mandou chamar o padre com urgência. O vigário sem demora pôs-se a caminho, mas dizia consigo: "Não será para estranhar que Jesus Cristo chegue tarde a êle, como castigo de sempre ter chegado tarde à Missa". E com efeito; quando o padre chegava à casa, o enfêrmo expirava sem os sacramentos.

O pecado renova a Paixão de Jesus Cristo.

Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei, et ostentui habentes ― "Eles outra vez crucificam o Filho de Deus para si próprios e o expõem à ignomínia" (Heb 6, 6)

Sumário. Quem comete o pecado, contraria todos os desígnios amorosos de Jesus Cristo, inutiliza para si os frutos da Redenção, e, como diz São Paulo, pisa o Filho de Deus aos pés, despreza e profana seu sangue e renova a sua paixão e morte. Portanto, especialmente neste tempo de carnaval o Senhor é cada dia crucificado milhares de vezes. Imagina que são tantos os Calvários quantos são os antros do pecado. Ai, meu pobre Senhor!

I. Considera a grandíssima injúria que o pecado mortal faz à Paixão de Jesus Cristo. O intuito do Filho de Deus, em fazer-se homem, foi tirar o pecado do mundo; a este fim, como diz Isaías, colimavam todos os seus pensamentos, palavras, obras e sofrimentos: Et iste omnis fructus, ut auferatur peccatum (1) ― "Este é todo o seu fructo, que seja tirado o pecado". Pois bem, quem peca, inutiliza para si este grande fruto da Redenção e contraria assim todos os desígnios e intentos amorosos do Redentor. ― Se o pecado é acompanhado de escândalo, contraria-os também para os outros, fechando, por assim dizer, em despeito de Cristo, para si e para o próximo, as portas do céu e abrindo as do inferno.

Mais, o pecador, como diz São Paulo, pisa aos pés o Filho de Deus, despreza e profana o seu preciosíssimo Sangue, chega até ao excesso de renovar a sua crucifixão e morte: Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei ― "Crucificando outra vez o Filho de Deus para si próprios". Isto, na interpretação de Santo Tomás, se verifica de duas maneiras. Primeiro, pecando se faz aquilo pelo que Jesus Cristo foi crucificado, a saber, o pecado. Portanto, se a morte do senhor não houvera sido suficiente para expiar os pecados todos, fora conveniente, pelo encargo de Redentor, que tomou sobre si, que se deixasse crucificar tantas vezes quantos são os pecados cometidos. Em segundo lugar, pelo pecado comete-se uma ação mais abominável aos olhos de Jesus e mais dolorosa para seu Coração do que todos os opróbrios e penas padecidas na sua Paixão e por isso de boa vontade quisera tornar a sofrê-las afim de impedir um só pecado mortal.

É assim que, especialmente neste tempo de carnaval, o Senhor é crucificado pelos pecadores milhares de vezes cada dia. Imagina, pois, que são tantos os Calvários, quantos são os antros do pecado, ou melhor, quantas são as almas pecadoras.  Ah, meu pobre Redentor!

II. Na vida de Santa Margarida Alacoque se lê que num dos dias que antes de principiar a Quaresma são consagrados ao prazer, Jesus Cristo se lhe mostrou todo rasgado de feridas e coberto de sangue. Tinha a cruz nos ombros e com voz triste e queixosa disse: "Não haverá ninguém que tenha compaixão de mim e queira compartilhar comigo as dores que sofro por causa dos pecadores, especialmente nestes dias?" Ouvindo isso, a Bem-aventurada lançou-se aos pés de seu divino Esposo e ofereceu-se a sofrer em união com Ele, pelo que o Senhor a carregou de uma cruz pesadíssima.

Imitemos na medida de nossas forças à Santa Margarida, desagravando o Coração de Jesus. Nestes oito dias ouçamos com devoção uma missa, façamos ao menos uma comunhão reparadora, e, não só com o nosso exemplo, mas também com palavras, excitemos os outros a fazerem o mesmo. No correr do dia, digamos muitas vezes: + Meu Jesus, misericórdia (1). Enquanto os outros só pensam em distrair-se com divertimentos mundanos, procuremos, mais do que de ordinário, fazer companhia a Jesus sacramentado, ou recolhidos em nossa casa aos pés de Jesus Cristo, compadecer-nos dele pelas muitas ofensas que Lhe são feitas.

Tenhamos por certo que estes obséquios são muito agradáveis ao Coração divino, mas, para que Lhe sejam mais agradáveis ainda, formemos a intenção de os unirmos com os merecimentos do Redentor e de toda a corte celestial, dizendo muitas vezes: + "Eterno Pai, nós Vos oferecemos o sangue, a paixão e a morte de Jesus Cristo, as dores de Maria Santíssima e de São José, para satisfação de nossos pecados, em sufrágio das almas do purgatório, pelas necessidades da santa Madre Igreja e pela conversão dos pecadores"[2].

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1. Is 27, 9.
2. Indulg. de 300 dias cada vez.
3. Indulg. de 100 dias. ― Aos obséquios indicados podem acrescentar-se os seguintes:
1º. Percorrer cada dia as estações da Via Sacra, ou sufragar de outra forma aquelas almas do purgatório que em vida mais se esforçaram por desagravar a Jesus Cristo, no tempo de carnaval.
2º. Em todo este tempo, fazer com mais perfeição e fervor as ações ordinárias, em particular as que se referem diretamente ao serviço de Deus.
3º. Finalmente, visto que Deus é ofendido especialmente pelos excessos no beber e comer e pelos pecados de impureza, mortificar mais do que em outros tempos o apetite, tanto na qualidade como na quantidade da comida, e, com licença do Diretor, alguma penitência corporal.

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 267-269.)

4 de fevereiro de 2013

Sermão Padre Daniel Pinheiro - IBP

[Sermão] A Purificação de Nossa Senhora

Sermão para a Festa da Purificação de Nossa Senhora
02 de fevereiro de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Luz para iluminar as nações.”
Celebramos hoje uma grande festa. A festa da Purificação de Nossa Senhora, festa também conhecida como Nossa Senhora da Candelária ou das Candeias, justamente pela procissão com velas que se realiza durante esse dia. Nesse dia, celebramos a purificação de Nossa Senhora no Templo e a Apresentação do Menino Jesus no Templo, em cumprimento da Lei Mosaica. Segundo a Lei, a mulher que tinha dado à luz contraía uma impureza legal, que deveria ser tirada com a oferta de um sacrifício no Templo. Segundo a Lei, o primogênito deveria ser apresentado no Templo, e consagrado inteiramente ao serviço de Deus, para demonstrar o soberano domínio de Deus sobre os homens e também em ação de graças pelos primogênitos judeus poupados, quando os primogênitos dos egípcios foram exterminados, a fim de que o povo judeu pudesse se livrar da escravidão. Todavia, depois que a tribo de Levi foi designada para servir no culto divino, os primogênitos deviam ser resgatados pelo valor simbólico de 5 ciclos.
Evidentemente, Nossa Senhora e o Menino Jesus não estavam obrigados a seguir a Lei nesses pontos. Vejamos porque Nossa Senhora não precisava de purificação. Para isso, devemos entender o que era a impureza legal e o que significava a impureza legal contraída no parto.
A impureza legal não era uma impureza moral. A impureza legal não era, portanto, um pecado. A impureza legal era algo puramente exterior e tinha por objetivo lembrar a existência do pecado, a fim de evitá-lo ou a fim de remediá-lo, se já havia sido cometido. As diversas impurezas legais figuravam os diversos pecados. Assim, por exemplo, a impureza contraída pelo contato com um cadáver avivava a verdade de que o pecado é a morte da alma. A impureza legal tinha como consequência o fato de que a pessoa não podia tocar nas coisas sagradas nem entrar no santuário até ter cumprido o rito de purificação, significando que o pecado separa de Deus e impede a entrada no céu.
A impureza legal da mãe era contraída quando essa concebia com a cooperação de um homem e simbolizava a impureza do pecado original com que a criança nascia. Durante 40 dias, se fosse menino, ou 80, se fosse menina, a mãe não podia tocar nas coisas santas nem entrar no Santuário. Como dissemos, Maria não estava sujeita à impureza legal advinda do parto. Primeiramente, ela concebeu do Espírito Santo e não de um homem. Segundo, ela não possuía qualquer pecado que pudesse ser figurado pela impureza legal. Ela foi concebida sem o pecado original e continuou intacta durante toda a sua vida, esmagando perfeitamente a cabeça da serpente, do demônio. Terceiro, Nossa Senhora deu à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, que não podia ter pecado original e nenhum outro tipo de pecado.
A prova cabal de que Nossa Senhora não precisava da purificação está no fato de que, durante os quarenta dias que antecederam sua ida ao Templo, ela cuidou do Menino Deus, alimentando-o, vestindo-o, prestando todo o cuidado que uma mãe deve prestar para com o seu filho. Ora, acabamos de dizer que a impureza legal não permitia que se tocasse em coisas santas ou que se entrasse no Templo. Nossa Senhora, porém, toca naquilo que pode haver de mais santo, que é o Corpo de Deus feito homem. Ela tem contato com o Templo do Novo Testamento, que é o Corpo de Cristo, e que é infinitamente mais santo que o Templo de pedra. Somo obrigados a concluir que o pecado está tão longe de Nossa Senhora, que ela não possui, aqui, nem mesmo uma impureza legal. Nossa Senhora é nosso exemplo de ódio ao pecado e de amor a Deus e ao próximo.
Também o Menino Deus não precisava ser apresentado no Templo para ser consagrado a Deus, como dissemos no Domingo dentro da Oitava do Natal. Cristo não apenas pertencia inteiramente a Deus desde o momento de sua concepção no seio virginal de Maria Santíssima, como é o próprio Deus. Além disso, é evidente que Cristo não precisava ser resgatado. Quem nos resgata e nos redime é Ele. Não pode ser resgatado o que resgata. Não obstante, Nossa Senhora e o Menino Jesus observaram perfeitamente a lei pelos motivos já mencionados em sermão anterior: mostrar que a lei de Moisés era boa, impedir as calúnias dos judeus, nos livrar do jugo pesado da lei mosaica, consumá-la e dar exemplo de obediência perfeita.
Há nessa purificação, porém, alguns outros ensinamentos que Nossa Boa Mãe, Maria, quer nos dar. Nossa Senhora vai ao Templo consagrar o Menino Jesus a Deus. Como todas as mulheres israelitas, ela resgata a criança pagando o valor estabelecido. Todavia, se para a maioria das mulheres o oferecimento do filho a Deus é simbólico, para Nossa Senhora ele é bem real. Simbólico, para Maria, é o resgate. Nossa Senhora sabia perfeitamente quem era seu Filho, ela conhecia perfeitamente as profecias. Ela sabia que Cristo veio ao mundo para fazer a vontade de Deus, que Ele veio para se ocupar exclusivamente das coisas de Deus. Ela vai, então, ao Templo apresentar seu Filho para manifestar a sua total conformidade com a Missão dEle e para associar-se a essa Missão, consentindo no oferecimento que seu Filho fará de si mesmo anos mais tarde. Ela age para a maior glória de Deus e para o bem de nossas almas. O que ela recebe em troca? Uma espada em seu Coração Imaculado. Nossa Senhora entrega inteiramente o Menino Jesus a Deus. Ela entrega seu maior tesouro, abandonando-se à vontade divina. E nós? Nós queremos guardar o pecado. Nós queremos guardar as nossas vãs ocupações. Nossa Senhora não teme, para servir à Santíssima Trindade, perder prematuramente a companhia de seu Filho, que é Deus. Nós, para servir à Santíssima Trindade, nós queremos guardar nossas más inclinações, nossas negligências, nossos pecados. Nossa Senhora oferece seu Filho e recebe a espada. Nós oferecemos migalhas e queremos as alegrias e a felicidade desse mundo. Nossa Senhora nos ensina a amar a Deus, oferecendo-lhe aquilo que tem de mais precioso e ela nos ensina a sofrer. Eis o exemplo que devemos seguir: amar, entregando a Deus tudo o que somos e tudo o que possuímos, decidindo de uma vez por todas converter-nos inteiramente a Deus. Eis o exemplo que devemos seguir: sofrer por Ele, para expiar por nossos pecados, para provar nosso amor a Deus. Sofrer porque o bem que amamos – Deus – é odiado por muitos. Mas sofrer com alegria profunda e com serenidade, sem se preocupar com o mundo, inimigo de Jesus Cristo e de sua Igreja.
Não há outro caminho: para salvar-se é preciso amar a Deus, cumprindo seus mandamentos, convertendo-se inteiramente a Ele. Para salvar-se, é preciso sofrer e sofrer bem, unindo-se à Cruz de Cristo e à espada de Maria.
Devemos poder cantar com o velho Simeão em cada momento de nossas vidas: “Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo porque os meus olhos viram a tua salvação.” Não amanhã, nem daqui a pouco. Agora, caros católicos. É agora que devo estar preparado para ver Deus. Só podemos ousar dizê-lo junto com Simeão, se entregamos a Deus aquilo que temos de mais precioso – todo o nosso ser – e não só migalhas. Deus não quer migalhas. As migalhas não nos levarão para o céu. É preciso amar e sofrer, como nos mostra Nossa Senhora. É preciso entregar tudo, tudo, sem exceção – nossa inteligência, nossa vontade, nossa saúde, nossos bens, nossas ações – é preciso entregar tudo a Deus pelas mãos de Nossa Senhora. É preciso que nos convertamos definitivamente.  Busquemos a confissão, resolutos de mudar radicalmente de vida. Recorramos à Maria, para ter essa firmeza de nos converter definitivamente a Deus, sem olhar para trás, sem pensar no que deixamos para servi-lo. Recorramos à Maria, a fim de que possamos carregar em nossa alma a luz que ilumina as nações. Carregamos durante a procissão a vela, a luz. Essa vela, essa luz, é Cristo. É preciso carregá-lO, é preciso confessá-lO publicamente, é preciso guardá-lO ardendo em nossas almas. Só poderemos fazê-lo com o auxílio de Maria. Cristo quis vir ao mundo por Maria, Ele quer transmitir seus infinitos méritos por meio de Maria, Ele quer que cheguemos ao céu pelo mesmo caminho que usou para descer até nós: por Maria. Ele poderia ter feito de outro modo, mas quis fazê-lo por Maria. E para nós é um grande bem contar com uma protetora que oferece seu próprio Filho – homem e Deus – para nos salvar. Ela oferece seu Filho para nos salvar… Seu Sacrifício na Cruz se renovará dentro de instantes sobre o altar… Ela ofereceu seu Filho para nos salvar… Cristo ofereceu-se a si mesmo para nos salvar. E nós, o que nós entregamos a Deus para nos salvar?  Migalhas? Ou tudo o que somos e possuímos?
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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