30 de agosto de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 10

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo II - Natureza e qualidades da Confiança

V - Regozija-se até com a privação de socorros humanos

Não desanimar quando se dissipa a miragem das esperanças humanas e só contar com o auxílio do Céu, não é já altíssima virtude?
 
Com as suas asas vigorosas, a verdadeira confiança lança-se, no entanto, para regiões ainda mais sublimes. A elas chega por uma espécie de requinte de heroísmo; atinge então o mais alto grau da sua perfeição.
 
Esse grau “consiste em regozijar-se a alma quando se vê privada de qualquer apoio humano, abandonada de parentes, de amigos, de todas as criaturas que não querem ou não podem socorrê-la: que não podem dar-lhe conselho nem servi-la com o seu talento ou o seu crédito; a quem nenhum meio resta de vir-lhe em auxílio” (30). Que sabedoria profunda denota semelhante alegria em circunstâncias tão cruéis!
 
Para poder entoar o cântico da Aleluia sob golpes que, naturalmente, deveriam quebrar a nossa energia, é preciso conhecer a fundo o coração de Nosso Senhor; é preciso acreditar perdidamente na sua piedade misericordiosa e na sua bondade omnipotente, é preciso ter a absoluta certeza de que Ele escolhe, para a sua intervenção, a hora das situações desesperadoras.
 
Depois de convertido, São Francisco de Assis desprezou os sonhos de glória que antes o haviam deslumbrado. Fugia às reuniões mundanas, refugiava-se nos bosques para entregar-se longamente à oração; dava esmola generosamente. Esta mudança desagradou a seu pai, que arrastou o filho perante a autoridade diocesana, acusando-o de dissipar-lhe os bens. Então, em presença do Bispo maravilhado, Francisco renuncia à herança paterna; tira até as roupas que lhe vinham da família; despoja-se de tudo. Depois, vibrando de uma felicidade sobre-humana, exclama: “Agora sim, ó meu Deus, poderei chamar-Vos mais verdadeiramente do que nunca: Pai nosso que estais no Céu!”
 
Eis aí como agem os Santos.
 
Almas feridas pelo infortúnio, não murmureis no abandono a que vos achais reduzidas. Deus não nos pede uma alegria sensível, impossível à nossa fraqueza. Reanimai somente a vossa fé, tende coragem e, segundo a expressão cara a São Francisco de Sales, na “fina ponta da alma”, esforçai-vos por ter alegria.
 
A Providência acaba de vos dar o sinal certo, pelo qual se reconhece a sua hora: ela vos privou de qualquer apoio. É o momento de resistir à inquietação da natureza. Chegastes ao ponto do ofício interior em que se deve cantar o Magnificat e fazer fumegar o incenso. “Regozijai-vos no Senhor; eu vos repito, regozijai-vos: o Senhor está perto!” (31).
 
Segui este conselho e vos dareis bem. Se o Mestre Divino não se deixasse tocar por tamanha confiança, não seria Aquele que os Evangelhos nos mostram tão compassivo, Aquele que a visão dos nossos sofrimentos fazia estremecer de dolorosa emoção.
 
Nosso Senhor dizia a uma alma privilegiada: “Se sou bom para todos, sou muito bom para os que confiam em Mim. Sabes quais são as almas que mais aproveitam da minha bondade? As que mais esperam... As almas confiantes roubam as minhas graças!” (32).

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30 ) Saint-Jure: De la connaissance et de l'amour de J. C., t. III, p. 4.
31 ) “Alegrai-vos sempre no Senhor, repito, alegrai-vos (...) o Senhor está perto” (Filipenses, 4, 4-5).
32 ) Irmã Benigna Consolata Ferrero, páginas 95 e 96. Tip. Rondil, Lyon. - Esta biografia apareceu em 1920, com o imprimatur do Arcebispado e as declarações prescritas pelos decretos de Urbano VIII.

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