16 de novembro de 2013

Maria Santíssima livra os devotos do inferno.

Qui audit me, non confundetur: et qui operantur in me, non peccabunt — "Aquele que me ouve, não será confundido, e os que obram por mim, não pecarão" (Ecclus. 24, 30).

Sumário. É impossível que se perca um devoto de Maria que fielmente a serve e a ela se recomenda. Com efeito, como poderíamos imaginar que Maria, a mais amante de todas as mães, podendo livrar um filho seu da morte eterna só com um pedido ao Juiz da graça, deixe de o fazer? Eis porque o demônio detesta tanto a alma devota da divina Mãe e se esforça por fazê-la relaxada. Examina a tua devoção à Santíssima Virgem, e toma a resolução de a fazer crescer mais e mais.

I. A asserção de que é impossível um devoto de Maria Santíssima condenar-se não se estende àqueles devotos que abusam da sua devoção a fim de pecar com menos temor; porque esses presumidos, pela sua confiança temerária, merecem castigo e não misericórdia. Estende-se tão somente àqueles devotos que, com o desejo de se emendarem, são fiéis em obsequiar à divina Mãe e em recomendar-se a ela. Estes digo eu que é moralmente impossível perderem-se, porquanto a benigníssima Senhora alcançar-lhes-á luz e força para saírem do estado de perdição.

Esta sentença é conforme à doutrina dos Padres e Doutores da Igreja. Santo Anselmo diz que "assim como quem não é devoto de Maria nem dela é protegido, é impossível que se salve; assim também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem e dela é visto com complacência". Confirma isto Santo Antonino quase com as mesmas palavras. E Santo Hilário acrescenta que isto sucederá ainda àqueles que no tempo passado ofenderam muito a Deus. Pelo que Santo Efrém dá à Nossa Senhora o belo título de Protetora dos condenados: Patrix damnatorum; e chama a devoção à Virgem salvo-conduto para não ser desterrado para o inferno: Charta libertatis.

E na verdade, se é certo o que diz São Bernardo, que à Maria não pode faltar nem poder nem vontade de nos salvar, como poderá suceder que um devoto fiel seu se perca? Que mãe, podendo facilmente livrar seu filho da morte com um só pedido de graça ao juiz, deixaria de o fazer? E poderemos pensar que Maria, a Mãe mais amorosa que possa haver, podendo livrar um filho da morte eterna, e podendo-o fazer tão facilmente, não o queira fazer? Ah! Isso é impossível!

Eis porque tanto desagrada ao demônio ver uma alma que persevera na devoção à divina Mãe, e porque ele se esforça tanto para fazê-la perder esta devoção. O espírito maligno sabe que nunca sucedeu e nunca jamais sucederá que um servidor humilde e obsequioso de Maria se perca eternamente.

II. Examina a tua devoção à Maria, e toma uma resolução firme de a aumentar continuamente. Dá graças ao Senhor por te haver dado esse afeto e confiança para com a divina Mãe, porque Deus não faz esta graça senão com aqueles aos quais quer salvar. Dá graças também à Santíssima Virgem pela proteção que te dispensou até agora, livrando-te tantas vezes de cair no inferno; pede-lhe perdão de tua pouca correspondência ao seu amor, e pede-lhe que para o futuro continue sempre a proteger-te.

Ó Mãe de Deus, Maria Santíssima, quantas vezes tenho, pelos meus pecados, merecido o inferno! Talvez se houvesse executado a sentença desde o primeiro pecado meu, se, na vossa misericórdia para comigo, não tivésseis suspendido a ação da divina justiça; triunfado depois da dureza do meu coração, me reduzistes a pôr em vós a minha confiança. Ai! em quantas outras faltas não teria caído depois, no meio dos perigos que me cercavam, se vós, ó Mãe amantíssima, não me tivésseis preservado pelas graças que me alcançastes. Ó minha Rainha, de que me servirão vossa misericórdia e os favores com que me tendes prevenido, se vier a condenar-me? Se houve um tempo em que não vos amava, de presente amo-vos, depois de Deus, acima de todas as coisas.

Não permitais, eu vos conjuro, que me separe de vós e de Deus, que por intermédio vosso me cumulou de tantas misericórdias. Amabilíssima Soberana minha, não consintais que eu vá odiar-vos e maldizer-vos eternamente no inferno. Podereis sofrer que se condene um dos vossos servos que vos ama? Ó Maria, que me respondeis? Condenar-me-ei? Serei condenado se vos abandono; mas quem teria coragem para vos abandonar? Como poderia esquecer o amor que me tendes consagrado? Não, não se perderá aquele que fielmente se recomenda a vós e a vós recorre. Ó minha Mãe, não me abandoneis a mim mesmo; de contrário perder-me-ei. Fazei que sempre recorra a vós. Salvai-me, esperança minha, preservai-me do inferno e, primeiro que tudo, do pecado, que só me pode precipitar no inferno. (*I 114.)

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 295- 298.)

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