20 de setembro de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 399

O ORGULHOSO NÃO SE AJOELHA

Diz uma lenda que na cidade de Colônia vivia um padre santo. Não era sábio; não era eloqüente; era um grande confessor.
Dizem que todos os que se levantavam de seu confessionário levavam na fronte o ósculo da paz.
Foi na véspera de uma grande solenidade. Uma grande multidão de penitentes esperava ao redor do confessionário daquele santo sacerdote. Entre êles achava-se um homem, o único que se conservava de pé... Era um rosto triste... escuro, quase negro. . . atitude que revelava imensa tristeza e desconcertante inquietação. Chegou a sua vez. Acercou-se do confessionário, mas não se ajoelhou.
- Irmão - disse brandamente o confessor - ajoelhe-se
- Nunca!. . . Eu nunca me ajoelho.
- Quem é o senhor?
- Isso não lhe importa.
- De onde vem?
- Também isso não lhe importa.
- O sr. tem razão- respondeu humildemente o confessor - nada disso me importa... Mas, então, que deseja?
- Confessar-me, porque trago dentro do meu coração um inferno que me abrasa. Busco a Paz.
- Irmão - replicou o confessor com toda humildade de sua alma - se procura a paz, aqui a encontrará, mas... ajoelhe-se
O penitente, com um gesto de soberba, respondeu:
- Nunca! Já lhe disse que nunca me ajoelho...
- Irmão - disse então o confessor com grande mansidão - compadeço-me do senhor; faça de pé a sua confissão, pois quando tiver diante dos olhos a gravidade de seus pecados, certamente se ajoelhará.
- Nunca! - atalhou o penitente-. Ajoelhar-me? Nunca!... Mil vêzes lhe direi que não me ajoelho nunca! . . .
- Irmã o, comece!
E começou o penitente a contar os seus pecados... E eram tantos e tão horríveis, que o confessor, que até então conservara os olhos baixos, levantou-os,  fixou o penitente e disse-lhe com extrema bondade:
- Irmão, o senhor está me enganando.
- Não o engano.
- Êsses pecados o sr. não pôde cometê-los.
- Mas eu os cometi.
- Para ter cometido tantos pecados seria mister que o sr. fôsse muito velho... e o sr. é môço.
- Môço?... Já tenho muitos séculos!
- Muitos séculos?...
- Sim. . . muitos séculos!
- Quem é o sr., afinal?
- Não lhe importa.
- De onde vem?
- De uma região onde não há sol.
- Então já adivinho quem é... Irmão, ainda há perdão e misericórdia para o sr. ... mas ajoelhe-se.
- Nunca!... nunca me ajoelharei . . .
- Então o sr. é...
- Sou Satanás...
E desapareceu...
Sim; há perdão para todos os pecadores. Nosso Senhor exige apenas que o pecador, reconhecendo e detestando seus pecados, humilde e sinceramente os acuse no tribunal da penitência.

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